Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Observações a respeito da posse e porte de armas de fogo.

Registro da participação de S. Exa. no gabinete de fiscalização especializada criado em oposição ao atual Governo. Considerações sobre os 100 dias do Governo Lula.

Autor
Eduardo Girão (NOVO - Partido Novo/CE)
Nome completo: Luis Eduardo Grangeiro Girão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Segurança Pública:
  • Observações a respeito da posse e porte de armas de fogo.
Governo Federal:
  • Registro da participação de S. Exa. no gabinete de fiscalização especializada criado em oposição ao atual Governo. Considerações sobre os 100 dias do Governo Lula.
Aparteantes
Magno Malta.
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/2023 - Página 35
Assuntos
Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Defesa do Estado e das Instituições Democráticas > Segurança Pública
Outros > Atuação do Estado > Governo Federal
Indexação
  • COMENTARIO, REFERENCIA, POSSE, PORTE DE ARMA, ARMA DE FOGO.
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, GABINETE, FISCALIZAÇÃO, OPOSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ATUALIDADE, COMENTARIO, PERIODO, ATUAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, GOVERNO.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Para discursar.) – Paz e bem, meu Senador, meu amigo, Senador Rodrigo Cunha.

    É muito bom o debate.

    Eu quero saudar os assessores aqui presentes, as colegas Senadoras, os Senadores, os funcionários e quem está nos assistindo.

    Esse debate é algo fantástico, porque a gente cresce com o debate, com o divergente. Deste assunto: arma de fogo, a gente pode falar aqui o dia inteiro, de uma forma amigável, serena, mas a gente precisa analisar as estatísticas, a ciência. O debate é com base nisso também.

    Eu não sou contra, Senador Seif, que se tenha arma em casa ou no comércio, no seu local de trabalho. Isso aí chama-se posse de arma de fogo. Eu respeito a posse de arma de fogo, apesar de ter recebido inúmeros relatos de acidentes com crianças, de tragédias que ocorreram por descuidos, que fazem parte do ser humano, por deixar uma arma ali e a criança vai lá e, por curiosidade, brinca. Muita gente morreu; muitas famílias, despedaçadas; mas eu respeito. Respeito quem passa pelos exames e tudo e consegue a posse da arma.

    A minha discordância é sobre o porte, sobre as pessoas andarem armadas nas ruas. Aí, numa discussão de trânsito, sangue latino; numa briga passional, com acesso fácil à arma de fogo; num restaurante, com a bebida alcoólica, que hoje é uma cultura infelizmente – a pessoa vai ao banheiro, mexe com a sua esposa, os dois estão tomando cerveja, alguma coisa... E um monte de inocente... E aí vai o quê? É como diz o Mahatma Gandhi? Olho por olho, dente por dente? A humanidade vai acabar cega e sem dentes. É um puxando... É o faroeste? É a volta à Idade Média? Eu acho que a gente precisa ter serenidade, porque é aquela coisa: em vez de você estar efetivamente apagando o incêndio, você vai estar jogando querosene para apagar.

    O Sr. Magno Malta (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - ES) – Um aparte, meu amigo.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Concedo, Senador Magno Malta, o aparte com muita honra.

    O Sr. Magno Malta (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - ES) – O teor do seu discurso vai versar sobre isso? Aí eu quero aparteá-lo, senão não vou lhe atrapalhar.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Não, não. O teor não é esse, mas eu aceito independentemente. O nosso Senador é muito benevolente aqui. As matérias já foram votadas, e nós estamos num debate aberto e franco.

    Eu queria só, para colocar o raciocínio – já lhe passo o aparte –, dizer que eu sou favorável a que se aumente o número de blitz, de busca e apreensão – isso é política pública – para recolher as armas ilegais que estão nas mãos de bandidos, nas mãos de pessoas que não eram para estar jamais com armas; que haja o reforço às instituições para que se faça essa retirada. Mas absolutamente...

    Eu acho que não é questão de ideologia, se é de direita, se é de esquerda, se é conservador, se é progressista. Eu me considero conservador e, olha, firme. E defendo a vida. Estou nessa questão das armas de fogo com muita serenidade, convicto de que estou defendendo a vida, porque passei por muitas situações tanto no âmbito profissional... Eu tive empresa de vigilância, de segurança – meu pai –, cresci dentro dessa empresa. E vi vigilantes vocacionados que passavam lá horas e horas treinando em clube de tiro assassinados por um descuido, porque o assaltante não manda em um WhatsApp, em um e-mail que horas vai atacar. Ele vai lá, ataca e mata. A arma é o objeto de desejo dele. Ele tem um mito: o de que aquela arma que está no coldre ou que está com o cidadão de bem era para matá-lo.

    Então, a agressividade deles – pesquisas mostram isso, um dia a gente vai ter oportunidade... A agressividade aumenta assustadoramente quando ele vê que o cara está armado. Tanto é que a maior parte das mortes de policiais acontecem, Senador Rodrigo Cunha, não no fronte de batalha, não; a maior parte das mortes de policiais é quando eles estão de folga. Sabia disso? Por quê? Porque a arma está lá no carro, e, quando vai fazer a revista para roubar a carteira, vê que tem arma, e aí ele é assassinado. A violência do assaltante aumenta, porque aquela arma era para matá-lo – é o mito dele.

    E outra coisa, antes de passar a palavra para o Senador Magno Malta, é muito importante que a gente... Onde é que a gente vai parar com isso? Um está com a arma, o outro está com um fuzil e outro vai ter que vir com bazuca. Vai parar onde isso?

    Então, é algo em que a gente precisa, neste momento, ter muita serenidade, porque a sociedade precisa de paz. Eu respeito muito, respeito demais a opinião divergente. Eu acho que a gente tem que construir alternativas, mas a solução – no meu modo de entender – não é liberar porte, absolutamente, como o último Governo fez.

    Senador Magno Malta, com a palavra.

    O Sr. Magno Malta (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - ES. Para apartear.) – Senador Girão, dificilmente eu discordo de V. Exa., acho que quase nunca, não é? Eu concordo 99% com o que V. Exa. pensa a respeito de tudo na vida. Eu só discordo desse 1% aí, porque V. Exa. está falando de exceção. A vida não é feita da exceção para a regra. A vida é feita da regra para a exceção. O senhor é um Legislador. A lei não se faz da exceção para a regra; se faz da regra para a exceção. A exceção existe em qualquer situação da vida. V. Exa. citou casos de exceção. É claro, o policial está de folga, o vagabundo está agindo, o cara está lá dentro do supermercado com a esposa e com os filhos, largou tudo no carro. Aí, o cara abre o carro do outro, vê que o cara é polícia, vai lá e mata o cara pelo prazer de matar polícia. Mas quem faz isso? Bandido, vagabundo.

    Agora, em que dia que nós chegaremos a ter um estado que sobe o morro para desarmar vagabundo, para desarmar associações criminosas? Ninguém sobe. Então, ao sonho com este país de Alice só se chegará quando Jesus voltar. Digo por que Israel ganhou suas guerras – Deus estava com eles –: ganhou lutando. E sabe onde eram amoladas as armas de Israel? Eram amoladas no campo dos filisteus pelos filisteus. Ninguém jamais ganhou batalha com flores, nem com livro, não.

    Então, o cidadão precisa ter a sensação de segurança. Há uma sensação de segurança... Quando o senhor fala que tem que botar gente nas escolas, polícia na rua, olhe o tamanho deste país, olhe o tamanho desta população! Quanto de polícia nós vamos ter que ter? Assim: um policial para cada dois cidadãos. Não tem a menor lógica.

    Então, na verdade, nós precisamos entender uma coisa que é primordial: arma não mata, quem mata é o homem. As crianças tiveram a cabeça aberta agora com uma machadinha, não era um 38.

    Por exemplo, o filho do Ministro Flávio Dino – quando eu era Senador, em 2016, ele era Presidente da Embratur –, o filho dele morreu por um descaso médico. Um menino bonito de 12 anos de idade. Esse homem entrou num sofrimento tremendo. E eu subi a esta tribuna aqui para defender, para tomar as dores. Ele entrou na Justiça contra o médico, ele e a esposa, por crime. Não foi uma bala, não foi um 38, não foi uma escopeta. Descaso mata, corrupção mata, desvio de dinheiro público mata, tudo mata, falta de esgoto mata. Então, em se tratando de arma de fogo...

    Você colocou um cadeado na sua bicicleta, você comprou uma bicicleta novinha, você queria uma bicicleta dessas que o pessoal faz competição, pagou à prestação, mas deixou na porta, sem cadeado, e entrou. Desavisado, está desavisado. Quando voltou, ela não estava lá mais. Cadê? Alguém montou e levou. Você não deu a ele...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Magno Malta (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - ES) – ... a possibilidade de pensar dez vezes: "Caramba, tem um cadeado na roda da frente, tem um cadeado na roda de trás, não vai dar para eu levar, a não ser que eu esteja tão doido que eu vou botar na cabeça, mas alguém vai descobrir que eu estou doido, com uma bicicleta na cabeça e tal". Mas, se tiver um cadeado, ele não vai, doutor, ele não vai.

    Então, o que eu estou falando é de regra: no Brasil, hoje a regra é a violência, a regra é desarmar o cidadão. É o que o Jorge está falando. Eu estou dentro de casa, com uma filha de oito anos, junto com a esposa, e chega um vagabundo. O que eu vou fazer, no mano a mano, se ele tem um 38 na mão ou uma escopeta na mão e ainda está me chamando de vagabundo, chamando minha mulher de vagabunda, chamando a criança, com mil ameaças? Amigo, não dá tempo. Isso é regra, não é exceção. Não dá tempo – não dá tempo! O nome disso é legítima defesa.

    Com todo o respeito aos argumentos de V. Exa... E V. Exa. diz que tem que acreditar na ciência. Acreditar na ciência é acreditar em Papai Noel. Por causa da ciência, milhões de pessoas morreram com covid. E nós já sabemos como elas morreram. E nós já sabemos...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O Sr. Magno Malta (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - ES) – ... o que a vacina faz – eu estou com as bulas delas para ler aí na tribuna –, o que elas deixaram para quem se vacinou acreditando na ciência. Os cientistas se submeteram aos políticos. É igual a segurança pública. Então, não é ciência.

    É verdade, está diante dos nossos olhos: as pessoas estão morrendo, estão sendo assaltadas, com seus carros roubados, com suas fazendas invadidas exatamente por causa desse tipo de política da exceção. É como se trata a questão da alienação parental – nós temos que levantar aqui e acabar de uma vez com essa desgraça –, em que se pega a exceção e faz mães criminosas com a regra – com a regra.

    Então, esse é um tema que, assim... E olha V. Exa. que eu fui convencido ao longo do tempo. Houve um tempo da minha vida em que eu pensei como V. Exa. E a realidade me mostrou que não, que era outra.

    Encerro dizendo o seguinte: quando Jesus sobe ao Monte das Oliveiras com os discípulos no dia em que Judas o traiu, ele estava sabendo de tudo...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Magno Malta (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - ES) – ... que Pedro tinha uma espada do lado. Ele podia ter mandado Pedro largar aquela espada lá embaixo, mas não mandou. Pedro subiu com ela, porque, na verdade, ele queria que todo mundo soubesse que ele era Deus, não é? Quando Pedro arrancou aquela orelha, ele colou, para falar para os caras: "Estou colando a orelha dele para vocês saberem que eu sou Deus". Mas eu estou me referindo à questão das armas. Ali não era arma de fogo, era arma branca naquela época.

    Eu discordo de V. Exa. 1% na sua vida, na sua trajetória, na sua luta. É um amigo. E estou falando aqui em amor. Até me arrependo de ter levantado minha voz três vezes, mas estou falando aqui com um grande amigo, irmão. Como diz a Bíblia, há amigo mais chegado do que irmão. V. Exa. é uma referência que o Brasil aprendeu a respeitar. Durante quatro anos, quando se falava em Senado, pensava-se em Eduardo Girão. E eu tenho muito orgulho disso, porque V. Exa. é uma pessoa que passou a conviver conosco sem ter mandato – não é, Damares? –, lutando a vida, dando o seu tempo, emprestando o seu tempo, as suas energias.

(Interrupção do som.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Obrigado, Senador Magno Malta, pelas referências elogiosas à minha pessoa, mas... Este "mas" que é interessante. O senhor fala de Jesus, nosso grande mestre, referência em tudo, o maior psicólogo, o maior pacifista, o maior humanista, e eu não posso deixar... Já que o senhor falou do Sermão da Montanha, falou do momento em que o soldado estava com a espada, lembre-se de que ele repreendeu o soldado que cortou a orelha. E foi além: ele dedicou duas passagens do Sermão da Montanha, duas bem-aventuranças, à paz. E as duas... Uma diz o seguinte: "Bem-aventurados os pacificadores, porque [...] serão chamados filhos de Deus"; e a outra: "Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra". Isso combina com arma de fogo?

    O Sr. Magno Malta (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - ES) – Mas ser manso e pacificador não quer dizer que a pessoa que busca a paz deixa de ser mansa e pacificadora. Então, quer dizer que o cara que recebe um bandido dentro de casa, com a esposa e uma filha de oito anos, tem que ser manso e pacificador porque ele vai herdar a terra? Não! A salvação independe disso. A salvação é um preço que foi pago por Jesus no calvário para levar consigo nossas as dores, nossos pecados e nossos sofrimentos.

    A vida é humana, a vida é como ela é, Senador Girão.

    Eu conheço muito bem o Sermão da Montanha e o mais importante dele é quando, no capítulo 5, versículos 11 e 12 de Mateus, diz: "Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Magno Malta (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - ES) – ... perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa".

    Eu gosto muito do Sermão da Montanha. Se V. Exa. quiser descambar para o debate do Sermão da Montanha, eu fico também.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Não, eu...

    O SR. PRESIDENTE (Rodrigo Cunha. Bloco Parlamentar União Cristã/UNIÃO - AL) – Senador Girão, peço para dar uma contribuição aos procedimentos aqui. V. Exa. tem um prazo regimental, dez minutos, três minutos de aparte, mas, como bem foi dito, o momento permite que a gente tenha um alongamento desse tempo. Eu solicito a V. Exa., como disse que esse não era o tema do discurso, que não prejudique também nosso Senador Izalci, que pacientemente está aqui. Ele teve que sair, mas saiu na hora errada e, desde quando voltou, está aqui aguardando. 

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – É um assunto apaixonante.

    Eu agradeço demais o aparte do Senador Magno Malta, a sua benevolência, e ao Senador Jorge Seif...

    A boa ciência a gente tem que debater, porque, quanto a esse assunto, as grandes polícias, as polícias do mundo dizem sempre: nunca reaja a um assalto. Então, isso tem alguma história para que eles recomendem.

    Mas eu quero entrar aqui no tema, Senador Magno Malta, que é uma boa notícia, trazer uma boa notícia, porque o mundo precisa de boas notícias. Especialmente o Brasil, neste momento, precisa de boas notícias. Eu faço referência à organização da Oposição, responsável, ao atual Governo Federal que é fruto de uma ousadia, a uma iniciativa brilhante do Senador – ele é Deputado, mas espero estar profetizando, quem sabe, aqui –, do Deputado Deltan Dallagnol. Nós formamos o primeiro gabinete de fiscalização especializada, com 27 Parlamentares de nove partidos diferentes.

    Essa ideia foi inspirada nos chamados shadow cabinets, existentes em muitos países parlamentaristas, como Reino Unido, Austrália, Portugal e Espanha. Numa tradução livre, não literal, são considerados como gabinetes espelho e existem com o objetivo de fiscalizar, aperfeiçoar as políticas públicas e garantir a integridade governamental.

    Entre os 27 Parlamentares brasileiros, há alguns ex-ministros, com expertise natural nas áreas onde eles atuaram. Essa é a beleza do movimento: cada um no seu quadrado, com a sua experiência profissional, de vida. O Deputado Mendonça Filho, lá de Pernambuco, por exemplo, que foi Ministro da Educação, vai fiscalizar o Ministério da Educação; o Senador, nosso colega, Marcos Pontes, que foi Ministro da Ciência e Tecnologia, vai fiscalizar o Governo Lula no Ministério da Ciência e Tecnologia. Essa forma de acompanhamento qualitativo, com permanentes cruzamentos de informações, de forma coordenada, é uma medida correta e que vai propiciar ações judiciais, consistentes denúncias, sempre em defesa da justiça, da verdade.

    Eu, pessoalmente, assumi, Senadora Damares, a responsabilidade de acompanhar o Ministério dos Direitos Humanos, Senador Magno Malta. Posso, desde já, ressaltar pelo menos duas graves medidas tomadas, logo no início desse Governo Lula, como o apoio à retirada do Brasil do Consenso de Genebra, que reúne 30 países que defendem o direito à vida desde a concepção. Essa medida tem como objetivo referendar o aborto – o que o Governo fez, retirar o Brasil –, ou seja, o assassinato de crianças indefesas pelos próprios pais com a ajuda do médico, que jurou defender a vida. Uma medida totalmente contraditória de um Governo, de um Presidente que dizia, na campanha, agora há poucos meses, que era contra o aborto – fez até carta aos cristãos do Brasil –, e que está fazendo tudo ao contrário do que prometeu.

    Outra medida já deste Governo foi a declaração do Ministro Silvio Almeida defendendo a legalização das drogas no Brasil como medida efetiva...

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... para a redução da população carcerária. Com relação ao tráfico, em primeiro lugar, é bom sempre lembrar que, em todos os países onde as drogas foram legalizadas, a venda ilegal nunca acabou; em alguns países, até aumentou, porque o crime não paga imposto.

    Mas a maior gravidade dessa declaração diz respeito aos danos muitas vezes irreversíveis causados pela dependência química. Senadora Damares, eu tive a oportunidade de analisar, inclusive com a senhora, antes de chegar aqui, que os índices são assustadores nos países que legalizam as drogas, como a maconha, por exemplo – aumenta o tráfico, o consumo explode, é óbvio, e a criminalidade também.

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Será que o Brasil, Senador Izalci, já não tem problemas de mais para enfrentar e ainda vamos trazer outro problema para cá, a legalização de droga, de maconha? Pelo amor de Deus!

    Os primeiros cem dias do Governo Lula já foram suficientes para se perceber que nosso gabinete de fiscalização vai ter muito trabalho pela frente. Teremos a perspectiva de vários retrocessos, como, por exemplo, a questão da suspensão da reforma do ensino médio, iniciada em 2019. Outro exemplo é a possível revisão do marco legal do saneamento, aprovado por nós no Congresso Nacional, em 2020, num esforço para enfrentar a gravíssima situação de que 100 milhões de brasileiros vivem em locais sem nenhum esgotamento sanitário. Cadê esse Governo trabalhando pela saúde de quem mais precisa? O discurso de que é social? Pelo amor de Deus!

    Há também a iniciativa do Governo em alterar a Lei das Estatais, aprovada pelo Congresso Nacional, também em 2016, como resposta aos escândalos descobertos pela Lava Jato, que desviaram bilhões de reais. Tudo isso por carguinho. Tudo isso para cooptação, o toma lá, dá cá, a vergonhosa prática que o PT sabe fazer com excelência, essa da velha política.

    Muito trabalho nós teremos, por exemplo, com a questão de uma política externa, quando se pretende retornar os generosos empréstimos concedidos pelo BNDES para financiar a infraestrutura de países estrangeiros que, no passado, deram calote no Brasil, enquanto ainda temos tantos problemas aqui com os brasileiros.

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – O interessante é que é um alinhamento ideológico, não é? Vai... Parece que vai sentindo o cheiro e vai às ditaduras. É o Brasil financiando indiretamente as ditaduras, a caçada da liberdade de expressão, a perseguição religiosa... É isso que nós queremos no Brasil? Jamais! Não deixaremos.

    Para encerrar, Sr. Presidente, muito trabalho teremos em relação também à política econômica, cujas primeiras ações já apontam para o aumento da dívida pública em detrimento da necessária responsabilidade fiscal. Essa é uma questão crucial, pois tem reflexo direto no aumento da inflação e do desemprego, inibindo o desenvolvimento econômico do país.

    Presidente, eu peço um minuto, no máximo, a mais para concluir.

    Eu concluo, dizendo que compreendemos que esse gabinete de fiscalização especializada...

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... poderá contribuir, sim, fortemente para o fortalecimento de uma oposição técnica, madura, unida, junto com você, junto com a sociedade brasileira, para que a gente possa fiscalizar esse Governo de acordo com o pensamento de Benjamin, escritor e um dos fundadores do Partido Conservador, no século XIX, quando foi por duas vezes Primeiro-Ministro do Reino Unido. Ele dizia: nenhum governo pode ser sólido por muito tempo se não tiver uma oposição que seja terrível.

    Deus abençoe a nossa nação!

    Muito obrigado pela sua extrema paciência, Presidente!

    O SR. PRESIDENTE (Rodrigo Cunha. Bloco Parlamentar União Cristã/UNIÃO - AL) – Senador Girão, eu, como Presidente em exercício neste momento, o Senador Magno Malta e, com certeza, todos que estão acompanhando parabenizamos V. Exa. pelo discurso.

    V. Exa. representa aquilo que a gente busca na política: respeito, não é? Tem aqui seus argumentos, é coerente desde sempre, não está aqui sob pressão, não está aqui sob interesse de terceiros e traz vários elementos sempre, todos os dias, pensando na evolução da nossa sociedade. Então, pela sua postura sempre muito coerente e, fora disso, a forma como V. Exa. impõe o seu pensamento, quando é necessário, sem ser agressivo... Então, tem gente que mistura leveza com firmeza. V. Exa. é uma pessoa extremamente firme, é uma pessoa leve, é uma pessoa iluminada, que, por onde passa, faz amigos, mesmo que eles não concordem 100% com V. Exa., mas em grande parte.

    O Sr. Magno Malta (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - ES. Para apartear.) – Senador Girão, aliás, pegando a última fala aqui, a frase última do nosso querido Presidente, se concordar 100% não é amigo, porque amigo é aquele que tem alguém do seu lado que é capaz de lhe falar o que pensa, capaz de reconhecer os seus valores, os seus dotes, fortalecer, caminhar juntos. A Bíblia diz "[...] andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?". Então, 100% só Deus; nós somos, no máximo, 99%, não é? Eu concordo com V. Exa. em 99%.

    A luta de V. Exa. contra a legalização da jogatina do país é uma coisa assim... Eu sou testemunha ocular, porque eu estava no mandato de Senador. É uma luta de mais de dez anos. Eu, dentro deste Parlamento, e V. Exa. colocando suas energias. Essas energias... Quando eu disse a Prefeitos aqui desta tribuna... Eu fiquei muito feliz com uma Prefeita que me encontrou ontem para dizer que ouviu e já agilizou a sociedade dela para fazer a segurança voluntária das creches e das escolas; o segurança voluntário, ou seja, é um avô, é um pai, é um aposentado da sociedade se juntando para dar o seu tempo. E V. Exa. dava o seu tempo aqui.

    E a jogatina não foi aprovada até hoje aqui não é porque eu era Senador, não! É porque eu tinha essa assessoria do lado, tinha esses incentivadores e esses militantes da vida, como V. Exa. A legalização do aborto, a legalização das drogas, o enfrentamento a tudo isso, sabe? O enfrentamento a essa pressão feita pelo George Soros a esta Casa aqui. É preciso começar a dar nome para esses caras, e quem quiser ficar com raiva morda da língua e dê uma cabeçada na parede. Mas eu estou falando a verdade. V. Exa. era só um militante que participava. Saía do Ceará, vinha passar a semana inteira aqui, para poder participar, sentado lá atrás nas Comissões, e hoje é um Senador da República com as mesmas pautas, com os mesmos valores e os mesmos princípios.

    Quando eu conheci V. Exa., eu já pensava como penso hoje, já pensava como V. Exa., razão pela qual nos tornamos tão amigos, e V. Exa. tem a minha admiração. Se nós tivéssemos 100%, nós não éramos nem amigos, porque nós seríamos deuses. Não ia ter só um Deus, iria ter três: V. Exa. e eu. Então, a gente tem que discordar exatamente porque somos humanos, porque 100% só Deus. E amigo que é amigo fala o que pensa, amigo que é amigo caminha junto, ombreado, lutando as mesmas lutas.

    E, como disse o Presidente, V. Exa. orgulha a todos nós. Eu queria ter essa capacidade de falar devagar como V. Exa., de falar com o tom com que V. Exa. fala, sabe? Assim, eu nem gostaria de ter aparteado V. Exa. com o tom que eu tenho, porque, com o tom que eu tenho, parece que eu coloco a minha verdade assim... O Presidente disse que uns são dóceis e não dá para confundir com a firmeza, mas V. Exa. é dócil e tem firmeza, tem as duas coisas.

    Então eu o abraço, meu amigo, pela sua luta, e juntos nesse enfrentamento à jogatina no Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/2023 - Página 35