Discurso durante a 31ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a homenagear e relembrar as vítimas do holocausto em Israel, marcando o dia oficial de lembrança do Holocausto e do Heroísmo (Yom Hashoá ve Hagvurá).

Autor
Fabiano Contarato (PT - Partido dos Trabalhadores/ES)
Nome completo: Fabiano Contarato
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Homenagem:
  • Sessão especial destinada a homenagear e relembrar as vítimas do holocausto em Israel, marcando o dia oficial de lembrança do Holocausto e do Heroísmo (Yom Hashoá ve Hagvurá).
Publicação
Publicação no DSF de 19/04/2023 - Página 14
Assunto
Honorífico > Homenagem
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM POSTUMA, VITIMA, HOLOCAUSTO, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL.
  • COMENTARIO, CRESCIMENTO, GRUPO, NAZISMO, DISCRIMINAÇÃO, JUDAISMO, NEGRO, MULHER, PESSOA COM DEFICIENCIA, LESBICAS GAYS TRAVESTIS TRANSSEXUAIS E TRANSGENEROS (LGBT), MANIFESTAÇÃO, INTERNET.

    O SR. FABIANO CONTARATO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - ES. Para discursar.) – Senhoras e senhores, eu, inicialmente, quero agradecer ao meu colega e amigo, Senador Jaques Wagner, pelo convite para participar da abertura desta sessão especial, na pessoa de quem eu saúdo todas as pessoas que estão compondo a Mesa e todos os presentes.

    A comemoração do Dia da Lembrança do Holocausto é um evento de extrema importância.

    O genocídio nazista vitimou mais de 6 milhões de judeus. Também buscou o extermínio de negros, gays, pessoas com deficiência, ciganos, comunistas, Testemunhas de Jeová, entre tantas minorias.

    Honrar as vítimas e os heróis da resistência judaica contra o Holocausto nos dá a oportunidade de refletir sobre essa tragédia à luz da nossa humanidade comum.

    O lema do dia de hoje, lembrar para jamais esquecer, nunca esteve tão presente.

    Os mais jovens não têm vivo na memória o trauma histórico do Holocausto. Para eles, a Segunda Guerra Mundial parece um evento distante. Não se tem, hoje em dia, a real noção do que foi o nazifascismo; do que foi a perseguição de minorias, com os métodos covardes dos regimes totalitários – poderio militar, polícias secretas, roubos, confiscos, propaganda –; do que foi o uso da tecnologia para divulgar mentiras escabrosas sobre gente inocente; do que foi a mobilização da sociedade por meio dos linchamentos e dos discursos de ódio e da supremacia racial; do que foi, enfim, o extermínio em massa nos campos de concentração.

    O discurso neonazista, hoje em dia, atinge uma banalidade estarrecedora. Nós temos estudos recentes que apontam o crescimento de grupos neonazistas em quase 300% nos últimos anos. Muito disso se dá pela internet e pelas redes sociais. As denúncias sobre neonazismo nas redes cresceram em 60% segundo a ONG SaferNet. Os alvos são os mesmos: judeus, negros, mulheres, pessoas com deficiência, população LGBTQIA+.

    O pior é que essas manifestações não ficam na internet; elas repercutem no mundo real. Nós vemos isso quando uma suástica é pichada numa universidade; quando um cidadão negro é perseguido no supermercado; quando políticos inescrupulosos tentam reescrever a história em benefício próprio; quando agentes do Estado defendem a tortura como algo natural; quando agentes de Estado defendem a tortura como algo natural, mas também quando um coletivo feminista ou LGBT é caluniado; quando uma mulher trans é espancada, agredida ou morta.

    Senhoras e senhores, na minha vida política – e o meu querido Senador Jaques Wagner sabe disto –, em que pese a minha formação acadêmica ser no direito, sempre que eu posso ou eu tenho oportunidade... E pediria só mais um minutinho para tentar, quem sabe, tocar no coração com a literatura.

    E, nesta sessão, eu não me canso de me lembrar de um poema do poeta inglês W. H. Auden, que, com bastante propriedade – e aqui eu quero fazer uma homenagem singela aos 6 milhões de vitimados e a todas as famílias do Holocausto –, diz:

Parem os relógios, cortem o telefone,

impeçam o cão de latir,

silenciem os pianos e, com um toque de tambor,

tragam o caixão, venham os pranteadores.

Voem em círculos os aviões

escrevendo no céu a mensagem: ele está morto.

Ponham laços nos pescoços brancos das pombas,

usem os policiais luvas pretas de algodão.

Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste,

minha semana de trabalho, meu Domingo de descanso,

meu meio-dia, minha meia-noite, minha conversa, minha canção.

Pensei que o amor fosse eterno, enganei-me.

As estrelas são indesejadas agora, dispensem todas.

Embrulhem a lua, desmantelem o sol.

Despejem o oceano e varram o parque.

Pois nada mais tem sentido.

    Nos dias de hoje, lembrar para não esquecer significa justamente isto: lutar contra a apatia, lutar contra a indiferença, lutar em favor do que é humano em todos nós.

    Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/04/2023 - Página 14