Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação com falas do Presidente Lula a respeito do regime político da Venezuela. Críticas à participação do Brasil na União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

Solidariedade à jornalista Delis Ortiz, vítima de agressão no Palácio do Itamaraty.

Autor
Eduardo Girão (NOVO - Partido Novo/CE)
Nome completo: Luis Eduardo Grangeiro Girão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Governo Federal, Relações Internacionais:
  • Indignação com falas do Presidente Lula a respeito do regime político da Venezuela. Críticas à participação do Brasil na União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
Imprensa:
  • Solidariedade à jornalista Delis Ortiz, vítima de agressão no Palácio do Itamaraty.
Publicação
Publicação no DSF de 01/06/2023 - Página 30
Assuntos
Outros > Atuação do Estado > Governo Federal
Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Relações Internacionais
Outros > Imprensa
Indexação
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, APOIO, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, NICOLAS MADURO, INGRESSO, BRASIL, UNIÃO DE NAÇÕES SUL-AMERICANAS (UNASUL), CONCESSÃO, EMPRESTIMO.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Para discursar.) – Muitíssimo obrigado, Sr. Presidente, meu amigo Senador Astronauta Marcos Pontes.

    Sras. Senadoras, Srs. Senadores, funcionários desta Casa, assessores, brasileiros que estão aqui no Plenário do Senado, aqui nas tribunas acompanhando a votação, é muito bom tê-los aqui, e também toda a nação que está nos assistindo, pelo trabalho competente desse pool de comunicação, Rádio Senado, TV Senado, Agência Senado, que cobrem todo o trabalho da Casa revisora da República.

    Ainda sobre a constrangedora – e eu digo isso pelos cidadãos de bem, que são a imensa maioria dos brasileiros –, a constrangedora, vexatória visita do ditador venezuelano Nicolás Maduro, que, segundo a própria ONU, entidade respeitada, viola, vilipendia direitos humanos a ponto de sua ditadura perseguir seus opositores de forma violenta, inclusive com mortes, agressões sexuais e tudo que você possa imaginar. É o retrato desse ditador, que não apenas foi recebido aqui no Brasil, mas teve declaração de apoio, dizendo que é narrativa o que acontece com os nossos irmãos venezuelanos, que são massacrados. O nosso Presidente da República teve essa desfaçatez, que aliás é uma marca do Governo Lula, de dizer que é narrativa o que acontece naquele país. Outros Presidentes refutaram, aqui presentes na Unasul, e é sobre a Unasul que eu quero falar hoje.

    Estamos aqui com a presença, Sr. Presidente, de um Senador que abrilhantou esta Casa, hoje Deputado Federal, Senador José Medeiros, que viveu um momento hiperdelicado quando estava visitando, com um grupo de Senadores, Caracas, e quase não sai de lá, quase acontece o linchamento de Senadores brasileiros por aquela ditadura. Eles foram visitar um prisioneiro político, como hoje infelizmente nós temos no Brasil, sim. Sabem aquela propaganda "Eu sou você amanhã", é uma coisa um pouco assustadora o que está aí, mas nós estamos aqui para entregar a verdade, para denunciar essa trapalhada, trapalhada política que o Brasil protagonizou nesta semana, se apequenando perante o mundo e colocando o cidadão de bem de joelhos para um autêntico ditador.

    A União de Nações Sul-Americanas (Unasul), antes chamada Comunidade Sul-Americana de Nações, tem hoje apenas sete países. Chegou a ter doze, em 2020, com uma população somando quase 400 milhões de pessoas, com o Brasil representando 50% do território, população e PIB. É um bloco regional latino-americano que, há décadas, vem procurando consolidar o projeto da chamada pátria grande latino-americana, mas que, depois da criação do Foro de São Paulo por Fidel Castro – e adivinhem quem? Lula, em 1990 –, vem buscando integrar países com governantes alinhados ao internacionalismo de esquerda com governos socialistas.

    Esse projeto já tem, Sr. Presidente, 15 anos, desde quando foi assinado o tratado constitutivo da Unasul, em 23 de maio de 2008, na terceira cúpula de Chefes de Estado realizada aqui, coincidentemente em Brasília, no Governo Lula. Mesmo entre os países da América do Sul, nunca houve, repito, nunca houve consenso nessa iniciativa com matriz ideológica e durante muitos anos suas atividades ficaram paralisadas.

    Em 2018, seis países-membros suspenderam a sua participação nas reuniões do bloco. Alguns saíram definitivamente. Colômbia, em 2018, Equador, Argentina, Brasil, Chile e Paraguai, em 2019, e o Uruguai, em 2020 – 90% do PIB da Unasul saiu do bloco.

    Em 2019, para se contrapor à Unasul, oito países da América do Sul formaram um fórum para o programa de desenvolvimento da América do Sul, o Prosul, para não estarem arraigados ao viés ideológico do bolivarianismo, ainda vigente na Venezuela. O projeto de uma federação de nações da América espanhola vem desde o tempo de Simón Bolívar, mas foi apropriado pela esquerda para a consolidação de um esquema de poder defendido pelo Foro de São Paulo.

    A pergunta que se faz é: o que o Brasil ganha estando nesse bloco da Unasul? Quem é que mais ganha senão os demais países, principalmente a Venezuela. Está claro que é coisa ideológica. Está claro que os interesses do país estão sendo sufocados para o interesse político-partidário. Agora, eu faço uma pergunta a vocês: qual é o custo do Brasil para estar nesse bloco?

    Todos nós pagamos impostos, todos, uns mais, outros menos, mas é o dinheiro do contribuinte, do pagador de impostos. Já parou para pensar nisso? O custo do Brasil para se manter em algo meramente ideológico. É essa a prioridade do nosso país hoje? Com a retomada agora da Unasul, como quer o Presidente Lula, quem vai colocar mais recursos será o Brasil, óbvio.

    Pelo tratado da Unasul, existe uma cooperação financeira em que o Brasil, entre aspas, "empresta dinheiro nosso" para, entre aspas novamente, "ditaduras amigas", sem a efetiva garantia do retorno.

    Na verdade, essa integração latino-americana quer consolidar uma espécie de União Soviética latino-americana – uma forma de implantar o socialismo num bloco regional, tendo o Brasil como a galinha dos ovos de ouro, porque o que eles querem mesmo são os nossos recursos, sustentados com o dinheiro dos impostos dos nossos contribuintes, para consolidarem a chamada pátria grande bolivariana.

    Por isso, o Presidente Lula falou em moeda única na Unasul. Vejam, se aprovado o tal arcabouço fiscal, haverá mais margem de ação...

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... porque só poderá haver aumento de receita, aumentando os impostos, penalizando ainda mais a nossa população, para canalizar recursos a ditaduras como a da Venezuela, Cuba, Nicarágua. A Venezuela deve bilhões ao Brasil.

    O Presidente, ontem, foi perguntado pela imprensa brasileira – aliás, fica a minha solidariedade à jornalista que foi vítima de uma violência... Para mim, o Governo brasileiro, se tivesse hombridade, tinha que tomar iniciativa de dar parte e prender quem fez isso com uma jornalista do nosso país.

    Minha solidariedade à Delis Ortiz, da TV Globo.

    Agora, olhem só a que ponto nós chegamos, meu Presidente, Senador Astronauta Marcos Pontes: além de dever bilhões à Venezuela – ou a Venezuela deve ao Brasil –, em Cuba. Vocês esqueceram que ofereceram, como garantia num desses empréstimos, charuto – charuto como garantia?! É um desrespeito a quem trabalha neste país, a quem rala, a quem está saindo de uma pandemia ainda, porque eu considero que a gente está numa pós-pandemia, com pessoas com dificuldade.

    O que estamos vendo é uma estratégia, cada vez mais arrojada, do "lulopetismo" para garantir fontes de recurso para alimentar o seu projeto de poder socialista do Foro de São Paulo, que não tem aprovação, absolutamente, do povo brasileiro.

    Eles estão de olho na exploração de petróleo, na Região Amazônica. Querem, assim, favorecer a economia dos países vizinhos, que estão falidos.

    Quando o Presidente Lula diz que está "mais maduro", entre aspas, para esse processo, o que está em vista é uma busca por um modelo ideológico e político hoje vigente no Governo de Nicolás Maduro. Isso ficou evidente na recepção calorosa ao sangrento ditador venezuelano em nosso território, enquanto o povo lá está com fome.

    A cada dez venezuelanos, nove estão na pobreza. Inflação de 300%, só em um ano. É uma lástima. Um dos países que era dos mais promissores da América do Sul há cerca de 20 ou 30 anos. Eu tive a oportunidade de fazer uma visita a Caracas nessa época. Era impressionante a pujança. Eles destruíram aquele país, e, infelizmente, é isto: são esses alinhamentos que a gente está vendo na nossa nação.

    É isso que a gente quer para os nossos filhos e netos? Esse tipo de política?

    Preocupante, também, foi a declaração do Presidente Lula de usar os bancos de desenvolvimento de cada país para dar sustentação à Unasul, falando, inclusive, em colocar, abro aspas, "a poupança regional a serviço do desenvolvimento econômico e social".

    Aí fica a pergunta? Social para quem? Porque essa pergunta eu fiz, ontem, aqui. E os direitos humanos de que o Lula sempre falou, o PT, a democracia, para quem?

    Um violador de direitos humanos ser recebido como chefe de Estado com declarações do nosso Presidente dizendo que é narrativa o que falam dele, o que a ONU fala dele. Ele pode entrar em pouquíssimos países. Os países em que ele entrou, o Nicolás Maduro, são países que não têm democracia. Até a Argentina recusou. Os Estados Unidos têm 15 milhões acusando, com provas, mostrando que há o narcoestado e que o Nicolás Maduro tem uma participação nisso, em tráfico de drogas. Essa é a realidade que está acontecendo com o nosso país, Sr. Presidente.

    Para encerrar...O senhor está sendo muito benevolente, mas eu vou concluir agora. É muito preocupante e, para tanto, eu entrei com um PL, lá atrás, antes mesmo do começo do Governo Lula, com um projeto de lei que proíbe o financiamento a países estrangeiros, via BNDES, enquanto existir...

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ...algum brasileiro abaixo da linha da pobreza. É óbvio. Como é que a gente vai mandar dinheiro para fora – e a gente sabe que é por alinhamento ideológico, sempre foi, com o Governo do PT – tendo brasileiros abaixo da linha da pobreza? Eu entrei com esse projeto. Perguntem se andou, aqui na Casa. Outros colegas também entrarem com projetos semelhantes.

    O Jornal o Estado de S. Paulo repercutiu a avaliação do economista Lívio Ribeiro, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, dizendo que a criação de uma moeda comum para fins comerciais entre os doze países da América do Sul é inoportuna e com motivação errada. Essa motivação é também ideológica e vai contra a soberania brasileira, visa a dilapidar a nossa riqueza...

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ...para um esquema de poder que tende, inclusive, a não ser democrático.

    É o que acontece hoje na Venezuela, que foi o primeiro experimento concreto de cubanização da América Latina, desde Chávez, como sonhou Fidel Castro, sendo que o Brasil sempre foi visto como o país chave nesse processo.

    Vamos defender a nossa nação, a soberania. O povo brasileiro não concorda com isso. São tempos muito difíceis, tempos de censura, tempos de abuso de poder, tempos de arbitrariedades nos tribunais superiores, tempos de ruptura do Estado democrático de direito, tempos de grave ameaça à nossa democracia, se é que existe democracia ainda, Senador Zequinha Marinho –, penso que nós estamos numa pseudodemocracia, em nosso país, há algum tempo.

    Mas é também tempo de resistir, Sr. Presidente...

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – No último minuto, eu encerro.

    Mas é também tempo de resistir – e é para isso que eu conclamo a população brasileira –, tempo de perseverar na paz, tempo de acreditar na força moral dos homens e mulheres de bem deste país e de toda a América do Sul, porque somos irmãos.

    Enfim, é tempo de confiar na perfeição da justiça divina e tempo de ir para as ruas. No dia 4 de junho, domingo agora, os brasileiros estão de forma natural... Quem está satisfeito vai ficar em casa, quem não está, não tem outro jeito, a espada está na cabeça da gente, com desrespeitos diários à Carta Magna, à nossa Constituição.

    Que Deus abençoe a nossa nação e vamos juntos desenvolver um trabalho com integridade, com coerência e com verdade por esta nação que merece estar no topo do mundo.

    Deus abençoe.

    O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) – Obrigado, Senador Eduardo Girão.

    Mais um registro aqui, também, um repúdio, por como nós temos tratado o ditador Maduro aqui em nosso país, o que, sem dúvida nenhuma, é uma situação que é um vexame para o país, que precisa ter um regime democrático e que não pode apoiar um regime totalitário, autoritário, dessa forma.

    E, para aqueles que pensam em narrativa, é bom a gente lembrar que tem quase um milhão de venezuelanos que vieram para o Brasil e que estão aqui, não porque há uma narrativa, mas porque existem fatos que fizeram com que eles abandonassem o seu país e viessem para cá em busca de uma democracia, que a gente vai manter neste país, sem dúvida nenhuma.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Fora do microfone.) – Um milhão aqui e sete milhões em outros países.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/06/2023 - Página 30