Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca do anúncio de que o Brasil sediará a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, incluindo críticas ao evento.

Registro dos posicionamentos de S. Exa., favoráveis à igualdade entre homens e mulheres.

Autor
Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Meio Ambiente:
  • Considerações acerca do anúncio de que o Brasil sediará a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, incluindo críticas ao evento.
Mulheres, Remuneração:
  • Registro dos posicionamentos de S. Exa., favoráveis à igualdade entre homens e mulheres.
Publicação
Publicação no DSF de 01/06/2023 - Página 50
Assuntos
Meio Ambiente
Política Social > Proteção Social > Mulheres
Política Social > Trabalho e Emprego > Remuneração
Indexação
  • CRITICA, SEDE, BRASIL, CONFERENCIA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), MUDANÇA CLIMATICA, Amazônia Legal, FLORESTA AMAZONICA.
  • APOIO, IGUALDADE, GENERO, MULHER, HOMEM.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PSDB - AM. Para discursar.) – Presidente, Sras. Senadoras e Srs. Senadores, despertou grande interesse e também grande expectativa o anúncio de que o Brasil sediará a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que está tão em moda, a COP 30. Em novembro de 2025 agora, será em Belém, capital do Pará. Portanto, na Amazônia.

    A confirmação do Brasil como sede da COP, que costuma ser apresentada como o mais importante evento ambiental do planeta, atende o pleito feito durante a participação na COP 27, no Egito, no ano passado, logo após as eleições.

    A reivindicação foi feita pelo atual Presidente antes mesmo de assumir o cargo alegando que, como a Floresta Amazônica tem sido o principal tema do debate em várias edições da COP, além do Egito, ele decidiu sugerir que a COP fosse realizada na região para que as pessoas pudessem conhecer a floresta, suas riquezas.

    Não há dúvida de que é extremamente positivo que se conheça cada vez mais a nossa Amazônia, que é o grande patrimônio do país.

    Nesse sentido, é desejável que se conheça a verdadeira Amazônia. Não conhece a Amazônia o visitante que fotografa pirarucus, macacos e jaguatiricas, além de pessoas em trajes típicos, mas não percorre a floresta viva, não sobrevoa a imensidão da mata, não constata aquilo que está preservado e, em especial, não trava conhecimento dos moradores autênticos da terra.

    A verdadeira Amazônia, que esse pessoal vai conhecer durante a COP, não é a dos hotéis com ar refrigerado, das refeições temperadas ao gosto dos estrangeiros, não é a Amazônia dos relatos de entidades burocráticas, de depoimentos de especialistas que jamais puseram os pés na região mais afastada dos centros urbanos. E, principalmente, não é a que se discutia nas COPs anteriores.

    Na verdade, todos os que acompanham as COPs, as Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que já estão na sua 27ª edição, sabem não só da superficialidade das discussões como da falta de resultados práticos desses eventos. São verdadeiros encontros de ricaços que acham que podem ditar normas e delegar obrigações.

    Há diagnósticos, às vezes interessantes, produzidos nas COPs, frequentemente esdrúxulos e quase sempre fantasiosos. Fixam-se metas invariavelmente descumpridas por culpa de quem as propôs, e países ricos colocam outros nem tanto na berlinda, por aceitarem práticas poluentes que eles próprios adotaram e ainda adotam. Sempre paira no ambiente dessas COPs um cheiro de hipocrisia, às vezes ostensivo, às vezes subliminar, mas sempre presente.

    Quando esse pessoal sair daqui, depois de ditar normas, depois de nos impor obrigações, depois de nos impingir a mácula de que nós somos os grandes vilões, eles vão dizer, o que nós devemos fazer; vão sugerir coisas impossíveis, vão nos impingir a responsabilidade de cuidar do patrimônio, mas não vão apresentar soluções.

    Infelizmente, a superficialidade e a hipocrisia não se limitam a questões estéticas e a essas reuniões festivas, mas se estendem ao mais importante, que é o resultado concreto das conferências. A do Egito não constituiu exceção, muito pelo contrário. O mais grave de tudo e o que mais se expõe nas COPs, como festivais de hipocrisia generalizada, é que nada de realmente novo aparece ao final. Nada se parece mais com as conclusões de uma COP do que as conclusões da COP anterior. Sempre as mesmas repetições, apontando os mesmos problemas e as mesmas promessas de que vão criar um fundo para cuidar da Amazônia, de que vão dar dinheiro para o Brasil cuidar da Amazônia. Pura balela, pura hipocrisia.

    Basta ver que o esboço de 20 páginas do acordo final da COP 27 repete a meta do Pacto Climático de Glasgow, a COP 26, de limitar o aquecimento global em 1,5 graus e saudar o debate sobre o lançamento de um suposto fundo de perdas e danos para países devastados por impactos climáticos.

    E, mais uma vez, as nações mais endinheiradas, as que dispõem de recursos para investir em iniciativas que combatam a poluição, que atendam às populações em áreas de risco ambiental, que preservem, realmente, as florestas, recusam-se a usar o seu dinheiro para o que interessa de verdade.

    Isso é que o se faz em cada COP: países pobres querendo que os riscos assumam os gastos para combater a crise climática e nada recebendo de concreto desses países que têm dinheiro, porque quase todos devastaram o seu meio ambiente. Países vulneráveis ao clima, incluindo pequenas nações insulares, apontaram que, embora o esboço mencione perdas e danos, não inclui detalhes para o lançamento de um fundo. Ninguém se prontifica a contribuir, só nos dão tarefas e obrigações.

    Durante anos, os países ricos registram um fundo de perdas e danos alegando que isso pode implicar uma responsabilidade financeira sem fim, por sua contribuição histórica para a mudança climática. Isso se repetiu em COPs anteriores e vai se repetir na COP 30, em Belém do Pará. Tudo indica que, mesmo realizada na Amazônia, nada trará de concreto para a nossa floresta. Traduzindo, a COP 30, assim como as anteriores, de nada servirá para nós da Amazônia. Depois de promover essa peça teatral, cada um vai pegar o seu jato de volta ao seu país, ao conforto dos seus lares, enquanto nós, amazônidas... Na minha cidade, Eirunepé... De Manaus para Eirunepé, no voo da Azul, se gasta mais de R$3 mil, muitas vezes numa perna só.

    Mais uma vez, Senadoras, mais uma vez, Senadores, fica aqui o protesto de uma amazônida que não participa, que se recusa a participar de ser fantoche, menino de recado, plateia para aplaudir essas COPs que nada de concreto trazem para nós. E essa, como as outras, não vai trazer, é tudo teatro.

    Presidente, vi aqui, participo e apoio tudo o que for relacionado às mulheres. Quero dar um depoimento, Senadora Leila, de quem tem quatro filhas, de quem tem seis netas. Uma das minhas filhas, engenheira civil, saiu do emprego que tinha porque prometeram equiparar o seu salário ao dos engenheiros homens e não o fizeram. Ela saiu do emprego, abandonou o emprego, foi estudar, fez concurso e passou para fiscal da Assefaz. Então, eu sinto na pele o que vocês reivindicam. É a nossa luta é a mesma luta. Eu não distingo mulher de homem, eu não distingo homem de mulher. A causa é justa, a causa é nossa. Portanto, eu não vejo como continuar aceitando essa situação. O Senado tem, sim, grande participação nisso.

    Eu, como não poderia deixar de ser, mesmo que não quisesse – e eu quero –, vou ajudar a igualar a mulher ao homem, o homem à mulher. Seria obrigado a fazê-lo por conta de uma esposa, quatro filhas e seis netas. Portanto, mulheres, contem com este aqui sempre, em qualquer luta e em qualquer momento. Não é à toa que eu consegui, com a ajuda das mulheres do Senado e da Câmara Federal, a promulgação de uma lei que coloca na grade transversal do ensino brasileiro o tema da violência contra a mulher. Acho que é na educação que se dará a revolução dessa mudança que as mulheres mais do que merecem, elas precisam ter a nossa aquiescência, o nosso companheirismo.

(Soa a campainha.)

    Portanto, fica aqui registrado, por este Senador do Amazonas, que tudo o que se relacionar às mulheres, tudo o que for bom para as mulheres será bom para mim. Portanto, contem comigo de "a" a "z".

    E não é nenhum companheirismo barato e de momento, é uma coisa séria, é um respeito e um compromisso que carrego comigo desde que nasci.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/06/2023 - Página 50