Discurso proferido da Presidência durante a 77ª Sessão Especial, no Senado Federal

Encerramento da Sessão Especial destinada a comemorar os 50 anos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa.

Autor
Jaques Wagner (PT - Partido dos Trabalhadores/BA)
Nome completo: Jaques Wagner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso proferido da Presidência
Resumo por assunto
Agropecuária e Abastecimento { Agricultura , Pecuária , Aquicultura , Pesca }, Data Comemorativa:
  • Encerramento da Sessão Especial destinada a comemorar os 50 anos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa.
Publicação
Publicação no DSF de 27/06/2023 - Página 21
Assuntos
Economia e Desenvolvimento > Agropecuária e Abastecimento { Agricultura , Pecuária , Aquicultura , Pesca }
Honorífico > Data Comemorativa
Matérias referenciadas
Indexação
  • ENCERRAMENTO, SESSÃO ESPECIAL, CELEBRAÇÃO, CINQUENTENARIO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUARIA (EMBRAPA).

    O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - BA. Para discursar - Presidente.) – Obrigado, Senadora Damares, pelo seu pronunciamento.

    Quero começar o meu, comentando aquela parte que a senhora falou da informalidade. Eu, na verdade, sou um democrata convicto. Eu acho que o que esta mesa pode representar, com representantes de partidos diferentes, de ideias diferentes, para mim, é o símbolo da democracia. Eu acho que a riqueza da democracia é a nossa pluralidade. Se todos pensássemos igual, se todos gostássemos da mesma coisa, eu acredito que a vida não teria a graça e o desafio que ela tem para todos nós.

    E esta Casa ensina muito a todos nós, porque, se nós queremos andar para frente, é do confronto salutar de ideias e de ideais que nós vamos sempre achar a síntese necessária para que a democracia caminhe. Eu digo sempre que, na democracia, ninguém sai 100%, porque, se a democracia é a convivência dos diferentes, você sai com 60%, com 70%, porque alguém também tem a sua contribuição a dar.

    Então, eu creio que a sua informalidade para mim me trouxe esse despertar para fazer esta fala, porque eu acho que alguns confundem o que é um adversário político de um inimigo. As pessoas podem ser adversárias mesmo no campo de vocês, da pesquisa e da ciência, quanto às ideias, seguramente, diferentes, não necessariamente antagônicas, que passam até que se conclua uma pesquisa, se chegue a um produto ou se chegue a algum tipo de solução pela via da ciência e da tecnologia.

    Então, eu, pessoalmente, fico feliz de que a mesa tenha essa composição. Evidentemente aqui, entre os funcionários e admiradores da Embrapa, nós poderemos encontrar pessoas de convicções político-partidárias ou, eventualmente, ideológicas diferenciadas. Isso não impede que a gente conviva e construa.

    E eu gostei muito quando eu ouvi também a Presidenta da Embrapa falando de trabalhar para o grande, para o médio e para o pequeno. De novo, no Brasil, às vezes, a gente, por mau manuseio de uma democracia tão jovem, acaba colocando em campos antagônicos aquilo que não é antagônico.

    As coisas se somam, o público e o privado, cada um tem o seu papel na economia moderna. Não há contradição, não há por que aniquilar ou querer anular a presença de um dos dois. Na crise do subprime, de 2008, os bancos da iniciativa privada – que é próprio dela – se recolheram pelo risco iminente. Quem bancou crédito no país foram os bancos públicos que nós temos.

    Então, não há contradição. Como eu, como fui Presidente da Comissão de Meio Ambiente, cansava de dizer aos colegas – e ali havia gente que eu poderia classificar como ambientalista e gente que eu poderia classificar como gente do agronegócio –, e eu dizia sempre: "Não há contradição entre desenvolvimento e preservação e sustentabilidade". Na verdade, o conceito moderno de sustentabilidade é uma sustentabilidade tripartite: econômica, social e ambiental. Não é porque é moda hoje, todo mundo fala de meio ambiente, é porque é uma necessidade emergencial do planeta. O planeta está gritando todos os dias: "Tratem-me melhor, para que vocês possam continuar com muita longevidade vivendo aqui". E provavelmente nas mesas ou nas pesquisas que vocês fazem, vocês já devem estar pesquisando muita coisa que é consequência dos eventuais maus-tratos por nós, seres humanos, em relação à casa mãe, a nossa morada maior, que é o planeta Terra.

    Então, há evidências que, na minha opinião, precisam ser tratadas. E eu vou repetir, tentei sempre conduzir assim, tanto no meu Governo, quanto aqui, na Comissão de Meio Ambiente, na busca sempre da mediação, que é a alma e a arte do exercício da democracia. Por isso, eu quero dizer que realmente a Embrapa nos une a todos, porque a Embrapa, como eu disse no começo, é o orgulho para qualquer brasileiro. Eu já disse aqui, eu ia para o exterior como Governador, em missão internacional, e cansava de receber pedidos: "Gostaríamos de uma Embrapa aqui", ou seja, nós conseguimos construir na agricultura tropical um centro de excelência. Isso não é fruto de um ou de dois governos, é fruto basicamente dessas gerações que se sucederam aqui, sempre com o espírito público de querer fazer o melhor para a nossa gente, pela via da ciência, da pesquisa e da tecnologia, e como foi dito aqui também pela Senadora Damares, não uma ciência de gabinete, mas uma ciência que vai ao campo.

    Com todo o desenvolvimento do agronegócio no oeste do meu Estado da Bahia e com o fato de nós sermos o estado com o maior número de agricultores, pequenos agricultores ou agricultores familiares – são mais de 600 mil famílias que vivem da pequena agricultura, ou seja, da agricultura em pequena propriedade –, eu cansava de dizer para todos eles: na música de Gonzaga, o velho Luiz Gonzaga... Já que estamos saindo agora do São João – eu ontem fui dormir meia-noite e acordei às 4h para poder estar aqui, mas a gente não perde a maior festa familiar e popular, na minha opinião, do Nordeste. Em cada canto do Nordeste, você tem alguma coisa.

    Mas eu digo que, na música de Luiz Gonzaga, o sininho pendurado na vaca pode ser lúdico, mas nós queremos pequenas propriedades familiares ou de grupos de pessoas que possam ter tecnologia no seu tratar, no seu produzir. Não é mais para estarem trabalhando com enxada e ancinho. Pode ser até para fazer um canteiro, mas não para a produção de que nós precisamos hoje. Então, eu queria insistir que, na minha opinião, não há dicotomia, não há antagonismo entre a nossa produção e a nossa necessária preservação e manutenção do meio ambiente saudável para todos nós.

    Então, eu agora vou... Eu adoro falar de improviso, mas prepararam aqui o meu discurso e, para não frustrar quem o escreveu, vou lê-lo, porque, senão, o pessoal fica zangado. A gente pede a encomenda, eles estudam, preparam, depois a gente fala de improviso e não...

    Hoje celebramos 50 anos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, nossa Embrapa. É uma ocasião em que reafirmamos onde reside o verdadeiro poder de uma nação: na pesquisa científica voltada para o bem-estar de nossos cidadãos.

    Através do investimento no campo da pesquisa, a Embrapa objetiva antecipar cenários e gerar soluções para o setor agropecuário, fornecendo novos conhecimentos e focando em inovação. A empresa avança cada vez mais com estudos, ações e informações qualificadas, tendo como meta o aumento da competitividade e da sustentabilidade agropecuárias. Também leva em consideração a diversidade da agricultura pelo país, pensando tanto no âmbito familiar e nas comunidades tradicionais quanto na esfera empresarial. Por causa disso, as informações geradas no processo de pesquisa contribuem na formulação e no aprimoramento das políticas públicas relacionadas ao setor.

    Nesse meio século, a área plantada foi ampliada em mais de 160%, a produção de grãos aumentou em mais de 500%, a oferta de carnes bovina e suína foi quadruplicada, sem falar que a produção de frango é mais de 20 vezes superior àquela do início dos anos 70. Podemos hoje celebrar o fato de sermos o terceiro maior produtor de frutas no mundo, respondendo por 5,4% da produção mundial. É admirável que o Semiárido nordestino esteja exportando goiabas, mangas e até uvas. Há 50 anos, quando foi criada a Embrapa, essa perspectiva existia apenas na imaginação. Algo semelhante aconteceu com o nosso Cerrado. Em 1970, era considerado improdutivo e sem potencial econômico. Hoje, porém, responde por mais de 60% da produção de grãos do país. Isso tudo foi conquistado com pesquisa, experimentação e financiamento público – não nos esqueçamos disso.

    Em 2021, o Brasil respondeu por 32% do mercado internacional de café em grãos. Conquistas como essa provêm dos laboratórios e campos experimentais, da criatividade e da pesquisa séria, consistente, amparada em investimentos públicos e privados.

    E as conquistas são contínuas. Em anos recentes, por exemplo, foi lançada uma variedade de soja resistente à ferrugem asiática e ao percevejo; foi criado um bioinseticida fundamental para as culturas do milho e da soja; e, com promissor alcance planetário, a Embrapa elaborou o protocolo Carne Baixo Carbono. Essa a vitória: ao lado da produção Carne Carbono Neutro, atende a uma demanda de países que importam proteína animal do Brasil.

    A Embrapa também está comprometida com os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Entre essas metas, inclui-se a de produzir alimentos seguros para suprimir a fome e a de assegurar o acesso de todas as pessoas a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano. Trata-se de um esforço que será dirigido especialmente aos mais vulneráveis, incluindo as crianças.

    A Embrapa está igualmente comprometida com a meta de dobrar a produtividade agrícola e a renda dos pequenos produtores de alimentos. Em especial, a empresa trabalha para conservar os ecossistemas e torná-los mais resistentes às mudanças climáticas, às condições meteorológicas extremas, secas, inundações e outros desastres.

    Hoje, a atuação da Embrapa se divide organizacionalmente entre unidades de pesquisa, unidades de serviço e unidades centrais, contando com quase 10 mil empregados, dos quais mais de 2,4 mil são pesquisadoras e pesquisadores. Seus centros de pesquisas estão distribuídos pelo Brasil, estando presentes em quase todos os estados, mas com conhecimento produzido neles tendo alcance nacional.

    Por fim, senhoras e senhores, manifestamos nossa convicção de que o combate à fome e o aumento da oferta de alimentos são algumas das chaves para alcançarmos a justiça social e a harmonia entre os povos. O desenvolvimento sustentável e os desafios que temos para adaptarmos tecnologias e produção de alimentos aos extremos climáticos e a adaptação a esse novo cenário terão, sem dúvida, grande colaboração da Embrapa para a atual e para as próximas gerações.

    Ao proferir essas breves palavras, enaltecemos todas as pesquisadoras e pesquisadores, gestoras e gestores da Embrapa, funcionárias e funcionários. Vocês são motivo de orgulho para o país, responsáveis que são por inovações fundamentais para a nossa produção agropecuária, contribuindo assim para uma maior segurança alimentar no Brasil e em todo o mundo.

    Muito obrigado. Parabéns a vocês. Que Deus abençoe a todos os funcionários, pesquisadores, gestores, diretores, ex-presidentes, aqueles que pensaram essa empresa há 50 anos. E ela é tão inspiradora que a área da indústria já reivindicou e já criou a Embrapii, ou seja, tentando ladear o que a Embrapa fez na área da indústria. E nós sabemos que hoje sem ciência, sem pesquisa, sem tecnologia, nenhum país vai para a frente.

    Eu estava vendo aqui, quando vinha para este Plenário, uma exposição de fotos sobre o ecoclima, se não me engano é o nome da exposição, de Israel. Um estado minúsculo em território, praticamente sem água doce, mais de metade do seu território é numa região desértica e hoje esbanja e exporta tecnologia de irrigação, de dessalinização e tantas outras tecnologias para melhorar a produção e a vida das pessoas.

    Parabéns a vocês! Presidenta, parabéns!

    Eu tenho certeza de que esta senhora de 50 anos se sente bem feliz de, neste aniversário, estar sendo conduzida por uma mulher.

    Parabéns a todos!

    Que Deus os abençoe. (Palmas.)

    Está encerrada esta sessão.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/06/2023 - Página 21