Discurso durante a 83ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas aos líderes religiosos que propagam a intolerância religiosa, o ódio e a violência na sociedade. Posicionamento favorável ao tratamento democrático e respeitoso a todos os brasileiros.

Autor
Fabiano Contarato (PT - Partido dos Trabalhadores/ES)
Nome completo: Fabiano Contarato
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Religião:
  • Críticas aos líderes religiosos que propagam a intolerância religiosa, o ódio e a violência na sociedade. Posicionamento favorável ao tratamento democrático e respeitoso a todos os brasileiros.
Publicação
Publicação no DSF de 06/07/2023 - Página 31
Assunto
Outros > Religião
Indexação
  • CRITICA, GRUPO, LIDER, RELIGIÃO, PROPAGAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO, CRENÇA RELIGIOSA, VIOLENCIA, SOCIEDADE, DEFESA, TRATAMENTO, RESPEITO, DEMOCRACIA, POVO, BRASIL.

    O SR. FABIANO CONTARATO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - ES. Para discursar.) – Obrigado, Sr. Presidente.

    Senhoras e senhores, hoje eu venho aqui para fazer uma fala que, para mim, é muito cara.

    Nós estamos vivendo em um país com muitas desigualdades, mas também com muita intolerância, com muito ódio. Às vezes, as pessoas utilizam o nome de Deus para professar ódio, para difundir violência.

    O Deus em que eu acredito é um Deus de inclusão; o Deus em que eu acredito é um Deus de amor; o Deus em que eu acredito não julga, não aponta, ele acolhe, ele perdoa, porque eu vivo o que efetivamente está na Bíblia, quando São Paulo diz: "Eu não vivo, mas Cristo vive em mim"; quando o próprio Cristo diz que nós temos que olhar para todos nós e enxergar Deus, porque nós somos feitos à imagem e semelhança dele.

    Então, quando eu vejo alguém utilizando a palavra de Deus para proferir o ódio, para atacar populações, para atacar um segmento da população em nome de Deus, ele está ofendendo não só essa população, mas está ofendendo aquele verdadeiro cristão, que sabe que, dentro de um estado laico – e para mim é caro subir a esta tribuna para falar nesse assunto, mas é esse Cristo que nós temos que difundir –, essa pessoa não pode utilizar a palavra, a suposta palavra de Deus para difundir o ódio.

    Nós temos que entender que nós vivemos em um país em que um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é promover o bem-estar de todos e abolir qualquer forma de discriminação. Isso não sou eu quem está dizendo, isso está no art. 3º, inciso IV, da nossa Carta Constitucional.

    Nós temos que entender que, infelizmente, ainda vivemos em um Brasil onde as pessoas são julgadas por sua cor da pele, onde as pessoas são desqualificadas pela orientação sexual ou pelo gênero. Nós temos que dizer a todo momento – e nós não podemos perder a capacidade de indignação –, temos de vir aqui e falar isso diuturnamente, porque é esta a função do Parlamentar: usar a palavra para apresentar o Brasil ao Brasil.

    Mas passou da hora de nós, Parlamentares, derrubarmos os muros do Parlamento e interagirmos com o principal destinatário, porque todo poder emana do povo e deve ser exercido pelos seus representantes legitimamente eleitos pelo sufrágio universal. Será que nós estamos fazendo isso? Será que não chegou a hora de nós nos despojarmos de títulos, de vaidades, de salários, de cargos, de função, de paletó, de gravata e interagirmos com as pessoas em situação de rua? Vamos interagir com os povos tradicionais, com os povos indígenas, com a população LGBTQIA+, com os pobres.

    Minha gente, falar que o Congresso Nacional representa a população é um ledo engano, porque, se você traçar um perfil sociológico de quem aqui é representado, aqui se representam castas, aqui se representam camadas. Agora, a grande massa da população brasileira, que infelizmente ainda não tem uma saúde pública de qualidade, que infelizmente ainda não tem uma educação pública de qualidade e que tem uma elevada carga tributária, sofre o rigor das leis impostas por uma camada economicamente favorecida.

    Então, isso nós temos que dizer, isso nós temos que estar falando, para isso a gente tem que fazer uma grande corrente do bem. Nós temos que estar aqui falando: olha, todos somos iguais perante a lei, independentemente da raça, cor, etnia, religião, origem, orientação sexual, pessoa com deficiência. Todos somos iguais perante a lei. Essa é uma premissa constitucional.

    Eu tenho um sonho: eu sonho com o dia em que vou subir a esta tribuna e falar: olha, eu tenho orgulho de dizer que este Congresso representa, efetivamente, de forma igualitária, a população brasileira. Eu não falei isso só uma vez aqui, mas vou repetir, porque para mim a sabedoria está na repetição: eu queria que entrasse por este Parlamento representante maior dos pobres, dos pretos, dos pardos, dos indígenas, das mulheres, das pessoas com deficiência, da população LGBTQIA+. Aí sim, nós teríamos um processo legislativo e teríamos orgulho de dizer que vivemos numa democracia, porque democracia com desigualdade não é democracia. Democracia onde as pessoas estão subjugadas, humilhadas, violentadas, não é democracia. Democracia onde infelizmente, muitas vezes, o estado criminaliza a pobreza não é democracia. Democracia onde infelizmente o estado criminaliza a cor da pele, porque eu não vejo – e olha que eu sou da segurança pública – a polícia dando geral, fazendo busca pessoal, Presidente, em bairros nobres, mas eu vejo a polícia fazendo isso diuturnamente nos bolsões de pobreza, como se o pré-requisito para ser criminoso fosse ser pobre e preto.

    Eu tenho um sonho: eu sonho com o dia em que pessoas não vão tentar me desqualificar por minha orientação sexual, porque a mesma certidão de casamento que eu tenho vocês também têm. A mesma certidão de nascimento dos seus filhos, os meus dois filhos, que são a razão da minha vida, também têm. E enquanto Deus me der vida, saúde e força, eu vou subir a esta tribuna – vai me ser caro falar isso diuturnamente, mas eu vou dizer – e vou falar: respeitem, porque esse respeito é inerente a todos, porque todos somos iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.

    Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/07/2023 - Página 31