Pronunciamento de Leila Barros em 15/08/2023
Discurso durante a 104ª Sessão Especial, no Senado Federal
Sessão Especial destinada a homenagear a Marcha das Margaridas.
- Autor
- Leila Barros (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
- Nome completo: Leila Gomes de Barros Rêgo
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
Homenagem,
Movimento Social,
Mulheres:
- Sessão Especial destinada a homenagear a Marcha das Margaridas.
- Aparteantes
- Fabiano Contarato.
- Publicação
- Publicação no DSF de 16/08/2023 - Página 39
- Assuntos
- Honorífico > Homenagem
- Outros > Movimento Social
- Política Social > Proteção Social > Mulheres
- Matérias referenciadas
- Indexação
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- SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, MOVIMENTO SOCIAL, CONFEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA (CONTAG), MARCHA, MULHER, TRABALHO RURAL.
A SRA. LEILA BARROS (PDT/PDT - DF. Para discursar.) – Vocês veem que essa bancada é bem suspeita, ainda bem! (Risos.)
Bom dia a todas e a todos.
É um prazer, Augusta, fazer essa jornada, essa caminhada não só ao seu lado, que está chegando agora, mas aprendendo diariamente com Senadoras como Zenaide Maia. Tivemos tantas Senadoras que passaram por aqui, como Rose de Freitas, Simone Tebet e a própria Kátia Abreu, e hoje temos uma Jussara, temos uma Teresa, temos Daniella, temos Eliziane. Cada uma tem a sua trajetória, a sua história. A gente age muito em sororidade, por incrível que pareça, por mais que estejamos muitas vezes em campos distintos – não é, Zenaide? –, opostos, mas, quando a pauta é de interesse das mulheres, é importante para nós, impressionante como essa bancada consegue realmente se reunir em prol do que é importante.
Eu gostaria de cumprimentar primeiramente – quero até pedir desculpas, Augusta – a Mazé Morais, que é a Coordenadora da Marcha das Margaridas; a Ministra Cida Gonçalves, uma grande parceira nossa da bancada do Senado Federal; a Senadora Zenaide; e, nas pessoas delas, todas vocês.
Quero dizer que é um prazer. Eu tenho uma lembrança muito forte da Marcha das Margaridas, enquanto Secretária de Esportes, em 2016. Eu lembro que vocês não tinham onde ficar – não sei se vocês lembram bem isso, em 2016 – e iam ficar no autódromo. Aí veio o Acelino, que é um grande amigo meu, e falou: "Leila, as mulheres vão ficar no autódromo". Eu disse "Como assim no autódromo?". Nós sabíamos que era um calor infernal o autódromo. Falaram: "Não, elas vão armar as barracas e tudo". E eu falei: "Não, elas vão ficar no ginásio". Eu lembro muito bem. Talvez algumas veteranas que estejam hoje aí saibam que, inclusive, eu visitei lá, ficaram todo o período da Marcha das Margaridas lá. E foi um evento incrível.
Ali foi o momento – quero até dizer para vocês – em que eu percebi a minha verdadeira missão. Ali eu entendi por que eu deveria continuar na política, porque eu estava sendo de alguma forma influenciada por um movimento tão incrível, tão diferenciado, de mulheres com uma história tão forte!
Eu sou de família muito humilde, meu pai era mecânico que estudou até a terceira série, a minha mãe uma dona de casa. Tenho muito orgulho! Vieram do Ceará num pau de arara. Meu pai veio ajudar a construir a cidade; anos depois, meu irmão chegou com a minha mãe, e eu cheguei logo depois, porque eu nasci em 1971 aqui em Brasília. Eu me lembro das dificuldades, porque meu pai veio ajudar a construir Brasília, mas aqueles que vieram construir Brasília ficaram fora do quadrado. A gente já conhece um pouco dessa história de Brasília, daqueles que, de fato, sol a sol, construíram a cidade e tiveram que ir para as regiões administrativas. E eu nasci em Taguatinga, cresci em Taguatinga. E eu lembro que eu conheci o Lago Paranoá só com 13 anos. Sabem como? Porque eu ganhei uma bolsa de estudos no Cema, no Maria Auxiliadora. Eu não tinha condições de ir e voltar e ficava na casa das minhas amigas que moravam aqui nessa região.
Eu tenho muito orgulho da minha trajetória também, porque cada um sabe onde é que encontra as suas potencialidades e, digamos assim, as suas oportunidades. Eu nasci no barro vermelho de Taguatinga, me criei naquelas ruas.
E foi com a bola, sim, que eu me tornei a Leila, eu me tornei a Leila do Vôlei. Os pilares que o esporte trouxe para a minha vida eu trago hoje para a política, porque no esporte a gente aprende rápido a entender que eu não preciso amar aquele que eu não concordo com as ideias, mas eu preciso respeitar. (Palmas.)
Diferentemente do cenário que a gente encontra hoje... Eu aproveitei... A Augusta falou: "Leila, você quer falar?". Não, eu tenho é que ouvir essas mulheres, porque vocês são a origem do que eu sou. A minha casa era repleta de mulheres: eram minha mãe, minha avó, minha bisavó, a mãe velha, que era uma índia que tinha um cabelo enorme – dá para ver pelos meus olhos. É essa mistura que é o Brasil e a força que é a mulher, principalmente a mulher nordestina. E nós éramos oito mulheres, cada uma querendo falar mais do que a outra, eu lembro isso. Era ali naquele seio, junto com aquelas mulheres, que, quando eu representava o Brasil mundo afora, ou eu ia curar no colo delas as minhas feridas pela derrota, as minhas frustrações, ou eu ia comemorar as minhas vitórias, porque era a elas que eu devia tudo aquilo. Elas nunca deixaram de acreditar em mim. E elas me ensinaram desde cedo a ter orgulho da minha história, a ter orgulho de quem eu sou e a trabalhar e a lutar por aquilo que eu acredito.
A mensagem que vocês deixam para todas nós que estamos aqui...
E estou com um discurso lindo. Quero até pedir desculpas para a minha assessoria, mas, tão envolvida pela emoção, entendendo a minha missão e impactada com as falas de vocês, eu só queria dizer uma coisa: nós vamos continuar lutando!
Cada uma aqui, cada uma de nós Parlamentar temos uma história, que de fato representa cada uma de vocês. Então, eu gostaria de dizer de coração que estaremos aqui sempre de portas abertas. Se houve falha, se não foram atendidas, se precisamos melhorar, assim o faremos, mas que vocês continuem esse movimento lindo. Com esse movimento, acreditem, vocês não estão só inspirando as mulheres e as meninas que caminham com vocês, vocês estão inspirando a todas nós e deixando muito clara a missão dura... Não é fácil estar aqui, mas ela é prazerosa, porque sabemos que representamos a cada uma de vocês.
Viva as mulheres, viva o Brasil! (Palmas.)
Obrigada, mulherada. Obrigada.
Eu mudei tudo aqui. É isso aí, vamos continuar lutando.
Viva o Brasil!
A SRA. PRESIDENTE (Augusta Brito. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - CE) – Viva o Brasil! Ficou ótimo.
O Sr. Fabiano Contarato (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - ES) – Presidente, Presidente, me permita um aparte?
A SRA. PRESIDENTE (Augusta Brito. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - CE) – Com certeza, meu querido Senador. Aparte concedido aqui para o Senador Contarato.
O Sr. Fabiano Contarato (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - ES. Para apartear.) – Eu só queria aqui complementar, Senadora Leila, e falar da minha alegria, pois um dos presentes que eu sou mais grato a Deus por Deus ter me dado na política foi estar nesta Legislatura com V. Exa. V. Exa., a Senadora Augusta, que está chegando, e todas vocês são mulheres que me inspiram a cada dia. Todas vocês são mulheres que me inspiram a cada dia.
E eu sei que não é... Por favor, me perdoem, eu não quero jamais tomar o lugar de fala, mas eu quero que vocês encontrem em mim aquela pessoa que sempre vai estar lutando na defesa intransigente dessa garantia, que é constitucional, expressa no art. 5º, que diz que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, (Palmas.) mas isso ainda está longe de ser uma realidade, porque, só este ano, nós tivemos a aprovação de um projeto que garante igualdade salarial para homens e mulheres.
Que democracia é esta, quando se diz que todos somos iguais perante a lei, se, dentre os três Poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, o único que nunca foi presidido por uma mulher foi justamente o Legislativo? Que democracia é esta, em que eu estive em uma Assembleia Legislativa, em um determinado estado, em que, em 24 Deputados, nenhum é mulher? Isso tem que me dizer alguma coisa, porque, se não me disser nada, tem algo errado comigo. Que democracia é esta, que nós não temos uma representatividade maior dos pretos, pardos, indígenas, mulheres, quilombolas, pobres? (Palmas.)
Eu vou morrer – Senadora Leila, minha querida Augusta, perdoem-me o desabafo –, mas eu vou morrer defendendo que seja dada vida, vez e voz a essa garantia que, infelizmente, ainda está deitada eternamente em berço esplêndido.
Assim como Martin Luther King teve um sonho, eu também tenho esse sonho. Eu sonho um dia em que eu não vou ser julgado por minha orientação sexual. (Palmas.) Eu sonho um dia em que a Senadora Leila não vai ser julgada por ser mulher. Eu sonho um dia em que um idoso não vai ser julgado por ser idoso ou os meus filhos não serão julgados por serem pretos. Esse dia ainda não chegou, mas eu tenho fé em Deus que um dia eu vou subir a uma tribuna, onde quer que eu esteja, falando: eu tenho muito orgulho de ser brasileiro, porque, no país que eu ajudei a construir, todos somos iguais perante a lei. (Palmas.)
A SRA. LEILA BARROS (Bloco Parlamentar Democracia/PDT - DF) – Amém. Assim seja, amigo. Assim seja.