Discurso durante a 110ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a celebrar os 10 anos do Programa Jovem Senador.

Autor
Fabiano Contarato (PT - Partido dos Trabalhadores/ES)
Nome completo: Fabiano Contarato
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Atuação do Senado Federal, Homenagem:
  • Sessão Especial destinada a celebrar os 10 anos do Programa Jovem Senador.
Publicação
Publicação no DSF de 23/08/2023 - Página 16
Assuntos
Outros > Atuação do Estado > Atuação do Senado Federal
Honorífico > Homenagem
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, PROGRAMA JOVEM SENADOR, SENADO, PARTICIPAÇÃO, JUVENTUDE, PROCESSO LEGISLATIVO, COMENTARIO, HISTORIA, VIDA, ORADOR.

    O SR. FABIANO CONTARATO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - ES. Para discursar.) – Bom dia a todos e todas. Quero aqui parabenizar a condução desses trabalhos, o que faço na pessoa do meu querido e aguerrido Parlamentar, em quem eu, mesmo antes de sonhar ser político, eu me espelhava, que era o Senador Paulo Paim. Toda vez que eu tenho oportunidade, eu falo isso para ele.

    Quero aqui parabenizar a fala da minha querida Diretora Ilana Trombka, na pessoa de quem eu saúdo todos, toda a mesa.

    Quero falar que eu fico muito emocionado quando eu vejo esta solenidade e quando vêm até aqui, porque eu me vejo em vocês. Eu sou fruto de escola pública, eu sou fruto de uma pessoa que sempre utilizou o Sistema Único de Saúde, eu sou fruto daquele casal, daquele motorista de ônibus e daquela mulher semialfabetizada e que, mesmo com pouco conteúdo formal, escolar, me passou valores que, para mim, são irrenunciáveis, como um comportamento ético, um comportamento moral, como respeito, como fraternidade, como humildade, como dignidade, como compaixão, como solidariedade, como empatia. Esses valores são inegociáveis.

    Eu costumo dizer que a ocasião não faz o ladrão; revela. E quando eu vejo vocês, Jovens Senadores e Senadoras, na grande maioria mulheres, meninas, quando eu vejo a eleição da Vitória, que é simbólica para a gente, porque dos três Poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, o único que nunca foi presidido por uma mulher foi justamente o Legislativo, dos três Poderes. Ainda esta Casa é uma Casa sexista, ainda esta Casa é uma Casa machista, ainda esta Casa é uma Casa racista, homofóbica, misógina.

    Isso tem que ser dito, não como ofensa, mas para que nós não percamos a capacidade de indignação. Esta Casa sistematicamente, para mim, Senador Paim, são dois momentos, este daqui, e quando eu trouxe minha família aqui, meu esposo e meus dois filhos, porque num espaço que sistematicamente nega direitos a essa população, que fica invisibilizada, e, se você fica invisibilizado, você não faz parte de políticas públicas. Isso tem que ser dito a todo o momento.

    Então, quando a minha família subiu aqui a este púlpito, eu, meu esposo e meus dois filhos, Gabriel e Mariana – que são a razão da minha vida – aquele foi um momento histórico e singular na minha vida.

    Hoje, quando eu vejo aqui Senadores e Senadoras, frutos da escola pública, eu me vejo aquele Fabiano que estudava na Escola Ernani Souza, Professor Ernani Souza, na Escola Agenor de Souza Le, naquela escola em que, quando eu ia, o bairro era muito carente, inundava, era chamado de "toca", Senador Paim, porque inundava. E minha mãe me dava uma sacola de arroz de 5kg, Ilana, tirava o arroz, e aquela era a minha mochila. Mas ela me dava também, com a sabedoria dela, uma banda de limão, para que, quando eu chegasse à escola, eu espremesse nas sanguessugas que estavam grudadas no meu corpo.

    Foi dessa escola, foi da escola de um motorista de ônibus, de que eu tenho muito orgulho de falar, do meu pai Alvino, da minha mãe Giselda, que com muito amor, educou seis filhos, e eu sou o sexto filho.

    Eu também quero falar daquele Fabiano que ficou omisso, daquele Fabiano que ficou criminalizando a política por 52 anos. Quando as pessoas falavam para mim, "Contarato, seja candidato", e eu falava, não, isso não é para mim.

    Ledo engano, não façam isso. Por isso é que hoje eu estou aqui em um processo de remissão. Toda vez que me dão a oportunidade de falar eu falo: olha, filie-se a um partido, ajude a construir um projeto de governo para o seu bairro, para o seu município, para o seu estado, para o seu país, porque só através da política é que nós podemos transformar a vida das pessoas.

    É só através da política que nós vamos imprimir e dar vida, vez e voz àquela garantia constitucional expressa no art. 6º, que são os direitos sociais: o direito à educação, à saúde, à moradia, ao lazer, ao vestuário, a uma redução da carga tributária. É só através da política que nós vamos dar vez e voz àquela premissa constitucional no art. 5º, de que todos somos iguais perante a lei, independentemente de raça, cor, etnia, religião, origem, orientação sexual, pessoa com deficiência ou idoso, porque o Brasil com que eu sonho, o Brasil que eu quero construir para os meus filhos e para as futuras gerações é esse Brasil que não julga uma pessoa pela cor da pele, é esse Brasil que não julga uma pessoa por sua orientação sexual, é esse Brasil que não julga uma pessoa por ser mulher ou por ser homem, mas que acredita fielmente que a dignidade da pessoa humana passa por esses valores que são inegociáveis.

    Acredite nos seus sonhos, não criminalizem a política, vivam-na, mas voltem para casa e plantem, como muito bem disse Ilana, essa semente, essa semente que vai partilhar no coração e na alma de todos e todas aquilo que é fundamental em uma sociedade para que ela possa ser justa, fraterna, igualitária, inclusiva e plural.

    Eu finalizo. Como a minha formação é no direito, eu sempre falo que eu caí no direito por acaso, porque eu amo mesmo é a literatura. Então, eu finalizo com um poema que eu amo e que nos faz uma verdadeira convocação, de Lord Alfred Tennyson. Ele diz:

Venham amigos, não é tarde para procurarmos um mundo mais novo [...][minha meta é navegar] além do pôr do sol. [Embora não tenhamos a mesma força que antigamente movia céu e terra].[...] [O que nós somos, nós somos uma boa índole], corações heroicos, enfraquecidos pelo tempo [...], mas fortes na vontade de lutar, procurar, achar e jamais ceder.

    Um beijo carinhoso. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/08/2023 - Página 16