Discurso durante a 119ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação com a promoção, pela Polícia Militar de Alagoas, de militares investigados em graves crimes. Defesa da regulação dos critérios de promoção para os agentes de segurança pública. Críticas ao projeto de lei, apresentado pelo Governador do Estado de Alagoas à Assembleia Legislativa, que coloca militares à disposição de parlamentares estaduais.

Autor
Rodrigo Cunha (PODEMOS - Podemos/AL)
Nome completo: Rodrigo Santos Cunha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Governo Estadual, Segurança Pública:
  • Indignação com a promoção, pela Polícia Militar de Alagoas, de militares investigados em graves crimes. Defesa da regulação dos critérios de promoção para os agentes de segurança pública. Críticas ao projeto de lei, apresentado pelo Governador do Estado de Alagoas à Assembleia Legislativa, que coloca militares à disposição de parlamentares estaduais.
Publicação
Publicação no DSF de 31/08/2023 - Página 85
Assuntos
Outros > Atuação do Estado > Governo Estadual
Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Defesa do Estado e das Instituições Democráticas > Segurança Pública
Indexação
  • CRITICA, POLICIA MILITAR, ESTADO DE ALAGOAS (AL), PROMOÇÃO, MILITAR, OBJETO, INVESTIGAÇÃO, CRIME, DEFESA, REGULAMENTAÇÃO, CRITERIOS, REFERENCIA, AGENTE DE SEGURANÇA, DESAPROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, GOVERNADOR, ENTE FEDERADO, DISPONIBILIDADE, POLICIAL MILITAR, DESTINAÇÃO, DEPUTADO ESTADUAL.

    O SR. RODRIGO CUNHA (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - AL. Para discursar.) – Senador Weverton, que preside esta sessão, colegas Senadores, Senadoras, a todos que nos acompanham através da TV Senado, Rádio Senado, meu boa-noite.

    Eu utilizo mais uma vez esta tribuna, infelizmente, para abordar um assunto que não apenas me perturba, mas que também me desafia a refletir sobre a justiça, a ética e a responsabilidade de nossas instituições. E é com o coração pesado que eu compartilho a história do Sr. Thalles Shilmaney Leite, um pai que carrega a dor de perder seu filho, Marcelo Leite, de uma forma trágica e injusta.

    Marcelo teve sua vida ceifada em novembro de 2022, vítima de disparos de uma arma de fogo durante um suposto incidente com a polícia. O que deveria ter sido um encontro com agentes responsáveis pela proteção da sociedade, acabou se transformando em um evento trágico e sombrio. A notícia que me traz aqui hoje é ainda mais dolorosa: os policiais que são investigados por sua suposta participação na morte do Marcelo acabaram de ser promovidos pela Polícia Militar de Alagoas. A indignação do Sr. Thalles Leite é compreensível e compartilhada por muitos de nós. Ele expressou sua tristeza e aflição questionando: "Como é possível que aqueles que estão sob investigação por crimes tão graves possam ser promovidos?". Thalles, mesmo em sua dor, demonstrou coragem ao levantar questionamentos que nos levam a refletir sobre o verdadeiro propósito do que é justiça.

    Enquanto clamamos por justiça, enquanto esperamos que os processos internos e judiciais cheguem às conclusões justas, nos deparamos com um cenário em que os indivíduos que são acusados de destruir vidas e famílias são recompensados com promoções e reajustes salariais. E isso não é apenas uma questão de procedimentos burocráticos, é uma questão de integridade moral e ética.

    Marcelo Leite não está mais aqui entre nós para defender a sua inocência, para clamar por justiça. Por isso, é nosso dever, por isso é dever da sociedade – e aqui eu falo pelos amigos também do Marcelo, que mantém inclusive o perfil no Instagram #JustiçaporMarcelo e também por toda a sociedade da minha querida cidade de Arapiraca –, para que possamos somar forças em busca da verdade e da justiça, para que elas não sejam abandonadas. Eu já disse aqui inúmeras vezes que o maior combustível para a violência é a impunidade, tenho certeza absoluta.

    E não vamos permitir – não podemos! – que esse crime que vitimou o Marcelo fique impune. Nós queremos justiça, verdade e que tragédias como essa não se repitam.

    Hoje nos unimos à dor do Sr. Thalles Leite e de todas as famílias que perderam entes queridos de maneira trágica e injusta. Reafirmamos nosso compromisso com a busca pela verdade, pela responsabilização e por uma sociedade em que a justiça prevaleça. Que as palavras do Thalles ressoem em nossos corações e nos inspirem a lutar incansavelmente por um mundo onde a verdade e a justiça sejam pilares inabaláveis.

    Precisamos regular a pauta que se refere aos critérios de promoção de policiais em todo o nosso país. Entendo e defendo que homens e mulheres da segurança pública, que em sua grande maioria são agentes da segurança e promotores do bem-estar coletivo – é o que deve prevalecer –, são trabalhadores e trabalhadoras que colocam suas vidas e a de suas famílias em risco para defender nossa sociedade. São funcionários públicos que merecem aplausos. Porém, como em todo meio, há os bons e os maus profissionais, e os maus, que são a minoria, merecem punição, e não promoção. Precisamos criar leis que garantam promoções e benefícios para que os policiais que atuam corretamente – repito, que são a grande maioria da categoria – sejam beneficiados e haja punição para os policiais que envergonham suas corporações.

    O que não se pode é dar prêmio aos que desonram a sociedade, e isso infelizmente é o que vem ocorrendo em Alagoas. Eu defendo que os policiais acusados, em situação sub judice, tenham suas promoções bloqueadas até o trânsito em julgado de suas sentenças. Se considerados culpados, devem ser demitidos da corporação; se considerados inocentes, devem ter o direito às promoções, inclusive com reparações.

    A família e amigos do Marcelo têm a minha total solidariedade. Essa promoção dos três PMs reforça a sensação de injustiça que impera em Alagoas e em boa parte do país. E acrescento: esse não é um caso isolado. Vamos relembrar aqui mais um, que eu utilizei aqui da tribuna: o caso do Major da Mala. Em janeiro deste ano, a Polícia Militar escolheu o Major da Mala para ser promovido ao posto de tenente-coronel. E, para quem não se lembra do discurso que eu proferi aqui e que a imprensa nacional noticiou, no dia 1º de outubro de 2022... Era um sábado; no dia seguinte, seria o dia da eleição, domingo. Nesse dia, sábado à noite, a Polícia Federal chegou a um hotel da capital, em Maceió, filmando com a câmera e ali identificou o Presidente da Assembleia Legislativa com dinheiro, ao lado de uma relação de nomes, supostamente para comprar votos – e o próprio inquérito à Polícia Federal vai nesse caminho –; e, do outro lado, chegando, um policial militar, carregando uma mala com mais dinheiro. E o policial federal, quando foi abordar a pessoa que estava carregando a mala, que também era policial, colocou uma arma na sua cabeça e conseguiu fugir. Mas tudo isso foi investigado pela Polícia Federal, consta no inquérito, e esse, na época, Major da Mala, em vez de ser punido, em vez de ser colocado na "geladeira", foi promovido, porque nós sabemos, inclusive, da relação que tem entre o Presidente da Assembleia Legislativa, que é o braço direito – se não posso dizer o tutor – do Governador do Estado de Alagoas, Paulo Dantas.

    Então, esses casos geram impunidade. E eu repito: é o que faz com que o modus operandi permaneça o mesmo. E assim os três PMs acusados da morte do empresário Marcelo Leite, que é de quem nós estamos falando... Não é um caso isolado, porque tem o Major da Mala, que, no lugar também de ser investigado, foi premiado. Então, esses casos mostram que a promiscuidade é uma realidade que tem de ser enfrentada em Alagoas e no Brasil.

    Aqui, senhores, eu também aproveito – eu me comprometi a ficar nos dez minutos – para trazer mais uma situação, já que nós estamos falando sobre a Polícia Militar. E aqui eu rendo as homenagens a toda a corporação, que, na sua grande maioria, merece o posto que ocupa, mas é para mencionar mais um caso que eu posso considerar aqui estapafúrdio. É uma situação que, com certeza, não é em todo lugar que acontece.

    Lá em Alagoas, o Governador Paulo Dantas acabou de encaminhar um projeto de lei para a Assembleia Legislativa que coloca 74 militares da ativa à disposição da segurança – da população? Não – dos 27 Deputados Estaduais e, além disso, podendo ter a possibilidade de dobrar esse número com os policiais que estão aposentados, mediante contratação. Então, imagine o que seriam 148 policiais divididos por 27 Deputados: são 6 PMs para cada Parlamentar. Enquanto isso, a sociedade vive com medo dos assaltos constantes, e a sensação de insegurança é maior ainda.

    Então, o que justifica, no momento em que nós vivemos, ter a destinação de um Governador de estado pedindo para a Assembleia aprovar um projeto no sentido de dar uma segurança aos Deputados Estaduais? É um desperdício de dinheiro público, um desrespeito com a maioria da tropa, inclusive, que atua nas ruas, e um escárnio com o nosso povo, que precisa de segurança a seu favor e não de soldados em gabinetes de Deputados fazendo sabe-se lá o quê.

    Eu mencionei um que estava a serviço do Deputado Estadual que, à época, era até o Presidente, inclusive é até hoje da Assembleia Legislativa. E todo mundo sabe o que ele estava fazendo. Eu espero que os que, por acaso, cheguem a esses gabinetes não tenham a mesma condução. Então, é inaceitável que isso ainda seja uma realidade e que a gente tenha que falar sobre esse assunto.

    Os Parlamentares, Deputados Estaduais de Alagoas, eu tenho certeza de que vão ter o momento para decidir sobre isso, que vão colocar a mão na consciência, vão saber que não se justifica ter uma assessoria militar. Eu passei quatro anos naquela Casa. Então, quem precisa de segurança é a população. A polícia na Assembleia sempre teve um sentido diferente, que é justamente para investigar. A Polícia Federal vira e mexe passa ali pela Assembleia Legislativa de Alagoas, e querer agora ter um aparato de segurança para proteger os Deputados Estaduais num estado que passa por muitas dificuldades realmente é uma decisão estapafúrdia.

    Concluindo, senhores, também acredito que este Congresso Nacional e o Senado precisam estar atentos e legislar rumo a relações legais e transparentes entre corporações policiais e Legislativos estaduais. Os três casos que eu mencionei aqui se referem a Alagoas, mas mostram também uma urgência de este Congresso atuar, porque não são casos isolados.

    Então, eu queria aqui, mais uma vez...

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Eu queria pedir um aparte, Sr. Presidente.

    O SR. RODRIGO CUNHA (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - AL) – Perfeito.

    Só para finalizar aqui, meu amigo Girão, eu queria – e sei que V. Exa. também, quando vai para casa, faz suas orações, preces, eleva seu pensamento – que a gente possa, neste momento, pedir boas energias para que a família – eu sei muito bem o que é isso – do Marcelo Leite, que foi uma vítima... E, quando se pensa que já passou a pior parte, sempre tem fatos que vão acontecendo para fazer com que essa ferida não cicatrize e o ciclo não finalize. Então, a impunidade faz com que a família sofra a cada momento.

    O Sr. Thalles fez uma manifestação, ontem, porque, infelizmente, aqueles que estão hoje sendo indiciados, que estão sendo apontados como os autores do crime que vitimou o seu filho, o seu amado filho, estão sendo premiados, quando podem ser punidos.

    Essa lentidão, para que tantos os processos internos, quanto os externos, cheguem a um julgamento final e os bandidos, criminosos, sejam penalizados... E, se não forem, que sejam, sim, premiados, a justiça seja feita.

    Então, é o resumo da minha fala aqui, pedir por justiça e por verdade.

    Eu queria ouvir o Senador....

    O SR. PRESIDENTE (Weverton. Bloco Parlamentar Democracia/PDT - MA) – Eu queria convidar V. Exa. para assumir a Presidência.

    O SR. RODRIGO CUNHA (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - AL) – Perfeito.

    Com o maior prazer, Presidente Weverton.

    O SR. PRESIDENTE (Weverton. Bloco Parlamentar Democracia/PDT - MA) – O Senador Girão vai fazer o aparte... Pela ordem, não é aparte.

    O SR. RODRIGO CUNHA (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - AL) – Fechado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/08/2023 - Página 85