Presidência durante a 124ª Sessão Especial, no Senado Federal

Encerramento de Sessão Especial destinada a comemorar os 80 anos da criação do Território Federal do Amapá.

Autor
Randolfe Rodrigues (REDE - Rede Sustentabilidade/AP)
Nome completo: Randolph Frederich Rodrigues Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Presidência
Resumo por assunto
Homenagem:
  • Encerramento de Sessão Especial destinada a comemorar os 80 anos da criação do Território Federal do Amapá.
Publicação
Publicação no DSF de 12/09/2023 - Página 22
Assunto
Honorífico > Homenagem
Matérias referenciadas
Indexação
  • ENCERRAMENTO, SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, CRIAÇÃO, TERRITORIO FEDERAL DO AMAPA, REGISTRO HISTORICO, COLONIZAÇÃO, EUROPA, MIGRAÇÃO, POVO, COMENTARIO, PRESENÇA, EX-DEPUTADO, DEPUTADO FEDERAL.

    O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/REDE - AP) – Meus cumprimentos e agradecimentos ao Governador não somente pelo seu pronunciamento... Coube à história possibilitar que Clécio assumisse o Governo do Amapá nos nossos 80 anos, e, como eu costumo dizer, tem muito significado e diagnóstico ter o Clécio no Governo do Amapá, por toda a identidade que ele tem de muito tempo com a história de nossa terra, com a história de nossa gente.

    Muitíssimo obrigado, Governador.

    Não poderia... É com esse seu pronunciamento que nós abrimos aqui no Senado Federal as celebrações dos 80 anos, celebrações que unirão Brasília e Macapá, do caríssimo Lucas. De lá e de cá, nós teremos, a partir do dia de hoje, eventos distintos e diferentes. Também tem muito significado e diagnóstico com o Clécio governando o Amapá: nós temos de volta muitas várias celebrações do Amapá e muitos vários eventos.

    O Governador Janary Nunes, há 70 anos, criou a primeira Expofeira Agropecuária do Amapá, a partir da estatização da pecuária, o primeiro canto do Brasil a se fazer. Nós somos sui generis em muitas coisas, essa foi uma das tantas que Janary legou. Depois de 70 anos, a Expofeira voltou, agora, durante o Governo de Clécio. Eu acho que não poderia ter homenagem melhor ao caríssimo Janary, pai de vocês, Rudá e Guairacá, do que o retorno da Expofeira Agropecuária, para apresentar não somente a pecuária que era apresentada, mas tudo que nós temos no Amapá.

    Eu queria aqui agradecer muito especialmente ao Sistema Diário e ao Sistema Beija-Flor, que estão fazendo essa transmissão ao vivo para o Amapá inteiro, para todo o Amapá, estão fazendo a transmissão desta sessão solene. Então, quero agradecer a esses meios de comunicação, assim também como agradecer à Rede Amazônica e à TV Amapá, pela identificação com a nossa terra.

    E muito especialmente, o Governador já destacou, quero agradecer também aqui à nossa Rádio Difusora de Macapá, que aqui está presente – Paulo Silva, cumprimento-o –, que também nesta semana celebra os seus 77 anos, contemporânea do nascimento. É que, com a obra de Janary, foi criada muita coisa junto, uma delas foi a Rádio Difusora de Macapá.

    Ao mesmo tempo eu queria... Daqui a pouco nós vamos ter a apresentação do Coral do Senado Federal também. Temos um gran finale aqui; não vou fazer spoiler, vou deixar para daqui a pouco o gran finale que nós teremos.

    Quero agradecer a presença de vários, entre tantos artistas nossos, não somente os que aqui já se apresentaram, o Joaquim França, Patricia Bastos, Nena, Cleane Ramos, o Pretogonista, o nosso rapper Pretogonista, que vai se apresentar daqui a pouco...

    O SR. CLÉCIO LUÍS (Fora do microfone.) – Só uma gentileza, eu me esqueci de falar o nome do Joaquim.

    O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/REDE - AP) – Joaquim, o Governador está pedindo desculpas porque não o citou, entendeu? Mas é o seguinte: não foi lapso dele, foi lapso da ausência na nominata. Não tem como não citar e registrar a presença do nosso maestro Joaquim França.

    Além dele, a presença de nossos artistas, expressões da arte amapaense: Herivelto, que está aqui presente, marco de nossa pintura das belas artes amapaenses; Floriano Lima, nosso fotógrafo, que tanto nos brinda com as belezas que temos no Amapá; e, em especial, Ralfe Braga, autor do selo do Amapá e dos eventos, do selo comemorativo aos 80 anos do Amapá e da logomarca desses 80 anos, adotada, Clícia, pela Secretaria de Cultura e pelo Governo do Amapá.

    Destaco também a presença aqui da Terezinha Ferreira, fundadora do Memorial Amapá. Queria agradecer ao Memorial Amapá também pela parceria nesses eventos.

    Agradeço aos familiares do ex-Prefeito de Macapá, Domício Campos Magalhães: a Sra. Guiomar Ferreira Magalhães, viúva de Domício Campos; e o Sr. Denilson Magalhães, filho de Domício Campos Magalhães.

    Agradeço muito especialmente a presença do meu querido amigo, Deputado Vinicius Gurgel, representando aqui a Câmara Federal. Obrigado por sua presença a tempo de prestigiar esta sessão dos 80 anos da Macapá. V. Exa. aqui representa a bancada federal, a Bancada nossa do Amapá na Câmara Federal. Vinícius, amanhã, nós teremos uma data muito especial aqui, vamos voltar a nossa PEC da transposição. Eu espero, como o vigia espera pela aurora, que ela siga lá para a Câmara dos Deputados e que V. Exa. possa assumir a relatoria para tocá-la e aprová-la para todos nós.

    Minhas senhoras, meus senhores, meu caríssimo amigo Governador Clécio, Desembargador Carlos Tork, Priscila Karipuna, Jory Oeiras, meu parceiro e companheiro de organização desses eventos, Josiel Alcolumbre, esta semana inaugura o início das celebrações do Amapá. A nossa terra tem vários orgulhos, e um deles é o de estar banhada pelo Amazonas. Ali, o

Amazonas, indiferente a tudo, abre a sua boca num estuário imenso. Tolda de barro as águas azuis. Serpenteia por igarapés, rios, estreitos e canais. Invade florestas, oscila nas marés e nas estações. A margem esquerda [...] [adentra] ilhas e bancos de areia, recebe o rio Jari, majestoso, tranquilo, que despenca das alturas nas cachoeiras [...] de Santo Antônio. Chega largo e [...] com a cabeceira ondulante [...]. Na frente [...] [ não se distingue o que é céu do que são as águas].

    O nosso lugar vem do Oiapoque ao Jari. O nosso nome deriva do aruaque: guianas. Guiana não é o nome de um lugar, não são as guianas europeias, portuguesas, nosso nome outrora, não são as guianas francesa, a antiga holandesa – hoje, Suriname – e a antiga inglesa. Guiana é uma generalização do aruaque, minha caríssima Simone: terra de muitas águas.

Do Jari, lançando-se no Amazonas, ao Oiapoque, já dirigindo-se ao norte, é a combinação margem e costa que realmente define o Amapá.

    Hoje só se tem uma vaga ideia de como os europeus ficaram encantados ao encontrar essa região. Pinzón assim a denominou: costas alagadas, costas afogadas. Assim, ele definiu o conjunto de várzeas que acompanham toda a costa amapaense. São várzeas, rios e lagos. Em nenhum lugar do mundo, minha caríssima Alcilene, é possível navegar de lago em lago, só na região diversa do nosso Amapá. Essa diversidade de águas outrora foi denominada por Mário de Andrade: existe ali uma das "grandezas tão grandiosas que ultrapassam" as percepções humanas.

    Eu falei de Mário de Andrade assim como poderia falar, ao longo da história, de tantos e tantos que se encantaram com as nossas belezas naturais. Até o Padre Antônio Vieira lá descreveu o nosso Amapá. Dizia o Padre Antônio Vieira sobre a região do Estuário do Amazonas:

[Há ali] [...] um confuso e intrincado labirinto de rios e bosques espessos, aqueles com infinitas entradas e saídas, estes sem entrada nem saída alguma, onde não é possível cercar, nem achar, nem seguir, nem ainda ver ao inimigo, estando ele no mesmo tempo debaixo da trincheira das árvores, apontando e empregando as suas frechas.

    Dizia assim o Padre Antônio Vieira ao denominar a atuação dos nossos povos originários que se encontravam nas Costas Anegadas de Pinzón.

    Também, por lá, uma missão especial da Académie des Sciences, francesa, designou um cientista do século XVIII chamado La Condamine, que, em 1745, defende e descreve a diversidade que lá temos:

Entre Macapá e o cabo do Norte, no local onde o grande canal do rio se encontra mais apertado pelas ilhas, e sobretudo em frente à grande foz do Araguari, que entra no Amazonas pelo norte [dizia aí La Condamine, meu caríssimo Governador, a descrição do que nós conhecemos como pororoca], o fluxo do mar oferece um fenômeno singular. Durante os três dias mais próximos das cheias e das luas novas, tempo das marés mais altas, o mar, em vez de levar cerca de seis horas para subir, chega à sua altura máxima, em um ou dois minutos: pode-se bem imaginar que isso não possa ocorrer tranquilamente. Ouve-se a uma ou duas léguas de distância um ruído assustador, que anuncia [o que os indígenas chamam de] a pororoca. É o nome que os índios desses cantões dão a essa terrível vaga. Na medida em que nos aproximamos o ruído aumenta, e logo se vê um promontório de água de 12 a 15 pés de altura, [...], depois um terceiro e por vezes um quarto, a intervalos breves, e que ocupam [...] a largura do canal.

    Imaginemos qual deveria ter sido o estupor de La Condamine, em 1745, ao ver uma, somente uma, de todas as nossas grandezas naturais.

    O Amapá é sobretudo, em sua grandeza, estrondoso como a pororoca. A pororoca é uma de nossas expressões tão vastas e grandes quanto o rio das amazonas e seu estuário, tão vastas e grandes quanto a diversidade de águas de nossa região, tão vastas e grandes quanto a diversidade de nossos rios Jari, Araguari, Amapá, Cassiporé, Cunani, Calçoene, Oiapoque. Os aruaques estavam certos: guiana, terra de muitas águas.

    Essa dimensão de águas e rios distintos também foi terra de gente, de muita gente ao longo da história. E pensar que falam hoje, Governador, que nós somos uma terra pouco povoada. Talvez identificam pouco, Priscila, de desde quando nós viemos. Data-se, segundo os estudos arqueológicos, de 7 mil anos antes de Cristo o começo da ocupação da margem esquerda do Amazonas, uma ocupação que se seguiu pelo povo aruaque do Rio Essequibo, onde hoje se chama Venezuela, até a margem esquerda do Amazonas. Os aruaques, diferentes povos que desenvolveram a cerâmica Aristé, que tanto conhecemos, referência para toda a humanidade, constituíram, até a chegada dos europeus naquele canto, a região mais povoada das Américas. Hoje se vangloriam de ser uma tal de Nova York, São Paulo e outras metrópoles pós-europeicas. As metrópoles de antes dos europeus eram a margem esquerda, o nosso Amapá.

    Um dos nomes distintos que tivemos, nomes de que tanto nos orgulhamos, Amapá, é do tupi, dos oiampis, como de tantos outros que para lá foram; amapa é do tupi, e amapaba, lugar da chuva.

    Assim como os tupis, dos aruaques, muitos outros vieram. Os karipunas, aqui representados nesta mesa; os palicures, primeiros encontrados pelos europeus – aliás, Pinzón denomina a costa que encontra, antes dos portugueses, em 1498, de Costa Palicúria –; os galibis, galibis-maruornos. Nosso nome atual, Amapá – amapaba, lugar da chuva ou, uma variação também do tupi, lugar onde a terra acaba –; para os portugueses, logo no século XV, ao chegarem, a Capitania do Cabo Norte; para os espanhóis, a partir do século XVI, Adelantado de Nueva Andaluzia; para todos, a Guiana Portuguesa. Muitos nomes, muitas gentes. A terra dos aruaques; a terra, a mais populosa região das Américas; a terra dos tukuyenes – tukuyenes, como eram chamados o que os europeus chamavam de tucujus; era a variação deles. Há muitas diferentes notícias desse povo: para alguns, mítico; para outros, aquele que nos trouxe a nossa identidade.

    Quando Joãozinho Gomes compôs Jeito Tucuju, também queria falar do jeito dos tucujus, dos palicures, do jeito dos aruaques que por lá passaram, do jeito dos galibis, dos galibis-maruornos e de tantos, tantos, tantos dos nossos povos originários.

    Esses povos migraram, pressionados pela colonização europeia. Desses povos talvez se tenham poucas notícias de personagens. Um em especial temos que destacar. Porque nós falamos do Cabral, do Janary, falamos de Mãe Luzia, de tantos e tantos outros da história mais recente, mas é importante falar daqueles cuja história é de antes da chegada dos europeus, meu caro Carlos Tork. Karumayra, um xamã palicur, uma figura histórica, que liderou os palicures em um conflito com os tukuyenes, referência dos palicures, na mitologia palicur, ainda presente no dia de hoje e que, segundo os registros, também assim existiu.

    Após a chegada dos europeus, diferentes reivindicaram a posse daquelas terras. Pinzón, em 1498, como já disse, foi quem primeiro deu nome ao lugar, Marinatãbalo, assim denominou o arquipélago de Marajó, da frente da atual cidade de Macapá. Aliás, a nossa cidade de Macapá, cuja ocupação começa no século XVII, nada tem a ver, minha caríssima Alcilene, com o Adelantado de Nueva Andaluzia, que é do século XV. É de momento distinto em relação a isso.

    Pinzón é um dos que por lá passam. Seguem-se a Pinzón ingleses. Os ingleses, em especial, tentam lá se estabelecer no século XVII. Em 1613, fundam e constroem um forte, o Forte do Cumaú; designam um delegado – veja só, meu caríssimo Lucas – ligado e com a sua empresa financiada pelo Conde de Buckingham, já naquele período. O Conde Roger Frey vai para o Amapá construir o Forte do Cumaú. A missão, financiada por Jaime e Carlos I, ambos Reis da Inglaterra naquele período. Não demorou muito tempo para a reação portuguesa, em 1632, e o Forte do Cumaú ser destruído, numa reação comandada pelos – nomes de nossas ruas: Pedro Baião e Feliciano Coelho – capitães-mores que lideram a reação portuguesa e, posteriormente, a construção, em substituição ao Forte do Cumaú, do Forte de São Antônio do Macapá, em 1685.

    Eu falei do Padre Vieira, falei aqui de La Condamine, mas também talvez a melhor definição sobre a nossa terra venha de um missionário jesuíta da missão de Pedro Teixeira, que desceu desde o Quito até a Foz do Amazonas, Cristóbal de Acuña. Dizia a ele o seguinte: que as terras da Capitania do Cabo do Norte têm mais notícias de minas do que toda a Espanha junta, além de serem elas sós maiores que toda a Espanha junta e haver nelas muitas mais notícias de minas e solo muito mais fértil do que todos os outros que ocorre nessa região das Amazonas; e têm também, dizia a Sua Majestade, melhores proveitos de frutos do que tantas quantas já viu. Definia assim Acuña a diversidade e a riqueza que nós temos, essa diversidade, essa riqueza, essa beleza, essa singularidade que nos faz.

    Os portugueses demoraram até o século XVIII para consolidar a ocupação. Deve-se ao Marquês de Pombal e, logo em seguida, ao seu meio-irmão Francisco Mendonça Furtado a criação das vilas de Mazagão, de Macapá, de Vistosa da Madre de Deus, de ocupação de nossa região. Aliás, nesse período, cria-se um destaque especial, dentre a construção dessas vilas, para dois aspectos: a construção da Fortaleza de São José de Macapá, a maior fortaleza de toda a história do império colonial português em todo o mundo, obra do mais eminente arquiteto que existia do período iluminista no século XVIII, Enrico Galluzzi, e, a segunda, a obra épica da transladação da cidade de Mazagão da costa do Marrocos, do arquipélago do Açores, até o meio dos trópicos equatoriais amazônidas. Como podem ver, todas as obras nossas são épicas e grandiosas.

    Chegamos ao século XIX, chegamos ao período de Contestado com os irmãos franceses, chegamos ao período em que nós reiteramos e destacamos que, dentre tantas coisas de que nós temos razão de nos orgulhar, há o fato de ser Brasil. Nós somos Brasil não por capricho dos amapaenses que lá se estabeleceram. Nós escolhemos ser Brasil e lutamos para ser Brasil mesmo quando o nosso então Império nos rejeitava. É do Senador, do Maranhão, Cândido Mendes, da data de 23 de setembro de 1873, o projeto de lei, em Assembleia-Geral, de criação da Província de Pinsônia. Dizia o Senador Cândido Mendes que era fundamental a criação para consolidar a ocupação daquela margem esquerda e não ter novas experiências aventureiras, como o episódio da Cabanagem, que tinha acontecido anos atrás, inclusive com passagens pela nossa terra, Governador Clécio. Essa era a afirmativa do Senador Cândido Mendes. Lamentavelmente, a reação da elite belenense não possibilitou que nós nos separássemos da então Província do Pará já naquele período.

    Todas as senhoras e os senhores aqui receberão, deverão ter uma das réplicas do mapa da Província de Pinsônia. Ao observá-la, verão que a criação do Território Federal do Amapá, anos depois, afanou uma parte do território que seria nosso. Então, teríamos o direito legítimo a boa parte do hoje norte do Estado do Pará, segundo as definições do projeto de Cândido Mendes, do Projeto de Lei 135, da Assembleia Provincial, encaminhado por Cândido Mendes em 1873.

    A reação impossibilitou que nós nos tornássemos província do Brasil já então no século XIX. O sonho só veio a ser concretizado mais ou menos 80 anos depois. É o Decreto 5.812, de 13 de setembro de 1943, que cria o Território Federal do Amapá. Para lá, foi designado, para cuidar, um dos mais expressivos brasileiros: Janary Carvão Nunes. Janary Gentil Nunes, ele, o pai dos nossos assistentes hoje, desta Plenária, Janary, Rudá e Guairacá, foi responsável pela estruturação da sua capital, pela designação de Macapá como capital, de construção das estruturas básicas que nos formaram e que nos forjaram ali, nos anos 40 já do século passado. Janary tem uma relação direta da história que vem dos últimos 80 anos.

    Até a chegada de Janary, a presença do povo negro também era característica em nossa terra; até a chegada do Janary, toda a cidade de Macapá, 70% da população da cidade de Macapá era de descendentes de escravos africanos. Isso nos orgulha muito. São nossos irmãos que vieram da costa africana do Moçambique, do Golfo de Benim, do Golfo da Guiné, de Angola e do Congo, que vieram já trazidos pelos primeiros ingleses no século XVII e pelos diferentes europeus que para cá passaram. Foram esses irmãos africanos que construíram a Fortaleza de São José de Macapá, foram esses irmãos africanos que reagiram à escravidão de duas formas, a primeira, constituindo quilombos no entorno da cidade de Macapá. Temos o cinturão quilombola e, dentre os estados do país, somos, proporcionalmente, o terceiro estado negro do país, razão de muito orgulho para todos nós.

    Nosso símbolo, a força do tambor do marabaixo, tocado aqui por Nena ainda há pouco, tocado por Cleane Ramos, a força desse tambor do marabaixo, a manifestação cultural do marabaixo é a prova inconteste de que a escravidão, pior chaga da história humana, não triunfou no Amapá. A expressão cultural do marabaixo é a maior representação de que a cultura e a identidade desse povo venceu sobre a escravidão.

    No Amapá, o rio-mar avança 320km sobre o Atlântico – são 320km; não são 540km. A todos os desavisados de todo o Brasil, não, não, não, senhoras e senhores, lá no Cabo Orange, lá no Oiapoque não chega o Rio Amazonas; lá já é o Atlântico em sua dimensão. Então, fiquem tranquilos, que não precisam nos advertir sobre os cuidados com o nosso ambiente; nós queremos ter o direito de fazer as nossas escolhas. O que os amapaenses hoje reivindicam não é se vai se explorar ou não algo; o que nós reivindicamos é o direito de saber se temos essa riqueza.

    Portanto, antes de conhecer um pouco e falar do Amapá, que tal visitar e nos conhecer, inclusive sobre a nossa geografia? Porque, de meio ambiente, minhas caríssimas Simone e Priscila, nós conhecemos; e, de meio ambiente, Clícia e Governador Clécio, nós conhecemos não foi de ouvir dizer. Nós conhecemos não foi dos saberes da Avenida Paulista ou do Leblon. Nós conhecemos de meio ambiente com os caripunas, com os oiampis, com os galibis. Nós conhecemos de meio ambiente singrando as nossas águas, navegando pelo Amazonas, adentrando os igarapés, navegando pelos nossos rios e passeando pelos nossos lagos.

    Por isso, não nos venham falar de meio ambiente. O povo da nossa terra sabe muito bem a diversidade do nosso ambiente e sabe muito bem como protegê-lo. (Palmas.)

    Somos o estado de migrantes e nos orgulhamos disso, como já disse o meu querido amigo de ontem, de hoje e de sempre, Governador Clécio. Setenta e quatro por cento de nossa população vêm de diferentes cantos. São assim como eu, como Clécio, que têm pais, porque vieram do Nordeste brasileiro, das ilhas, que vieram de cantos distintos e diferentes. Aliás, essas muitas gentes, aruaques, aristés, caripunas, galibis, cearenses, franceses, ingleses, espanhóis, portugueses, de todos os cantos acorreram gentes para fundar e ocupar a nossa margem esquerda.

    Nós nos orgulhamos porque essas gentes distintas sintetizaram o povo, construíram a civilização, a civilização da margem esquerda do Amazonas.

    Essas diferentes gentes são expressas na força da poesia negra de Mãe Luzia, de Tia Venina, de Julião Ramos. São expressas na força dos nossos povos originários, com o Xamã Carumairá, de 2 mil anos antes do povo palikur, que nos representa. São expressas em brancos distintos que para lá foram, como o nosso primeiro Governador, Janary Nunes, para constituir e ocupar nossa terra.

    O Amapá tem esta bela história, tem esta diversidade, tem esta grandiosidade, tem esta riqueza distinta e única. Acorremos todos, de todos os cantos, para, no calor e na unidade da nossa terra, constituir uma civilização no mais belo endereço deste planeta, esquina do rio mais belo, com a Linha do Equador.

    "Só quem viu o Amazonas pode entender o jeito de ser do povo de lá; só quem viu e conhece o Amazonas pode entender o jeito de ser do povo daqui", como diz a poesia de Joãozinho Gomes.

    O Amapá é este, dessa história; o Amapá é este, dessa diversidade; o Amapá é este, dessa riqueza ambiental única no planeta; o Amapá é este, que juntou diversos de tantos cantos.

    Este povo... Este meio ambiente que constitui o Amapá não é somente os rios, as terras que o constituem; é, sobretudo, a sua gente. É para essa gente que nós temos que ter uma matriz de desenvolvimento identificada com o Amapá.

    Essa gente quer também ser feliz. Essa gente tem direito, como já disse o Governador Clécio, à comida, à diversão e arte. Essa gente tem direito a empreendimentos de desenvolvimento sustentável, como o seu, meu caríssimo Wellington, com manejo sustentável de madeira florestal lá na Amazônia.

    Aliás, tantos diferentes empresários que quiserem ir para lá, respeitando o nosso meio ambiente e desenvolvendo a nossa terra, lá serão bem-vindos. Essa gente tem direito a saber as riquezas que estão na sua costa litorânea – só o direito a saber, para depois escolher o que fazer!

    Essa gente tem direito, por exemplo, a passar para o quadro da União, porque, quando ninguém de diferentes cantos do país para lá ia, outros para lá foram constituir e ocupar a margem esquerda do Amazonas no período mais moderno. É por isso que defendemos, meu caríssimo Vinicius, a transposição até o ano de 1998 para todos os amapaenses. (Palmas.)

    Essa gente tem direito à mudança da sua matriz de desenvolvimento!

    Essa gente tem direito a viver, porque escolheu, para viver, como já disse, o mais belo endereço da Terra: a esquina do rio mais belo com a Linha do Equador.

    Um feliz Amapá nesta semana e sempre para todos nós! (Palmas.)

    Governador e demais, desculpem-me por ter me estendido – traz razão de emoção sempre falar do Amapá.

    Antes de terminarmos este evento, aí, sim, o gran finale! O melhor final para este evento só poderia ser ouvirmos o nosso hino cultural que será tocado pelo tambor do marabaixo por Nena e por Cleane Ramos, aqui presentes, com a companhia de Joaquim França, com a participação do Coral do Senado, com a orquestra da Escola de Música de Brasília – muito obrigado, Maestro Joaquim, por toda sua generosidade –, ao som de Patricia Bastos, nossa principal intérprete, que, ainda este ano, ofertará para todos nós, Governador, uma reedição de Jeito Tucuju, com Caetano Veloso em nome da música brasileira. Então, senhoras e senhores, para concluir este evento, Jhimmy Feiches e Patricia Bastos cantando nosso hino cultural, Jeito Tucuju.

(Procede-se à execução musical.) (Palmas.)

    O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/REDE - AP) – Quero pedir muitas palmas ao Maestro Joaquim França (Palmas.), à Orquestra da Escola de Música de Brasília (Palmas.), ao Coral do Senado Federal (Palmas.), aos nossos tambores de marabaixo (Palmas.), a Nena e companhia (Palmas.), a Jhimmy e Patricia. (Palmas.)

    Não poderíamos começar melhor as celebrações desses 80 anos!

    Eu queria concluir, também agradecendo a presença do ex-Deputado Federal Lourival Freitas, aqui presente também conosco, de Ralfe Braga, de Rambolde Campos, também artista de todos nós.

    E, cumprindo o papel desta sessão especial, eu a declaro encerrada... Não sem, antes de encerrar esta sessão especial de homenagem aos 80 anos do Amapá, convidar o grupo de marabaixo Raízes da Favela, de lá do nosso querido bairro da Favela, que nos conduzirá, caríssimo Josiel Alcolumbre, em um cortejo cultural, ao toque do marabaixo, até a galeria Ivandro Cunha Lima, onde Josiel, você, o Governador, nós abriremos lá a exposição Amapá 80 Anos.

    Então, agora, com o grupo Raízes da Favela, sigamos aqui, ao toque do tambor de marabaixo, para continuar as celebrações, agora no Espaço Cultural Ivandro Cunha Lima.

    Cumprida a finalidade desta sessão especial do Senado, agradeço a todos os presentes, que nos honraram com a sua participação.

    Viva o Amapá ontem, hoje e sempre!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/09/2023 - Página 22