Discurso durante a 125ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Lamento pela tragédia causada por um ciclone extratropical que atingiu o Estado do Rio Grande do Sul, principalmente a região do Vale do Taquari. Destaque para as ações emergenciais e os recursos financeiros, que serão enviados pelo Governo Federal, bem como para o trabalho conjunto com o Governador Eduardo Leite. Manifestação sobre a importância de investimentos na prevenção e redução dos impactos de desastres ambientais. Solidariedade ao povo gaúcho.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Calamidade Pública e Emergência Social:
  • Lamento pela tragédia causada por um ciclone extratropical que atingiu o Estado do Rio Grande do Sul, principalmente a região do Vale do Taquari. Destaque para as ações emergenciais e os recursos financeiros, que serão enviados pelo Governo Federal, bem como para o trabalho conjunto com o Governador Eduardo Leite. Manifestação sobre a importância de investimentos na prevenção e redução dos impactos de desastres ambientais. Solidariedade ao povo gaúcho.
Publicação
Publicação no DSF de 12/09/2023 - Página 31
Assunto
Política Social > Proteção Social > Calamidade Pública e Emergência Social
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, POPULAÇÃO, VALE, RIO TAQUARI, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), INUNDAÇÃO, CHUVA, MORTE, BLOQUEIO, RODOVIA, DESTRUIÇÃO, CIDADE, LAVOURA, REGIÃO, COMENTARIO, REPASSE, RECURSOS FINANCEIROS, UNIÃO FEDERAL, TRABALHO, GOVERNADOR, DEFESA, INVESTIMENTO, PREVENÇÃO, DESASTRE, MEIO AMBIENTE.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) – Senador Presidente, Dr. Hiran, Senador Confúcio, Senador Girão, Senador Marcos do Val, volto à tribuna, Presidente, para falar da situação do nosso Rio Grande do Sul.

    Como dizia, agora há pouco, o Senador Confúcio para mim: "Bah, Paim" – eu vou usar a sua expressão, se me permitir –, "um verdadeiro dilúvio!". Acho que ele resumiu bem a situação do nosso estado.

    Presidente, nossos corações, do povo gaúcho, se enchem de dor – e tenho certeza que o do povo brasileiro – diante da tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul. Um ciclone extratropical impiedoso, fulminante, deixou a nossa terra em estado de choque, inundando nossas cidades, destruindo lares e ceifando vidas.

    Neste momento, a palavra é solidariedade. Solidariedade é uma palavra que ganha significado profundo em momentos como este. Significa mais que simplesmente simpatia ou compaixão. Ela se traduz em ação e em conexão com o sofrimento do outro. Significa se dispor a ajudar, a compartilhar, a abraçar, proporcionar afeto e carinho. É assim que eu vejo o povo gaúcho. É assim que eu vejo também o povo dos outros estados, solidarizando-se com o meu estado, com o nosso estado.

    Solidariedade é a alma que se faz presente no coração das pessoas, independentemente de sua origem, rosto, ideologia ou partido político. Ela transcende todas as barreiras, unindo-nos como seres humanos.

    Desde a semana passada, estamos todos abalados, com o Senado triste e em luto. Sim, em estado de luto. O último boletim da Defesa Civil do estado, divulgado na manhã desta segunda-feira, dia 11, mostra que subiu para 46 o número de mortes causadas pelas chuvas e enchentes.

    Sr. Presidente, estamos falando aqui em morte de criança, de idoso, de jovem e de adulto, mas, permita que eu também diga: a morte da forma cruel como está sendo – inclusive, muitos viram uma ovelha pendurada nos fios de luz. A água veio e a ovelha acabou pendurada, não pela mão do homem, mas a água causou aquela cena quase que de um filme de terror.

    Sr. Presidente, já são mais de 340 mil pessoas afetadas em 92 municípios, principalmente no Vale do Taquari. E 46 pessoas seguem desaparecidas, 25 mil continuam fora de suas casas.

    A tragédia deixou cerca de 924 feridos. Até o momento, 3 mil moradores foram resgatados.

    Oito trechos continuam bloqueados totalmente ou parcialmente em sete rodovias. Algumas pistas seguem alagadas, cidades ainda alagadas.

    Os trabalhos continuam. Roca Sales e Muçum, duas das cidades mais atingidas, estão totalmente destruídas.

    Cito outras: Lajeado, Estrela, Cruzeiro do Sul, Mato Castelhano, Arroio do Meio, Imigrante, Encantado, Passo Fundo, e tantas outras.

    As imagens, vistas pelo mundo inteiro, são de um filme de horror, de guerra, cenário nunca visto antes no Estado do Rio Grande do Sul: chuvas fortes, rios que transbordaram, cidades inteiras inundadas, casas destruídas, falta de energia, internet, água potável e alimentação; vidas ceifadas, famílias destruídas, pessoas de todas as idades pedindo socorro, chorando, do bebê ao idoso.

    Animais mortos, como aqui eu falava, ilhados até no telhado das casas, enforcados em fios de rede elétrica pela ação das águas.

    Escolas, igrejas, clubes, casas, edifícios, comércio, fábricas – fábricas de 2 mil empregados –, totalmente inundados. E agora, o que fazer? Vão reconstruir? Alguns eu ouvi dizerem ontem: "Mas se reconstruírem e vier outra enchente como essa, perderemos tudo outra vez?". O esforço que a maioria está fazendo nesse momento é para limpar, limpar e limpar a cidade.

    Lavouras destruídas, agricultura destruída.

    Por determinação do Presidente Lula, vários ministros estiveram no local na semana passada.

    Ações emergenciais: criação de sala de situação permanente de crise, com dez ministérios trabalhando em força-tarefa, botes de resgate enviados pela Marinha e Exército, oito aeronaves disponibilizadas, 450 profissionais das Forças Armadas trabalhando nos resgates de forma permanente. Tratores enviados pelo Batalhão de Engenharia, 20 mil cestas de alimentos a caminho, enviadas pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, kits de medicamentos para mais de 15 mil pessoas enviados pelo Ministério da Saúde.

    Grupo Hospitalar Conceição, em Porto Alegre, com estrutura especial para socorrer as vítimas.

    Envio de R$800 por pessoa desabrigada às prefeituras, para custos emergenciais.

    Restabelecimento das antenas de comunicação das cidades atingidas – tudo em processo ainda de construção.

    O Vice-Presidente da República, Geraldo Alckmin, esteve no Rio Grande do Sul neste domingo com uma comitiva de oito ministros de Estado. Ele anunciou a liberação de R$741 milhões, assim oriundos:

    – R$26 milhões: Ministério da Defesa;

    – R$80 milhões: Ministério da Saúde;

    – R$16 milhões: Ministério dos Transportes;

    – R$185 milhões: Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional;

    – R$125 milhões: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social e Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar – Programa de Aquisição de Alimentos para todos;

    – R$195 milhões: Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional e Ministério das Cidades – Minha Casa, Minha Vida;

    – R$57,4 milhões: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social e Ministério da Previdência – Benefício de Prestação Continuada (BPC);

    – R$58,6 milhões: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social.

    Na semana passada, o Presidente Lula conversou por telefone com o Governador Eduardo Leite. É inegável, Sr. Presidente, que o Governo do Estado está trabalhando.

    Aqui não é uma questão de partido. O Governador é do PSDB, o Presidente Lula é do PT, mas há uma integração, um trabalho conjunto, e, por isso, eu dou esse destaque, Presidente, dizendo que o Governo do Estado também adotou uma série de medidas, entre elas, a liberação de R$1 bilhão para crédito.

    Na reunião do G20, na Índia, o Presidente Lula citou a tragédia do Rio Grande do Sul e disse que a natureza precisa ser cuidada.

    Eu sempre digo que a prevenção é fundamental. O Governo Federal anunciou que destinará R$14,9 bilhões ao novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para a prevenção de desastres em todo o Brasil, em todos os estados. Essa quantia chega, naturalmente, dividida.

    Conforme estudos, a prevenção de tempestades, enchentes e ciclones envolve uma abordagem multifacetada, que inclui medidas de planejamento urbano, monitoramento meteorológico, gestão de recursos hídricos e educação pública. É de extrema importância que os governos, comunidades e indivíduos trabalhem juntos para implementar medidas e reduzir os impactos desses eventos naturais destrutivos, em que a mão do homem tem a sua responsabilidade.

    Estamos todos nós – Governos Federal e estaduais, Distrito Federal, municípios, enfim, todos os entes da Federação – solidários com o povo gaúcho, nossos irmãos, levando ajuda, carinho e esperança, agindo com rapidez para que essa situação seja contornada.

    A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado Federal externa total solidariedade ao Rio Grande do Sul – e tenho certeza de que todas as Comissões desta Casa também –, às famílias e amigos que perderam a vida.

    Neste momento sombrio, nossa solidariedade é nossa força. Unidos como nação, como comunidade e coletividade e como indivíduos, vamos superar essa adversidade e reconstruir nossas vidas e nossa terra.

    Que os feridos se recuperem rapidamente, que os desaparecidos sejam encontrados – assim peço a Deus – com vida e que o Rio Grande do Sul recupere sua vitalidade e sua alegria.

    A solidariedade é a luz que há de guiar nossos caminhos. A solidariedade é um princípio que transcende fronteiras geográficas, culturais, étnicas e sociais. Ela é universal e se baseia na empatia e na compaixão pelo sofrimento do outro. Sabemos que também há tragédias acontecendo em outras partes do mundo. Solidariedade aqui ao Marrocos, atingido por um forte terremoto, que causou devastação e sofrimento, com mais de 2,5 mil mortos e milhares de desaparecidos e feridos.

    Por fim, Sr. Presidente, quero que fiquem registrados ainda os nomes dos municípios. Vou usar os meus oito minutos, se V. Exa. me permitir. Como uma forma de mostrar a nossa solidariedade, rapidamente, vou ler o nome de 92 municípios atingidos pelo ciclone:

    Caxias do Sul, Sertão, Coqueiros do Sul, Cachoeira do Sul, Palmeira das Missões, Lajeado, Boa Vista das Missões, David Canabarro, Passo Fundo, Estrela, Sarandi, Arroio do Meio, Getúlio Vargas, Montenegro, Lajeado do Bugre, Novo Hamburgo, Santo Expedito do Sul, Mato Castelhano, Muçum, Erechim, Roca Sales, Santa Maria, Colinas, Cruzeiro do Sul, Imigrante, Nova Bassano, Santa Tereza, Ibiraiaras, São Jorge, Sapiranga, Bento Gonçalves, Cachoeirinha, Protásio Alves, Marau, Nova Roma do Sul, Casca, Serafina Corrêa, Estação, Bom Retiro do Sul, André da Rocha, Cotiporã, Encantado, Vacaria, São Nicolau, Cruz Alta, Chapada, Bom Jesus, Montauri, Ipê, Santo Antônio do Palma, Espumoso, Água Santa, Charqueadas, Nova Araçá, Coxilha, Campestre da Serra, Taquari, Carlos Barbosa, Itapuca, Camargo, São Jerônimo, Panambi, Campos Borges, São Domingos do Sul, Venâncio Aires, Sagrada Família, General Câmara, Paraí, Gravataí, Jacuizinho, Nova Alvorada, Lagoão, Nova Prata, Ilhas da Grande Porto Alegre, ali no Guaíba, Santo Ângelo, Canoas, Eldorado do Sul, Boa Vista, Butiá, São Valentim do Sul, Esteio, Sede Nova, Vila Maria, Eugênio de Castro, Guaporé, Santo Cristo, Dois Lajeados, Farroupilha, Arvorezinha, São Sebastião do Caí, Anta Gorda, Jaguari e Ciríaco.

    Sr. Presidente, eu não sei se faltaram algumas. Eu li em torno de 92, mas, a cada momento, na região do Vale do Taquari, quando a água vem descendo, ela vai inundando outras cidades. Pode ter parado de chover aqui ou acolá, mas a água continua. Guaíba na verdade não é um rio, é um lago. Despeja toda, no Guaíba, essa água que eu citei aqui e, quando ela vai aumentando, vai ocupando parte da cidade de Porto Alegre, principalmente ali naquela região mais perto do Lago Guaíba.

    É uma situação de muita tristeza e muito desespero.

    Os depoimentos que eu ouvi de um cidadão me marcaram muito. Dizia ele que, agarrado a uma árvore, segurava os dois filhos e a esposa. Aí veio um daqueles bolsões de água de forma turbulenta e os arrancou das mãos dele. Ele ficou só, agarrado à árvore, porque o resto sumiu. Ele não viu para onde foram. Depois, encontraram os corpos. Esse é um dos momentos. Outros tantos foram subindo no primeiro e no segundo andares, meio que se escondendo no telhado, foram para cima da telha, e as Forças Armadas e os bombeiros conseguiram, enfim, retirá-los.

    Eu fiquei muito triste quando vi o esforço de um bombeiro que vinha no helicóptero... Ele estava salvando uma senhora, mas a corda arrebentou, o instrumento arrebentou. Aí caem ele e a senhora. A senhora sumiu na água, e ele está muito mal no hospital.

    Mas fica aqui, então, a minha solidariedade a todos e a todas. O momento é de união. O momento é de água potável, para quem puder ainda ajudar. Material de limpeza é muito pedido ainda. O alimento até está chegando em grande quantidade, mas é importante que essa solidariedade seja mantida.

    Presidente, por tudo que a gente viu lá, era, de fato, um dilúvio, meu querido Senador que me deu o exemplo. Consequentemente, são bilhões para recuperar. Como é que tu vais recuperar cidades inteiras? Inteiras mesmo, desde as fábricas até as casinhas mais simples na beira do rio que foram inundadas. E muitos foram arremessados contra a correnteza e acabaram desaparecendo.

    Vamos esperar que os Poderes constituídos do município... O Prefeito pouco pode fazer numa hora dessa, porque até a prefeitura foi inundada, mas que o estado e a União continuem dando todo o apoio possível e imaginável para salvar vidas. Eu diria salvar vidas, porque muita gente, a partir do momento em que perdeu tudo, se sente como se tivesse perdido a própria vida.

    Era isso, Presidente.

    Muito obrigado pela tolerância de V. Exa.

    O SR. PRESIDENTE (Dr. Hiran. Bloco Parlamentar Aliança/PP - RR) – Muito obrigado, Senador Paim.

    Certamente, falo não só em meu nome, mas em nome do Senado da República, do Congresso, de todos os nossos assessores, do nosso corpo funcional, das pessoas que nos visitam: transmita ao povo do Rio Grande a nossa solidariedade, a nossa dor, porque nós acompanhamos, as imagens são muito impactantes, a gente sabe o que significa uma tragédia, um evento adverso dessa magnitude e o sofrimento das pessoas.

    Também quero aproveitar, já que o senhor fez uma menção também ao que aconteceu no Reino de Marrocos, que é um país irmão, com quem temos excelentes relações de amizade, de fraternidade, de comércio, para, em nome desta Casa, transmitir ao nosso Embaixador, nosso amigo comum Nabil, e que ele transmita ao Reino de Marrocos também a nossa solidariedade por mais de 2,5 mil vidas ceifadas naquele terremoto.

    Que Deus abençoe o povo gaúcho!

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Fora do microfone.) – Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/09/2023 - Página 31