Discurso durante a 127ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato sobre a situação familiar de S. Exa., em que os três irmãos biológicos da sua filha adotiva foram entregues, há 20 anos, para um casal italiano suspeito de abusos. Apelo ao Presidente do Senado Federal, Senador Rodrigo Pacheco, que acompanhe S. Exa., em reunião na Embaixada da Itália, para auxiliar no contato com as autoridades e possibilitar o reencontro familiar. Necessidade de investigar os maus-tratos e abusos contra crianças e adolescentes.

Autor
Magno Malta (PL - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Assuntos Internacionais:
  • Relato sobre a situação familiar de S. Exa., em que os três irmãos biológicos da sua filha adotiva foram entregues, há 20 anos, para um casal italiano suspeito de abusos. Apelo ao Presidente do Senado Federal, Senador Rodrigo Pacheco, que acompanhe S. Exa., em reunião na Embaixada da Itália, para auxiliar no contato com as autoridades e possibilitar o reencontro familiar. Necessidade de investigar os maus-tratos e abusos contra crianças e adolescentes.
Publicação
Publicação no DSF de 14/09/2023 - Página 59
Assunto
Outros > Assuntos Internacionais
Indexação
  • REGISTRO, SITUAÇÃO, FAMILIA, ORADOR, IRMÃO, FILHA, ADOÇÃO, SENADOR, ENTREGA, CASAL, PAIS ESTRANGEIRO, ITALIA, SUSPEIÇÃO, ABUSO, SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE, SENADO, RODRIGO PACHECO, ACOMPANHAMENTO, REUNIÃO, EMBAIXADA ESTRANGEIRA, OBJETIVO, APOIO, APROXIMAÇÃO, AUTORIDADE, EXTERIOR, ENCONTRO, PARENTE, DEFESA, INVESTIGAÇÃO, MAUS-TRATOS, ABUSO SEXUAL, VITIMA, CRIANÇA, ADOLESCENTE.

    O SR. MAGNO MALTA (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - ES. Para discursar.) – Sr. Presidente, eu gostaria de lhe fazer um convite: eu gostaria de ter a companhia de V. Exa. na Embaixada da Itália. Por que a Embaixada da Itália? Sr. Presidente, eu sou pai de três filhas, uma do coração, adotei-a ainda bebê. Eram quatro irmãos, Sr. Presidente – quatro irmãos –, eu adotei a mais nova, mas eu não tinha conhecimento. Ela vai fazer 22 anos e faz psicologia. E os três irmãos, na mesma época...

(Soa a campainha.)

    O SR. PRESIDENTE (Rodrigo Pacheco. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - MG) – Srs. Senadores... Srs. Senadores, Sras. Senadoras... Senador Lucas Barreto, Senador Jorge Kajuru, Senador Marcos do Val, eu peço atenção ao pronunciamento do Senador Magno Malta. Senador Lucas, Senador Confúcio Moura...

    O SR. MAGNO MALTA (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - ES) – Sr. Presidente, a minha filha... Os três irmãos – na verdade, os quatro – estavam vendidos para um casal de pedófilos italianos e nós aparecemos. Deus colocou Jaisliny na nossa vida. O casal de pedófilos já estava no Espírito Santo e foi um parto para que o juiz me entregasse, com uma guarda provisória, a minha filha, mesmo sabendo quem eu era no estado, e para depois me dar a guarda definitiva, Senadora Zenaide.

    Só que os três irmãos, Senador Ciro, foram entregues. Passados 20 anos, a minha filha recebe, no Direct, uma mensagem em italiano, era um irmão a procurando. Eles três lá, a mais velha, num hospital de loucos; a segunda, num abrigo para pessoas com deficiência e abusadas sexualmente, e o menino vagueando pelas ruas.

    Eles tinham uma vaga noção de que a irmã mais nova, a bebê, tinha sido adotada por um Senador, e eles começaram a procurar os Senadores do Brasil. Fotografias, fotografias, e o menino, chamado Jayson, procura as irmãs, vai ao abrigo onde está a irmã, e esta menina pulou do 4º andar para se matar, por causa do abuso sexual. Eles dormiam com bolsa de gelo na cabeça para esquecer o idioma – eles não falam mais uma palavra em português.

    Ela se jogou; não morreu, está mutilada num abrigo na Itália. E, então, ele mostra as irmãs, dizendo o seguinte: "Olha, eu achei uma foto minha, nos braços de... beijando um Senador". As irmãs olham e falam: "Não é você, é nossa irmã Jaisliny".

    E ele vai no direct e procura: Jaisliny, Jaisliny, Jaisliny, até encontrar Jaisliny Malta. A irmã, Karla, minha segunda filha, começa a responder em inglês para ele. Ele pergunta: "Ela tem mais irmãos?", ela diz: "Sim". "Eles foram para a Itália?", ela diz: "Sim". "Como é que ela está agora?", "Ela está conosco, ela é do nosso sangue". E o menino começa a dizer: "Nós fomos vendidos para um casal de pedófilos, fomos abusados sexualmente. Minha irmã está no hospital de loucos e a segunda, num abrigo. Nós entramos em contato, porque agora temos a internet". (Manifestação de emoção.)

    E, quando eu vi aquelas três crianças pelo vídeo, Senador... são três brasileiros, são duas brasileiras e um brasileiro.

    A minha filha, quando viu o rosto dos irmãos... A mãe foi presa muito jovem – antes de fazer 20 anos; já tinha quatro filhos –, por tráfico; cumpriu uma cadeia muito longa. O pai morreu assassinado no tráfico. O sofrimento da minha filha Jaisliny... E eu dizia que quando ela crescer... Ela adolescente: "Minha filha, no dia que você quiser ver seus irmãos, nós vamos procurá-los na Itália", porque fomos ver o documento...

    O documento dizia o seguinte...

(Soa a campainha.)

    O SR. MAGNO MALTA (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - ES) – ... que, quando irmãos são adotados, separados, estão proibidos de se verem, para nunca mais se encontrarem. Esse juiz foi afastado e foi para a aposentadoria, como acontece no Brasil.

    O caso meu, do Espírito Santo... São centenas, Senador Jaques Wagner, no Brasil inteiro, de crianças que são vendidas para o desmonte: para tirarem o rim, tirarem as córneas, tirarem o fígado – tráfico de órgãos de crianças.

    Sr. Presidente, eu estou indo à Embaixada da Itália porque, como homem, eu preciso reagir; como pai, eu preciso reagir; como brasileiro, eu tenho que reagir; como Parlamentar, eu tenho que reagir. Mas eu gostaria muito que, como Presidente desta Casa, do Senado da República, V. Exa. me acompanhasse, para que nós pudéssemos ter contato com as autoridades da Itália e eu pudesse ir à Itália, com a vênia... com os documentos originais, porque esse reencontro levou a minha filha a encontrar a mãe biológica.

    Essa mãe biológica, ao sair do presídio, tinha mudado de vida – mudou de vida. É uma senhora simples, decente, que sofre e chora porque os filhos foram colocados no abrigo, pois ela foi presa no tráfico de drogas. Mas ela conseguiu fazer contato com os filhos, através da minha filha, e nós temos um relacionamento hoje com essa mãe, por quem temos respeito.

    Desculpe a minha emoção, Sr. Presidente. Eu sou um homem que não fujo de guerra, mas eu sou um homem emocional. Eu sou um homem emocional. Eu sou um pai adotivo. E se não fosse esse drama de que eu estou falando aqui... não é o meu só, tem milhões de pessoas vendo agora, que têm testemunhos – casos familiares – e que querem providência, e não têm providência. E eu espero que esse caso emblemático que eu vivo na pele, no sangue... a dor seja o estopim para que nós possamos tomar essa providência.

    Eu subi a esta tribuna para convidá-lo, como Presidente do Senado, a me acompanhar, a me dar essa oportunidade. "Ah, você pode ir sozinho". Posso, eu sou Senador. Se eu não fosse, eu poderia ir também. Mas eu pertenço a esta Casa e quero convidar todos os Senadores que amam a vida, que respeitam a vida, as crianças e que sabem desse drama que o Brasil vive... Damares é quem mais convive de perto com Jaisliny, desde bebê.

(Soa a campainha.)

    O SR. MAGNO MALTA (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - ES) – A Damares, a gente já trabalhava junto. Ela conhece Jaisliny desde o começo de tudo. Ela é uma filha feliz, uma negra, Sr. Presidente. Uma negra linda, linda. Minhas filhas são negras, mas ela é uma negra de verdade, linda, estudiosa, amorosa e que hoje chora por uma só dor, pelos três irmãos. Eram os quatro vendidos. Ele teve dificuldade de entregar a mercadoria, por isso não me entregou minha filha. Protelou, protelou. Assistente social, Deputado Chico, ia à minha casa, Renan. A criança, no abrigo, e dizia assim, "Quantos metros vai ter o quarto onde ela vai dormir?" Pô, a criança está num abrigo! "Tem espaço para ela correr?" Pô, ela mora num orfanato! "O que é que ela vai comer?" Pelo amor de Deus, ela come pão com margarina lá! Para não entregar a criança.

    Mas Deus me deu esse privilégio. O meu coração tem um útero. A minha família... e nós temos Jaisliny.

    V. Exa. pode me acompanhar?

    O SR. PRESIDENTE (Rodrigo Pacheco. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - MG) – Senador Magno Malta, eu gostaria de me solidarizar com esse problema de V. Exa. É um problema familiar seu, mas é um problema também de interesse nacional, não há dúvida. De modo que evidentemente me sinto muito honrado com a confiança que V. Exa. deposita em mim e, se me permitir, imediatamente farei contato com o Embaixador da Itália no Brasil, pedindo essa audiência para V. Exa., e farei questão de acompanhá-lo.

    O SR. MAGNO MALTA (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - ES) – Eu agradeço, Sr. Presidente. E faço isso porque é uma instituição, e as instituições onde elas estão são instituições de Governo, lá na Itália... para que a gente possa revelar para o mundo o meu Estado do Espírito Santo, que tem sofrido tantas tragédias. Essa é mais uma. E não foi só a minha, não foram só essas, há outras e outras e outras.

    Por isso, Sr. Presidente, investigar maus-tratos de crianças, de infantes e adolescentes, e tráfico de órgãos, acima de tudo, de crianças e adolescentes, se faz necessário. Eu tenho o número suficiente já, Sr. Presidente, para poder instalar – já havia comunicado isso –, para que nós possamos, de fato, fazer essa investigação.

    Agradeço a sua atenção, agradeço ao Brasil. Eu me solidarizo com todas as famílias, no país, que viveram e estão vivendo esse drama e com aqueles que ainda estão prestes a passar por esse drama, que é um dos mais difíceis.

    Muito obrigado.

    Que Deus ajude o Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/09/2023 - Página 59