Discurso durante a 148ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Exposição sobre a viagem de S. Exa., em missão oficial, à Nova Zelândiaa fim de conhecer tecnologia de transição energética sem utilização de fios, patenteada pela empresa Emrod.

Autor
Marcos Rogério (PL - Partido Liberal/RO)
Nome completo: Marcos Rogério da Silva Brito
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Energia, Pesquisa Científica:
  • Exposição sobre a viagem de S. Exa., em missão oficial, à Nova Zelândiaa fim de conhecer tecnologia de transição energética sem utilização de fios, patenteada pela empresa Emrod.
Publicação
Publicação no DSF de 10/10/2023 - Página 24
Assuntos
Infraestrutura > Minas e Energia > Energia
Economia e Desenvolvimento > Ciência, Tecnologia e Informática > Pesquisa Científica
Indexação
  • VIAGEM, MISSÃO OFICIAL, NOVA ZELANDIA, PESQUISA CIENTIFICA, TECNOLOGIA, REDE DE TRANSMISSÃO, ENERGIA ELETRICA.

    O SR. MARCOS ROGÉRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RO. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, aos que nos acompanham pelo sistema de comunicação do Senado Federal eu quero, Sr. Presidente, registrar neste momento uma viagem que fizemos à Nova Zelândia.

    Eu viajei junto com o Senador Astronauta Marcos Pontes em uma missão oficial à Nova Zelândia, ao longo da semana passada, com o propósito de testemunhar uma tecnologia inovadora, com o potencial de revolucionar a transição energética em escala global. A tecnologia em questão é nada mais nada menos do que a transmissão de energia sem o uso de fios, que foi patenteada pela empresa Emrod, com sede em Auckland, a maior cidade da Nova Zelândia, localizada no sul do Pacífico. Vale ressaltar que as origens conceituais dessa tecnologia estão intrinsecamente ligadas a descobertas pioneiras do ilustre inventor Nikola Tesla.

    Tesla, nascido na atual Croácia, em 10 de julho de 1856, é amplamente reconhecido como um dos maiores inventores da era moderna e precursor de inúmeras invenções que moldaram o mundo em que vivemos. Deixando um legado científico e tecnológico extraordinário, Tesla é reverenciado como o pai da corrente alternada, inventor do primeiro motor de indução e um dos precursores dos equipamentos de raio-X, entre muitas outras contribuições de destaque. Curiosidade: Nikola Tesla foi contemporâneo de Albert Einstein. Existe uma história, conhecida nos meios científicos, de que, quando perguntaram a Einstein como ele se sentia sendo o homem mais inteligente do mundo, sua resposta foi simples e direta: "Não sei. Perguntem a Nikola Tesla".

    Nikola Tesla, um visionário à frente de seu tempo, há mais de um século expressou, em uma de suas afirmações mais notáveis: "Você pode pensar que sou um sonhador e até mesmo ficar perplexo com o que estou prestes a compartilhar; no entanto, posso assegurar-lhe que vislumbro com confiança o dia em que mensagens serão transmitidas pelo ar sem a necessidade de fios. Além disso, nutro grandes esperanças na transmissão de energia elétrica da mesma maneira, sem perdas. Energia poderá ser transmitida sem fios, atendendo a todas as necessidades comerciais, desde a iluminação residencial até a propulsão de aeronaves. Os princípios essenciais já foram descobertos, restando apenas o desenvolvimento comercial. Quando esse feito for alcançado, você poderá se dirigir a qualquer ponto do mundo – seja no topo de uma colina, em uma fazenda, nas regiões polares, ou mesmo em desertos áridos – e instalar um pequeno dispositivo que fornecerá calor para cozinhar e luz para a leitura".

    Hoje, de acordo com a visão audaciosa de Nikola Tesla, mensagens já são transmitidas sem fio há décadas, agora é chegada a vez da energia elétrica. A urgência global em efetuar uma transição energética combinada com avanços significativos em metamateriais e tubos a vácuo permitiu um progresso sem precedentes na transmissão de energia, sem a necessidade de cabos ou fios físicos.

    É precisamente essa evolução, Sr. Presidente, nobre Senador Izalci Lucas, que tivemos o privilégio de testemunhar em Auckland, na Nova Zelândia, no dia 2 de outubro de 2023. Esse momento histórico representa um divisor de águas no contexto do futuro energético global. Atualmente podemos vislumbrar um horizonte em que a transmissão de energia seguirá uma trajetória evolutiva semelhante à das telecomunicações, migrando dos cabos tradicionais para uma transmissão via satélite. Sim, já se planeja a transmissão de energia por meio de satélites. Enquanto a transmissão de energia sem fios em escala global deve se concretizar nos próximos dois anos em nível comercial, a perspectiva é que, em um prazo de dez a quinze anos, testemunharemos a geração de energia de forma sustentável em qualquer ponto do globo terrestre, com a capacidade de transmiti-la para qualquer outra região por meio de satélites. Essa é a proposta dos pesquisadores e desenvolvedores dessa nova tecnologia.

    De fato, a própria Agência Espacial Europeia (ESA) está explorando a possibilidade de gerar energia solar no espaço e transmiti-la para a Terra por meio de tecnologia wireless. A própria Emrod foi convidada no ano passado a apresentar sua tecnologia proprietária na sede da ESA, em Munique, na Alemanha. Essa iniciativa, que está em consonância com os avanços tecnológicos e a crescente conscientização sobre a importância da energia limpa, representa mais um passo em direção a um futuro energético sustentável.

    O elemento mais empolgante desse processo é o papel preponderante que o Brasil está destinado a desempenhar nesse cenário. O Senador Astronauta Marcos Pontes, que foi o nosso Ministro de Ciência e Tecnologia aqui no Brasil, ao participar dos eventos e da apresentação da nova tecnologia, expressou com firmeza: "A tecnologia funciona, esse desenvolvimento tecnológico será um sucesso, passaremos a transmitir energia de forma totalmente diferente". E realmente foi isso que vimos naquela ocasião. Na apresentação, houve uma transmissão sem fio a uma distância de 36 metros, com direito a apresentação musical com a energia recebida sem fio, sem cabo, algo realmente inovador e que nos deixa muito otimistas, especialmente o Brasil, que tem regiões ainda isoladas, sem energia de qualidade chegando a essas regiões, algumas regiões com energia produzida a partir de motores tocados a óleo diesel, uma energia, portanto, suja, de maior impacto no meio ambiente. Com uma tecnologia que está sendo desenvolvida por esses pesquisadores, nós teremos a possibilidade de, num espaço de tempo muito breve, fazer com que essa energia gerada em algum ponto chegue a outro sem cabeamento, sem linha de transmissão, sem a necessidade de você fazer ali abertura no meio de florestas, o que exige licenciamento e outras questões mais, impactando o meio ambiente e dificultando a vida das pessoas que estão nessas comunidades isoladas, como é o caso da Região Amazônica.

    E, das conversas que tivemos lá, a ideia não se limita a sermos pioneiros do uso sustentável dessa tecnologia, que inicialmente poderá representar soluções de menor impacto ambiental, conectando regiões isoladas, como temos, repito, na Amazônia brasileira. Por isso é importante colaborar ativamente com os cientistas neozelandeses no contínuo desenvolvimento e aprimoramento dessa inovação, com o objetivo final de exportar esses equipamentos para todo o mundo. Essa iniciativa não apenas impulsionará a nossa economia, ela também gerará empregos de alta qualidade para os nossos cidadãos.

    Nesse contexto, Sr. Presidente, é crucial que o Brasil também esteja atento a esse desenvolvimento e possa contribuir já para esse avanço tecnológico e econômico global através de nossos excelentes e exemplares laboratórios e cientistas brasileiros.

    Nos breves dias que passamos em Auckland, também tivemos a honra de sermos recebidos pelo honorável Senador Sr. Simon Watts, membro do Parlamento neozelandês. O Sr. Watts desempenha um papel de destaque naquele país, de destaque no seu partido, sendo responsável por pastas de grande relevância, tais como mudanças climáticas, desenvolvimento regional, governo local, estatísticas, entre outras. A posição dele equivale, em termos de representatividade, à de um Senador no contexto brasileiro. Durante o nosso encontro, o Sr. Simon demonstrou um entusiasmo genuíno em relação à tecnologia da Emrod e manifestou abertura para a construção de parcerias sólidas entre nossas duas nações. Essa postura reforça a visão compartilhada de cooperação e progresso no campo das energias renováveis e da inovação tecnológica.

    A Nova Zelândia é um país que, semelhantemente ao Brasil, obtém mais de 80% de sua geração de energia a partir de fontes renováveis. Apenas abrindo um parêntesis nesse ponto, Sr. Presidente, da característica de geração de energia 80% renovável, o Brasil tem essa característica, mas, em momentos como o que nós estamos vivenciando agora na minha região, na Região Amazônica, nós acabamos por encontrar dificuldades. Nós temos o Rio Madeira, onde as usinas de Jirau e Santo Antônio, neste momento, estão comprometidas. O relatório que nós recebemos é de que o nível do Madeira hoje está em um metro. E você tem uma usina do porte da usina de Santo Antônio e Jirau, as duas que são as maiores, sem a geração habitual. Isso compromete o volume de energia que é necessário para o Brasil. E, quando se tem situações como essa, de redução na geração, comprometimento na geração, o que se tem que fazer é acionar as térmicas Brasil afora, aí, com muito mais impacto ambiental, além do custo para o consumidor, porque, com energia a partir de térmica, você tem aumento de custo.

    Então, essa tecnologia que a Emrod está desenvolvendo e que eu tive a oportunidade de conhecer vai facilitar a conexão de um ponto ao outro. Hoje, uma energia gerada no Estado de Rondônia sai de lá por linha de transmissão, um sistema de transmissão que vai para Araraquara, São Paulo, e, a partir dessa centralização, há a distribuição para o Brasil. Então, se você tem um sistema de transmissão sem fio pelo qual você possa fazer essa transmissão da geração para os pontos de consumo... Inicialmente, a ideia, quando nós fomos conhecer o projeto... Ela vai atender a regiões isoladas, como nós temos, lá na região de Guajará-Mirim, o Distrito de Surpresa, que é um distrito totalmente isolado – você só chega lá por avião de pequeno porte ou por embarcação, você não tem estrada para chegar lá. Se você tem um sistema de transmissão sem fio, com torres de rebatimento, você consegue fazer com que essa energia chegue lá de maneira segura, eficiente, sem perdas.

    Nós estamos agora discutindo a questão das chamadas eólicas offshore. Daqui a pouco, esse projeto estará gerando, e aí você tem um desafio que é fazer a transmissão da base de geração para os pontos de consumo, e o grande custo fica em você construir infraestrutura de rede para fazer a transmissão dessa energia. Então, nós estamos falando de uma inovação que realmente representa uma solução inteligente e economicamente de grande interesse não só para o Brasil, mas para o mundo.

    Agora, eles não estão olhando apenas para esses pontos isolados, eles estão olhando, num horizonte aqui, para duas situações: levar energia para o satélite e fazer a distribuição a partir de lá; e fazer com que essa energia chegue ao ponto de consumo, às unidades residenciais. Então, o projeto é muito maior do que aquilo que realmente a gente contemplou. Obviamente, ele está na fase de testes e naquilo que nós vimos... Eu estou dando um testemunho aqui no Senado Federal, porque nós vimos a transmissão dentro de um espaço fechado com 36 metros e duas torres transmitindo a energia sem grandes oscilações, sem grande diferença entre o que sai e o que chega ao outro ponto.

    Além disso, nós fomos calorosamente recebidos na Câmara de Comércio da cidade de Auckland, em que tivemos a grata oportunidade de dialogar com o Sr. Presidente, o Sr. Simon Bridges, que demonstrou profundo interesse e entusiasmo pelo potencial da tecnologia Emrod e pelo impacto positivo que ela pode ter no cenário energético global. Essa recepção entusiástica abriu caminhos ali para, inclusive, o Brasil poder participar desses avanços todos.

    Também, nesse mesmo contexto, com grande otimismo, vislumbramos o fortalecimento das relações bilaterais entre os nossos países, com o intuito de promover o desenvolvimento sustentável, a inovação tecnológica e o compartilhamento de conhecimento em prol de um futuro energético mais limpo e promissor.

    Estamos diante de uma oportunidade extraordinária de liderar a próxima revolução energética global, e eu quero, neste momento, compartilhar essas perspectivas com grande entusiasmo e otimismo ao Senado Federal.

    Era o que tinha a dizer.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/10/2023 - Página 24