Discurso durante a 149ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com as tragédias e as crises humanitárias decorrentes de guerras e conflitos armados no mundo. Solidariedade às famílias das vítimas do conflito entre o grupo palestino Hamas e Israel.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Assuntos Internacionais:
  • Preocupação com as tragédias e as crises humanitárias decorrentes de guerras e conflitos armados no mundo. Solidariedade às famílias das vítimas do conflito entre o grupo palestino Hamas e Israel.
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/2023 - Página 11
Assunto
Outros > Assuntos Internacionais
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, VITIMA, GUERRA, GRUPO TERRORISTA, PALESTINA, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) – Presidente Veneziano, Senador Marcos do Val, colegas aqui do Senado, Presidente, eu farei não uma... claro que vou falar sobre a guerra, porque é o assunto, em todo mundo se fala sobre a guerra, mas quero fazer mais uma reflexão sobre a guerra, infelizmente, percebendo que os mortos já chegam a algo em torno de 2 mil pessoas.

    Sr. Presidente, a história evidencia que qualquer conflito armado resulta em tragédias e crises humanitárias sem distinção de quem a faz ou dos motivos que a fizeram acontecer. Milhões de vidas são ceifadas, famílias inteiras são devastadas, grandes grupos de refugiados surgem no mundo todo, cidades são reduzidas a escombros e culturas são dizimadas. Os horrores da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, das guerras do Vietnã, do Camboja, do Iraque, do Afeganistão, da Bósnia, bem como os conflitos na África, Ucrânia e, agora, Israel e o Hamas ecoam em nossas memórias. Há quatro décadas, ao sul do nosso continente, testemunhamos o conflito das Malvinas, que ceifou a vida de jovens argentinos entre 18 e 19 anos, posteriormente homenageados como caritos.

    Embora inúmeras questões como o campo da economia, ideologias, políticas por políticas de interesses escusos, lutas pelo poder global – muitos falam em autodefesa – possam estar por trás desses conflitos, mas nada, nada pode justificar essa matança e a perda de vidas humanas. A vida humana deve sempre prevalecer, e aqueles que a defendem a qualquer custo estão agindo... e aqueles que defendem a guerra a qualquer custo estão agindo de forma totalmente insensata.

    É fácil tomar partido a favor da guerra de um lado ou do outro quando a gente se encontra a milhares e milhares e milhares de quilômetros de distância. Aí, uns apoiam uma visão ideológica; outros promovem narrativas do bem contra o mal, conforme a visão de quem está falando. No entanto, Senador Veneziano, a realidade é que a guerra traz somente morte, destruição e uma violação profunda da dignidade humana. E apenas as vítimas, as vítimas conhecem a extensão de sua dor. Filhos, pais, mães, avós, crianças, estupros, tortura... só eles sabem. Nós, de longe, olhamos e comentamos.

    O lamento de uma mãe que perdeu seu filho em um bombardeio se assemelha ao lamento de uma mãe que perdeu seu filho como soldado. Ambos são casos de vidas humanas ceifadas pela covardia e pela desumanidade dos que promovem a guerra. Alguém está promovendo a guerra, em qualquer parte do mundo. Isso representa uma indecência, que prejudica gravemente o processo e o progresso civilizatório.

    Nas guerras, é a população civil quem mais sofre. Morrem também milhares e milhares de soldados, mas a população civil é a que está mais despreparada para aquele conflito, que ela nem achava que ia chegar nela e de repente o seu edifício é bombardeado ou elas morrem num bunker.

    Sr. Presidente, os refugiados desesperados deixam tudo para trás e vagam pelo mundo, muitas vezes incapazes de sepultar seus próprios mortos, entes queridos, ou de identificar os corpos mutilados de seus familiares.

    A ONU relata que atualmente existem mais de 20 regiões do mundo envolvidas em conflitos armados, enquanto as nações frequentemente permanecem em silêncio deliberado ou comentam: "Olha, está havendo uma guerra aqui ou acolá."

    Há quase seis décadas, Bob Dylan, em meio à Guerra Fria, cantou: "Vocês que fabricam todas as bombas, vocês que se escondem atrás dos muros. Sim, vocês que se escondem atrás de mesas, só quero que saibam que posso ver através das suas máscaras," disse Bob Dylan. Djavan em sua música Solitude alerta: "Guerra vende armas, mantém cargos. Sensatez não tem vez." Infelizmente há espaço para a insensatez, para a falta de discernimento e para a própria loucura, que é a loucura da guerra.

    Enquanto a cada minuto, de acordo com a Oxfam, 11 pessoas morrem de fome no mundo e a cada 21 segundos, segundo Water is Life, uma criança morre por falta de água potável, a indústria global de armamentos movimenta cerca de 1,7 trilhão – vou repetir: a indústria global de armamentos movimenta cerca de US$1,7 trilhão por ano –, representando 2,7% do PIB mundial. Uma guerra adicional apenas agravará a desigualdade de renda e aumentará a fome global.

    Guerras persistem, guerras são provocadas, guerras são autorizadas, guerras são travadas na televisão e nas redes sociais, guerras são travadas em nome da verdade (cada um do seu lado). A gente vê pela televisão, pelas redes sociais, mas a morte está lá. Quem está lá sabe a dor de perder os seus familiares ou mesmo amigos.

    Tudo isso envenena as almas. Todos os dias, há guerras pela sobrevivência, pela vida e pelo direito de buscar a felicidade. A guerra não leva à felicidade. Eles dizem que é para isso, que é para a vida, que é para a felicidade, que é para defender seu território. Não!

    A guerra é a infelicidade, e mais hoje, mais amanhã, todos terão que responder, como está hoje a gente vendo a verdadeira guerra que o homem travou com a natureza, e a natureza está respondendo. Ora no Sul, ora no Nordeste, ora muita chuva, ora muita seca, e a natureza, do seu jeito, responde.

    E, como eu já disse, gostei muito daquele poema que eu li, em que o rio, vendo aquela destruição toda, ia passando, e o homem criando todos os obstáculos, com poluição, com barreiras, com fortalezas para barrar, mudando o curso do rio, e com represas não autorizadas em relação ao meio ambiente, e o rio, chorando, diz: "Eu só queria passar. Eu só queria passar, e vocês não deixaram eu passar".

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – E aí acontece o que acontece, e o culpado, para muitos, é a natureza.

    O culpado é o homem pelas guerras e pelos conflitos todos que acontecem no mundo, inclusive do meio ambiente.

    Presidente, era isso.

    Eu queria só deixar registrada, por fim, neste um minuto só, a nossa solidariedade a todos os familiares que perderam a sua gente, seus filhos, netos, e, no caso aqui do Brasil, já são dois ou três que foram encontrados corpos, mortos.

    No caso de Porto Alegre, só como exemplo, um jovem de 24 anos, nascido em Porto Alegre, Ranani Glazer, foi encontrado. Estava desaparecido desde sábado. Ele estava naquela festa dos jovens, onde 260 jovens morreram.

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Era uma festa virtual, eletrônica, e ele estava lá e outros tantos.

    Lamentavelmente, o Ministério das Relações Exteriores já confirma a morte de brasileiros. Ainda estão alguns brasileiros desaparecidos.

    Enfim, como nós dizíamos, os eventos que estão ocorrendo naquela região são verdadeiramente tristes.

    Nada justifica a violência, nada justifica o evento que estava acontecendo naquela região. Civis, judeus, palestinos, têm perdido suas vidas, e o número de vítimas, como eu dizia antes, já chega a 2 mil pessoas.

    Nossas condolências.

    Exaltamos, mais uma vez, que o mundo não precisa de guerra, de ódio. O mundo precisa de paz e amor.

    Era isso, Presidente Veneziano. Obrigado pela tolerância de V. Exa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/2023 - Página 11