Discurso durante a 151ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a homenagear os 10 anos da criação da Procuradoria Especial da Mulher do Senado Federal.

Autor
VANESSA GRAZZIOTIN
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Homenagem:
  • Sessão Especial destinada a homenagear os 10 anos da criação da Procuradoria Especial da Mulher do Senado Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 18/10/2023 - Página 23
Assunto
Honorífico > Homenagem
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, CRIAÇÃO, PROCURADORIA, MULHER, SENADO.

    A SRA. VANESSA GRAZZIOTIN (Para discursar.) – Bom dia!

    Quero cumprimentar todas e todos que participam desta importante e memorável sessão de homenagem aos dez anos da Procuradoria da Mulher do Senado Federal.

    Quero cumprimentar a Senadora Zenaide, que preside a Mesa neste momento; e, mesmo ele tendo saído, quero deixar o meu abraço ao Senador Veneziano. Como as Senadoras já falaram aqui, tive a oportunidade de atuar juntamente com ele – ele quando na Câmara e eu, no Senado. É um daqueles Senadores com o qual a Bancada Feminina pode contar sempre, em qualquer momento, para todos os projetos. Então, foi um prazer reencontrar o Vice-Presidente da Casa, Senador Veneziano.

    Quero cumprimentar a Senadora Leila Barros. Eu li aqui, Senadora, no folder que a Procuradoria da Mulher colocou, que diz o seguinte: "[...] eternizada como a grande atleta do esporte brasileiro". Que bom! Pena que o esporte, assim como todas as áreas, ainda não reconhece a mulher: a mulher como uma desportista tão capaz; capaz de jogar, capaz de atuar como os homens e também de levar ibope à televisão.

    Eu fiquei encantada este ano de ver, pela primeira vez, uma Copa do Mundo Feminina transmitida pela televisão. Não foi só pela Copa de futebol, mas pela alegria das famílias e das mães dizendo: "Minha filha está na televisão. O Brasil inteiro está vendo o jogo da minha filha". Antes não viam, porque só viam os dos homens, não é, Carmen?

    Então, quero cumprimentá-la, Leila, e dizer como é importante ter mulheres – e mulheres que atuaram e que atuam em todas as áreas, porque nós representamos a diversidade do povo brasileiro, e todas as áreas precisam dessa representatividade.

    Leila dizia que é importante ter a mulher, porque existem algumas leis que são muito específicas, como leis que tratam das crianças, que tratam dos cuidados. Aliás, mulher é sinônimo de cuidado, porque mulher não serve para mandar. A gente foi criada ainda com aquela cultura de que mulher cuida. Mulher cuida da criança, mulher cuida da casa, mulher cuida dos pais, mulher cuida da família, mulher cuida dos alunos e mulher cuida dos doentes. Não, mulher tem que mandar. Tem que cuidar, como os homens, mas tem que estar nos espaços de poder e de decisão.

    Então, eu a cumprimento e quero dizer da alegria das mulheres, Leila, de ver uma mulher como você aqui, no Senado Federal.

    Quero cumprimentar a representante da Ministra Cida – Ministra das Mulheres –, minha companheira, parceira de tantas lutas, que foi, por muito tempo, dirigente sindical da Central Única dos Trabalhadores, uma pessoa muito querida de todos e de todas, Carmen.

    Parabéns pelo trabalho que vocês desenvolvem no ministério, que está de volta. Aliás, o país está de volta – não é, gente? Isso é muito importante.

    Então, meu abraço carinhoso, Carmen.

    Quero cumprimentar também, Samantha da Rocha Souza, representante de outra grande Ministra brasileira, a Ministra da Saúde, Ministra Nísia. Quero cumprimentá-la aqui pela presença.

    E cumprimentar essa querida, ao lado de quem eu estava sentada – estava aqui, trocando algumas ideias –, Ilana.

    Ilana é a Diretora do Senado Federal. É uma mulher. E a Ilana... Sempre, aonde quer que eu vá, eu falo da Ilana, porque aqui são servidores de carreira, e a gente não tinha Diretora-Geral, mulher. E a Ilana chegou, e para ficar. Não porque é menina dos olhos de ninguém, mas porque tem competência, como todas as mulheres, se lhes derem oportunidade, são capazes de mostrar a sua competência. A Ilana foi e continua a ser uma grande parceira, de todos os Parlamentares, mas principalmente das mulheres.

    Leila, quando a gente conseguiu que fosse aprovado o projeto de resolução criando a Procuradoria da Mulher, eu vou falar muito rapidamente sobre isso, uma das coisas que a gente levantou, que parece bobagem, mas não é: "Temos que ver o banheiro".

    Aí eu e a Ilana íamos lá atrás. Por que os homens têm um banheiro tão fácil, Senadora, e as mulheres tinham que sair do Plenário e ir lá para o cafezinho, para ir ao banheiro? Não tinha espaço. E o banheiro dos homens era enorme. Era um banheiro enorme, porque eram 81 homens até 1979, quando chegou a primeira Senadora do Brasil, que também tenho muito orgulho de dizer que é Senadora do meu Estado do Amazonas, a Senadora Eunice Michiles – nem o banheiro do cafezinho tinha, era um banheiro único dos homens também. Ali foi dividido, naquela época, para ser o banheiro das mulheres, mas no Plenário, não.

    Então são coisas simbólicas, mas que mostram a história e a cultura da nossa sociedade, que é forte, repito, em todos os aspectos, mas, na política, é algo assim... porque o Parlamento não foi feito para a mulher. O Parlamento foi feito para os homens exatamente por conta dessa cultura, dessa cultura machista, dessa cultura opressora contra as mulheres, que lhes traz não apenas a impossibilidade de ocupar espaços importantes, mas lhes traz muito acúmulo de trabalho e muita infelicidade também, porque, quando a gente fala na luta das mulheres, não é só para conquistar os espaços, é para levar alegria para a vida das mulheres, para que elas também se vejam como personagens de uma história – elas têm um importante papel, que cumpriram e que continuam a cumprir.

    Então, cumprimento essas companheiras.

    Quero aqui cumprimentar também – Senadora Jussara, já falei – a Deputada Jane Klebia, que é, Deputada Distrital e Procuradora da Mulher aqui no Distrito Federal. (Palmas.)

    Cumprimento todas aqui, cumprimentando a Joana. A Joana Jeker, que já foi nominada e citada aqui, representa uma entidade muito importante, que atua no apoio às mulheres mastectomizadas. Essa é uma atividade fundamental.

    Aliás, entre todas essas leis que estão colocadas – aqui tem um espaçozinho que quem acessar pode ver o conteúdo das leis –, está uma que eu considero muito importante, que é o direito de a mulher mastectomizada fazer a recomposição da mama no mesmo momento em que faz a retirada do seu peito. Então, isso é muito importante. É uma lei que não basta estar no papel, tem que estar cumprida.

    Mas eu aqui quero agradecer as homenagens e as palavras que sempre considerei exageradas, porque eu sou daquelas que, quando entro para atuar em algum lugar, eu digo que eu não faço mais do que a minha obrigação. Eu estou aqui, eu tenho o dever de fazer, não é? Então, eu fico feliz, mas entendo que é um dever de todas nós, porque quem chega a uma Casa parlamentar chega porque foi pedir voto, porque foi dizer que lutava pelo povo. E que bom... Se todos, de fato, lutassem pelo povo, lutassem pelos direitos das mulheres, talvez, não vivêssemos em um mundo tão desigual como a gente vive. Então, essa minha passagem foi muito importante.

    Agora, antes de chegar ao Senado, como você, Zenaide, estivemos na Câmara, e o momento que mais marcou a presença das mulheres foi, em 1988, durante a elaboração da nova Constituição brasileira, durante a Assembleia Nacional Constituinte. As mulheres ali representavam a bancada do batom, somente isso; a bancada do batom, a bancada das mulheres. Tiveram muitas conquistas, conquistas importantíssimas, mas era só a bancada do batom.

    Discutíamos muito se deveríamos fazer parte dos conselhos ou lutar pela existência dos conselhos das mulheres nos estados e nos municípios, dos direitos das mulheres. Lutávamos pela delegacia, éramos Parlamentares – eu vim da Câmara de Vereadores da minha cidade de Manaus –, mas nós éramos só a bancada feminina, algumas mulheres que faziam parte... Não tínhamos estrutura, não tínhamos nada.

    Foi aí que, na Câmara, um dia, paramos e pensamos: "Não temos nada. Não temos uma estrutura". E ali foi criada a Secretaria da Mulher e a Bancada Feminina. Chegando aqui ao Senado também não tínhamos nenhuma estrutura e... Não graças a mim... O Senador Renan era, à época, Presidente do Senado, e eu quero aqui reconhecer o total apoio que ele deu – Senadora Zenaide, como a senhora mesma registrou – para a criação da Procuradoria da Mulher no Senado.

    Mas nós não tínhamos um espaço que era das mulheres, um espaço em que se pudesse estar aqui, organizando uma atividade e espalhando para o Brasil inteiro. Isso é importante. Hoje nós temos e temos que reconhecer o papel, porque é a institucionalização da luta da mulher pelos seus direitos e contra a violência. Essa é uma luta que tem que ser institucionalizada e reconhecida pelo Estado brasileiro, porque essa é a melhor forma que a gente tem, Zezinho, de poder ter conquistas.

    Tivemos muitas conquistas nesses últimos tempos, mas, lamentavelmente, ainda temos muito a conquistar. Zenaide concluiu o discurso dela da mesma forma que eu quero aqui concluir. Eu não estou aqui para falar, porque a Procuradoria fala por si só, o momento fala por si só do porquê que a gente tem que lutar tanto, do porquê que a mulher precisa lutar tanto: precisa lutar tanto para poder ter salário igual – para poder ter não só trabalho igual; salário igual –, para que não seja sobrecarregada dentro da sua casa, para que possa dizer, "eu vivo numa sociedade de iguais". Enquanto tiver uma mulher oprimida, nós não podemos dizer que vivemos numa sociedade democrática.

    Todos aqui, todas comemorando o fato de o Senado Federal ter a sua maior bancada numérica: 15. Éramos 12 na minha época, ou seja – eu até anotei aqui, fiz umas contas rápidas –, em torno de 14% passamos para 18%; mas temos que ser no mínimo a metade – no mínimo a metade –, porque essa é a sociedade. "Ah, é impossível, mulher não gosta de política". Não é verdade. Mulher gosta de política, mulher não tem espaço na política, por isso que essas reformas e as cotas são tão importantes. Países da Europa, por exemplo, que têm – grande parte deles já – Parlamentos com equidade de gênero e outros países no nosso próprio continente que têm equidade de gênero começaram assim; e hoje os partidos não são votados se não apresentarem no mínimo a metade de mulheres.

    Então, nós buscamos, sim – e esta é a luta –, o empoderamento, o espaço cada vez mais das mulheres na política, porque ou a gente consegue isso ou a gente vai continuar todo dia lamentando a morte de uma mulher por feminicídio, o que foi uma outra luta para a gente aprovar – outra luta. Não foi simples aprovar a lei que determinou o feminicídio, porque muitos homens diziam: "Para que feminicídio? Vamos aprovar uma lei do 'hominicídio' também". Não, nenhum homem morre por ser homem. Mulher morre por ser mulher, sem ter cometido absolutamente nada, sem ter feito nada, sem ter cometido nenhum crime; morre por ser mulher. Então, foi difícil, mas aprovamos, e hoje os dados estatísticos estão aí. E o objetivo era exatamente este: dar transparência à violência que sofre a mulher, porque também através da transparência a gente consegue avançar na legislação e a gente consegue melhorar muito.

    Quero homenagear aqui as servidoras e servidores da Procuradoria, fazer homenagem e citar duas pessoas – nas pessoas delas, sintam-se todas abraçadas, porque eu vejo várias pessoas aqui. Uma delas é a Teresa, que coordena hoje a Procuradoria da Mulher do Senado. (Palmas.)

    Eu tenho certeza – não é, Zenaide? –, se não fosse a Teresa, muita coisa não aconteceria, porque vida de Senador é uma vida muito agitada, e elas é que nos ajudam a fazer o bom trabalho, a fazer o que tem que ser feito.

    E a outra querida, que não está entre nós, mas coordenou durante o tempo que eu fiquei, foi Rita Polli, uma jornalista, também, uma guerreira. (Palmas.) E na pessoa dela eu homenageio todos e todas que aqui estão.

    Estou vendo o Lunde ali, que também trabalha na Procuradoria, aplaudindo entusiasticamente, não é? (Palmas.)

    Então, quero dizer que os tempos são difíceis, o mundo assiste a um confronto a que não gostaríamos de estar assistindo – mais de 4 mil pessoas mortas; primeiro, num atentado sem precedentes e, segundo, numa represália, aquele atentado também sem precedentes –, e quem mais sofre com esses atentados são mulheres, são crianças, são meninas, que sempre trabalharam e lutaram pela paz.

    Então, parabéns, Zenaide! Zenaide, parabéns, minha querida!

    Quem vê a Zenaide com esse sorriso no rosto não sabe o quanto ela é dura, mas o quanto ela é dedicada e o quanto ela é competente, como mãe, como uma pessoa que cuida da família, que se dedica aos seus filhos, mas que está aqui sempre presente, sempre presente com os olhos olhando o futuro, olhando o presente, mas principalmente olhando o futuro do nosso país, do Nordeste, que ela tanto ama, e das mulheres e das crianças, principalmente.

    Parabéns, Zenaide. (Palmas.)

    Tenho certeza de que seu trabalho continua, tudo aquilo... Fiquei triste de não reencontrar aqui a Rose de Freitas. A Rose de Freitas, também uma grande companheira – é preciso registrar –, não foi apenas Senadora e Procuradora da Mulher, ela foi a primeira e única, até agora, Vice-Presidente da Câmara dos Deputados, o que também foi uma conquista muito importante, numa época em que mulher não fazia nem parte da Mesa, da Mesa Diretora da Câmara. Rose de Freitas, Deputada constituinte...

(Intervenção fora do microfone.)

    A SRA. VANESSA GRAZZIOTIN – Exatamente, não é?

    Mas fica o nosso abraço e o nosso carinho à querida Rose de Freitas.

    Muito obrigada.

    Parabéns, Zenaide. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/10/2023 - Página 23