Discurso durante a 152ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao posicionamento do PT frente ao conflito que se desenvolve entre israelenses e palestinos na Faixa de Gaza, supostamente por relativizar o termo terrorismo ao se referir aos ataques perpetrados pelo Hamas contra Israel.

Autor
Rogerio Marinho (PL - Partido Liberal/RN)
Nome completo: Rogério Simonetti Marinho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Assuntos Internacionais, Eleições e Partidos Políticos:
  • Críticas ao posicionamento do PT frente ao conflito que se desenvolve entre israelenses e palestinos na Faixa de Gaza, supostamente por relativizar o termo terrorismo ao se referir aos ataques perpetrados pelo Hamas contra Israel.
Publicação
Publicação no DSF de 18/10/2023 - Página 90
Assuntos
Outros > Assuntos Internacionais
Outros > Eleições e Partidos Políticos
Indexação
  • CRITICA, POSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CONFLITO, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, GRUPO, PALESTINA, POSSIBILIDADE, REDUÇÃO, TERMO, TERRORISMO, REFERENCIA, AGRESSÃO.

    O SR. ROGERIO MARINHO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RN. Para discursar.) – Sr. Presidente, Srs. Senadores aqui presentes, povo brasileiro, nós estamos vivendo um momento muito desafiador. E, como Líder da Oposição, nós temos o dever de nos posicionarmos a respeito desses eventos trágicos que estão acontecendo no mundo, em especial o conflito que se estabeleceu após um ataque bárbaro feito por terroristas de uma organização criminosa, o Hamas, à população de Israel.

    Ao longo dessa última semana, nós fomos submersos por uma série de imagens que nos chocaram: rapto de crianças, decapitação de crianças, estupros, morte feita contra civis e ataques feitos contra civis desarmados e de forma desavisada, numa provocação clara, que está resultando num bombardeio de uma área limitada chamada Gaza e que tem, certamente, efeitos diversos daqueles que os seus detentores imaginam.

    Na hora em que Israel retalia e se defende, aliás – se defende justamente do ataque que foi perpetrado –, é evidente que a população civil, que não tem como fugir daquela área e que é usada como refém, de forma covarde e criminosa, por esses facínoras dessa organização criminosa, o Hamas, terminam também pagando um preço que não deveriam pagar.

    A guerra tem, segundo um famoso jornalista, uma vítima que ocorre invariavelmente e que é a primeira vítima: essa vítima é a verdade. Nós vivemos hoje numa guerra de narrativas, e as narrativas podem e devem ser feitas, desde que tenham uma referência na realidade.

    Eu não vou aqui me debruçar sobre as origens desse conflito, que certamente não interessam a quem minimamente professa fé na humanidade e tem valores éticos e morais que preconizam alguma regra na convivência entre seres humanos, entre países. É evidente que o objetivo desse grupo de facínoras é provocar justamente esse tipo de reação, para gerar, como consequência, uma empatia na sociedade internacional, galvanizar a opinião pública muçulmana para recrudescer essa luta milenar que existe – absolutamente irracional, ao nosso ver. E isso é feito à custa de quem não é combatente, de quem não está na linha de frente.

    O que nos espanta, o que nos chama a atenção é que o Governo brasileiro, ao longo dessa última semana, fez um verdadeiro malabarismo para evitar alcunhar de terrorista essa entidade que claramente utiliza métodos de atrocidade e de desprezo pelos seres humanos. E o faz, por último, com uma alegação de que não pode acusar essa organização terrorista de terrorista porque a ONU assim não determinou, como se a liberdade, o condicionamento, o arbítrio do Brasil estivesse subordinado a uma instituição, por mais importante que ela fosse. Eu acho que o Brasil tem que estar subordinado, sobretudo, à ética, à moral, à civilidade, ao humanismo, ao respeito aos seres humanos.

    E o PT ontem soltou uma resolução a respeito da situação da Palestina e de Israel que, no mínimo, me choca, e eu faço questão de registrar aqui, para repudiá-la. Em um determinado momento, acho que no quarto parágrafo:

O PT condena, desde sua fundação, todo e qualquer ato de violência contra civis [muito bem], venham de onde vierem. [Concordo.] Por isso, condenamos os ataques inaceitáveis, assassinatos e sequestro de civis [concordo], cometidos tanto pelo Hamas quanto pelo Estado de Israel, que realiza, neste exato momento, um genocídio contra a população de Gaza, por meio de um conjunto de crimes de guerra.

    Ora, o Partido dos Trabalhadores, neste momento, ultrapassa uma barreira que eu considero ética e perigosa: o direito de se defender é inalienável. Os crimes de guerra que o PT acusa, inclusive com a acusação de genocídio... O PT deveria ter mais cuidado, porque certamente o faz em função de um viés ideológico e não do critério de humanidade. O PT esquece que o genocídio tem uma raiz histórica. Eu vou lembrar aqui a origem do termo.

    Na grande fome de Mao, entre 58 e 62, 45 milhões de chineses, do Partido Comunista, foram mortos ou executados pela política de Mao Tsé-Tung; no Holodomor, em 32 e 33, entre 5 e 10 milhões de ucranianos foram praticamente submetidos a um regime de morte, por Josef Stalin, comunista também; no Holocausto, 6 milhões de judeus foram exterminados por Adolf Hitler; na Armênia, pelos otomanos, de 1915 a 1923, mais de um 1,5 milhão de armênios morreram, aquela população foi praticamente dizimada; no Congo, mais de 10 milhões de pessoas foram mortas; o Khmer Vermelho, que é uma experiência socialista, a terceira fase da revolução socialista, a utopia comunista, matou mais de 1,5 milhão de pessoas no Camboja. Aí sim são genocídios.

    Agora, a população judaica no mundo, antes da Segunda Guerra Mundial, era de pouco menos de 20 milhões de habitantes; passados mais de 70 anos, são 14 milhões. E não é apenas pela questão demográfica, é porque foram mais de 6 milhões exterminados em campos de concentração. Então, na hora que você chama um povo, que tem esse histórico de perseguição e essa tragédia no seu passado, de genocida, você não só está desconhecendo a história como está, gratuitamente, fazendo uma agressão injustificável.

    A Palestina e Israel têm um conflito que precisa ser resolvido. Inclusive, defendemos sim a solução dos dois estados, desde que em condições razoáveis para os dois povos. É uma condição de defesa sensata, humanitária, eles têm que existir, coexistir, acabar com essa irracionalidade. Mas nós não temos, aqui no Brasil, a condição de ter os elementos para resolver esse problema milenar. Agora, é um fato que, em 20 anos, a população palestina aumentou, não diminuiu. Em 20 anos, mais de 1 milhão de novos palestinos passaram a habitar aqueles territórios. Então, ao contrário do que o PT diz, a matemática e a aritmética o desmentem: lá não tem genocídio. Lá existe uma população que, certamente, está vivendo em condições difíceis, em um território pequeno, e que precisa da compreensão não apenas de Israel, mas de seus vizinhos árabes, para que possa sair da armadilha em que se encontra.

    É inconcebível esse tipo de comportamento de um partido político que relativiza o termo terrorismo na hora em que claramente ele se aplica, e abre os peitos em discursos, em declarações, em ilações feitas dizendo que depredação de prédio público é terrorismo. Parece-me que há, claramente, um erro de avaliação primário. Ora, se quebrar uma vidraça, invadir um prédio público é terrorismo, decapitar uma criança não é?

    Eu acho que o viés ideológico está cegando os olhos do Partido dos Trabalhadores. E eu faço questão de fazer esse registro aqui, para que nós possamos refletir...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROGERIO MARINHO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RN) – ... a respeito, sobretudo, de humanidade, porque nós não podemos fazer nenhuma distinção. Por exemplo, hoje há uma notícia de que um hospital, em Gaza, teve um ataque com mais de 500 vítimas, o que nós, de pronto, repudiamos. Mesmo numa guerra, por mais fratricida que ela seja, têm que existir regras e não se pode bombardear um hospital se ele estiver claramente identificado.

    Eu não sei quais foram as consequências ou a conjuntura desse ataque, mas, se ele aconteceu, eu o repudio. Da mesma forma, eu espero que o PT reveja o seu posicionamento e, em nome da civilidade, da coerência, da lógica, ele possa refletir a respeito do fato de que nós estamos lidando com uma organização claramente criminosa e terrorista, que é o Hamas.

    Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/10/2023 - Página 90