Discurso durante a 174ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Sessão de debates temáticos destinada a discutir os desafios e propostas do Brasil para a COP 28.

Autor
Luis Carlos Heinze (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Luis Carlos Heinze
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Mudanças Climáticas:
  • Sessão de debates temáticos destinada a discutir os desafios e propostas do Brasil para a COP 28.
Publicação
Publicação no DSF de 22/11/2023 - Página 31
Assunto
Meio Ambiente > Mudanças Climáticas
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, PROPOSTA, CONFERENCIA INTERNACIONAL, CLIMA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU).
  • REGISTRO, AGRICULTURA, BRASIL, EXPORTAÇÃO, SOJA, LARANJA, CANA DE AÇUCAR, FRANGO, CARNE BOVINA, COMENTARIO, LEGISLAÇÃO, MEIO AMBIENTE, EXPOSIÇÃO, ATUAÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUARIA (EMBRAPA), QUESTIONAMENTO, TRABALHO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), OBSERVAÇÃO, QUEIMADA, FLORESTA, PAIS ESTRANGEIRO, CANADA, JAPÃO, DEFESA, IMPORTANCIA, REGIÃO AMAZONICA.

    O SR. LUIS CARLOS HEINZE (Bloco Parlamentar Aliança/PP - RS. Para discursar.) – Bom dia, Senadora Leila e todos que estão hoje participando deste evento. Parabéns pelo evento.

    Na pessoa da Samanta, na pessoa da Suely – debatemos muito o Código Florestal –, Samanta e Suely, quero saudar a todos que estão presentes aqui neste ato. É importante.

    Vou me apresentar. Eu sou um técnico agrícola, sou um engenheiro agrônomo e sou um produtor rural. Essa é a minha profissão, esse é o meu negócio. Estudo essa área, conheço essa área, e vi algumas críticas, de uma senhora que falou aqui, sobre o agro brasileiro.

    Uma história que talvez vocês não saibam: o Brasil, nos anos 70, era importador de alimentos. Com essa vasta área, esse vasto território, Senadora Leila, o Brasil importava alimentos.

    Um conterrâneo meu, gaúcho, Luís Fernando Cirne Lima, agrônomo, produtor rural como eu, foi meu paraninfo na faculdade, criou a Embrapa.

    Alysson Paulinelli – não sei se tem alguém da Embrapa aqui – sucedeu Cirne Lima e começou uma revolução no agro brasileiro e mundial.

    Conheci, tive o prazer de conhecer, Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz, um agrônomo americano que esteve aqui com Paulinelli nos anos 70 e dizia que o cerrado brasileiro nada produziria – anos 70, uma pessoa que conhecia esse cenário.

    Agora, 2003, 2004, ele esteve aqui, Leila, e disse: "Paulinelli, eu tenho que me penitenciar com os técnicos brasileiros, a ciência brasileira, a pesquisa brasileira e, principalmente os produtores rurais brasileiros". Fizeram uma verdadeira revolução em solos pobres – a Deputada mineira que está aqui conosco, prazer também – e o Brasil é essa maravilha que nós temos hoje: chegamos a exportar alimentos para mais de 200 países do mundo.

    Este é o Brasil: com qualidade, com tecnologia, sem subsídios que os europeus ganham, sem subsídios que os americanos ganham, sem subsídios que os chineses e japoneses ganham. O agricultor brasileiro é como um corredor de pé no chão contra um treinado, e ganhou deles todos. Esse é o Brasil de hoje.

    Se nós conquistamos o mercado de ser o maior exportador de soja do mundo, não foi à toa; o maior exportador de laranja e suco do mundo, o maior exportador de cana-de-açúcar do mundo, de frango do mundo, de boi do mundo, não foi à toa. Tomamos o mercado, conquistamos – não é tomamos, conquistamos – o mercado deles.

    Nas questões das mudanças climáticas – um dado importante –, nós debatemos temas, Suely. Acho que tem alguém do WWF e do Greenpeace aqui. Há de se lembrar, Suely, que eles cobravam de nós uma legislação, Leila.

    Agora, eu duvido que alguma ONG dessas que esteja aqui, hoje, tenha feito, nos seus países de origem, na Holanda, na Inglaterra, em qualquer país da Europa, uma lei semelhante à nossa com APP e Reserva Legal. Não existe, Suely: sabe disso. Por que essas ONGs não pressionaram a Alemanha, terra natal dos meus ancestrais? Itália, Inglaterra, Holanda, Estados Unidos? Não fizeram nada disso, fizeram contra o Brasil, porque sabiam, tinham medo do Brasil, têm medo, e o Brasil, hoje, é essa potência, esse é um ponto.

    A Embrapa fez um trabalho de que eu já falei aqui, Leila, sobre as florestas primárias do mundo 8 mil anos atrás. A África tem apenas 7,8% do que tinha 8 mil anos atrás; a Ásia, 5,6% do que tinha 8 mil anos atrás; a América do Norte, 34%; a América Central, 9,7%; a América do Sul, 54,8% – 54,8% –, a nossa América do Sul; a Rússia 29%; a Europa, 0,03% – pensem bem; e vem nos criticar? –; a Oceania, 22%; e o Brasil, pasmem, 69%! Quem são eles? Quem são essas ONGs, mantidas por quem, para criticar o Brasil?

    Célia, são boa parte de terras indígenas e reservas que o Brasil tem. Os Estados Unidos têm, mais ou menos, 100 milhões de hectares a mais do que o Brasil, tem quase 1 bilhão de hectares, nós temos 851 milhões de hectares. Eles utilizam mais de 80% do seu território com florestas plantadas, agricultura, pecuária e produção, mais de 80%! A Europa toda – Holanda, Inglaterra, Alemanha, Itália – usam de 70% a 80% do seu território. O Brasil não usa 40%, Leila. Quem são essas ONGs que financiam vocês? Quem está por trás disso para nos criticar? Não podem nos criticar.

    O plantio direto...

(Soa a campainha.)

    O SR. LUIS CARLOS HEINZE (Bloco Parlamentar Aliança/PP - RS) – ... Leila e Samanta, foi um agricultor brasileiro, um colono agricultor, no Paraná, o seu estado, que conheceu, e hoje é uma maravilha, uma fábula. Nós capturamos carbono. É importante que você se atente a esse ponto.

    Quando falam em IPCC e falam nas fezes, o rebanho bovino brasileiro tem mais gado do que gente, é um orgulho, somos o maior exportador. O IPCC diz que as fezes e a urina, Leila, emitem mais de 2% de óxido nitroso, mais de 2%... O que é o IPCC aqui? Alguém aqui é do IPCC?

    Mentira, mentira! A Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Embrapa de Bagé, mostra que tem 0,74% de urina e 0,08% de fezes. Isso é trabalho científico! Onde é que está o trabalho científico do IPCC para falar das fezes dos animais e também da urina dos bovinos brasileiros?

    Aqui tem um trabalho realizado, no Rio Grande do Sul, com pesquisa de três anos. Então, esses números, Leila, nós temos que avaliar, não é bem assim como falam.

    Um grupo de cientistas fez um trabalho sobre a descarbonização. Trigo, soja, milho, cana-de-açúcar, fumo, café, pecuária, arroz. Mais ou menos, nós temos aqui 200 milhões de hectares. Tem um professor da USP, um professor de uma universidade de Passo Fundo, um ex, já falecido, mas que iniciou esse trabalho, Dirceu Gassen, da Embrapa, e mais algumas pessoas, e elas dizem que o Brasil sequestra mais de 7,5 bilhões de toneladas e emite 211 milhões de toneladas.

    Eu estou checando, Samanta, esse assunto, está me ajudando. Estamos procurando a Embrapa Florestas, de Colombo, a Embrapa Soja, de Londrina, a Embrapa Pecuária de Bagé, a Embrapa de Belém, a Embrapa de Campinas... Eu estou buscando a ciência para certificar o que eu estou dizendo, Leila. Esse é um trabalho que existe. Quem fala disso? Ninguém fala disso. Aqui vêm falar de queimadas.

    Desses incêndios florestais que recentemente ocorreram no Canadá eu não ouvi ninguém da grande imprensa falar, não ouvi ninguém falar disso aqui, Leila. Esse incêndio, Leila, representa... Os incêndios florestais no Canadá ultrapassam as emissões anuais do Japão, que é o quarto ou quinto emissor de gases de efeito estufa do mundo. Por que a mídia não fala disso? Esse incêndio de agora, recente, no Canadá representa quase 20 anos, Suely, de queimadas na Amazônia, que é tão criticada. Todo dia falam da Amazônia, todo dia, mas ninguém fala do Japão e de outros tantos que pelo mundo afora ocorrem.

    Então, eu gostaria, Leila, e quero me apresentar na COP, de dizer essas coisas. Eu não ouço ninguém falar nisso, Leila. Isso é a realidade, isso é o Brasil. Não posso falar mal do meu país. Eu sou um técnico da área. Essa é uma preocupação que eu tenho. Portanto, é importante que nós possamos debater isso também, estarmos alinhados. Se o Brasil chegou a essa posição, correndo de pés descalços...

    Você é esportista, não é? Eu saio de pés no chão, de pés descalços, e você sai treinada, e eu ganho de você. Imagina, Leila! Isto é o Brasil, com todo esse potencial.

    Eu não quero devastar a Amazônia, não, mas a Amazônia tem valor, tem preço. Por que os Estados Unidos... Por que a Europa não preservou as suas florestas primárias? Por que não preservou? Usa tudo como economia, e eu tenho que guardar as minhas reservas. Isso é uma fábrica que o Brasil tem. O mundo desenvolvido...

    Digam isto para as ONGs que patrocinam vocês, para quem patrocina vocês, digam isto: "Paguem ao brasileiro! Paguem ao Brasil!" As terras indígenas, Deputada Célia, têm que receber, alguém tem que pagar. Não somos nós. Nós temos que receber, é um crédito que o Brasil tem.

    Portanto, é um prazer estar com vocês aqui, o debate é importante, mas estou juntando dados científicos, não chutes, como o IPCC fez com as fezes dos animais, com a urina dos animais, dos bovinos, mas dados científicos. Falar mal do agro brasileiro? Não pode ser assim. Nós ganhamos essa posição, como disse, sem subsídios, o que os europeus, americanos e asiáticos têm.

    Poucos recursos nós temos aqui no Brasil, e nós chegamos a essa posição. Portanto, obrigado, Leila, por essa fala.

    Agora, raciocine: nas florestas primárias do mundo, nosso país é o que mais preservou desde o início da humanidade, quando a Embrapa fez um trabalho de oito mil anos atrás; oito mil anos atrás. A Europa não pode falar de nós; os Estados Unidos, o Japão, ninguém pode falar de nós. Nós, sim, podemos falar deles. Energia limpa.

    Agora, Leila, eu reuni em Cruz Alta, semana passada, uma refinaria de petróleo rio-grandense. A Petrobras é dona de um pedaço, a Braskem e a Ultra... Querem fazer um óleo de soja. Jean Paul, eu tenho outro produto – peguei pesquisador do Paraná, do IDR, antigo Iapar –, chama-se nabo-forrageiro. Nós temos um potencial no inverno do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul para utilizar esse produto, que hoje é um lixo. Não é lixo, a gente usa na agricultura para fazer um enterrio, a gente enterra para poder melhorar a qualidade do solo. Vai colher semente e vai produzir óleo, o dobro da soja, e custa uma terça parte de um saco de soja. E não é alimento, podemos exportar para o mundo.

    O etanol veio do Brasil. Na crise do petróleo nos anos 70, o Brasil descobriu o etanol. O Brasil descobriu o diesel verde. Ninguém tem uma energia limpa como nós temos hoje na água que o Brasil tem, eólica, solar e do lixo, que nós estamos queimando para transformar em energia. Qual país tem matriz tão limpa como o Brasil? Pensem bem nisso. Eu estou falando do que eu conheço, não é achismo. Essa é a realidade. E temos que falar bem do Brasil, e não falarmos mal do Brasil quando saímos daqui para fora. Imagine eu falar da minha esposa, dos meus filhos, dos meus netos, do meu negócio. Eu não falo mal; portanto, eu não posso falar mal do meu país, que é o Brasil. E tenho orgulho do meu país e vou defendê-lo com unhas e dentes.

    Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/11/2023 - Página 31