Discurso durante a 185ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao pronunciamento do Presidente Lula, na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 28), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e à condução da política externa brasileira. Preocupação com possível conflito entre Venezuela e Guiana. Apelo para que o Brasil atue diplomaticamente como potência regional para intermediar eventuais acordos entre os referidos países.

Autor
Hamilton Mourão (REPUBLICANOS - REPUBLICANOS/RS)
Nome completo: Antonio Hamilton Martins Mourão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Conflito Bélico, Governo Federal, Meio Ambiente, Relações Internacionais:
  • Críticas ao pronunciamento do Presidente Lula, na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 28), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e à condução da política externa brasileira. Preocupação com possível conflito entre Venezuela e Guiana. Apelo para que o Brasil atue diplomaticamente como potência regional para intermediar eventuais acordos entre os referidos países.
Publicação
Publicação no DSF de 05/12/2023 - Página 32
Assuntos
Outros > Conflito Bélico
Outros > Atuação do Estado > Governo Federal
Meio Ambiente
Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Relações Internacionais
Indexação
  • COMENTARIO, TERRORISMO, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, DISCURSO, CONFERENCIA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), MUDANÇA CLIMATICA, PAIS ESTRANGEIRO, EMIRADOS ARABES UNIDOS, POLITICA EXTERNA, PREOCUPAÇÃO, CONFLITO, GUERRA, VENEZUELA, GUIANA, SOLICITAÇÃO, ATUAÇÃO, INTERVENÇÃO, BRASIL.

    O SR. HAMILTON MOURÃO (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - RS. Para discursar.) – Sr. Presidente, Senador Eduardo Girão, um dos grandes guerreiros aqui do nosso Senado Federal e que sempre se destaca por suas posições coerentes e em defesa daquelas que são as melhores ideias e os grandes ideais, Sras. e Srs. Senadores, senhoras e senhores que nos acompanham, o século XXI começou já sob a égide do conflito.

    Vamos lembrar que, no dia 11 de setembro de 2001, terroristas da organização Al-Qaeda, conduzindo aeronaves sequestradas, derrubaram um dos ícones da cidade de Nova York, as Torres Gêmeas; atacaram a sede do Ministério da Defesa daquele país, dos Estados Unidos da América, o Pentágono; e outra aeronave terminou por cair lá no Estado da Pensilvânia, graças à ação dos passageiros que estavam lá dentro e que se imolaram em nome do bem comum. De lá para cá, só vivemos conflitos e vemos nitidamente a nossa civilização, a civilização ocidental, liderada por aquele país, que é o ícone da democracia, o farol para quem entende o sistema democrático como aquele em que há liberdade de expressão e equilíbrio entre Poderes, a vontade do povo é obedecida; os Estados Unidos da América vêm liderando uma cruzada, há muito tempo, junto com a Europa Ocidental e com os nossos países aqui também da América Latina enfrentando essa ascensão do terrorismo e do totalitarismo.

    Não teve um instante sequer, ao longo desses 22 anos, em que não estivéssemos envolvidos em conflitos. E vemos aí países como a Rússia, como a China, como o Irã e como a Coreia do Norte protegendo organizações cuja única finalidade é buscar, por meio do terror, impor aquilo que consideram a sua vontade.

    Mas o nosso país, o nosso Brasil, volta e meia busca exercer um papel diplomático e se intrometer em algum desses conflitos lá no Oriente Médio, como no recente conflito entre a Rússia e a Ucrânia, quando, lamentavelmente, por decisões que foram tomadas no passado, nós não temos ainda a capacidade e o poder de influenciar de forma eficiente e eficaz o conserto das nações.

    Atualmente, temos buscado enaltecer aquilo que é o tal, assim chamado, Sul Global, que nada mais é do que um retorno ao terceiro mundismo dos anos 70 e uma forma de exercer um antiamericanismo infantil.

    Digo isso porque me preocupo, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, com a forma como o nosso Presidente da República vem se conduzindo. Agora mesmo, e V. Exa. mencionou durante o seu pronunciamento, esteve lá em Dubai, na COP 28, discursando e parecendo desconhecer a realidade do mundo ao propor uma governança global para a questão do clima. Um renomado jornalista chamou isso de anarco-diplomacia. E por que anarco-diplomacia? Por que, minhas senhoras e senhores?

    Vamos olhar a história das tentativas de haver um governo mundial.

    O Woodrow Wilson, presidente americano no começo do século passado, buscou formar a Liga das Nações e, por meio dela, chegar a arbitrar conflitos e impedir que conflitos ocorressem no mundo. A Liga das Nações não prosperou, terminou definitivamente com a Segunda Guerra Mundial. Da Segunda Guerra Mundial emergiu a Organização das Nações Unidas, que, ao longo dos últimos anos, tem se mostrado totalmente ineficiente e ineficaz no sentido de impedir que conflitos ocorram e de que mortes e atentados continuem a nos abalar quase que diariamente, perde a sua capacidade a Organização das Nações Unidas. Imagina, Sr. Presidente, em tema tão complexo como a questão da transição energética, de forma a enfrentar o aquecimento global. Se americanos e chineses não assentarem à mesa, não vai haver acordo nenhum; então, chega a ser até infantil essa ação do nosso Presidente.

    Mas ele pode agir em outro lugar, pode agir aqui, em nossas fronteiras, porque o conflito, depois de 30 anos sem haver algo igual na América do Sul, está em sua iminência. Trinta anos atrás, irá completar no ano que vem, Peru e Equador foram à guerra, na região do Cenepa, buscando o acesso a quê? A Petróleo e à Bacia do Amazonas, riquezas, porque é por isso que as nações guerreiam entre si.

    Muito bem. Agora o que é que nós vemos? A ditadura venezuelana, por meio de seu prócer maior, o Sr. Nicolás Maduro, promoveu ontem um referendo cuja grande finalidade era trazer para dentro da Venezuela uma questão que se arrasta desde o século XIX, que é a questão do Essequibo. E por que agora isso? Porque o Essequibo mostrou a sua riqueza petrolífera e fez a pequena Guiana hoje tornar-se uma potência e, praticamente, em pouco tempo, se tornar o país com maior PIB per capita do mundo face a quantidade de petróleo lá existente.

    O Sr. Maduro promoveu esse referendo, Sr. Presidente, e até quero chamar a atenção, porque ele, didaticamente, em um vídeo, mostra como a população deveria responder às cinco perguntas do referendo, e uma coisa me chamou a atenção ali, naquele vídeo: o voto lá é impresso, se imprime o voto, uma discussão bizantina que nós tivemos aqui no nosso país há dois anos. E lá, na ditadura venezuelana, isso ocorre.

    Pois bem, um conflito entre Venezuela e Guiana arrastará, inequivocamente, para a América do Sul as grandes potências. A Rússia, a China e o Irã já estão operando na Venezuela há muito tempo. E os Estados Unidos têm interesses naquela região e são, vamos dizer assim, o garantidor da segurança da Guiana.

    Então, estamos à porta de um conflito de proporções que desconhecemos, pura e simplesmente, porque um ditador quer levar seu país a uma guerra. Na busca de quê? De impedir que, ano que vem, eleições livres ocorram e que, finalmente, o povo venezuelano consiga retomar as rédeas do seu país.

    Quem conhece a região e sabe como é a fronteira entre Venezuela e Guiana tem a máxima compreensão de que, se vão tentar invadir, se a Venezuela vai tentar invadir a Guiana, o caminho passa pelo Brasil. E passa por onde, Sr. Presidente, senhoras e senhores? Passa pela Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, que, ao olharmos lá no passado, no final do século XIX, era famosa a Questão do Pirara, que foi a única questão de fronteira em que o Brasil não teve uma vitória completa.

    A nossa fronteira com a Guiana ia um pouco além do que temos hoje e, por decisão arbitral, se reduziu à região hoje dos rios Maú e Cotingo, quando era mais à frente, mais a leste o divisor de águas entre esses rios e o Rupununi. Foi uma derrota que nós sofremos. E essa região é a região de acesso mais fácil da Venezuela à Guiana.

    Portanto, fica aqui meu alerta, Sr. Presidente, ao Governo brasileiro de que exerça efetivamente a nossa posição, aí sim, de potência regional, porque isso nós somos. Nós somos um país que faz fronteira com dez países diferentes. Temos 17 mil quilômetros de fronteira – poucos países no mundo têm isso. Não é uma fronteira simples, com três arcos diferentes: um arco sul, um arco oeste e um arco noroeste e norte, cada um com suas características.

    E essa diplomacia tem que ser exercida em três níveis: o nível presidencial – o Presidente da República tem que se envolver pessoalmente nisso, nisso ele pode e deve se envolver, e não querer achar que um governo mundial vai solucionar a questão da transição energética e da mudança do clima –; a diplomacia exercida pelos profissionais, pelo Itamaraty; e a diplomacia militar. Esses três níveis devem ser exercidos, e o nosso Governo tem o dever de assim trabalhar, sob pena de vermos um conflito na nossa fronteira e, pior ainda, vermos aumentar o êxodo maior de refugiados, sejam venezuelanos, sejam guianenses, para dentro do nosso território e, especificamente, para dentro do Estado de Roraima, estado que até hoje não é perfeitamente integrado ao restante da nação, uma vez que há mais de dez anos se luta para que se estabeleça uma linha de transmissão que una a produção de energia do centro sul do país à região lá do Estado de Roraima, que até hoje consome energia produzida por usinas termoelétricas a óleo.

    Portanto, Sr. Presidente, senhoras e senhores, esse é o alerta que eu gostaria de lançar nesta tribuna, e também trazer aqui a solidariedade do povo do Rio Grande do Sul ao povo de Maceió, que vem sendo, já há alguns anos, atacado por essa catástrofe originada por uma exploração indevida de sal-gema, que tem causado a retirada de pessoas de bairros inteiros, prejudicando, com isso, a vida dos habitantes da belíssima capital do nosso Estado de Alagoas.

    Esse era o recado de hoje, Sr. Presidente.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/12/2023 - Página 32