Discurso durante a 188ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Sessão de Debates Temáticos destinada a discutir o conflito entre Israel e o Hamas.

Autor
Sergio Moro (UNIÃO - União Brasil/PR)
Nome completo: Sergio Fernando Moro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Assuntos Internacionais:
  • Sessão de Debates Temáticos destinada a discutir o conflito entre Israel e o Hamas.
Publicação
Publicação no DSF de 12/12/2023 - Página 16
Assunto
Outros > Assuntos Internacionais
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, DISCUSSÃO, CONFLITO, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, HAMAS.
  • DEFESA, DIREITOS, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, ATAQUE, HAMAS, FAIXA DE GAZA, RESGATE, REFEM, CONSEQUENCIA, CONFLITO, GUERRA, REGIÃO.

    O SR. SERGIO MORO (Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - PR. Para discursar.) – Bom dia a todos.

    Eu quero aqui cumprimentar o Senador Jorge Seif e felicitá-lo por essa iniciativa extremamente oportuna neste momento. Quero cumprimentar todos os pares, Senadores, que acompanham este evento; um cumprimento especial ao Embaixador Daniel Zohar e ao Presidente da Conib do Brasil, Dr. Claudio Lottenberg, e registro aqui toda a minha solidariedade à Sra. Mary Shohat e à Sra. Hen Nisenbaum. Todos nós ficamos tocados ao ouvir o relato, e nossas orações, de todo o Brasil, se dirigem à situação dos reféns lá capturados pelo Hamas.

    Entendo que nós temos que tratar essa questão com uma clareza moral. Esses ataques do dia 7 de outubro foram ataques terroristas perpetrados por uma gangue de terroristas, que é o Hamas. Não existe nenhuma justificativa ou contexto possível que possa justificar ataques à população civil, ainda mais com o elevado grau de atrocidade e brutalidade de que todos nós tomamos conhecimento.

    Temos que ter também a clareza moral de que Israel tem o direito de se defender e de buscar recuperar esses reféns e que é também um objetivo legítimo de Israel destruir esse grupo terrorista. Não se fazem acordos com terroristas. Seria equivalente a imaginar, lá atrás, que a comunidade internacional deveria demandar um acordo entre os Estados Unidos e a Al Qaeda. Inimaginável.

    Temos também que ter presente que, enquanto não houver a rendição desse grupo, a recuperação dos reféns e a destruição do Hamas, as ações são justificáveis dentro ali da Faixa de Gaza.

    É claro que essas ações têm que seguir as regras do engajamento internacional e evitar, tanto quanto possível, qualquer dano à população civil. Nós não podemos transferir a responsabilidade desse grupo terrorista para a população palestina. Em verdade, também sofre ela o jugo da tirania e de um governo sem legitimidade feito por uma gangue de terroristas na Faixa de Gaza.

    O que nós temos que ter presente também, como clareza moral, é uma visão realista do papel do Brasil nesse conflito.

    O Brasil é um grande país. Todos nós amamos o Brasil e sabemos da sua potencialidade, mas o Brasil não tem uma presença estratégica no Oriente Médio que possa torná-lo um grande player no desdobramento do conflito. Claro que, se o Brasil puder contribuir de alguma maneira, para alcançar um resultado positivo, com a volta dos reféns, com o fim do terrorismo e com a consolidação na paz da região, ótimo. Mas, pelo distanciamento geográfico, por uma série de questões, eu sempre entendi que o Brasil, apesar de ser esse grande país, não tinha um papel relevante nesse conflito no Oriente Médio.

    Agora, existe algo que o Brasil pode fazer, que cada um de nós pode fazer, que é não dar azo a esse discurso de ódio, a essa onda de antissemitismo que foi originada por esses ataques do Hamas no dia 7 de outubro. Nada mais surpreendente do que a tentativa feita por alguns de relativizar aqueles ataques, de exagerar as responsabilidades de Israel ao se defender.

    E nós temos visto algo estranho. Nós temos um consenso de como é negativo no mundo o discurso do ódio, o discurso da raiva, mas, surpreendentemente, temos visto até, Embaixador, quem justifique discurso de ódio desde que dirigido a Israel ou à sua população, sendo que a nossa maior responsabilidade nesse conflito – nós, que estamos distantes dele – é frear essa onda de antissemitismo injustificável que decorre desses atentados em 7 de outubro. Ao contrário, o que esses ataques de 7 de outubro devem gerar – e é muito fácil gerar isso, é muito fácil ter essa consequência – é uma onda de solidariedade, de compaixão, uma onda de denunciar aquilo que, com clareza moral, é absolutamente errado.

    Por isso é importante – e aqui foi muito próprio para este evento – nós termos tido a oportunidade de ouvir dois parentes de um dos reféns do grupo Hamas. Não existe nenhuma justificativa possível para ainda serem mantidos esses reféns pelo grupo terrorista. E, aliás, esse tipo de comportamento, embora já soubéssemos disso com clareza, apenas confirma aquilo que todos nós já sabemos, que não se trata aqui de uma guerra entre dois Estados, não se trata de uma guerra entre Israel e o Estado Palestino, não se trata de uma guerra entre Israel e o povo palestino; trata-se, sim, de uma guerra, se é que a palavra apropriada é essa, contra um grupo terrorista, contra o Hamas, que não tem legitimidade, uma gangue de terroristas cruel.

    Agora, eles não vão vencer. Eu tenho certeza de que – infelizmente, com sacrifícios – Israel vai prevalecer militarmente. Espero que consiga recuperar o maior número de reféns, espero que consiga também vencer esse desafio com o menor dano possível para a população da Palestina e espero, Embaixador, que haja uma possibilidade de, depois de esse conflito se encerrar, que se construam as bases para uma paz duradoura no Oriente Médio.

    Agora, mesmo distante do local de guerra, mesmo não fazendo parte da população judaica, é nossa missão, seja judeu, seja gentio, seja de qualquer outra origem, não deixar prevalecer a onda de antissemitismo no mundo, porque, isso sim, seria a grande vitória do Hamas, e a nossa responsabilidade é não deixar isso acontecer. Ainda mais no Brasil, conhecido por sua tradição de generosidade com todos os povos.

    Nós temos aqui uma relevante comunidade judaica que sempre conviveu bem aqui no país. São brasileiros, como todos aqueles outros imigrantes que vieram das mais variadas origens, sem qualquer distinção, e, pelo menos até onde vai o meu conhecimento, sem que nós tenhamos aqui registros de graves casos de preconceito, pelo menos envolvendo violência física.

    Temos também uma comunidade árabe relevante, que também trouxe para o Brasil toda a sua riqueza cultural. Uma comunidade, assim como outros imigrantes também, totalmente assimilada ao Brasil – brasileiros, todos nós, com orgulho ainda de ser brasileiros –, e sem também que tenhamos registro de graves episódios de violência entre essas comunidades.

    O pior que pode acontecer – e aí, sim, nós poderíamos dizer que o Hamas teria vencido, mesmo perdendo militarmente – é que o que aconteceu no Oriente Médio envenenasse nossos corações e mentes. Daí porque é importante nós fazermos eventos como este, Senador Seif, para destacar onde que o Brasil e onde que os brasileiros se colocam nesse episódio. E nós temos que ter aquela clareza moral de fazer uma linha distintiva, de apontar que aqueles atentados terroristas do 7 de outubro não vão prevalecer, que aqueles crimes vão ser punidos e os inocentes vão ser preservados, mas que, acima de tudo, nós não vamos deixar o Hamas vencer e envenenar nossos corações e mentes com o antissemitismo.

    Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/12/2023 - Página 16