Pronunciamento de Jaques Wagner em 11/12/2023
Discurso durante a 188ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal
Sessão de Debates Temáticos destinada a discutir o conflito entre Israel e o Hamas.
- Autor
- Jaques Wagner (PT - Partido dos Trabalhadores/BA)
- Nome completo: Jaques Wagner
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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Assuntos Internacionais:
- Sessão de Debates Temáticos destinada a discutir o conflito entre Israel e o Hamas.
- Publicação
- Publicação no DSF de 12/12/2023 - Página 17
- Assunto
- Outros > Assuntos Internacionais
- Matérias referenciadas
- Indexação
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- SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, DISCUSSÃO, CONFLITO, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, HAMAS.
- COMENTARIO, IMPORTANCIA, DISCRIMINAÇÃO, POVO, PALESTINA, HAMAS.
O SR. JAQUES WAGNER (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - BA. Para discursar.) – Bom dia a todas e todos.
Quero cumprimentar o Senador Jorge Seif pela iniciativa, cumprimentar também o Senador Sergio Moro e outros Senadores que estejam também aqui no Plenário, e Deputados Federais e Estaduais. Quero cumprimentar o nosso Embaixador de Israel no Brasil, cumprimentar o nosso Presidente da Conib, Claudio Lothenberg, e cumprimentar a irmã e a filha de Michel Nisenbaum, que é o brasileiro de cidadania israelense que ainda está entre os 138 reféns que estão sob o controle do grupo Hamas.
Eu quero dizer, em primeiro lugar, como judeu, que entendo absolutamente o sentimento de cada um dos nossos da comunidade. Não foram poucas as perseguições ao nosso povo ao longo da história, desde escravos do Egito – era uma forma de perseguição – até o horror do Holocausto da Segunda Guerra Mundial. E por isso todo ano nós fazemos no Brasil, no mundo, em Israel, apesar de que em Israel é numa data diferente daquela que foi escolhida pela ONU como de solidariedade aos mortos no Holocausto, que é em janeiro... Israel eu sei que faz no Dia do Levante do Gueto de Varsóvia, que também, mais do que razoável, é homenagem ao heroísmo daqueles que conseguiram resistir e finalmente sair daquele horror, como tantos outros horrores nos campos de concentração.
Eu quero dizer que a primeira preocupação minha, pessoal, e do Governo brasileiro, incluindo o Presidente da República, desde o primeiro momento, quando um ato covarde ceifou a vida de jovens, idosos, crianças inocentes em Israel, a nossa maior preocupação sempre foi, primeiro, trazer aqueles que assim desejassem de volta ao Brasil, aqueles que têm cidadania brasileira e que vivem com cidadania ou sem cidadania israelense. E tivemos a mesma atitude em relação àqueles palestinos de origem brasileira que também queriam deixar a região. Trouxemos de Israel mais de mil brasileiros que manifestaram interesse de regressar. Alguns já estão regressando de volta a Israel, mas naquele momento muita gente insegura preferiu sair. Ontem, por acaso, chegaram mais 44 brasileiros que estavam na Faixa de Gaza, que, junto com os outros 32 que tinham vindo, totalizaram aproximadamente 80 que retornaram.
Além disso a preocupação do Brasil e da nossa diplomacia evidentemente sempre foi e continuará sendo a busca da paz. É a tentativa que fazemos na invasão da Ucrânia, na guerra Ucrânia-Rússia, como foi e como é a nossa preocupação de buscar a paz possível entre judeus, israelenses e palestinos.
Eu, pessoalmente, considero que qualquer ato terrorista, qualquer grupo terrorista tem na sua essência a covardia, porque ceifam vidas de pessoas inocentes, que não têm nenhuma responsabilidade sobre essa ou aquela política, sobre esse ou aquele conflito, e que, portanto, não têm por que pagar por esse conflito. Nas guerras, morrem militares das duas partes em conflito. É ruim? É, mas é talvez o esperado, à medida que, infelizmente, toda vez que a barbárie ganha da civilização e se instala uma guerra, na minha opinião, é a barbárie vencendo a civilização, somos nós humanos que não conseguimos, numa mesa de negociação, resolver os nossos conflitos e vamos para algo que tem começo e não se sabe o fim que terá.
Estamos perto de 80 anos do final da Segunda Guerra Mundial e, para minha tristeza, para nossa tristeza, vejo o mundo trilhando um caminho da bipolarização, do fanatismo, da obsessão, e não do debate de ideias. Isso acontece em várias partes do mundo, e eu prefiro não nominar.
Hoje, a preocupação brasileira, como eu já disse, é resgatar os reféns, não só os que têm cidadania brasileira – eu sei que aqui nós temos familiares de reféns de origem argentina. Aliás, muitos saíram de Israel trazidos também pela Força Aérea Brasileira nesse ato que o Governo brasileiro se dispôs a fazer. Quero comunicar, inclusive, porque me foi pedido, que eu acabo de vir, por isso cheguei atrasado, da sala do Senhor Presidente da República, que está se dispondo a receber a irmã e a filha do sequestrado, do refém em Israel para tanto ser uma palavra de conforto, se é que é possível, como também para garantir que a diplomacia brasileira e o próprio Presidente estão empenhados em achar um caminho da liberação de todos os reféns. Evidentemente, sempre na cabeça da lista está aquele que tem cidadania brasileira. Então, queria... (Palmas.)
Eu estive ao lado do Presidente quando ele, por via de uma reunião virtual, se reuniu com vários israelenses parentes de reféns, logo depois do sequestro, logo depois do 8 de outubro. Fizemos essa reunião com várias pessoas em Israel. Depois fizemos o mesmo com familiares não de reféns, mas com familiares de brasileiros ou brasileiras que estavam em Gaza e, portanto, também sob risco.
A única coisa que eu faço questão de dizer, respeitando os que pensam diferente, é que, como foi dito aqui pelo Senador Sergio Moro, qualquer ato terrorista ou grupo terrorista eu já disse que ele é covarde e digno realmente de ser eliminado... (Palmas.)
Porque não é possível que atos envolvam inocentes e tirem a vida de inocentes – seja o 11 de setembro nos Estados Unidos, a barbárie que ceifou a vida de mil e tantos americanos e de outras origens que lá estavam... Mas todo ato terrorista é, como eu já disse, covarde e, portanto, ele deve ser condenado por todos aqueles que são amantes da paz e defensores dos direitos humanos. As pessoas inocentes não podem pagar com suas vidas por qualquer política, seja condenável ou não. Mas, na política, se disputa na política e não matando inocentes para fazer deles...
A única coisa que eu dizia, que eu quero reafirmar, é que nós não podemos confundir os palestinos com o Hamas. (Palmas.)
Entre os palestinos, nós às vezes temos o hábito de generalizar. Os palestinos não são o Hamas, os palestinos também querem paz, são pais e mães de família que também sofrem com a perda dos seus familiares e que têm o direito de viver em paz e conviver com o Estado de Israel, o que pelo menos é o meu sonho, afinal de contas todos somos filhos de Abraão, todos temos a mesma origem, todos somos monoteístas e, portanto, Jerusalém é um símbolo para toda a humanidade como berço das grandes religiões monoteístas do mundo.
Então, a única coisa que eu peço, por mais que eu entenda o sentimento individual de cada familiar que perdeu um parente ou de cada familiar que luta para rever o seu parente, que nós não devemos dirigir essa nossa condenação – para não falar a palavra "ódio" – para o conjunto do povo palestino, que também não está gostando do que está vendo e que também quer trabalhar, prosperar e ter sua vida. Assim como nós não podemos admitir o que alguns tentam – e infelizmente estão tendo o êxito –: direcionar eventuais críticas à política externa do Governo de Israel e transformar isso em antissemitismo, disseminado pelo mundo todo.
E a mim, pessoalmente, não precisam contar, porque por acaso eu tenho a filha mais velha vivendo nos Estados Unidos com o marido, a neta e o neto. E a neta, junto com uma amiga judia, quando vai entrar na escola, ela tem 15 anos, tira a Magen David e bota na bolsa. E o banheiro da escola dela, segundo ela me contou, está todo pintado de suástica. Eu já pedi à minha filha para reclamar com a direção da escola que tem que, tantas vezes quanto necessário, mandar apagar o símbolo daquela que foi a maior barbárie contra o ser humano, que foi o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial. (Palmas.)
Então, esse sentimento que nós sentimos por alguns, equivocadamente, transformarem a crítica, a condenação, a política externa do Governo de Israel, transformá-la em antissemitismo, porque também tem judeus vivendo em Israel que não concordam com a política atual do Governo de Israel, mas são as eleições que definem quem vai comandar, quem vai ser o nosso primeiro-ministro, quem vai ser o nosso presidente.
Então, é só o pedido que eu faço, porque às vezes em nós acaba transbordando e contaminando. E eu acho que a gente transferir a culpa e a condenação para o conjunto do povo palestino, na minha opinião, é um equívoco semelhante àqueles que querem transformar em antissemitismo a eventual crítica ao Governo de Israel.
Que Deus nos dê a paz que merecemos e vamos continuar lutando, em primeiro lugar, para que todos os reféns, inclusive o Michel, possam estar de volta em sua casa com seus familiares e com seus amigos.
Muito obrigado. (Palmas.)