Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Indignação com as guerras modernas e os gastos excessivos em armamentos. Preocupação com a violência no Brasil. Defesa da cultura da paz.

Autor
Confúcio Moura (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Confúcio Aires Moura
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Assuntos Internacionais, Conflito Bélico, Segurança Pública:
  • Indignação com as guerras modernas e os gastos excessivos em armamentos. Preocupação com a violência no Brasil. Defesa da cultura da paz.
Publicação
Publicação no DSF de 20/02/2024 - Página 12
Assuntos
Outros > Assuntos Internacionais
Outros > Conflito Bélico
Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Defesa do Estado e das Instituições Democráticas > Segurança Pública
Indexação
  • INDIGNAÇÃO, GUERRA, AMBITO INTERNACIONAL, EXCESSO, GASTOS PUBLICOS, ARMAMENTO, COMENTARIO, VIOLENCIA, BRASIL, AMERICA LATINA, TRAFICANTE, MILICIA, CRIME ORGANIZADO, DEFESA, PAZ.

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO. Para discursar.) – Sr. Presidente, Senadores, é uma satisfação estar usando a palavra nesta tarde, na retomada das atividades legislativas aqui no Senado.

    Quero desejar a todos que este ano seja um ano muito produtivo, que a gente consiga realmente cumprir a pauta da regulamentação das leis complementares à reforma tributária, e espero que a gente consiga desempenhar nosso papel aqui no Senado com muita presteza.

    Sr. Presidente, o meu discurso de hoje... Estamos vivendo um momento inusitado no mundo, os horrores das guerras modernas.

    Eu não vejo a diferença entre guerras modernas e guerras antigas, se ambas são decisões para destruição do próprio homem. Nem preciso falar aqui das atuais guerras conhecidas e amplamente divulgadas do dia a dia, mas todas as violências contra o homem, das mais diversas formas, principalmente dos países mais pobres.

    A guerra civil – como tem aqui no Brasil, das gangues, das milícias, dos traficantes, contrabandistas, bandidos de todas as espécies... Há alguns estados brasileiros que, posso dizer, estão quase totalmente tomados pelo crime organizado, como se tivessem territórios dominados, exclusivos, controlados por criminosos.

    Não falo somente do Brasil, mas de inúmeros países da América Latina, América Central e de outros continentes. Uma guerra é tão ancestral como o próprio homem. Há momentos em que penso que a guerra é até uma necessidade, porque não para de ter guerras; porque elas sempre se repetem, das mais variadas formas e pelos mais variados motivos.

    Ainda não consegui entender qual é essa necessidade real, porque cada uma delas tem sua motivação, por mais fútil ou importante que seja, pena que ainda não consegui ter clareza efetiva da necessidade da guerra. Nem preciso correr os olhos nos livros de história, que estão cheios de eloquentes argumentos sobre todas elas, em todos os tempos. Se tivesse conhecimento da psicologia do comportamento, quem sabe teria alguma explicação para as barbaridades que estão acontecendo em vários países do mundo.

    Quem sabe o homem não seja tão racional, como se costuma dizer orgulhosamente. A guerra, no fundo, é uma estupidez. A guerra também, por outro lado, é um fator econômico, movimenta muito dinheiro. A indústria armamentista deve louvar a guerra. Uns morrem, outros ganham. Depois das grandes guerras, o capitalismo se assenta, louva e concentra a riqueza ainda mais. O homem prosperará, é o que espero. Embora tenhamos que vencer seriíssimos obstáculos, um deles é o do gasto militar, que é crescente e altamente ofensivo à própria dignidade da pessoa humana. Que a globalização e o livre comércio sejam oportunidades para todos viverem em paz.

    Os países estão vivenciando trocas extraordinárias – tanto na política, como também na economia –, ainda sem encontrar a boa forma de compartilhamento destas etapas. E cada um está cuidando de si próprio. O que se gasta com armas é cifra tão alta que daria para erradicar a fome no planeta, e ainda sobraria dinheiro para investimentos justos na erradicação da pobreza, na preservação do meio ambiente. Esses recursos extraordinários investidos na indústria armamentista até poderiam se justificar se os indicadores de violência no planeta estivessem se reduzindo. Pelo contrário, a arma cai, em geral, na mão errada.

    Pesquisas recentes mostram que os gastos militares, no ano passado, foram de US$2,3 trilhões, cerca de R$10,9 trilhões – um PIB brasileiro inteiro gasto com armamentos –, o maior valor desembolsado depois da Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos gastam 41% do volume dos gastos militares no mundo; a China gasta 10%; a Rússia, 5%; e o Brasil está em 14º lugar, gastando R$24,2 bilhões em recursos com armamentos, em uma verdadeira militarização da economia.

    Aqui na América Latina, tem um país diferente dos demais, a Costa Rica, que, em 1948, por iniciativa do Presidente José Figueres, aboliu o Exército, declarou paz ao mundo e apostou na vida. Até hoje, a Costa Rica mantém-se fiel a esse propósito e suas prioridades são outras: a educação do seu povo, a preservação do meio ambiente e a redução da pobreza extrema. Inclusive, um de seus Presidentes, Óscar Arias Sánchez, foi ganhador do Prêmio Nobel da Paz, pelas suas ações pela paz na América Latina, no ano de 1987.

    A guerra, no meu ponto de vista, é uma imbecilidade humana que sempre existiu e me parece que sempre existirá. Quanto mais se investe em armas, mais faltarão recursos para combater a fome e a ignorância, mas deixemos de lado o conceito de guerra, porque não sei definir os reais interesses por trás dele. Vou passar a falar da nossa guerra interna, a nossa guerra brasileira, a nossa guerra civil de todos os dias.

    Se analisarmos as estatísticas de mortes na Ucrânia e na Rússia, como também em Israel e as do Hamas e seu povo palestino, ficaremos assustados, porque nem chegam perto das mortes dos cidadãos brasileiros que acontecem todos os dias. Há uma estimativa de 60 mil mortes violentas por assassinato, no Brasil, por ano, fora os demais acidentes que, juntos, ultrapassam 100 mil mortos. A pandemia é a pandemia da violência, a guerra das nossas periferias sitiadas.

    O homem, como espero, prevalecerá e a esperança não pode ter fim. Por isso é que devemos enfrentar o crime com uma boa escola e, melhor ainda, com escola de qualidade para os mais pobres, para se levar para a pobreza a dignidade, as boas obras, as boas práticas e o apoio de que necessita, para que se orgulhe. Na escola, como nas comunidades, há a introdução de projetos importantes, como alguns já iniciados no Brasil, isoladamente, para uma cultura da paz. Tudo é lento, mas deve ser iniciado, como é feito, no Estado do Pará, com a iniciativa do Governador Helder Barbalho, com o seu programa Usina da Paz e, em Pernambuco, com o Centro Comunitário da Paz, o Compaz. São exemplos isolados que devem ser ajustados à realidade das cidades brasileiras e copiados.

    Dessa forma, Sr. Presidente, este assunto é um assunto importante. É um assunto que nos enche os espaços da mente diariamente com os noticiários das atrocidades mundo afora. E, assim sendo, eu gostaria, aqui, de fazer o meu culto à política de paz, à cultura da paz, que deve ser cultivada em todos os ambientes da nossa vida, nas escolas, nas famílias, nas igrejas, a cultura da paz, a propagação desse sentimento verdadeiro, para que a gente possa prosperar, crescer, gastar o dinheiro, o dinheiro coletado da tributação, para o bem do próprio homem, para investimento nas crianças, para a melhoria das nossas condições de desigualdade social.

    Era isto, Sr. Presidente.

    Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/02/2024 - Página 12