Pronunciamento de Marcos Rogério em 19/02/2024
Discurso durante a 4ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Repúdio às recentes declarações do Presidente Lula relacionando a situação conflituosa na Faixa de Gaza, entre Israel e o grupo palestino Hamas, com o Holocausto.
- Autor
- Marcos Rogério (PL - Partido Liberal/RO)
- Nome completo: Marcos Rogério da Silva Brito
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
Assuntos Internacionais,
Governo Federal:
- Repúdio às recentes declarações do Presidente Lula relacionando a situação conflituosa na Faixa de Gaza, entre Israel e o grupo palestino Hamas, com o Holocausto.
- Publicação
- Publicação no DSF de 20/02/2024 - Página 26
- Assuntos
- Outros > Assuntos Internacionais
- Outros > Atuação do Estado > Governo Federal
- Indexação
-
- REPUDIO, DISCURSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, COMPARAÇÃO, ATUAÇÃO, ISRAEL, GRUPO TERRORISTA, HAMAS, FAIXA DE GAZA, HOLOCAUSTO.
O SR. MARCOS ROGÉRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RO. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, nunca tive dúvidas das preferências pessoais político-ideológicas dos membros do Foro de São Paulo em relação aos palestinos e dos grupos terroristas que os apoiam em detrimento direto a Israel. Nisso está incluído um dos fundadores do Foro, o atual Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Já é uma afronta, Sr. Presidente, alguém com um posicionamento político-ideológico como esse. Agora, expressar isso na condição de Presidente da República Federativa do Brasil – e pior, em âmbito internacional – seria impensável. É digno de nosso mais profundo e veemente repúdio. Essa comparação é não apenas inapropriada, mas profundamente ofensiva e desrespeitosa para com as vítimas do Holocausto e suas famílias. O Holocausto foi um dos piores capítulos, dos mais sombrios, dos mais dolorosos da história da humanidade, quando milhões de pessoas, incluindo 6 milhões de judeus, foram sistematicamente perseguidos, torturados e assassinados pelo regime nazista.
Talvez não apenas o Embaixador do Brasil em Israel, mas o próprio Presidente Lula tenha que ser levado a um Museu do Holocausto. Não ao de Jerusalém, mas ao Museu do Holocausto de Berlim, na Alemanha. Deve-se aproveitar e levá-lo aos diversos campos de concentração, tanto na Alemanha quanto na Polônia, o horror do Holocausto. Talvez assim ele consiga entender, talvez assim ele consiga sentir, ainda hoje, porque é isso que acontece com quem vai. O passar do tempo não tira a gravidade, não tira a reprovação, não tira esse sentimento de tristeza e dor dentro de cada um daqueles que visitam esses lugares. Repito: talvez esteja na hora de o Presidente Lula visitar esses diversos locais – o Museu do Holocausto, campos de concentração – para que entenda, caso ele consiga, o horror do Holocausto e a gravidade de suas declarações, não apenas em relação aos judeus, porque esse é um discurso que agride, repito, de maneira mais intensa, de maneira mais cruel o povo judeu, mas esse é um discurso que ofende toda a humanidade. Ao fazer uma analogia entre os conflitos em Gaza e o Holocausto, Lula demonstra uma ignorância chocante sobre a gravidade e a magnitude do genocídio perpetrado pelos nazistas. Além disso, essa comparação desconsidera completamente o contexto político e histórico dos conflitos no Oriente Médio, que são complexos e multifacetados.
É uma vergonha, é um vexame internacional. A fala foi condenada pelo Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e por entidades judaicas no Brasil, como a Confederação Israelita do Brasil (Conib)... Aliás, para a Conib a declaração do Presidente Lula foi uma distorção perversa da realidade e ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes. A própria Alemanha e todo o mundo sensato e civilizado repudiam com toda a força a vergonha do Holocausto. Não é possível que um Presidente brasileiro o banalize da forma como fez Lula.
Além do mais, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, isso é uma afronta ao ordenamento jurídico que se enquadra em crime de responsabilidade. A fala de Lula não é uma fala menor, a fala de Lula não é uma coisa sem importância, mas se traduz, se revela em crime, crime de responsabilidade. Tratar como fruto de uma retórica do improviso é minimizar os efeitos, os impactos, a gravidade do que faz o Presidente do Brasil. Crime de responsabilidade, sim!
De acordo com o art. 5º, inciso III, da Lei 1.079, de 1950, é considerado crime quando a autoridade cometer ato de hostilidade contra nação estrangeira, expondo a República ao perigo da guerra ou comprometendo-lhe a neutralidade. É o que diz a lei, é o que diz a norma, é o que diz a lei do impeachment, ora. Isso deixa claro que a declaração de Lula é injustificável, leviana e absurda. E há quem diga que não, que está tudo bem, que estão exagerando. Não está. Na Alemanha – e não podia ser diferente – há gestos que, se cidadãos fizerem... gestos! Não estou falando de discurso, não estou falando de palavras, estou falando de gestos, que, se alguém fizer e esse gesto remontar a símbolo, a sinais do nazismo, é cadeia, prisão. Mas o Presidente do Brasil se acha no direito de fazer a comparação que fez. Uma insanidade, uma coisa que parece de alguém que não está no seu juízo natural.
Lá em Israel, o Embaixador do Brasil foi chamado a receber – não vou chamar de reprimenda –, a receber o descontentamento, a receber da autoridade de Israel, do seu Chefe de Relações Exteriores justamente o sentimento do país. E o local da reunião é o mais apropriado. As autoridades no Brasil estão agora aí se coçando, dizendo que foi uma agressão, porque foge ao padrão diplomático, foge ao modus que a diplomacia, o protocolo diplomático... foge. Eu pergunto: existia local, sala, espaço mais apropriado para essa conversa? Indago aos de mente sã, aos de boa consciência, aos que entendem a gravidade do que aconteceu: havia algum lugar mais apropriado para esta conversa do que esse? Não. Penso até que a ida do Embaixador a esse Museu do Holocausto dispensaria qualquer discurso, qualquer conversa; apenas a ida dele lá na presença das autoridades israelenses já era o maior discurso, o mais eloquente de todos os discursos.
Agora, as notícias mostram que o Presidente Lula chama o Embaixador do Brasil em Israel de volta. Agora, veja: comete a grosseria, comete a ofensa, comete o crime e agora a reação é chamar o embaixador de volta? Está perdendo tempo e está perdendo uma grande oportunidade. Eu sei que esse não é o sentimento da diplomacia brasileira, sei que esse não é o sentimento do Itamaraty, brasileiro, na sua dimensão maior. O Brasil sempre foi um país que respeitou as relações internacionais, e com o Estado de Israel sempre teve a melhor das relações.
Portanto, Lula perde oportunidade. Já deveria ter, no primeiro espaço, na primeira oportunidade, vindo a público para dizer aquilo que todo brasileiro quer ouvir de um Chefe de Estado que erra, e que erra e que tem grandeza para reconhecer quando erra e para vir a público e dizer: errei, falhei, me perdoe.
Todos já sabemos das posições que ele tem em relação a essa matéria, mas chegar a esse ponto é ultrapassar a linha vermelha. Está passando da hora de o Governo brasileiro – e aí o Governo brasileiro vai além do Presidente da República – dar um passo atrás e reconhecer que errou.
Sr. Presidente, portanto, eu exorto todos a rejeitarem veementemente as declarações de Lula e peço desculpas a todos os judeus em nome do povo brasileiro. No espaço que me cabe, na posição que exerço, o faço. E aqui posso dizer em alto e bom som: Lula, quando comete tal atrocidade, não a faz em nome de todos os brasileiros.
Tenho certeza de que a maioria dos brasileiros que entendem a gravidade disso se posiciona de maneira contrária. Nós somos um país cristão, nós somos uma nação que tem por Israel uma relação de amor profundo e, por mais que lamentemos, o que acontece hoje não dá para comparar, não dá para comparar. A gente lamenta a guerra, ninguém celebra a guerra, ninguém celebra violência, mas é algo que não comporta qualquer comparação.
Portanto, nosso pedido sincero de desculpa ao povo judeu. Espero que o Presidente Lula caia em si e faça este gesto, que é um gesto de grandeza: reconhecer o erro e por ele se desculpar o quanto antes.
Muito obrigado, Sr. Presidente.