Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Cobrança aos gestores públicos de ações preventivas contra as secas e cheias sazonais na Amazônia. Defesa da soberania brasileira, frente às críticas internacionais, na exploração dos recursos naturais da Amazônia. Registro da passagem dos 57 anos de criação da Suframa e dos 64 anos de criação da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas.

Autor
Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Desenvolvimento Regional:
  • Cobrança aos gestores públicos de ações preventivas contra as secas e cheias sazonais na Amazônia. Defesa da soberania brasileira, frente às críticas internacionais, na exploração dos recursos naturais da Amazônia. Registro da passagem dos 57 anos de criação da Suframa e dos 64 anos de criação da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas.
Publicação
Publicação no DSF de 29/02/2024 - Página 20
Assunto
Economia e Desenvolvimento > Desenvolvimento Regional
Indexação
  • COBRANÇA, GESTOR, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, MEDIDA PREVENTIVA, COMBATE, ATIVIDADE SAZONAL, SECA, INUNDAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO ACRE (AC).
  • CRITICA, ATUAÇÃO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), REGIÃO AMAZONICA, IMPEDIMENTO, EXPLORAÇÃO, MINERIO.
  • CRITICA, DEFENSOR, IMPEDIMENTO, CONSTRUÇÃO, RODOVIA, LIGAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, BRASIL.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, SUPERINTENDENCIA DA ZONA FRANCA DE MANAUS (SUFRAMA), REGIÃO AMAZONICA.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM. Para discursar.) – Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, o bom, Senador Girão, de ouvir o Senador Chico Rodrigues é que ele sempre deixa alguma deixa para que nós possamos continuar a falar daquilo que nos é pertinente e que deve ser falado sempre aqui – por nós que somos da Amazônia, tão falada, tão decantada e, ao mesmo tempo, tão prejudicada, tão vítima; e por mim, que sou do Amazonas, que está atingindo a taxa de 56% da população vivendo abaixo da linha da pobreza.

    O Senador Chico falou sobre a seca, falou sobre a cheia que está vindo agora, e a manchete do dia, da revista Metrópoles, de ontem foi: "Amazônia tem alta de 286% nos focos de queimadas em fevereiro". Eu vou tentar juntar esses assuntos, porque, quando estava a seca – aqui vocês viram a fumaça, o rio secando, todo mundo admirado, "é o fim do mundo!", "é o fim da Amazônia!", e haja ter pena da gente, e haja isenção de licitação, e haja roupa, e haja remédio, e haja cesta básica... –, eu dizia aqui, daqui: "Ora, nós estamos lidando com isso; daqui a três meses, vamos lidar com a cheia", porque a gente sabe que tem seca e cheia todo ano. A diferença é que os gestores não se preparam para isso. Não se preparam.

    E quando eu junto essa má vontade dos gestores, essa má vontade de quem diz ter preocupação com a Amazônia, que arrecada milhões em nome da Amazônia – e essas pessoas ficam ricas, dirigentes de ONGs, por exemplo, ambientalistas –, a gente, no que vai dizer, no que vai se pronunciar, acaba mostrando a hipocrisia.

    Tem uma assertiva, Senador Chico Rodrigues, que diz que o bem se alimenta do mal. Olhe só: o Governo mudou, e as queimadas aumentaram. O Governo mudou, e as invasões aumentaram. A pergunta que fica: essa gente que tanto criticava por causa dos incêndios, das queimadas, que tanto se preocupava, não se preocupa agora que dobraram? Mais do que dobraram. É o bem se alimentando do mal. Eles precisam que você seja mal, que eu seja mal, que nós sejamos incapazes de cuidar de um bem que eles acham que é internacional, que é a Amazônia. Então, enquanto houver queimada, enquanto houver garimpo ilegal, enquanto houver invasões, essa gente vai pertencer e o império do bem vai estar cada vez mais forte, porque o mal está acontecendo e eles estão combatendo o mal. O mal somos nós, que não cuidamos.

    Ora, o senhor falou da cheia. O Acre já está com o problema da cheia; na Amazônia, nós vamos ter logo, logo. E eu disse isto aqui, Senador Chico: vai ter esse problema da cheia, e nós não vamos estar preparados do mesmo jeito. O isolamento se deu na seca, porque a água foi embora e ficou a distância toda. Agora nós somos vítimas, porque a água chegou embaixo das nossas casas. Todo ano é assim, e não se faz nada para mudar isso. Há só dispensa de licitação, muito dinheiro de urgência e discursos fantasiosos, discursos cínicos. Isso é o que a gente pode presenciar. E nós temos que estar sempre mostrando.

    O fato de eu estar combatendo ou não...

    Outro dia eu disse dois palavrões aqui no Plenário em relação a cientistas que disseram que, se se asfaltar a BR-319, nós vamos ter novas epidemias por vírus e aquilo tudo. Eu disse palavrões, e não me arrependo. Reconheço que me excedi, mas não me arrependo e não peço desculpas. Reconheço, porém, que me excedi, mas vou continuar sempre me excedendo toda vez que eles nos tratarem da forma que querem nos tratar: como imbecis, como pobres coitados. Essa gente nos quer tratar como colonizados. O Brasil deixou de ser colônia há muito tempo. Querem nos tratar como colônia, mas nós não podemos aceitar essa pecha de colônia.

    Deus concedeu essa benção de eu estar Senador. Já se foram cinco anos; tenho mais três. E eu tenho que aproveitar essa benção em nome da nossa população, que é sofrida, que é carente, mas que não deveria ser, porque não é miserável, porque nós... É chavão? É, mas vou repetir: a gente pisa de dia em ouro e dorme ao relento em chuva – é o que acontece com a gente.

    O Fundo Amazônia, por exemplo, é financiado pela Noruega, pela Alemanha e agora Canadá. A Noruega tem 51% do seu PIB, Senador Girão, explorando petróleo. A Noruega vai explorar agora os seus minérios, chamados de terras raras, a mais de mil quilômetros, dois, três, cinco, dez quilômetros de profundidade no mar, e nós não podemos extrair a nossa reserva de nióbio, que é 96% da reserva mundial. O Canadá, que nos critica, explora a madeira, explora o nióbio. A Alemanha, que nos critica, que dá dinheiro para as ONGs não deixarem a gente fazer nada, está explorando o seu carvão natural, derrubando igrejas e escolas para poder cavar e tirar o carvão. Hipocrisia pura! Alguns brasileiros aceitam essa condição de colonizado. Eu não aceito! E agradeço a honra, a bênção de estar Senador para poder dizer isso.

    E, para não dizer que não falei das flores, hoje a Suframa – o senhor estava falando há pouco – completa 57 anos, 50 anos depois da prorrogação. E muita gente combate a Zona Franca, porque nós temos subsídios: "É um absurdo; é um absurdo". Aí a gente mostra: dos 100% dos subsídios que o Governo Federal abre mão, os da Zona Franca são só 8%, e não se fala dos outros 92%. Isso é preconceito, sim!

    Não nos dão a dignidade de termos a BR-319. Por que não nos dão? Querem o Amazonas separado do Brasil? Porque o que nos liga ao Brasil é a BR-319, terrestre, e o território é terrestre. "Ah, sai pelo ar quem pode, sai pela água quem deve." Então, a gente tem isso, e querem nos separar, querem separar o Amazonas. Nós, Amazonas, sem a BR-319, não somos mais Brasil, porque não temos acesso nenhum. E a gente tem que cobrar e fazer isso, mas eu estou aqui para cobrar realmente, para viver cobrando.

    Mas, como eu disse, deixem-me e permitam-me falar das flores: 57 anos de Suframa e 64 anos de Federação das Indústrias. A gente apresentou requerimentos, meu Presidente Chico Rodrigues, para marcar um voto de aplauso, porque a gente, aos trancos e barrancos, vai resistindo. A Suframa, que foi tão forte, vive da arrecadação das taxas administrativas, que são contingenciadas pelos governos. Hoje, a Suframa tem, contingenciados pelo Governo – e começou lá atrás, no primeiro Governo do PT, foi com Bolsonaro, foi com todo mundo –, R$10 bilhões, que poderiam muito servir para todos nós da Região Amazônica, mas a Suframa sobrevive.

    Meu amigo, meu colega, que foi Vereador comigo em Manaus, Bosco Saraiva é o Superintendente da Suframa hoje, e Antonio Silva é o Superintendente da Fieam. Quero aqui parabenizá-los e dizer que nós vamos continuar, lado a lado, resistindo. Ora, há 57 anos e 64 anos, a gente resiste, apesar deles; a gente resiste, apesar das dificuldades.

    Viver é perigoso. Atravessar uma rua é o que tem de mais perigoso hoje em dia. Ir em uma estrada é perigoso. Voar é perigoso. Portanto, estar na tribuna aqui combatendo, mostrando os desmandos, os desvios, as invasões de prerrogativas não tem perigo algum. Tornei-me Senador para que eu pudesse falar o que quisesse, desde que fosse em benefício da minha gente e do meu povo. E, como republicano, vou continuar reclamando, apontando, acusando as mazelas e os problemas, exigindo que esse mundo, que essa vida seja mais justa, porque, apesar deles, a vida deve e tem que ser mais justa.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/02/2024 - Página 20