Discurso durante a 18ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a operação “Fim de Jogo”, deflagrada pelo Ministério Público do Distrito Federal para investigar a possível manipulação de resultados do Campeonato Brasiliense de 2024. Necessidade de ações rigorosas de várias instituições para combater irregularidades no futebol brasileiro.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Desporto e Lazer, Direito Penal e Penitenciário:
  • Comentários sobre a operação “Fim de Jogo”, deflagrada pelo Ministério Público do Distrito Federal para investigar a possível manipulação de resultados do Campeonato Brasiliense de 2024. Necessidade de ações rigorosas de várias instituições para combater irregularidades no futebol brasileiro.
Publicação
Publicação no DSF de 13/03/2024 - Página 14
Assuntos
Política Social > Desporto e Lazer
Jurídico > Direito Penal e Penitenciário
Indexação
  • COMENTARIO, OPERAÇÃO, MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITORIOS, INVESTIGAÇÃO, MANIPULAÇÃO, RESULTADO, CAMPEONATO REGIONAL, FUTEBOL, APOSTAS ESPORTIVAS, REGISTRO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), OBJETIVO, APURAÇÃO, IRREGULARIDADE.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO. Para discursar.) – Querida e amada Roraima, com sua voz respeitada na Presidência da sessão, sempre pontual, eu queria pedir atenção, em especial, a dois Senadores presentes no Plenário: o nosso Esperidião Amin, apaixonado pelo Avaí – aliás, me deu uma camisa linda do Avaí, que eu uso, em Goiânia, todo final de semana e que causa inveja a muita gente –, e o Senador Eduardo Girão, apaixonado pelo Fortaleza. É muito grave isto... E eu penso – já agradecendo ao Girão, mais uma vez, pela troca; e falo também ao Senador Plínio, que é um jornalista de altíssima qualidade, além de Senador – que, pela honradez de vocês três, vocês vão concordar que a gente tome uma providência urgente, mas urgentíssima, porque, para mim, o futebol brasileiro está no caminho do báratro, ou seja, do precipício, do abismo, da falta total de crédito.

    Subir à tribuna, brasileiros e brasileiras, minhas únicas vossas excelências, deste Senado é sempre motivo de orgulho, mas há momentos, reconheço, em que faço isso com pouquíssima satisfação, como hoje. Não pelo ato em si – falar ao Plenário –, mas por causa do tema abordado. Pasmem, Amin, Girão e pátria amada! Hoje, tenho de tratar, lamentavelmente, de mais uma suspeita, com provas, de irregularidade, de escândalo, de propina no futebol brasileiro, futebol que, nos gramados, mundo afora, já deu tanta satisfação ao nosso país.

    O Ministério Público do Distrito Federal deflagrou, ontem, 11 de março de 2024, a Operação Fim de Jogo para investigar a manipulação de resultados do Candangão, ou seja, do Campeonato Brasiliense de 2024, competição do Distrito Federal que concluiu no domingo a sua fase classificatória. Pasmem! Foram cumpridos mandados de busca e apreensão pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) tendo como alvos jogadores de um time que eu nem conheço que é o Santa Maria, que terminou o campeonato na lanterna e foi rebaixado. As partidas sob suspeição são as goleadas sofridas pelo time diante do Ceilândia, 6 a 0, e no jogo contra o Gama, quando a derrota foi por 5 a 0.

    Segundo as investigações, o lateral-direito Nathan Henrique Gama da Silva e o zagueiro Alexandre Batista Damasceno, agindo deliberadamente, teriam influenciado nos resultados marcando gol contra, cometendo pênalti e se omitindo da marcação dos atacantes adversários.

    De acordo com o que apurou o Ministério Público do Distrito Federal, um grupo de apostadores teria cadastrado, Girão, palpites em casas de apostas na internet já sabendo previamente dos resultados dos confrontos que eu citei. E ainda: foram obtidas provas, Amin, de que as apostas eram de que o Santa Maria, o tal time, nas duas partidas, seria derrotado por placares elásticos, como acabou acontecendo.

    Os dois jogadores do Santa Maria podem responder pelos crimes de corrupção passiva esportiva, fraude em evento esportivo, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Aguardemos, claro.

    Espero que o Ministério Público do Distrito Federal aprofunde a Operação Fim de Jogo, investigando, inclusive, outras partidas com o mínimo de suspeita de irregularidade, de crime, senhoras e senhores. Com o mesmo rigor, devem agir os Ministérios Públicos de outros estados. Não podemos esquecer que há uma semana foi divulgado um levantamento dando conta de que o futebol brasileiro teve, no ano passado, 109 jogos com possibilidade de manipulação, 13 deles da Série D e 1 da Série B, jogo este entre Londrina e Tombense.

    Segundo o trabalho da empresa Sportradar, que tem contrato com a Confederação Brasileira de Futebol, os jogos com movimentações consideradas suspeitas em sites de apostas são, na maioria, 94 jogos de competições regionais. As federações estaduais precisam agir com urgência, colaborando com o Ministério Público e também tomando providências para que haja punição para valer, severa, no campo esportivo. Quinze jogos sob suspeita são de competições geridas pela própria CBF. Como eu disse, um na Série B, treze na Série D e um pela Copa Verde. Neste caso, a CBF, como entidade máxima do futebol brasileiro, tem de dar o exemplo e facilitar o trabalho de investigação, encaminhando à Polícia Federal, a cópia de todos os relatórios sobre os jogos com suspeição de irregularidades, de crime.

    Na Comissão de Esportes do Senado, da qual sou Vice-Presidente – e Presidente serei da CPI do futebol –, jogo duro: eu e o Presidente irmão Romário vamos convocar todos aqueles que precisam dar satisfação pública de atos sob suspeita. Inclusive, o tal do Textor, o americano CEO dono do Botafogo do Rio que há uma semana disse ter provas de um árbitro, Girão, que recebeu propina de um time de futebol, ele disse ter a gravação. Há uma semana, ele declarou e até agora ele não apresentou a gravação. Para mim, a Polícia Federal tem de convocá-lo e exigir a gravação, ou bani-lo do futebol brasileiro. Ele, inclusive, é dono de dois times da Europa: do Lyon, da França; e do Crystal Palace.

    O futebol brasileiro precisa ser salvo do buraco em que está sendo colocado por inescrupulosos de vários setores que, aos poucos, Presidente Chico Rodrigues, vêm desestruturando uma das maiores manifestações culturais do nosso país. Como dizia o bravo Alvaro Dias, a seleção brasileira deveria ser patrimônio nacional e não uma empresa privada – como é –, da qual você não sabe sua receita, nem quanto ela paga de impostos. Para mim, o lugar desses picaretas marginais é a cadeia.

    O Girão tem a satisfação, o Amin também tem e eu não tenho: em Santa Catarina, não ouvi nenhum caso até agora, não registrei, eu que acompanho 24 horas essas denúncias; no Ceará, também não; e infelizmente, no meu Estado de Goiás, foi o primeiro caso do Brasil, em que o próprio Presidente do Vila Nova denunciou o seu jogador que recebeu propina.

    Então, eu termino aqui pedindo a este Senado Federal o apoio de todos e todas para que a gente entre nesse vespeiro e que entremos para valer, exigindo o que já existe na Inglaterra: é banimento do futebol para o jogador que comete esse crime, é procurar uma outra profissão...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – ... e assim a gente voltar a ter uma paixão pelo futebol. Porque eu confesso: eu não estou tendo paciência nem de assistir mais a jogo de futebol na televisão.

    Agradecidíssimo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/03/2024 - Página 14