Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Senado Federal pela sua independência institucional e pelas contribuições empreendidas pela Casa Legislativa ao longo de seus 200 anos de história.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Atuação do Senado Federal, Homenagem:
  • Homenagem ao Senado Federal pela sua independência institucional e pelas contribuições empreendidas pela Casa Legislativa ao longo de seus 200 anos de história.
Publicação
Publicação no DSF de 27/03/2024 - Página 9
Assuntos
Outros > Atuação do Estado > Atuação do Senado Federal
Honorífico > Homenagem
Indexação
  • HOMENAGEM, SENADO, INDEPENDENCIA, INSTITUIÇÃO DEMOCRATICA, CONTRIBUIÇÃO, PERIODO, BICENTENARIO, HISTORIA, BRASIL, ENFASE, RESISTENCIA, DITADURA, ATUAÇÃO, REVISÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), PANDEMIA, NOVO CORONAVIRUS (COVID-19).

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO. Para discursar.) – Voz consagrada da amada Roraima, Senador Chico Rodrigues, meu amigo querido. É a corrida de cavalo – não é? –, como no Jockey Club do Rio de Janeiro, cabeça a cabeça: Kajuru, Paim e Girão. Eu aprendi com o Paim, quando aqui cheguei. Eu falei: "Vou realizar um sonho: eu vou tomar o primeiro lugar do Paim todo dia". E consegui. Não é fácil, tem dia que eu perco. E o Girão, no primeiro ano, falava pouco, lembra? O Girão ficava tranquilo. Ele falou que estava observando o gramado, reconhecendo o campo de jogo. Aí, no segundo ano, o homem virou um cão, começou a correr.

    Enfim, brasileiros e brasileiras, minhas únicas vossas excelências – Deus e saúde a toda a pátria amada –, eu peço desculpas aqui e vou fazer um desabafo. Eu não tenho nenhuma vergonha de falar, até porque quase o Brasil inteiro já sabe. Eu estou apenas com 6% de visão e, conforme o próprio oftalmo deste Senado Federal, que é Senador respeitado, meu amigo e um dos melhores oftalmos do Brasil, Dr. Hiran, disse: "Kajuru, sua visão não tem jeito, porque, se você fizer a cirurgia [eu tenho 6% e um sangramento enorme pela hemorragia interna] você vai ter novo descolamento de retina". Eu já tive um, perdi 100% da visão do olho direito. Então, a conclusão dos meus médicos é de que eu estou próximo da cegueira.

    Não vou me queixar, de forma alguma, não tenho nada a reclamar de Deus. Eu pedi muito pouco desta vida, e Ele me deu o dobro. E eu aprendi a ler o argentino, que, na altura de sua cegueira, com 60 anos, Jorge Luis Borges, escreveu os melhores livros de sua vida, inclusive o Elogio da Sombra.

    Então, Paulo Paim, você, que é um homem de Deus, e Eduardo Girão, que fala em Deus 24 horas – aliás, eu quero ir contigo àquele local espírita, quero que você me leve lá, eu estou precisando, para acalmar, porque não é fácil saber que eu vou perder a visão –, eu quero pedir desculpas, porque eu não consigo nem ler. Eu estou com o tamanho 40 de letra, amarela, caixa alta, negrito, e com dificuldades. Eu tenho que colocar o papel aqui.

    E por que é que eu não falo de improviso, tendo 50 anos de carreira nacional na televisão brasileira? Porque os meus advogados, especialmente o maior deles, do Brasil, o Dr. Kakay, deu a seguinte orientação: "Kajuru, na tribuna, leia o seu pronunciamento, prepare, porque você, de improviso, vai tomar um processo por dia". E é verdade, Mesa Diretora. Vocês conhecem o Kajuru de improviso. O Chico conhece melhor do que vocês, o Girão e o Paim. Eu, de improviso: um, dois, três processos por dia. Eu falo mesmo. Então, eu prefiro ter calma para não tomar processo, porque, por cada processo, cada advogado cobra, no mínimo, R$100 mil, R$150 mil, R$200 mil, R$300 mil. E eu vivo do meu salário. Como é que vou pagar advogado?

    Então, eu peço perdão à nação brasileira e vou tentando ler até o dia em que puder. Quando perder a visão, aí será por improviso mesmo e Deus, com certeza, me dará equilíbrio para não tomar processo – inclusive do Supremo Tribunal Federal, que disse que iria tirar, e manteve, só para que todos aqui tomem conhecimento.

    A minha pauta hoje é o bicentenário da criação do Senado brasileiro, data celebrada ontem, 25 de março de 2024, em que, lamentavelmente, não pudemos falar – e deveríamos, na minha opinião –, numa sessão especial, como sempre, comandada com o brilhantismo, com o equilíbrio, a sensatez, a inteligência do maior Presidente da história deste Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco, e demais autoridades presentes.

    Eu tive a honra de marcar a minha presença até a hora em que eu pude, em função de um convite do Ministro Camilo Santana, da Educação, para inaugurar em Goiânia o Projeto Pé-de-Meia, bolsa escola que é revolucionário para o Brasil. E aproveito hoje o ensejo para, mais uma vez, agradecer aos goianos por me concederem a distinção de fazer parte da história de uma instituição que há dois séculos contribui decisivamente para o aperfeiçoamento do sistema político brasileiro.

    A grandeza do Senado brasileiro reside no fato de que, embora nascido de uma Constituição outorgada por D. Pedro I, ele quase sempre se caracterizou pela independência sustentada com firmeza e capacidade de diálogo. Desde quando começou a funcionar de fato, em 1826, presidido por José Egídio Álvares de Almeida, até a Proclamação da República, foi uma espécie de contrapeso entre o poder imperial e as vontades de camadas da população expressas pela Câmara dos Deputados.

    Com a República, naturalmente, ganhou proeminência e tem se mostrado fiel cumpridor dos pressupostos do nosso bicameralismo: manter o equilíbrio da Federação – aqui os estados são igualmente representados –, contribuir como Casa revisora na aprovação das leis brasileiras e agir de acordo com os princípios constitucionais, uma tarefa nem sempre tranquila, afinal, o Parlamento brasileiro volta e meia paga um alto preço político decorrente das vicissitudes de uma história política marcada por arroubos autoritários, dogmáticos.

    Não foram poucas as vezes em que o Senado esteve fechado ou foi colocado em recesso, como aconteceu no início da República, na ditadura do Estado Novo e no regime militar instalado em 1964, mas, para o bem do país, quando voltou às atividades, o fez com capacidade de resistência ainda maior, com mais solidez e foco preciso naquilo que realmente interessa à maioria dos cidadãos brasileiros.

    São vários os exemplos de vigor institucional do Senado em nossa história, mas vou aqui citar apenas dois bem recentes. O Senado desempenhou papel importantíssimo no combate à pandemia da covid-19, inclusive sendo palco de Comissão Parlamentar de Inquérito, a CPI que desnudou o negacionismo e foi um dos pilares da defesa e garantia do Estado de direito, que esteve sob ameaça nos últimos anos, sobretudo durante o último processo eleitoral.

    E aqui, Presidente Chico, permita-me a modéstia, não fosse a minha interferência, em que recebi a companhia do admirável Senador Alessandro Vieira – nós dois entramos com uma ação no Supremo Tribunal Federal e o Ministro Barroso a aceitou –, nós não teríamos a CPI. Vamos ser sinceros aqui, sem hipocrisia: eu amo o Rodrigo Pacheco, mas não teria CPI, e a CPI foi fundamental. Não fosse ela, mais de 1 milhão de brasileiros...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – ... teriam morrido; essa é a verdade. Muita gente não reconhece isso no Brasil, mas, na história, quem é honesto vai se lembrar de que ela só existiu por causa da minha ação, em companhia do Alessandro Vieira.

    Eu julgo, para concluir, ser este o momento certo para prestar minha homenagem ao Presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, que tão bem soube conduzir o Parlamento brasileiro em um período de turbulência institucional.

    Como Vice-Líder do Governo e Líder da bancada do PSB de Geraldo Alckmin pelo quarto ano, eu saúdo também o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, meu amigo há mais de 30 anos, mesmo com as minhas críticas duras já feitas a ele quando eu era jornalista das maiores redes...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – ... de televisão do país e colunista do maior jornal do país, Folha de S.Paulo. Então, eu não posso deixar de registrar o Chefe de Executivo do Brasil que mais tempo conviveu democraticamente com o Senado e o Legislativo como um todo. Já são mais de nove anos, juntando os três mandatos; no fim do atual, disputará e completará 12 anos de convivência rigorosamente democrática, uma marca histórica.

    Alguns poderão lembrar que Getúlio Vargas foi Presidente por 18 anos, o que é fato. Mas, senhoras e senhores, em 11 deles, dos 18, atuou de forma ditatorial, com o Senado e a Câmara...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – ... sob mordaça, e não existe democracia com o Senado calado.

    Rogo, então, a Deus para que, nos próximos 200 anos, o Senado brasileiro siga sua trajetória institucional, livre e soberano, aprovando leis que contribuam para o fim da desigualdade social, zelando pela Constituição, defendendo o Estado de direito e ajudando o Brasil a se desenvolver como nação, com harmonia e paz!

    Agradecidíssimo.

    Desculpe o pouco tempo que extrapolei, excepcionalmente hoje, em função do desabafo inicial, amigo Presidente Chico Rodrigues.

    O SR. PRESIDENTE (Chico Rodrigues. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - RR) – Senador Jorge Kajuru, V. Exa. fez aqui um discurso, interpretando inclusive um pouco da história do Senado da República, que ontem comemorou os 200 anos. Claro que, por um motivo justíssimo, V. Exa. não estava presente na sessão, como aqui acabou de falar, mas o seu pronunciamento traz muitos dados para que quem nos assiste neste momento e toda a imprensa brasileira, que reproduz as manifestações aqui deste cenáculo, possam ver a importância que o Senado da República tem na vida do país, desde a época do Império.

    Portanto, esses 200 anos são emblemáticos. Eu inclusive quero tomar também a iniciativa de, posteriormente à apresentação e à manifestação de Plenário dos Srs. Senadores, também fazer um registro, porque, com certeza, Senador, ficará nos Anais do Congresso Nacional e, especialmente, do Senado Federal esse pronunciamento nosso.

    Esses 200 anos – porque agora 300 anos só daqui a 100 anos, e não sei se, por acaso, um Senador, algum de nós, poderá... Não deverá estar vivo daqui a 100 anos. O Girão, como você fala, o Senador Girão, talvez – até pela insistência dele no Plenário – tenha esse vigor e essa saúde que dependem de Deus.

    Mas eu gostaria de deixar realmente esse registro aqui, porque ele é extremamente importante. O Senado, que passou por todas as tempestades políticas ao longo da sua história, hoje, obviamente, vive um momento de expectativa por parte da sociedade brasileira, sob o comando, sob a Presidência do nosso querido Presidente Rodrigo Pacheco. É uma Casa que medeia conflitos, que, pela experiência, pela idade dos seus componentes, na verdade, traça uma linha do tempo, mostrando a importância que tem o Senado no equilíbrio dos Poderes.

    Portanto, parabéns a V. Exa. pela manifestação.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO. Fora do microfone.) – Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/03/2024 - Página 9