Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Insatisfação com a nomeação do Ministro Paulo Pimenta para a Secretaria Extraordinária para Apoio à Reconstrução do Estado do Rio Grande do Sul, em razão de suposta interferência política nos esforços de recuperação das perdas causadas pelos eventos climáticos extremos que atingiram a população gaúcha.

Autor
Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Calamidade Pública e Emergência Social, Governo Federal:
  • Insatisfação com a nomeação do Ministro Paulo Pimenta para a Secretaria Extraordinária para Apoio à Reconstrução do Estado do Rio Grande do Sul, em razão de suposta interferência política nos esforços de recuperação das perdas causadas pelos eventos climáticos extremos que atingiram a população gaúcha.
Aparteantes
Eduardo Girão.
Publicação
Publicação no DSF de 16/05/2024 - Página 25
Assuntos
Política Social > Proteção Social > Calamidade Pública e Emergência Social
Outros > Atuação do Estado > Governo Federal
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, NOMEAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, PAULO PIMENTA, APOIO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), RECONSTRUÇÃO, RECUPERAÇÃO, CALAMIDADE PUBLICA, INUNDAÇÃO, AUSENCIA, EXPERIENCIA.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Independência/PSDB - AM. Para discursar.) – Presidente Chico Rodrigues, Senadoras e Senadores, a gente, às vezes, tem missões na política e tem que cumpri-las, e o que eu faço aqui é com tristeza, porque estamos falando de valores morais que vêm de cima.

    Durante a última campanha eleitoral, almas bem-intencionadas, embora absolutamente ingênuas, acreditavam em um candidato que apostasse na união nacional, que investisse em uma reconciliação. A gente ouviu muito isso. Houve até quem comparasse esse candidato ao grande Nelson Mandela, aquele que construiu a nova África do Sul. Foi Mandela, sim, que unificou o país, antes irremediavelmente dividido. Bastava, porém, acompanhar o tom raivoso e o claro impulso revanchista do então candidato, para se perceber que tudo isso era conversa fiada.

    Os primeiros atos do novo Presidente, Lula da Silva, mostraram que a tal união nacional só existia na cabeça dos mais crédulos.

    Todos os pronunciamentos dele eram e são raivosos. A marca maior passou a ser de um dono da verdade.

    Parte dessa fúria incessante pode até ser atribuída a uma estratégia política, à aposta de que sua sonhada reeleição – parece que a figura só pensa nisso – depende de uma polarização, o que explicaria, eventualmente, a fixação mórbida pelo antecessor. Noite e dia, dia e noite, o ex-Presidente é citado nesses discursos.

    Uma análise mais detalhada, porém, mostra que o rancor não se limita ao bolsonarismo, mas a todos que no passado, no presente e, pelo jeito, no futuro, de alguma forma se opuseram à sua intenção de impor-se ao povo brasileiro – estou falando do Presidente do país, Lula da Silva. Isso se aplica, de forma especial, ao PSDB.

    Não nos esqueçamos de que, antes de chegar pela primeira vez ao Palácio do Planalto, Lula sofreu seguidas derrotas nas eleições presidenciais exatamente para o PSDB. Mais ainda: embora várias vezes tenha jogado todas as suas fichas em eleições para governos estaduais, foi derrotado justamente por esse PSDB, que tanto detesta. Nunca conseguiu, por exemplo, chegar ao Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.

    Em outros estados, quando assumiu o cargo majoritário, foi um fracasso completo, com governos rejeitados em seguidas eleições pelos moradores.

    Tudo isso explica esse rancor acumulado, essa mágoa que se acumula e que se expressa no sentido raivoso dos seus pronunciamentos.

    A tudo isso se soma um postulado, que não é apenas dele, mas do partido, do PT, que ele criou.

    Quem deve concentrar os recursos públicos e aplicá-los segundo seus critérios é o seu partido. Essa é uma das explicações. Há outras para nomeação – e aqui, sim, eu cito exatamente o cerne do que eu quero falar.

    Há outras explicações para nomeação de um Deputado petista para representar o Governo ou o partido na gestão dos recursos aplicados no Rio Grande do Sul, que enfrenta o maior pesadelo de sua história.

    O Governo vai enviar recursos para o estado assolado por uma das maiores tragédias climáticas de todos os tempos? Vai. Vai. Eu até acredito que sim. Seja como for, não abrirá mão de controlar a aplicação desse recurso para o bem ou para o mal. Eu estou falando da nomeação que o presidente Lula fez, como interventor – não tenho a palavra –, do Deputado Paulo Pimenta, que vai gerir os recursos federais no Rio Grande do Sul.

    Isso é politizar. Isso é muito pequeno. A pequenez de um Presidente da República, do meu país, me envergonha. Você se aproveitar, no momento da desgraça, em que a pessoa está frágil, sem dignidade, precisando de ajuda, você manda ajuda, mas manda alguém para controlar essa ajuda, atropelando a população que confiou, que votou no companheiro Eduardo Leite.

    Eu estou falando mal e, por falar mal, caso houvesse um pingo de boa vontade na designação desse interventor, certamente a escolha não seria essa. Ele poderia até escolher, por exemplo, o Vice-Governador Geraldo Alckmin, experiente, Governador, gestor, mas sabe por que não? Porque Geraldo Alckmin veio de onde? Do PSDB.

    O Presidente Lula tem um rancor imenso do PSDB. Não perde oportunidade para falar, para denegrir e, agora, para agir.

    O passado do Geraldo Alckmin, vamos lembrar, apreende-se ao PSDB; para o lugar do interventor, portanto, foi um petista, Deputado de vários mandatos e com apenas uma experiência política. Foi Vice-Prefeito. Nada contra Vice-Prefeito, mas a experiência política de Vice-Prefeito, para ser nomeado agora interventor no Rio Grande do Sul. Foi Vice-Prefeito de município mais de três décadas atrás, e uma gestão que, pelo que se diz, foi para lá de polêmica.

    Sr. Presidente, Sras. Senadoras e Srs. Senadores, quando se elege um Presidente da República, ainda que seja um adversário político, o mínimo que se espera dele é dignidade.

    Pode-se discordar do que ele faz, pode-se ter expectativas melhores para o futuro, mas se espera sempre que ele mantenha a postura de representar todo o país. Não é esse o Presidente que temos.

    O Rio Grande do Sul conta com um Governador eleito, aliás, já em segundo mandato. Chegou ao cargo derrotando um petista e derrotando um bolsonarista. Portanto, não estaria, em tese, na linha de tiro do Presidente da República, porque não é bolsonarista e derrotou um petista.

    Chegou ao cargo, como disse, derrotando um petista e não é, portanto, um inimigo fidagal. Derrotou um bolsonarista e, portanto, o Eduardo Leite não é inimigo, não é adversário, pode até ser no futuro, do atual Presidente Lula.

    Um Governador... E eu não estou aqui falando porque ele é do PSDB, Presidente Chico, não é só porque o Eduardo Leite é do PSDB. Também porque ele é do PSDB, mas, acima de tudo, a gente quer aqui repudiar. Não posso, não posso!

    Eu tenho que fazer como Senador que estou, como do PSDB que sou, mas, acima de tudo, como cidadão. Quero aproveitar a prerrogativa que me deram de subir aqui nesta tribuna para poder dizer isso livremente, abertamente, envergonhadamente, por ter um Presidente que politiza, que está politizando, que está jogando política numa tragédia, numa desgraça, quando todo o país abraça num canto de solidariedade.

    Presidente, eu não quero extrapolar, porque é bom que a gente... Eu procurei escrever para não extrapolar. A indignidade é tamanha dessa coisa abominável que a gente tem que fazer anotações para não extrapolar.

    Certa vez eu até falei palavrão aqui quando falei daqueles imbecis cientistas que ficam inventando estudo para a denegrir a nossa Amazônia.

    O Governador soube pela mídia! O Governador do Rio Grande do Sul, eleito duas vezes pelo povo, soube pela mídia que teria um interventor, pela mídia – não tiveram a dignidade de conversar com ele –, e também que toda a dinheirama federal que eventualmente venha a ser aplicada em seu Estado ficaria nas mãos de um petista, um adversário político local.

    O Rio Grande do Sul conta com esse Governador e esse Governador é muito bom. Esse Governador é guerreiro, é inteligente e, acima de tudo, é guerreiro.

    No momento em que o Eduardo Leite precisa de solidariedade, não da boca para fora, não aquela solidariedade apenas do cobertor, que é muito importante, da comida que é importante demais, do medicamento imprescindível, mas pós, depois.

    Esse pessoal ficou sem casa. Esse pessoal ficou sem nada. Então, a gente tem que continuar nisso.

    É lamentável sim, por isso falei no começo que não faço isso com prazer, não faço isso com orgulho nenhum, mas, acima de tudo, com tristeza. Você se aproveitar de uma tragédia para usar política, fazer política numa tragédia...

    Assim como a gente está fazendo, Senador Chico e Senador Girão, eu peço apoio, e sei que terei, para considerar crime hediondo saques em momentos de tragédia. Eu estou com esse projeto para dar entrada na semana... Pessoas que fazem saques, que assaltam em épocas de tragédias, não merecem a qualificação de pessoas.

    Encerrando, Presidente.

    Estou aqui repudiando o ato, a nomeação que o Presidente da República Lula da Silva fez de um interventor no Rio Grande do Sul para cuidar dos eventuais recursos federais que irão para lá, para tirar da mão do Governador, que é eleito pelo povo, que representa o povo, que tem autoridade outorgada pelo povo, e ele faz isso num momento triste, num momento de tragédia.

    O meu repúdio, em nome também – também –, do PSDB, que o Lula não tolera, porque nós já o derrotamos várias vezes e o derrotaremos outras vezes.

    Eu ouço o meu amigo, o companheiro Senador Girão, Sr. Presidente, e aqui encerro o meu discurso.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Para apartear.) – Não precisa nem o senhor dar mais tempo, não; aquele um minuto só. Eu não vou nem usar o tempo todo.

    É só para cumprimentá-lo, Senador Plínio, pelo discurso que o senhor fez hoje na CCJ e falou sobre esse absurdo.

    Eu quero me solidarizar com os gaúchos, com mais essa... Além da queda, o coice! Além da queda, o coice! E quero dizer que eu apoio o seu voto de repúdio. Se o senhor achar por bem trazê-lo aqui para a gente votar, eu voto a favor, mas eu já quero me somar ao senhor nessa intervenção descabida, sem avisar o Governador do estado, eleito duas vezes pelo povo, para colocar um correligionário com outros interesses, porque só me explica isso.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Independência/PSDB - AM) – Mas é isso.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Só me explica isso.

    Então, quer dizer, é de uma cegueira, de uma coisa tão ultrapassada, de vingança, de ficar só no ódio e na revanche que dói no coração.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Então, conte comigo.

    Que Deus abençoe esta nação, porque as pessoas precisam ter um olhar mais cristão para o que está acontecendo. É uma catástrofe o que está acontecendo, e fazer política em cima de caixão?! Pare com isso! Respeite o povo brasileiro! Respeite os gaúchos!

    Deus abençoe!

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Independência/PSDB - AM) – Então, eu encerro, Presidente, falando exatamente desse repúdio e de poder extravasar. Agradeço a Deus por estar Senador da República, poder ocupar a tribuna e falar isso abertamente, tirando da garganta de muitos que podem até querer e pensam em fazer e não fazem por algum motivo.

    O que o Presidente Lula acaba de fazer, nomeando o interventor do Governo Federal sem comunicar sequer ao Governador eleito, sem respeitar o povo gaúcho, merece todo o nosso repúdio.

    E eu vou assinar embaixo dizendo quem sou: eu sou o Senador Plínio Valério, do PSDB do Amazonas.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/05/2024 - Página 25