Discurso durante a 67ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Sessão de debates temáticos destinada a debater “A Tragédia no Estado do Rio Grande do Sul”.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Calamidade Pública e Emergência Social:
  • Sessão de debates temáticos destinada a debater “A Tragédia no Estado do Rio Grande do Sul”.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2024 - Página 12
Assunto
Política Social > Proteção Social > Calamidade Pública e Emergência Social
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, DEBATE, CALAMIDADE PUBLICA, INUNDAÇÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • REGISTRO, SITUAÇÃO, CALAMIDADE PUBLICA, INUNDAÇÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), AFETAÇÃO, MUNICIPIOS, PERDAS E DANOS, FAMILIA, ECONOMIA, COMENTARIO, VISITA OFICIAL, Comissão Temporária Externa para acompanhar as atividades relativas ao enfrentamento da calamidade que atingiu o Rio Grande do Sul (CTERS), SENADO, AGRADECIMENTO, APOIO, PAIS ESTRANGEIRO, DEFESA, NECESSIDADE, DEBATE, MUDANÇA CLIMATICA, DESASTRE, MEIO AMBIENTE, APROVAÇÃO, MEDIDAS LEGAIS, PREVENÇÃO, RECONSTRUÇÃO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) – Querido – permita que assim me dirija a V. Exa., Presidente – amigo e Presidente do Congresso e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, na sua pessoa eu cumprimento toda a mesa, todas as autoridades e demais companheiros e companheiras que estão neste Plenário e aqueles que estão nos assistindo por todo o Brasil.

    Amigos, esta sessão temática destina-se a debater a tragédia que atinge o nosso querido Rio Grande do Sul. Nosso estado vive a pior calamidade de todos os tempos, eu diria a maior, inclusive, acontecida no Brasil. As chuvas inundam cidades, rios transbordam, deslizamento de terra, pontes caindo, estradas ficaram inacessíveis, falta de energia elétrica, falta de água potável, além da falta de alimentos. Hospitais e escolas, dezenas e dezenas foram totalmente destruídos. Dos 497 municípios gaúchos, 469 foram afetados. Os números, o Presidente Rodrigo deu aqui com muita precisão.

    Pais e mães choram a perda dos filhos, filhos choram a perda dos pais.

    Um poeta gaúcho escreveu um poema que eu vou sintetizar numa frase, Presidente. Ele diz: "Homem que é homem não tem que ter vergonha de chorar". E aí ele termina dizendo: "Me desculpem, desculpem todos, mas eu vou ali ao lado porque eu vou ter que chorar". Eu queria dar uma salva de palmas aos poetas, à cultura, àqueles que estão de uma forma ou de outra se comunicando com a nossa população e dizer: fibra, raça, coragem, sim, mas as lágrimas de solidariedade que estamparem o nosso rosto mostram o compromisso com a nossa gente. (Palmas.)

    Quero a esses compositores, escritores...

    Idosos ficaram desamparados, animais morreram e muitos outros ficaram à deriva. Mais de 80% da economia gaúcha foi atingida. O dano patrimonial é estimado na casa dos bilhões – bilhões. Lembro aqui que o representante da Fiergs vai falar, só eles apresentaram uma demanda de 100 bilhões. E essa, na verdade, é a realidade.

    O dano emocional é gigantesco. A perda das vidas não tem preço.

    Nós, da Comissão Externa do Senado, composta por oito Senadores, que aqui o Presidente Rodrigo Pacheco já citou, estivemos na quinta-feira passada no estado, em diligência. Visitamos hospitais, acampamentos, levando o quê? Carinho, solidariedade, e conversando com as vítimas.

    Ouvimos o Governador Eduardo Leite; Prefeitos, ali representados pelo Prefeito de Canoas, Jairo Jorge; Vereadores e Deputados.

    Ainda nesta semana, Presidente Rodrigo – eu estou falando aqui da tribuna e sei que seria muito mais fácil falar com V. Exa. –, nós apresentaremos a V. Exa. um rol de projetos que a sociedade civil e os Deputados e Senadores encaminharam para essa Comissão, para que o Colégio de Líderes, sob a liderança de V. Exa., seja o palco da decisão que virá, posteriormente, para o Plenário.

    Presidente, o Governo Federal e o Governo estadual estão trabalhando juntos, sem nenhuma amarra ideológica ou partidária. Em primeiro lugar – em primeiro lugar –, tem que estar e está o povo gaúcho. O objetivo é garantir o bem-estar das pessoas, salvar vidas e reconstruir o estado, garantindo a manutenção das empresas e dos empregos, tanto no campo como na cidade.

    Agradecemos a solidariedade e a ajuda de todos os estados da Federação e do DF, além da ajuda e da solidariedade que vieram de outros 50 países.

    Heróis anônimos, fica aqui o meu carinho, o nosso abraço a todos vocês: voluntários, defesa civil, Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica –, corpo de bombeiros, policiais civis e militares de todas as áreas. Inclusive profissionais dos presídios, Presidente, estão saindo livremente dos presídios para salvar pessoas que estão já acima do telhado.

    O Senado, através da Liga do Bem, está fazendo um belo trabalho de arrecadação e envio de toneladas de alimentos, como água, roupas, cobertores, brinquedos. Ilana, fica aqui... Não sei se a Ilana está presente – a Diretora aqui do nosso Presidente Pacheco, que coordena todo esse trabalho –, mas eu queria umas palmas para ela, em nome de todos os voluntários, pelo trabalho que está fazendo. (Palmas.)

    O SR. PRESIDENTE (Rodrigo Pacheco. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSD - MG. Fora do microfone.) – Gaúcha.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Gaúcha, gaúcha, e que foi com a missão lá para o estado com a gente.

    Eu queria dizer que um dos momentos mais bonitos que vi quando chegaram os caminhões, jamantas, do Senado – e vão chegar mais de cem toneladas, que o Congresso, via Senado, está mandando... O momento mais bonito, desculpem todos, foi o momento – a Ilana estava junto, o Senador Kajuru estava junto, do nosso lado, a Leila estava junto, o Marcos Pontes estava junto, o Mourão estava junto – em que nós entregamos cobertor? Não, mas entregamos.

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Foi quando nós entregamos as fraldas? Não. Quando nós entregamos remédios? Não. O momento mais emocionante foi quando nós entregamos centenas e centenas de brinquedos para as crianças. O sorriso se estampou no rosto de cada uma, abraçando aquele brinquedinho, uma boneca, um carrinho... Fosse o que fosse, era só carinho e solidariedade. Vida longa às crianças do povo gaúcho, vida longa às crianças brasileiras! (Palmas.)

    Mas, senhores e senhoras, é preciso, não só nesse momento... Daqui para a frente o Brasil vai ser outro, não será o mesmo de antes, porque nós vamos ter, claro, que aprofundar o debate sobre as consequências das tragédias que assolam não apenas o Rio Grande do Sul, mas todo o planeta. Estamos falando em debater as mudanças climáticas e a destruição da natureza, a capacidade de prevenção, os investimentos necessários, saúde, segurança, cuidado com a população.

    A função do Poder Legislativo, em crise dessa magnitude, podem saber, é fundamental. É importante o Estado, seja a Federação, seja o Estado, por exemplo, do Rio Grande do Sul, mas é por aqui que passam o debate e a aprovação, inclusive, das medidas provisórias e das iniciativas dos Senadores e Senadoras.

    Temos que pensar no bem-viver como visão estratégica, pensar no desenvolvimento de forma sustentável, buscar um projeto de nação que respeite as pessoas, que não agrida o meio ambiente e os direitos humanos. O Pampa gaúcho é o segundo bioma mais devastado do Brasil; em primeiro lugar está a Mata Atlântica. A responsabilidade é de todos nós – todos, todos. Estamos pagando o preço da nossa insensatez. E quem mais sofre, infelizmente, é a população.

    Não podemos mais silenciar diante dos sons e estrondos de uma árvore que é derrubada, das inundações, das queimadas, da desertificação, das águas contaminadas. O desequilíbrio ecológico é culpa do homem e isso pode tornar parte do planeta inabitável. O alerta está sendo dado: aquecimento global, ar irrespirável, desastres ambientais, refugiados climáticos, fome, doenças, pragas.

    A seca afetou a Amazônia em 2023, causando a maior queda dos níveis dos rios. Em 2023, ainda, o Rio Grande do Sul foi atingido por enchentes, que se repetiram agora, em 2024. A floresta tropical no sudeste do México sofre com as secas, inclusive, pelo relato que recebemos, com animais, que estavam nas árvores pela seca, caindo e morrendo no chão – e nós só olhando –, todo tipo de animais, onças, macacos, enfim. O Paquistão sofreu enchentes fatais recentemente. Temos que ouvir a natureza. Ela é sábia e ela nos mostra o caminho. Não escutar a natureza é dar razão à nossa própria ignorância, à irresponsabilidade. Há gritos de socorro cruzando o país e refletindo no espelho das aguadas.

    Diz o poema, e aqui eu termino, Presidente... Eu já o declamei lá no Rio Grande do Sul, e o poema não é meu. Diz o poema Lamento de um Rio, da Profa. Scheilla Lobato... Diz o poema, que é curto, Presidente, aqui eu termino:

Me perdoem por toda esta “bagunça" [diz o rio]

Eu só queria passar [eu só queria passar]

Eu não fui feito pra destruir…

Eu só queria passar [eu só queria passar]

Já fui esperança para os Navegantes…

Rede cheia para Pescadores…

[...]

Hoje sou sinônimo de Medo e Dor…

Mas [creiam], eu só queria passar…

Me perdoem por suas casas

Por seus móveis e imóveis

Por seus animais

Por suas plantações…

Eu só queria passar

Não sou seu inimigo

[...]

Não nasci pra destruição…

[Eu não queria outra coisa]

Eu só queria passar

Era o meu curso natural

Só estava seguindo meu destino

[Em direção ao mar]

Mas, me violentaram

Sufocaram minhas nascentes

Desmataram meu leito [sumiu]…

[...]

Me perdoem por inundar sua história

Me perdoem por manchar esta história…

[Mas, creiam, eu só queria passar – palavras do rio.]

    Muito obrigado a todos vocês. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2024 - Página 12