Discurso durante a 70ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao Presidente do Banco Central do Brasil, Sr. Roberto Campos Neto, por declarações públicas proferidas nos EUA e no Brasil a respeito da redução da taxa básica de juros e uma possível alta na inflação, respectivamente. Satisfação com a melhora dos níveis de emprego no Brasil, segundo o IBGE.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Economia e Desenvolvimento:
  • Críticas ao Presidente do Banco Central do Brasil, Sr. Roberto Campos Neto, por declarações públicas proferidas nos EUA e no Brasil a respeito da redução da taxa básica de juros e uma possível alta na inflação, respectivamente. Satisfação com a melhora dos níveis de emprego no Brasil, segundo o IBGE.
Aparteantes
Eduardo Girão.
Publicação
Publicação no DSF de 04/06/2024 - Página 8
Assunto
Economia e Desenvolvimento
Indexação
  • CRITICA, PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), ROBERTO CAMPOS NETO, ANUNCIO, ALTERAÇÃO, POLITICA MONETARIA, OPOSIÇÃO, COMITE DE POLITICA MONETARIA (COPOM), REDUÇÃO, TAXA SELIC, REPUDIO, PREJUIZO, ECONOMIA, REGISTRO, DADOS, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), MELHORIA, EMPREGO, MERCADO DE TRABALHO, DEFESA, PROGRAMA, TRANSFERENCIA, RENDA, RETOMADA, OBRA PUBLICA.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO. Para discursar.) – Voz respeitada da amada Roraima, Senador Chico Rodrigues, sempre pontual nos dias em que comanda as nossas sessões aqui no Senado Federal, brasileiras e brasileiros, minhas únicas vossas excelências, ocupo a tribuna, neste 3 de junho de 2024, para manifestar meu desacordo com as posturas recentes do Presidente do Banco Central, o "polichinclo" – procure no dicionário, Roberto; o seu avô sabia o que significava, você não – Roberto Campos Neto. Desse eu tenho nojo, só de ouvir o nome, porque ele é antibrasileiro e deveria morar em outro país. Ele tem se mostrado um boquirroto a desserviço do país.

    É inadmissível ver a principal autoridade monetária do Brasil contribuir para o aumento da especulação e a disseminação de incertezas sobre a economia do país, justamente em um cenário que requer equilíbrio, contenção e espírito público dos que ocupam espaços de poder.

    Não está no receituário da autonomia do Banco Central que o Presidente da instituição deva tornar público em outro país – pasme, Presidente Chico – que não pretende cumprir aquilo que foi anunciado por ele um mês antes, ou seja, ele foi para outro país dizer, em um mês, algo diferente do que a pátria amada ouviu dele.

    Explico melhor. Em março, os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom), unanimemente, reduziram a taxa básica de juros em meio ponto percentual, fixando-a em 10,75%. E aqui abro aspas: "Optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião". Fecho aspas.

    Pois bem, no dia 17 de abril, em seminário na cidade de Washington, capital dos Estados Unidos, o "Sr." – senhor entre aspas, não é? – Roberto Campos Neto antecipou que iria defender uma redução da taxa Selic inferior a meio por cento, descumprindo o que o Copom anunciou em ata. Aí está a indignação desse "cidadão", também entre aspas, do qual, repito, eu quero distância oceânica.

    Graças a Deus, não preciso de ti, em nada. Eu era admirador de seu avô, que tinha palavra, ao contrário de você, Roberto Campos, Presidente do Banco Central, o pior, a meu ver, na história.

    Isso acabou acontecendo na reunião dos dias 7 e 8 de maio, uma redução de 0,25% da taxa de juros, fixada em 10,5%, ao ano, em decisão, com um placar de 5 a 4, com o voto de Minerva do Presidente do Banco Central.

    A meu ver, o Banco Central jogou contra a credibilidade do Copom e não parou por aí.

    Há dez dias, em seminário na Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro, o tal de Campos Neto jogou às favas o necessário rigor técnico e, com o mercado financeiro ainda aberto, alinhou vários fatores como possíveis alimentadores de inflação. Um despropósito que provocou consequências imediatas. Como informou o site Infomoney, abrem-se aspas: "Dadas no meio da tarde, as declarações de Campos Neto reforçaram o movimento de alta de juros e câmbio. Depois de passarem a metade do dia em queda, os contratos de juros inverteram o sinal e começaram a subir". Fecham-se aspas. O site corroborou a frase com informações sobre o aumento das taxas de contratos de Depósito Interfinanceiro (DI), para janeiro de 2025 e para janeiro de 2027. Um verdadeiro descalabro!

    Não é este tipo de autonomia do Banco Central que precisa tal Campos Neto, que me recuso chamar de senhor e, principalmente, de brasileiro: autonomia para agir como se fosse alguém interessado em sabotar o país? E, aqui, eu retiro o ponto de interrogação e prefiro colocar o ponto de exclamação: você está interessado em sabotar o país! Você foi votar com camisa amarela, você simplesmente não compareceu à posse do Presidente Lula. Então, você não é nem brasileiro para mim.

    Ele deveria, no mínimo – para quem discorda, eu respeito –, pedir desculpas aos brasileiros pelo seu boquirrotismo polichinclo, Roberto Campos Neto. Sei que você vai procurar no dicionário, seu avô não está aqui para ensiná-lo.

    As suas atitudes recentes levantam, naturalmente, uma dúvida: estaria o Presidente do Banco Central sinalizando que, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, nos dias 18 e 19 de junho deste mês, ele não vai defender mais a redução da taxa básica de juros? – pergunto. Mais grave ainda, será que deverá ele argumentar em favor do aumento da Selic? Será assim, Campos Neto? Aliás, acho que todos os brasileiros deveriam refletir sobre a busca de resposta para a seguinte questão: o que o Brasil ganha hoje com uma taxa básica de juros de 10,5% ao ano? – pergunto.

    Felizmente, temos um contraponto. Mesmo com tantos prognósticos negativos, antipatrióticos, o mercado de trabalho segue gerando novas vagas formais e informais.

    Segundo o IBGE – não é qualquer um, é o IBGE –, no trimestre encerrado em abril, a taxa de desemprego ficou em 7,5%, menor índice desde janeiro de 2015. Lá se vão mais de nove anos, senhoras e senhores! O Brasil atinge um novo número recorde de ocupação: são 101,6 milhões de empregados, quer queiram, quer não. Como diria Zagalo, que engulam, então! O número de trabalhadores com carteira assinada chegou a 38,1 milhões, um recorde da série histórica da pesquisa iniciada em 2012. O contingente de trabalhadores sem carteira também foi recorde: o número chegou a 13,5 milhões, isso tudo aliado ao crescimento da renda, hoje em torno de R$3.158 por mês.

    A melhora nos níveis do emprego, apontam os especialistas, tem relação direta com a ampliação de programas de transferência de renda. Acrescentem-se aqui, ainda, a volta da política de aumento real do salário mínimo e a retomada de obras públicas, graças ao Novo PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento.

    O fato é que a expansão da massa salarial, que une renda e número de empregos, vem sustentando o consumo e mantendo a economia com desempenho acima das expectativas de vários setores, sobretudo do chamado mercado.

    Para fechar, os que vivem entoando o samba de uma nota só da expansão fiscal deveriam também prestar atenção no outro lado da moeda: crescimento de mercado de trabalho significa melhoria das condições de vida dos brasileiros e das brasileiras, mais bem-estar social.

    Concluo, defender, Presidente Chico Rodrigues, a redução do déficit nas contas públicas, sim – evidente, sim –, mas isso não precisa necessariamente ser feito acompanhado de torcida contra o país.

    E eu não vou mudar a minha opinião. Para mim, Roberto Campos Neto, Presidente do Banco Central, é antipatriota, é inimigo deste Brasil, que ele não queria, que ele não quer. Se não quer, Roberto Campos Neto, com todo o respeito, e interprete como quiser a minha frase: vá para Punta del Este, suma de nosso país!

    Agradecidíssimo.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Pela ordem, aliás, um aparte, Sr. Senador, meu querido amigo Senador, se o senhor me permitir...

    O SR. PRESIDENTE (Chico Rodrigues. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - RR) – Um aparte ao Senador, Sr. Kajuru?

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Evidente, Girão querido, até lhe agradeço a troca, mais uma vez.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Para apartear.) – Não, que isso...

    Eu queria, Senador Kajuru, cumprimentar você e todos os colegas aqui: nosso Presidente, Senador Chico Rodrigues; e Senador Humberto Costa, aqui presente também.

    Eu queria relembrar que nós chegamos juntos aqui em 2019, e uma das primeiras propostas que nós encaramos naquele ano e que acho que foi – e foi, no meu modo de entender; respeito quem pensa diferentemente – importantíssima para o Brasil, a qual nós votamos na época, foi a independência do Banco Central.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Eu, inclusive.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Inclusive o senhor votou, e nós tivemos um debate amplo aqui, tanto nas Comissões como no Plenário do Senado Federal. O Senador Plínio Valério, do Amazonas, teve um papel decisivo naquele debate, porque ele foi o condutor, com muita conciliação, para encontrar um caminho equilibrado, justo, colocando o Brasil no mapa de países que fizeram esse processo de autonomia do banco. Eu vejo que foi muito positivo. Eu acredito que esse é um papel que nós devemos seguir. Inclusive eu entrei com uma PEC também, não sei se o senhor lembra, em 2020, com relação à autonomia da Polícia Federal.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Eu me lembro.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Não é? Acredito até que o senhor também assinou, na época...

    Nós, já no Governo anterior, fizemos isso. E eu acho que isso é bom para a instituição. Ela protege a instituição de certas interferências, tanto na questão importante da Polícia Federal como também no Banco Central. Eu vejo que o trabalho – permita-me discordar, Senador Kajuru – que vem fazendo o Dr. Roberto Campos Neto é um trabalho importante para o Brasil.

    Eu acredito que este país... Eu não sei como estaria hoje, se estaria ainda em pé, se não tivesse essa autonomia do Banco Central, porque o Governo Lula tem sido muito perdulário, muito irresponsável com o dinheiro do pagador de impostos, gastando a torto e a direito com quase R$3 bilhões de jatinho, de viagem internacional, de consumo aqui, coisas estratosféricas, decretando sigilo... Criticou o Governo anterior – e eu critiquei também, na época, que se fazia sigilo de certas coisas – e continua decretando sigilo em gastos e uma série de situações. E, como o exemplo vem de cima, a gente já vê aí o próprio STF e o Tribunal de Contas decretando sigilo também. Foi eleito – pela informação que a gente teve, aqui, meses atrás, trazida por colegas – o Banco Central mais proeminente do mundo, não é? Ganhou, inclusive, o prêmio de Melhor Banco Central do Mundo o Banco Central brasileiro.

    Eu acho que certas coisas não acontecem por acaso. Torço para que dê certo.

    Eu vi até uma entrevista – eu estava relendo aqui – do Armínio Fraga, no jornal Folha de S.Paulo, recentemente, no sábado, agora, em que ele afirma que uma mudança equivocada na Presidência do Banco Central poderia resultar em um fiasco político do Governo Luiz Inácio Lula da Silva.

    Então, poderia agravar, na verdade, porque nós já vivemos um fiasco – com todo o respeito a quem pensa de forma diferente – deste Governo, um Governo que, na semana passada, perdeu tudo: foi derrota em cima de derrota, no Congresso Nacional. Isso foi, inclusive, percebido lá no meu estado, no Ceará. As pessoas conversavam: "Olha, poxa, que vitórias que a oposição teve em favor da família, em favor da vida, contra a questão da censura...". Falaram também sobre a questão que nós tivemos aqui, na semana passada, que foram vitórias extraordinárias, no campo político da oposição. Sem falar na saidinha, também do fim da saidinha, porque nós derrubamos o veto do Presidente Lula e esperamos que o Supremo Tribunal Federal tenha juízo com relação a isso e que respeite o que esta Casa já fez algumas vezes.

    Então só gostaria de fazer essa ponderação. Respeito o seu posicionamento, mas não poderia deixar de fazer este contraponto.

    Muito obrigado.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Que isso! Senador Eduardo Girão, a gente sempre teve discordância respeitosa e nunca vamos mudar essa relação. Eu vou sempre lutar aqui por aquela frase que diz que, para discordar de um companheiro, eu não preciso desqualificá-lo. Essa desqualificação ao Governo Lula é o maior ponto de discórdia entre nós dois. Para mim, o adjetivo perdulário não cabe ao Governo Lula, e não tem como não enxergar que a economia está melhorando, que está havendo emprego, tudo aqui que eu informei, que não é o Kajuru que informou; quem está informando é o IBGE.

    Com relação ao Banco Central, eu entendo a sua posição: a independência do banco. Agora, o Presidente não tem que ser nem independente, ele tem que ser isento, não importa quem é o Presidente. Está claro que ele é anti-Lula. Ele tem total ódio do Presidente Lula e do PT. Ele é ultradireita, e eu não tenho nada contra quem é ultradireita, desde que não seja contra o Brasil. O problema dele é que ele está sendo contra o Brasil no Governo Lula. Não tem cabimento você concordar com essa taxa. Ela está nas mãos dele para destruir o Brasil, é o que ele quer. A sorte é que nós temos um Ministro da Economia com a capacidade do Haddad.

    Aqui eu concluo com uma frase que eu não sei se alguém chegou a ver. O nosso querido Humberto Costa, que é acompanhador de mídia, deve ser conhecedor do talento e do brasileiro que é o ator Wagner Moura. E eu estava vendo um vídeo dele ontem. Ele disparou uma preciosidade do Frei Betto, uma declaração do Frei Betto dizendo que o Presidente Lula está com duas tornozeleiras: uma do Banco Central e outra do Congresso Nacional. E aí, nesse ponto, esta Casa, inclusive, é diferente da outra, porque a outra – vamos falar a verdade –, em sua maior parte, é uma jogatina. A outra quer tornar o Presidente Lula refém, como tornou Jair Bolsonaro refém também, lá atrás. Ele passou pela mesma situação, o Jair Bolsonaro. E a Câmara negocia, essa é a verdade. Então, o Congresso Nacional está com uma tornozeleira no Lula, e o Banco Central também.

    É o que eu penso. Respeito a sua opinião, deixo o brasileiro pensar como ele quiser, e a gente...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – ... espera que haja pelo menos um bom senso por parte dos dois lados e que haja harmonia. Brasil e Banco Central precisam conviver juntos, nunca separados.

    Agradecidíssimo, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/06/2024 - Página 8