Discurso durante a 97ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a comemorar o Dia do Quadrilheiro Junino.

Autor
Damares Alves (REPUBLICANOS - REPUBLICANOS/DF)
Nome completo: Damares Regina Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Data Comemorativa:
  • Sessão especial destinada a comemorar o Dia do Quadrilheiro Junino.
Publicação
Publicação no DSF de 06/07/2024 - Página 13
Assunto
Honorífico > Data Comemorativa
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, ATIVIDADE CULTURAL, DIA NACIONAL, DANÇA, GRUPO, FESTA JUNINA.

    A SRA. DAMARES ALVES (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - DF. Para discursar.) – Presidente Izalci, boa tarde.

    Eu cumprimento toda a mesa. Eu não vou citar nomes, porque eu ganho tempo, e tempo para mulher é muito importante.

    Que alegria tê-los aqui; todos vocês, que alegria.

    Vocês que estão na frente olhem para trás. Acho que vocês não olharam para trás. Faz muito tempo que a gente não vê este auditório tão lindo. Faz muito tempo que esta Casa não está tão bonita, tão colorida. Eu acho que é, já do ano, a cerimônia mais bonita, a sessão mais bonita que a gente está fazendo. Quando termina o ano, a gente olha para trás e a gente vê que não tem nenhuma tão bonita quanto esses momentos em que nós estamos aqui para homenagear o Dia Nacional do Quadrilheiro Junino. Nós ficamos aguardando. Se vocês observarem, toda hora vai entrar um servidor que vai fugir do gabinete, vai entrar aqui e vai sair correndo para o chefe não ver. É assim todas as vezes em que vocês estão no Senado. Sejam bem-vindos.

    Talvez alguns de vocês falem assim: "Mas essa Senadora é Pastora, nunca esteve envolvida com a gente". Vocês que pensam. Quando eu era apenas uma mulher anônima aqui no DF, com um chapéu, eu estava em todos os lugares com vocês, e vocês não sabiam quem eu era. Por quê? Eu venho de uma Região do Nordeste, uma região muito pobre. Sim, a região de Angicos, Sergipe, lá onde Lampião foi morto, preso... Venho de lá e venho de uma infância muito pobre – alguns de vocês talvez conheçam a minha história. Não só uma infância pobre, mas filha de um pastor que dizia que eu não podia chegar ao pé da quadrilha – pensem os meus conflitos – e uma infância marcada por uma violência, uma violência sexual. Acho que as pessoas conhecem um pouco da minha história, eu fui barbaramente agredida dos seis aos oito anos. Eu sou uma das milhões de meninas sobreviventes da pedofilia no país. E as minhas amiguinhas também, muitas vítimas da violência.

    E, por muitos anos, era quando o primeiro acorde soava na rua que nós tínhamos alguns minutos de alegria, num momento em que eu não tinha acesso à televisão, interior do Nordeste, início da década de 70 – sim, eu tenho 60 anos; não pareço, com essa carinha de menina, mas eu tenho 60 anos. Fui ter televisão a primeira vez aos 12 anos de idade. Cinema, aos 15, 16. Essa é a minha história. Mas a quadrilha estava lá. O sanfoneiro estava lá. O trio estava lá. A música estava lá. Até as adivinhações... Fraquinhas suas adivinhações, mas foi bonito. Elas estavam lá. Vocês encantaram a minha infância. Vocês trouxeram alegria para a minha infância. Mexia o pé, escondidinha do meu pastor, pai, da minha igreja, que não queria, mas vocês estavam lá.

    Aí eu saio do Nordeste, vou para São Paulo, e aquela saudade, apertando o meu coração, do acordeom, do triângulo, das saias coloridas. Aí eu venho para cá em 1998 e eu descubro que era aqui no DF que estavam as melhores quadrilhas do mundo. (Palmas.)

    E aí, ia para a igreja mais cedo e mais tarde ia assistir aos concursos. E eu vi, nos últimos 25 anos, o que vocês fizeram aqui no Distrito Federal. Vir aqui hoje como Senadora e reconhecer o trabalho de vocês, das federações, das ligas, das associações, de cada quadrilheiro é dizer para vocês: obrigada, porque ainda hoje, 60 anos depois, eu tenho meninos e meninas que encontram na quadrilha o escape, a alegria, a inserção; eu tenho meninos e meninas que encontram a inclusão numa quadrilha; eu tenho meninos e meninas que encontram na quadrilha a socialização. É isso que vocês estão fazendo. Que outro espetáculo no Brasil, que outra cultura no Brasil em que, com apenas um chapéu e uma fita na cabeça, eu me torno campeã? Que outra arte no Brasil em que, com chinelo de dedo, eu me torno rainha? É, de fato, a manifestação cultural no meu país mais inclusiva.

    E vou contar um segredo para vocês. Fui Ministra de Estado, alguns de vocês sabem disso, talvez todos saibam, e eu viajei o mundo, e quando a gente chega numa reunião, num país que está recebendo autoridades do mundo inteiro, eles querem mostrar o que eles têm de melhor na cultura deles, aí a gente tem que assistir. Eu ficava assistindo e ficava pensando comigo: "Hum-hum, não conhecem as quadrilhas de Brasília. Não sabem o que é dançar". Com todo o respeito a todos os países por onde eu passei – parabéns pela manifestação cultural de vocês –, mas eles não sabem o que são as quadrilhas do meu Distrito Federal.

    Parabéns por esta sessão! Parabéns pelo trabalho que estão fazendo!

    Eu estava esperando uma quadrilha me convidar para fazer parte. Aí uma ali já me convidou e já estou fazendo aqui meu acerto. Quem sabe serei a noiva na próxima edição. Izalci, você pode ser o padre. (Risos.)

    E aqui eu faço um reconhecimento ao Senador Izalci. Ele é um entusiasta, e isso todos nós temos que reconhecer. É o primeiro que apresenta o requerimento de homenagem a vocês, está sempre envolvido, está sempre apoiando. O Senador Izalci é, de fato, um Senador apaixonado por essa manifestação cultural.

    Bem-vindos e obrigada por fazer o Senado Federal hoje mais alegre e mais bonito!

    Eu encerro dizendo que vocês não têm ideia... Todos sabem das minhas pautas, das minhas lutas pelo fim da ansiedade e depressão, enfrentamento ao suicídio, enfrentamento à violência contra a mulher e à violência contra o idoso, enfrentamento à violência contra a criança. Todas as minhas pautas fazem diálogo com vocês e vocês sabem do que eu estou falando. Quantas mulheres saem de um ciclo de violência quando colocam uma saia dessa e começam a dançar com vocês? Quantos meninos que querem desistir da vida, assim como eu aos dez anos, colocam um chapéu, são recebidos por vocês com tanto carinho e acabam encontrando razão e alegria na vida?

    Parabéns a todos os quadrilheiros! Parabéns a todos vocês!

    E me aguardem, estou chegando!

    Que Deus abençoe vocês!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/07/2024 - Página 13