Discurso durante a 95ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Críticas aos supostos privilégios dos membros dos três Poderes e comentários sobre as recentes declarações do Ministro do STF, Gilmar Mendes, indicando o provável desconhecimento de V. Exa. acerca da realidade da população quanto à desigualdade social, acesso à saúde, violência urbana, dentre outros.

Autor
Cleitinho (REPUBLICANOS - REPUBLICANOS/MG)
Nome completo: Cleiton Gontijo de Azevedo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Atuação do Congresso Nacional, Atuação do Judiciário, Governo Federal:
  • Críticas aos supostos privilégios dos membros dos três Poderes e comentários sobre as recentes declarações do Ministro do STF, Gilmar Mendes, indicando o provável desconhecimento de V. Exa. acerca da realidade da população quanto à desigualdade social, acesso à saúde, violência urbana, dentre outros.
Publicação
Publicação no DSF de 05/07/2024 - Página 26
Assuntos
Outros > Atuação do Estado > Atuação do Congresso Nacional
Outros > Atuação do Estado > Atuação do Judiciário
Outros > Atuação do Estado > Governo Federal
Indexação
  • CRITICA, PRIVILEGIO, PODERES CONSTITUCIONAIS, UTILIZAÇÃO, RECURSOS PUBLICOS, GASTOS PESSOAIS, DEFESA, REFORMA POLITICA, MORAL.

    O SR. CLEITINHO (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - MG. Para discursar.) – Sr. Presidente, bom dia.

    Bom dia a todos os Senadores presentes aqui, Senadoras, ao público presente que está aqui acompanhando a gente hoje, aos servidores desta Casa e à população brasileira que acompanha a gente pela TV Senado.

    Deixo uma reflexão aqui para os três Poderes, tanto para o Senado, para os Deputados Federais, para a Presidência da República, para o Poder Judiciário, como para a população brasileira, que é o patrão. Eu vi essa fala do Gilmar Mendes aqui, e eu quero deixar essa reflexão aqui, porque parece que a gente grita ao vento mesmo, a gente grita sozinho, mas água mole em pedra dura... Um dia a gente vai furar isso aí, e eu vim aqui para fazer isso.

    Não só é preciso uma reforma política neste país aqui, mas uma reforma de consciência e uma reforma moral, porque, quando você vê pessoas passando fome, quando você vê pessoas que não têm como comprar comida, e a gente vê uma fala de um ministro como essa aqui, ó – Gilmar falou sobre a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, que disse que os Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo pagaram pelo menos quase 1,3 milhão em diárias e passagens para os funcionários públicos e autoridades que participaram do evento em Lisboa –: "Eu não sei avaliar essa questão de valores". "Eu não sei avaliar essa questão de valores."

    Sabe por que é que você não sabe avaliar? Porque não sai do seu bolso. Isso aqui não sai do seu dinheiro. Isso quem paga é o povo. Então, você nunca vai saber avaliar o que é um cidadão ter que pagar um aluguel caro e ter que pagar IPTU. Sabe por quê? Porque os três Poderes, inclusive você, acabam tendo auxílio-moradia. Então, você nunca vai saber o que é um suor de juntar um dinheiro no mês e ter que pagar um aluguel, ter que pagar o IPTU. Você nunca vai saber o que é um pai trabalhar para ter que pagar escola para o seu filho, para ter que comprar material escolar. Sabe por que vocês nunca vão saber disso? Vale para os três Poderes: tanto aqui para esta Casa, para os Deputados Federais, para o Presidente da República, como para o Poder Judiciário. Sabe por quê? Porque vocês também têm direito. Têm direito até a auxílio-livro... Às vezes, pega e tem direito a um filho estudar em escola particular e ser indenizado... Então, vocês não sabem, vocês não sabem o valor disso, porque é muito fácil.

    Você quer outro? Segurança: "Perdeu mané". Muitas pessoas que saem às ruas e acabam sendo assaltadas... Vocês não sabem e nunca vão sentir o que é isso. Sabe por quê? Vocês têm direito a segurança. Vocês têm direito até a carro oficial, blindado. Vocês não sabem o que é isso. É a população brasileira que está na rua, que paga o salário de vocês rigorosamente em dia, que é assaltada quase todos os dias. E morre. Vocês não sabem. Nunca vão saber, Gilmar Mendes.

    Você sabe outra coisa que vocês nunca vão saber? Uma UPA. Frequentar uma UPA. Frequentar o hospital público. Sabe por quê? Porque vocês têm direito a plano de saúde – ah, e eu quero falar aqui: aqui no Senado tem também e é caro. E eu abri mão dele. Então, vocês nunca vão saber o que é a realidade do povo brasileiro, porque o povo brasileiro paga para vocês terem essa mordomia, para vocês viverem no país das maravilhas. Vocês vivem num país, num mundinho de vocês – e aqui vale para os três Poderes. Na realidade do povo brasileiro, vocês não estão sabendo o que está acontecendo com o povo brasileiro. Vocês têm direito a tudo: auxílio-moradia... Até a auxílio-paletó têm direito! Olhem aqui como eu estou bonito. Até a auxílio-paletó têm direito! Então, nunca vocês vão saber a realidade do povo brasileiro, vocês nunca vão ter noção do que o povo brasileiro passa.

    Aqui, no próprio Senado, também se tem direito a um carro bonito, um preto, escrito na placa, de todo tamanho lá, "Senador". E eu abri mão dele. Sabem por que eu abri mão desse carro? Porque eu estou Senador, eu não sou; eu sou é verdureiro. Isso aqui vai passar; quando passar, eu vou ter direito a esse carro preto para andar na rua, na placa escrito "Senador"? Não! Então, tenho que vir no meu próprio carro, ou eu venho de Uber, ou eu venho de bicicleta, ou eu venho de ônibus.

    O Parlamentar não sabe a realidade do transporte público, ele não pega um ônibus! Que dia que um Gilmar Mendes, uma Excelência dessa, pegou ônibus, andou no ônibus para sentir na pele o que a população brasileira passa? Não pegam ônibus! Pelo contrário, tem até pessoas que estão lá que puxam a cadeira para eles sentarem, são piores que reis. E o maior rei deste mundo aqui, Jesus Cristo, veio aqui, não foi político, mas ensinou como é que se fazia política; Ele andava descalço e, inclusive, lavava os pés e perdoava. Então, o exemplo para mim é Jesus Cristo – de humildade.

    E eu acho que o que a gente precisa mostrar aqui agora, no Parlamento, para a população brasileira, dando bom exemplo, é mostrar que a gente está aqui para servir e não para ser servido.

    Eu falo isso com propriedade, porque, quando eu era Vereador e Deputado e agora como Senador, eu sempre devolvi dinheiro, eu só usei o que é em benefício do povo. Não vamos ser hipócritas e demagogos, não, pois a gente precisa, para poder ir às cidades, aos estados, de alguma estrutura, mas desde que seja para devolver para o povo e não para mim.

    Está na hora... Eu fico escutando aqui, como eu escutei agora, que eu ia mostrar aqui, de um Parlamentar também de... Ele falou isto aqui, eu queria mostrar para vocês aqui, está a fala dele aqui. Escutem aqui. Vamos ouvir.

(Procede-se à reprodução de áudio.)

    O SR. CLEITINHO (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - MG) – Vou repetir.

(Procede-se à reprodução de áudio.)

    O SR. CLEITINHO (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - MG) – Já foi cortado da Farmácia Popular. E que dia que vão cortar aqui dos três Poderes? Por que é que é só para o povo que tem que cortar? Se a incompetência vem de quem administra, que são os políticos, que são os três Poderes, por que é que só do povo que tem que cortar?! Por que o povo tem que cortar da própria carne, e aqui não cortam da própria carne?! Isso vale para os três Poderes, para o Legislativo, o Judiciário e o Executivo, vale para o Senado, vale para a Câmara Federal, vale para a Assembleia Legislativa dos estados, vale para os Vereadores, vale para os políticos! Por que é que só o povo tem que cortar da própria carne?! Por que é que nós não cortamos da própria carne?! Por que é que fica uma briga ideológica aqui de esquerda e de direita, de partidos, de PT, de Republicanos, que é meu partido, de PL, de PSDB, de não sei de quê, de PSOL, mas, na hora de brigar para cortar, ninguém fala nada?! Na hora de ter um fundo eleitoral de 5 bilhões para gastar com político, ninguém fala nada, ninguém discute nada aqui, está todo mundo junto e caladinho!

    Por que é que na hora disto aqui...? Eu vi isto aqui, olhem isto aqui, está aqui, vou mostrar para vocês aqui também. Olhem isto aqui, olhem aqui: "Câmara dos Deputados reserva quase 12 milhões para contratar agência de viagens". Por que é que não cortam isso aqui? Por que é que não cortam as lagostas, as licitações lá do STF em que tinha lagostas?! Por que é que não cortam licitação de filé-mignon que o Governo está licitando? Por que é só o povo que tem que pagar a conta? Quem tem que pagar a conta aqui somos nós. E sabe por que eu falo? Quantos políticos falam disso aqui, de cortar na própria carne? Quantos que sobem aqui, tanto aqui no Senado, como na Câmara, para falar de cortar na própria carne?

    Eu, com toda a humildade do mundo, independentemente de ideologia, teria vontade de reunir todos nós – todos os 81 Senadores, independentemente de que lado são, e os 513 Deputados –, sentar todo mundo e falar assim: "Agora vamos fazer uma reforma administrativa, uma reforma política e uma reforma moral neste país aqui?". Vamos todos agora sentar aqui, e falar assim: "Isso aqui dá para cortar, isso aqui dá para cortar, isso aqui dá para cortar", e começar a dar bom exemplo. Por que só a população brasileira que tem que cortar na própria carne? Por que tem que cortar da Farmácia Popular?

    Se está faltando dinheiro, a culpa não é do povo, não. O povo acorda pagando imposto, o povo dorme pagando imposto, o povo respira pagando imposto, para falar que não tem dinheiro para o povo e tem para nós, se nós entramos aqui para defender e servir o povo. Até quando a população brasileira vai aguentar isso?

    Eu espero que subam mais Senadores aqui, mais Deputados Federais e comecem a falar disso: "Espere aí, gente. Vai vir um orçamento agora para a gente votar. Vamos colocar as emendas aqui para cortar um pouco do orçamento do Senado, vamos colocar emenda aqui para cortar um pouco do orçamento da Câmara Federal, vamos cortar o orçamento do Executivo, da Presidência da República, vamos cortar do Judiciário, para o Gilmar Mendes entender o que é ficar um, dois, três, quatro meses dentro de uma UPA esperando uma vaga no hospital e ter que se humilhar, para falar que o SUS é fácil". O SUS é difícil, meu amigo. Não tem SUS fácil, não. SUS é difícil. E sabe por que o Gilmar nunca vai saber disso? Porque é bom demais ter plano de saúde ou ter auxílio-saúde, como nós aqui também temos.

(Soa a campainha.)

    O SR. CLEITINHO (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - MG) – Então, a gente nunca vai entender a realidade do povo brasileiro enquanto a gente não sentir na pele.

    Sabe por que eu falo isso? Porque eu já senti na pele. Eu me ajoelho a agradeço a Deus, todos os dias, por estar aqui, hoje, por ter o salário que eu ganho hoje e por poder agradecer ao povo, que paga esse salário meu. Por isso que eu tenho vergonha na cara, e é isso que eu queria mostrar para o povo brasileiro.

    Parem de idolatrar político, cobrem do político. O político é seu empregado, ele tem o dever de trabalhar e lhe dar resultado. Você o paga em dia e, além de pagar em dia, você dá um monte de benefícios e privilégios, e, muitas das vezes, ele não tem consciência e ainda o rouba – e ainda tem coragem de roubá-lo.

    Então, eu queria dar este recado para o Gilmar Mendes: vocês nunca vão saber da realidade do que é uma segurança pública, porque vocês têm segurança privada; vocês nunca vão saber a realidade de uma saúde, de uma UPA, sabem por quê? Porque vocês têm plano de saúde ou têm até auxílio-saúde. Vocês nunca vão saber o que é uma educação sabem por quê? Porque têm até auxílio-livro, colocam o filho na escola particular e têm direito à indenização. Então, vocês nunca vão saber a realidade do que o povo passa, do que é um transporte público, porque têm carros blindados, têm motorista, têm até pessoas para poder puxar a cadeira para V. Exas. sentarem, e V. Exa. de verdade é o povo.

    Quem é Excelência mesmo, aqui, é o trabalhador que acorda às 6h da manhã e tem que voltar à noite, para ganhar nem R$1,5 mil e ainda ter que pagar um monte de imposto, para muitas das vezes ser roubado. Esse, sim, é V. Exa. e é por ele que eu estou aqui. E, quando eu falei que eu ia trazer o Senado para perto do povo, é para fazer isso aqui para vocês. O Senado ficou distante, ninguém sabe o que é Senador. Se você pegar uma pessoa e perguntar em quem ela votou, ela nem lembra em quem ela votou, ela fala: "É um Senador ali". E é isso que eu vim fazer aqui, e com todo o respeito a V. Exas. que trabalham aqui. E, se tiver alguma Excelência que quiser me questionar, me questione aqui agora, vamos para o debate, dentro do respeito.

(Soa a campainha.)

    O SR. CLEITINHO (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - MG) – Se, em tudo que eu falei aqui, eu estou errado...

(Soa a campainha.)

    O SR. CLEITINHO (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - MG) – ... pode vir me questionar aqui. Eu estou aqui. Venha, venha, me questione, me pergunte.

    E eu quero falar para os três Poderes. Se vocês ficarem com raiva de mim, eu vou fazer isso aqui todos os dias. Todos os dias, eu vou tocar nessa ferida aqui. Sabe o que vocês fazem? Vocês ajoelham e vão orar, que vai passar. Porque chamam aqui para cutucar e encher o saco todos os dias, para mostrar para a população brasileira que nós aqui somos empregados e a população brasileira é o patrão.

    E quem quiser me questionar, fique à vontade. Eu estou aqui para ser questionado e ser cobrado. Quem quiser vir para o debate, venha para o debate comigo. Eu estou aqui para debater. E eu quero saber quem vai defender isso aqui. Vamos ver quem defende, quem tem coragem de defender que um ministro tem que ter segurança.

    Eu ando na rua aqui de Brasília, lá em Divinópolis, a pé. Sabe para quê? Para ser cobrado. Para poder a pessoa olhar na minha cara e falar assim: "Isso aqui está bom, isso aqui está ruim".

    Por que eu tenho que ter uma segurança para mim? Por quê? Na época da campanha, eu não tinha, eu andava no meio do povo, eu ia tomar café, eu ia à feira comer pastel. Se me ligassem às 2h da manhã, eu estivesse dormindo e a pessoa falasse: "Vem cá, porque tem um monte de gente numa festa aqui, para você pedir voto", eu sairia de casa às 2h da manhã e iria lá.

    Até se der veneno para tomar, o político toma veneno. Ele faz de tudo para ganhar a eleição.

    Aí sabe o que eu fiz quando eu ganhei a eleição? Sabe o que eu fiz? Eu não aumentei o muro da minha casa nem troquei de telefone. Sabe o que eu fiz? Eu aumentei a mesa da minha casa, para poder servir melhor.

    Aí eu queria aqui, em público, nacionalmente, passar meu contato, meu telefone – me chame aí no telefone. É (37) 9919 7023 – (37) 9919 7023! Chamem-me no WhatsApp, porque eu estou aqui para conversar com vocês. Porque é muito fácil na campanha estar online e, depois que ganha, ficar offline. Eu estou online 24 horas para servir o povo.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/07/2024 - Página 26