Pela ordem durante a 94ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do Dia Nacional do Combate à Discriminação Racial, comemorado nesta data, e denúncia do Brasil como país racista. Solidariedade à Deputada Federal Benedita da Silva, pelo suposto ataque racista sofrido.

Autor
Fabiano Contarato (PT - Partido dos Trabalhadores/ES)
Nome completo: Fabiano Contarato
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela ordem
Resumo por assunto
Direitos Humanos e Minorias, Homenagem:
  • Registro do Dia Nacional do Combate à Discriminação Racial, comemorado nesta data, e denúncia do Brasil como país racista. Solidariedade à Deputada Federal Benedita da Silva, pelo suposto ataque racista sofrido.
Publicação
Publicação no DSF de 04/07/2024 - Página 68
Assuntos
Política Social > Proteção Social > Direitos Humanos e Minorias
Honorífico > Homenagem
Indexação
  • REGISTRO, DIA NACIONAL, COMBATE, RACISMO, DISCRIMINAÇÃO, NEGRO, ATAQUE, EX-SENADOR, MULHER, DEPUTADO FEDERAL, BENEDITA DA SILVA.

    O SR. FABIANO CONTARATO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - ES. Pela ordem.) – Eu queria aqui, Sr. Presidente, manifestar...

    Hoje é o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, e ontem a nossa companheira Deputada Federal Benedita da Silva sofreu um ataque racista por uma outra Deputada, de quem eu não vou sequer pronunciar o nome.

    Eu queria deixar claro que a história da política, da mulher guerreira, da mulher preta periférica, Benedita da Silva, que foi eleita a primeira Vereadora preta, foi eleita Governadora preta, foi eleita Deputada Federal constituinte, em muito dignifica a honrada classe dos políticos e das mulheres.

    Eu quero aqui falar para os colegas que ainda vivemos num país que é racista, que ainda vivemos num país em que se julgam os outros pela cor da pele, que ainda se criminaliza a pobreza, e que compete a todos nós, como Parlamentares, independentemente de sigla partidária, ter como premissa aquilo que está no art. 3º, inciso IV, da Constituição Federal, que diz que um dos objetivos da República Federativa do Brasil é promover o bem-estar de todos e abolir toda e qualquer forma de discriminação.

    Eu quero, Sr. Presidente...

    Todos sabem que os meus filhos, Gabriel e Mariana, são a razão da minha vida e que, por mais que antes eu sempre tenha sido antirracista, depois que eu tive meus filhos, eu pude sentir na pele o que é cada vez mais ser preto no Brasil – e olhe que eu ocupo um lugar privilegiado, como homem branco, cis.

    Agora, quantas pessoas neste Brasil, desigual e racista, atravessam uma rua, quando veem um homem preto? Quantas pessoas se recusam a serem atendidas por um médico ou médica, por eles serem pretos? Eu faço essa provocação.

    Qual foi o último dia em que os colegas participaram de uma audiência em que o juiz era preto? Em que a advogada era preta? Qual foi o último dia em que nós aprovamos aqui nomes de embaixadores pretos?

    Porque, quando um embaixador assume qualquer posto no país, ele não está ali sozinho, ele está carregando milhões de brasileiros que sofrem, diuturnamente, neste país racista, neste país preconceituoso.

    Eu queria, sim, que os meus colegas Parlamentares fizessem essa reflexão, porque é muito fácil nós, Parlamentares, aqui, na grande maioria homens, na grande maioria brancos, na grande maioria ricos e engravatados, agirmos de forma contundente contra pobres e pretos. É muito cômodo isso.

    Agora, essa é uma função de todos nós, porque nós temos que ter comumente que a espinha dorsal do Estado democrático de direito se chama Constituição da República Federativa do Brasil, e que, na mesma Constituição de 5 de outubro de 1988, ali se elencou que um dos poucos crimes que são inafiançáveis e imprescritíveis é a discriminação racial.

    Finalizo, Sr. Presidente, mais uma vez, enaltecendo Martin Luther King, um pastor preto, e, assim como ele teve um sonho, eu também tenho esse sonho. Eu sonho com um dia em que eu não vou ser julgado por minha orientação sexual, eu sonho com um dia em que meus filhos não vão ser julgados por serem pretos, eu sonho com um dia em que a minha irmã não vai ser julgada por ser mulher.

    Esse dia ainda não chegou, mas compete a todos nós lutarmos para que, quem sabe um dia, nós tenhamos um Estado brasileiro que cumpra a premissa constitucional de que todos somos iguais perante a lei, independentemente da raça, cor, etnia, religião, origem, orientação sexual.

    Minha querida Deputada Federal Benedita da Silva, eu tenho muito orgulho do seu mandato, da pessoa que você é, da mulher aguerrida que você é. Que Deus nos abençoe!

    Um abraço, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/07/2024 - Página 68