Discurso durante a 100ª Sessão de Premiações e Condecorações, no Senado Federal

Sessão especial destinada à entrega da Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Homenagem:
  • Sessão especial destinada à entrega da Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara.
Publicação
Publicação no DSF de 11/07/2024 - Página 19
Assunto
Honorífico > Homenagem
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, ENTREGA, COMENDA, DIREITOS HUMANOS, DOM HELDER CAMARA.
  • AGRADECIMENTO, RECEBIMENTO, COMENDA, DOM HELDER CAMARA.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) – Querida Presidenta, Teresa Leitão, meus cumprimentos a V. Exa. Cumprimentando essa nobre e querida Senadora, eu cumprimento toda a Comissão, todos os convidados, todos os homenageados, todos os que estão neste Plenário.

    Senadora, com esse pronunciamento aí, já me deixou emocionado. E chega uma idade, em que me chamam de veterano já, e tenho que me controlar agora para poder falar. Mas queria também agradecer à equipe do meu gabinete, que fez questão de estar aqui. (Palmas.)

    Se não fossem vocês, que estão comigo desde a Comissão de Direitos Humanos, vejo aqui também... São praticamente 38 anos de Congresso, 4 de Deputado Federal e 13 de Senador, e vocês sempre do nosso lado! Eu sabia que a emoção podia tomar conta. Eu fiz esta fala e vou tentar ficar na matriz aqui e não inventar.

    Enfim, quero agradecer, de alma e coração, por ser um dos agraciados com esta Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, instituída pelo Senado Federal.

    Quero cumprimentar o Senador Veneziano Vital do Rêgo, que foi um dos que indicaram o meu nome para que em vida ainda eu fosse homenageado. Estávamos ali lembrando, há pouco tempo, que a maioria dos homenageados acabam recebendo a homenagem depois que já faleceram. Felizmente, nós aqui no Senado damos essa oportunidade para homens e senhoras que estão aqui conosco.

    Externo meu carinho, com maior profundidade, aos outros agraciados. Sinto-me orgulhoso de estar ao lado de Silvio Almeida, Ministro dos Direitos Humanos; de Rafael Régis de Azevedo, expoente internacional em matéria de doenças raras; Prof. Antônio Augusto Cançado Trinidade, em memória do que foi e do é, porque a sua vida e a sua história ficam gravadas entre nós, um grande jurista; o Instituto Dom Helder Câmara, sediado em Recife.

    Amigos, promover os direitos humanos tem que ser uma ação constante, persistente. É uma decisão política ser militante dos direitos humanos. É um ato, podem crer, de fraternidade, de amor e de grandeza. Nesses anos todos de caminhada, pude compreender a percepção que a população tem das suas próprias angústias e das suas necessidades. Procurei estar na mesma toada com a população. Sempre é bom se colocar no lugar do outro e sentir as suas dores, as suas perdas, as suas preocupações. Entender os sentimentos e as emoções como se estivéssemos vivenciando a mesma situação. Assim pensava e agia D. Hélder Câmara.

    Por isso, fascina-me, podem crer, a existência humana. E essa política, porque nós somos tão teimosos – e tenho orgulho de dizer isso – de defender os direitos humanos, a existência humana, e de tê-la como espelho em trilhas a serem vencidas, em janelas a serem abertas para todos. Ah, lembro até de montanhas a serem escaladas, com a grandeza de quem quer levar para o topo a população mais vulnerável. Estou aqui como um navegador, mas para mim o objetivo nosso é salvar vidas e melhorar a vida do povo. Vamos seguindo adiante, sempre na mesma e incansável luta, na busca de dias mais felizes para todos.

    Ajudamos a construir, e a Presidenta já citou aqui, algumas leis que ficaram na história. E eu gosto muito de lembrar que foram leis coletivas, ninguém faz nada sozinho. De políticas humanitárias, como o Estatuto da Pessoa Idosa, foram 15 anos de construção! Eu fui ferramenta aqui dentro: ela veio de fora para dentro. O Estatuto da Pessoa com Deficiência, mais quase 20 anos; o Estatuto da Igualdade Racial, mais de 10 anos; o Estatuto da Juventude, de que fui Relator. Eu podia citar aqui a lei dos autistas, e teria que contar uma história de como é que ela foi construída, mas veio de fora para dentro. A política de cotas, da igualdade salarial entre homens e mulheres – a senhora foi uma das relatoras, uma luta antiga; a senhora teve que vir para cá para a gente conseguir aprovar – a política nacional de recuperação do salário mínimo...

    Eu poderia dizer que eu tenho muita gratidão, viu, pelo que a vida me deu. Aprendi muito ao longo dos anos. Foram tempos de saber, de conhecer a mágica que há na mistura da terra com a água – e vocês vão entender por que é que eu digo isso –, de amassar o barro com as mãos e os pés, e transformá-los em vasos para acolher as flores. Digo isso porque este foi o meu primeiro emprego: amassar o barro e ajudar a construir vasos numa olaria.

    Nesse longo tempo, confesso a vocês que sorri em inúmeras vitórias, mas chorei também nas derrotas. Foram muitas batalhas. Nunca recuamos e nunca desistimos porque a história se faz na defesa de causas nobres. E quem defende causas nobres não é um perdedor, pois as causas nobres são eternas. Mas eu também errei, claro que errei. Construí castelos que muitas vezes desmoronaram, mas aprendi que, sem humildade, não se chega a lugar algum. Sempre há tempo de retomar, pois o caminho se faz caminhando, já disse o poeta.

    Temos desafios pela frente. O Brasil tem muitos desafios. Os problemas são enormes: fome, miséria, pobreza, criminalidade, combater o racismo, o feminicídio, preconceitos, discriminações. O nosso povo só quer o quê? Quer moradia, saneamento básico, salário decente, emprego decente, saúde e educação de qualidade, quer romper horizontes, quer só progredir, mas quem não quer? O nosso povo quer democracia. Sim, quer uma democracia forte, liberdade e justiça, quer respeito à comunidade LGBTQIA+, quer respeito ao meio ambiente.

    Olha como o meu Rio Grande do Sul está sofrendo, agora, porque o planeta, no seu todo, não respeita o meio ambiente... O nosso povo quer direito e ter direitos.

    Uma vez, há muitos anos, recebi um cartão, com uma frase que guardei, de Andrei Platonov. Dizia a frase do cartão que eu recebi: "Paim, guarde isso...", um fã desse grande escritor disse, "... tudo é possível e tudo tem êxito, mas o mais importante é semear as almas das pessoas." Guardei essa frase que recebi nesse cartão.

    Esse ato celestial, descrito por esse autor, evoca os sentimentos mais profundos, nos eleva à comunhão divina, ao equilíbrio universal e do cosmos, à consciência de que somos irmãos, à esperança e à libertação da alma, em um céu límpido, para voar, em amor etéreo e sublime.

    É com essa visão que estou, aqui, hoje, claro, um pouco emocionado, recebendo essa honraria, a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, consciente – eu e nós todos –, de que cada gesto e palavra, em benefício e respeito aos direitos humanos, é uma semente que tem que ser cuidada. Não é só plantada, tem que ser cuidada, no coração da humanidade, destinada a nascer, renascer, florescer, em belos jardins, quantas vezes forem necessárias, em um futuro mais justo e igualitário, com harmonia, tolerância e sinergia humana.

    Com solidariedade e políticas humanitárias, haveremos de reconstruir – eu busco, aqui, agora, o sofrimento do meu estado –, com as políticas humanitárias, todos os estados e a rede internacional estão olhando para o Rio Grande, e eu digo: (Manifestação de emoção.) Viva a solidariedade! Vamos, juntos, construir o Rio Grande! O Rio Grande é o Brasil, o Brasil é o Rio Grande! Estamos juntos! (Palmas.)

    É claro que, lá no Rio Grande, lamentamos e choramos, como diz lá um poeta: "Choramos tudo o que foi perdido." O patrimônio, por menor que fosse, as vidas ceifadas, as terras, os animais... Mas não perdemos a esperança, porque os direitos humanos não têm fronteiras.

    Nossa gratidão ao Brasil e ao mundo é permanente e será para sempre. Termino, Presidenta, e tinha que falar do meu Rio Grande, até pelo abraço que os brasileiros deram ao povo gaúcho.

    Enfim, que possamos juntos continuar a trilhar este caminho de luz, sempre com o olhar voltado para um horizonte onde todos possam ter o direito de viver em paz, ser feliz, amar e ser amado! Assim que eu creio: vida longa às políticas humanitárias, vida longa aos direitos humanos, vida longa aos ideais de D. Hélder Câmara!

    Muito obrigado a todos. (Palmas.)

    Isto aqui está com cara de despedida minha... (Risos.)

    Um abraço!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/07/2024 - Página 19