Discurso durante a 115ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reprovação da inação das autoridades em relação ao problema recorrente das queimadas no Amazonas. Necessidade do asfaltamento da BR-319, que liga Manaus-AM a PortoVelho-RO, como meio de facilitar o transporte de pessoas e bens essenciais na região. Críticas à criação, pelo Governo Federal, de uma nova reserva ambiental em Itacoatiara-AM.

Autor
Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Meio Ambiente, Transporte Terrestre:
  • Reprovação da inação das autoridades em relação ao problema recorrente das queimadas no Amazonas. Necessidade do asfaltamento da BR-319, que liga Manaus-AM a PortoVelho-RO, como meio de facilitar o transporte de pessoas e bens essenciais na região. Críticas à criação, pelo Governo Federal, de uma nova reserva ambiental em Itacoatiara-AM.
Publicação
Publicação no DSF de 15/08/2024 - Página 24
Assuntos
Meio Ambiente
Infraestrutura > Viação e Transportes > Transporte Terrestre
Indexação
  • CRITICA, INEXISTENCIA, PROVIDENCIA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, QUEIMADA, INCENDIO, FLORESTA AMAZONICA.
  • NECESSIDADE, ASFALTAMENTO, RODOVIA, AMAZONIA, GARANTIA, ACESSO RODOVIARIO, BENS DE PRODUÇÃO, BENS DE CONSUMO, BENS PUBLICOS, POPULAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, CRIAÇÃO, MUNICIPIO, AREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL, ITACOATIARA (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), CONSEQUENCIA, PREJUIZO, ECONOMIA RURAL, POPULAÇÃO RURAL, REGIÃO.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Independência/PSDB - AM. Para discursar.) – Presidente Paim, cheguei aqui e ouvi o pronunciamento do Senador Esperidião Amin e agora o do Senador Oriovisto. Depois dessas exposições, em que um falava sobre o Supremo Tribunal Federal, e o Oriovisto agora nos deu uma aula bem didática sobre essas votações que teremos logo mais.

    Eu peço desculpas... Parabenizo os dois e peço desculpas por mudar o rumo da prosa. Vou dar uma mudada, Oriovisto, no rumo da prosa, depois dessa belíssima exposição, porque eu preciso mais uma vez falar do meu estado e preciso, mais uma vez, deixar bem claro: eu não estou aqui lamentando, pedindo esmola. Eu não vim pedir esmola; eu vim exigir justiça. Então, tudo o que eu faço aqui é pedindo justiça.

    A gente alertou aqui, quando da enchente no Rio Grande do Sul. Desta tribuna, eu alertei, fiquei solidário ao povo gaúcho, mas pedi a permissão para alertar sobre o problema que viria para nós: da seca, da estiagem – e chegou –, da fumaça que viria, Senador Paim, porque vem todos os anos. Neste período, antecipou um pouco, e a fumaça veio.

    Ano passado foi alertado, nenhuma providência foi tomada. A gente alerta de novo para este ano, vai ser a mesma coisa.

    Então, quando vocês ficarem lendo que Manaus está com o céu cheio de fumaça, que é isso, que é aquilo, que é a pior a qualidade de vida do planeta, para o ano vai ser a mesma coisa. E a gente não toma providência para antecipar, para botar o dedo na ferida.

    Eu dizia aqui da importância que tem, porque nessas queimadas... Existem queimadas sim, queimadas, eu não sei se grandes, mas existem muitos e muitos roçados que são resultado de queimadas naquela terra para plantação.

    Em emendas parlamentares que eu pude fazer, levar uma patrulha mecanizada ao município evita essas queimadas dos roçados, porque, Senador Astronauta, ao você ter uma patrulha mecanizada, você revolve a terra; você não queima a terra, você a revolve – mas não tem isso.

    Começa também a queimada, Senadora Damares – agora, no começo, a gente atravessa o encontro das águas, na BR-319 – por ali, na beirada, como nós chamamos. Ali, bastava um carro-pipa; em alguns quilômetros, lá no outro município, outro carro-pipa. Não é o problema todo em si; ficavam as queimadas só do sul do Amazonas, onde existem essas queimadas, realmente, em maiores proporções, mas essas fumaças, essas coisas são todas evitáveis.

    São duas questões aí: um não quer, que é para dizer que a Amazônia está queimando e que os culpados somos nós, que somos desleixados, incompetentes, que não estamos tomando conta da Amazônia – e haja crítica, e haja ONG, e haja Fundo Amazônia –; e o outro é dizer: "Não, deixa lá; a gente vai pedir, vão dar ajuda, vão dar dinheiro, vão mandar socorro, e está tudo bem". Não está tudo bem! Nós vamos passar por esse período pelo qual passamos no ano passado, no ano anterior; e, para o ano, já tem de novo, e lá vamos nós com o mesmo problema da fumaça. A gente só precisa é de compreensão; é de compreensão. E aqui eu volto àquela tecla do piano, porque eu só sei bater nela: BR-319, a estrada.

    Na epidemia, morreram centenas de amazonenses. Até hoje a gente conta os mortos; até hoje a gente está contando, Senadora Ana Amélia. A gente de vez em quando descobre algum amigo que se foi, porque os carros levando oxigênio atolavam na BR-319, e a gente só podia ser socorrido por via aérea, com os aviões que não são preparados para esse tipo de transporte, mas que assim o fizeram – a Aeronáutica o fez, e o fez muito bem –, ou por via fluvial. Imaginem só o que é levar oxigênio por via fluvial! E agora, com a seca, nem por via fluvial. Temos o aéreo, que encarece tudo, que não é possível, e o terrestre.

    Os carros estão passando lá, Senadora Damares, porque o Governo anterior e este Governo, reconheça-se, o Dnit mandou jogar o que a gente chama de "rachão" – são pedras grandes –, e os carros estão passando; centenas de caminhões, centenas. Eles mandam até para mim, quase todos os dias, os caminhões lá passando e dizendo: "Olha, mostra para a Marina Silva que a gente está passeando", porque na CPI ela disse que a gente queria a BR-319 para passear.

    O que a gente quer é o asfaltamento, para que, no próximo ano, Senador Paim, eu não esteja aqui, de novo, falando a mesmíssima coisa. Aí, pode ser que alguém esteja vendo da primeira vez e fale: "Ah, esse Senador está se lamentando, está se queixando!". Não! O Amazonas não é pobrezinho.

    Nessa dívida que a gente vai votar se anistia ou não, o Amazonas é a segunda menor dívida. Então, eu não estou legislando em causa própria, eu só estou dizendo que nós merecemos o respeito de cidadão e de cidadã, e esse respeito exige que a BR-319 seja asfaltada, não porque o Ministério do Meio Ambiente não quer, o Ibama, as ONGs pagas pela WWF, pelo Greenpeace, pelo Governo norueguês, pela Casa Real, que criam observatórios para diuturnamente dizer que, se asfaltar, o impacto vai ser terrível. Até um cientista disse que, se asfaltar, as epidemias vão surgir. Quer dizer, é cada imbecilidade que se diz a respeito da Amazônia... E o que é pior: brasileiros entram nessa de achar que é isso mesmo.

    A BR-319 existe há quarenta e poucos anos, já foi asfaltada; faltou conservação, não está mais asfaltada. São 815km; os 400km do meio, que se chama Meião, precisam de asfalto, porque chove, fica intrafegável. Então, olha só o que o Senador da República está fazendo pela enésima vez, enésima vez, para que se atenda o direito que nós temos de ter uma rodovia asfaltada.

    Nós podemos passear pela BR-174, na Venezuela. A gente pode ir para a Venezuela, pode ir ao Caribe, a gente vai tranquilo. Passa pela Reserva Waimiri, mas vai; mas eu não posso vir para Porto Velho e, de Porto Velho, pegar o Brasil. Olha só, não estão respeitando o nosso direito de ir e vir.

    Então, mais uma vez, em tom bem sereno, mais uma vez salientando, deixando claro que eu não estou pedindo esmola, eu estou aqui exigindo justiça. A mesma justiça que se faz com os outros estados. Há estados todo asfaltado. A gente vai ao Rio Grande do Sul, a vários municípios, vai à Bahia...

    Aí, é o que falam: "Mas a campanha política no Amazonas é difícil!". E é. Nós só temos 62 municípios, mas uma campanha benfeita, com dinheiro, com avião, que não é o meu caso, faz 20, 22 municípios, não consegue fazer mais, porque são municípios distantes. Lá não tem municípios onde você sai de um, na fronteira, e está entrando no outro, sabendo que está entrando no outro. Você percorre quilômetros e quilômetros.

    Então, a gente fala de uma Amazônia desconhecida, a gente fala de uma Amazônia injustiçada, de uma Amazônia utilizada pelos hipócritas, pelos cretinos, pelos aproveitadores, tipo Macron, Leonardo DiCaprio, tipo essa gente que fala e não sabe do que está falando.

    É muito bonita a Amazônia que eles imaginam: índias de seios pontudos, índios sarados, e a realidade não é essa. São índias com seios no umbigo, sem leite para dar, são índios mal nutridos, porque eles vivem mal, eles são explorados. E a gente mostrou isso na CPI das ONGs.

    Para encerrar, só para dar um exemplo de como o homem é tratado, não são só vocês, brasileiros e brasileiras, que nos maltratam, não. A gente tem também local a serviço de outro.

    O ICMBio, que é um mal, que é um mal para este país... O ICMBio – que é responsável pelo regime de semiescravidão na Reserva Chico Mendes, no Acre, nós provamos isso – acaba de convencer o Presidente Lula, que já assinou, a criar uma reserva no Município de Itacoatiara, lá chamado de Novo Remanso, do tamanho equivalente a 15 mil campos de futebol, para proteger o macaco chamado sauim-de-coleira. Deve ter cem, 120, 80 sauins-de-coleira. Se tivesse só o sauim, beleza; mas lá são 11, Paim, são 11 comunidades, num total de 3 mil pessoas, que não querem isso, mas não foram ouvidas.

    Estou indo lá sexta-feira, porque a gente descobriu... Já consegui documento de que a ata foi forjada, e estou indo sexta-feira lá com eles para reunir. O problema é que, quando eles traçam a reserva, oficializam a reserva, Astronauta, eles abandonam.

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Independência/PSDB - AM) – Quem está ali, quem plantava mamão e vendia, quem plantava mandioca e vendia, quem plantava jerimum e vendia não pode mais fazer isso. Esse é o passo seguinte. Quem tinha uma vaca para dar leite para os seus filhos não pode mais ter a vaca. E, a partir daí, obriga o cidadão, a cidadã a migrar para a sede do município e, de lá, para a capital. Esse é o projeto que nos humilha. Isso é muito, isso é muito grandioso, e o Brasil não percebe, não percebe isso.

    Então, mais uma vez, o Senador do Amazonas ocupa a tribuna para falar de coisas óbvias. Não se impressione com a fumaça que encoberta Manaus, porque, para o ano, vai ter a mesma coisa. E nós vamos nos virar, como sempre nos viramos, porque o Governo Federal que aí está é um Governo que perdeu o freio na ladeira. Cortou agora 19% do salário dos funcionários do Ibama, responsável por combater as queimadas, no momento em que mais se precisa de brigada para combater a queimada.

    Então, por isso que eu digo...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Independência/PSDB - AM) – Encerro.

    Nós estamos tratando, por isso eu não tenho esperança nenhuma, com um Governo, que, como eu disse, perdeu o freio na ladeira. Vai dar de cara não sei onde, mas vai dar de cara.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/08/2024 - Página 24