Discurso proferido da Presidência durante a 118ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do comunicador Silvio Santos e breve histórico de sua carreira e importância para a comunicação brasileira. Manifestação de emoção ao lembrar do impacto de Silvio na cultura nacional e na vida de muitas pessoas, incluindo sua própria trajetória de 16 anos no SBT. Destaque para a humildade, generosidade e capacidade do apresentador em criar alegria nos lares brasileiros, reconhecendo sua influência e inovações na televisão. Registro sobre a cerimônia de sepultamento que foi discreta, como desejado por Silvio, que preferia ser lembrado com alegria. Destaque para o amor pelo povo e sua habilidade em detectar talentos, além de suas contribuições significativas para a programação da TV, tornando-se um verdadeiro ícone do entretenimento.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso proferido da Presidência
Resumo por assunto
Homenagem, Imprensa, Rádio e TV:
  • Voto de pesar pelo falecimento do comunicador Silvio Santos e breve histórico de sua carreira e importância para a comunicação brasileira. Manifestação de emoção ao lembrar do impacto de Silvio na cultura nacional e na vida de muitas pessoas, incluindo sua própria trajetória de 16 anos no SBT. Destaque para a humildade, generosidade e capacidade do apresentador em criar alegria nos lares brasileiros, reconhecendo sua influência e inovações na televisão. Registro sobre a cerimônia de sepultamento que foi discreta, como desejado por Silvio, que preferia ser lembrado com alegria. Destaque para o amor pelo povo e sua habilidade em detectar talentos, além de suas contribuições significativas para a programação da TV, tornando-se um verdadeiro ícone do entretenimento.
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2024 - Página 15
Assuntos
Honorífico > Homenagem
Outros > Imprensa
Infraestrutura > Comunicações > Rádio e TV
Indexação
  • VOTO DE PESAR, HOMENAGEM POSTUMA, SILVIO SANTOS, APRESENTADOR, TELEVISÃO, TELEVISÃO ABERTA.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO. Para discursar - Presidente.) – Não há nenhuma dúvida, amigo e referência, Senador Paulo Paim, presente aqui nesta sessão, todos os demais remotamente e outros que chegarão, como o Senador e representante desta Mesa Diretora Chico Rodrigues, de seu gabinete, de que desde sábado o céu está cantando: "Silvio Santos vem aí". E eu começo o meu pronunciamento, conforme pediu o Presidente Rodrigo Pacheco para que eu abrisse.

    Eu subo à tribuna do Senado, tocado pela mais profunda emoção, para prestar minha homenagem póstuma a um amigo, um ídolo, um pai e um ícone que marcou a história da TV e da cultura no Brasil: Silvio Santos, o apresentador que, ao longo de mais de seis décadas, tornou-se a figura mais presente nos lares brasileiros.

    Quero, de público, manifestar meu pesar aos ex-colegas meus do Sistema Brasileiro de Televisão, onde trabalhei por 16 anos, desde 1983, quando tinha 21 anos de idade, e Silvio me lançou, e também a toda a família Abravanel, em especial à mulher amada, Íris, e às filhas bem-amadas, Cintia, Silvia, Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata.

    Para falar de Silvio Santos, precisaria de horas. Todavia, o mais importante é poder dizer, de público, o quanto agradeço a Deus por ter conhecido e convivido 16 anos com o Senor Abravanel, o seu nome de batismo.

    Nascido no Rio de Janeiro, morreu em São Paulo, no último sábado, 17 de agosto de 2024, aos 93 anos. Seu corpo foi enterrado ontem, domingo, no Cemitério Israelita do Butantã, em cerimônia restrita aos familiares e a um grupo pequeno de amigos, pois, segundo a sua família – e eu já sabia disto –, ele havia pedido que não fosse explorada a sua passagem: Silvio Santos gostaria de ser celebrado em vida e queria ser lembrado com alegria, nada mais natural.

    A sua morte comoveu e entristeceu o Brasil e boa parte do mundo, e, ao mesmo tempo, o fim de semana de sua partida foi marcado pela alegria que caracterizou a existência do maior apresentador de TV do mundo. A imagem de Silvio Santos, alegre, risonho, brincalhão, espontâneo, fez-se presente em todas as redes de televisão, emissoras de rádios e redes sociais.

    E aqui cumprimento a família Marinho, Rede Globo de Televisão, a que melhor o homenageou. O Jornal Nacional de sábado me encheu de lágrimas em sua escalada inicial.

    O obituário eletrônico de Silvio Santos já faz parte da história da nossa TV e não poderia ser diferente. O sorriso largo e a risada inconfundível de Silvio Santos mataram a saudade de quem não o via desde que se afastou da TV há dois anos, e as múltiplas homenagens fizeram jus à grandeza de um comunicador que amou, como poucos, o seu país – Senador Eduardo Girão também aqui presente, como sempre – e, mais ainda, os brasileiros.

    Silvio era do povo e amava o povo. Filho de pai grego e de mãe turca, ambos judeus, nasceu na Lapa, Rio de Janeiro. Ele, primeiro de seis filhos, começou cedo a labuta. Aos 14 anos, vendia carteiras para título de eleitor na eleição de 1945, que marcava o fim da ditadura de Getúlio Vargas. Dono de uma voz única, ainda vendeu canetas e remédios, antes de fazer teste para locutor na Rádio Guanabara. De Kombi, animava as praças, era chamado de Peru que Fala, pois sempre estava vermelho o seu rosto.

    Ele superou 400 concorrentes na sua primeira emissora, Rádio Guanabara. Outras rádios vieram, inclusive uma em Niterói – aí, usuário da barca que ligava a cidade ao Rio, ele criou o que eu também tive em Cajuru, aos dez anos de idade, um serviço de alto-falantes que entretinha os passageiros e que se tornou rentável, até a barca quebrar e parar para conserto.

    Silvio Santos, então, decidiu mudar-se para São Paulo. Passou em teste na Rádio Nacional das Organizações Victor Costa e começou a fazer locução comercial no Programa Manoel de Nóbrega, com quem ele se juntaria também no Baú da Felicidade, seu primeiro empreendimento comercial de enorme sucesso.

    Em 1955, Silvio fez a primeira aparição em TV e, em 1960, estreou seu primeiro programa, que se chamava Vamos Brincar de Forca, na TV Paulista, precursor, ele, do Programa Silvio Santos, que nasceria três anos depois, em 1963.

    Em 1966, a TV Paulista virou TV Globo. Na nova casa, deslanchou mais ainda, chegando a superar o programa Jovem Guarda, de Roberto Carlos, transmitido na TV Record.

    Em 1969, a Globo passou a transmitir o Programa Silvio Santos também para o Rio de Janeiro, sucesso absoluto, mas o apresentador queria ir mais longe!

    Em 1976, conseguiu a concessão do canal 11, no Rio de Janeiro, a TVS, na qual eu estreei em 1983.

    Em 1981, concorreu a edital e ganhou a concessão de canais disponíveis após o fim das atividades da TV Tupi, a que tinha a maior audiência no Brasil. Estava, então, criado, tendo como sede o canal 4 de São Paulo, o Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT, em que trabalhei por 16 anos e fiz de tudo, fui até ator, até em novela: Silvio me colocou para contracenar com um dos maiores atores do Brasil, Herson Capri – eu era o seu psicanalista na novela Vitrine.

    E cairia nas graças do público o SBT. O Programa Silvio Santos tomaria conta do Brasil, e o mosaico de quadros variados faria de seu apresentador o principal nome da televisão brasileira, o pelé da TV.

    Não à toa, José Bonifácio de Oliveira, o Boni, o maior gênio, diretor e criador de TV do Brasil, criador de tudo na Rede Globo de Televisão e maior executivo de TV do país, sempre disse que Silvio Santos criou o domingo na televisão brasileira e, como reafirmava o próprio Silvio: "Domingo é dia de futebol, de macarronada e de Silvio Santos".

    Silvio foi mais – e foi muito mais – que um apresentador ou um animador de auditório inigualável, era um talento a serviço da televisão brasileira, que cuidava com carinho de toda a programação, sempre preocupado em levar o que achava melhor para os telespectadores. Criou dezenas de formatos que marcaram para sempre a TV brasileira, entre eles – como esquecer, Paim, Girão, Chico, senhoras e senhores, meus únicos patrões? –, Qual é a Música?, do qual eu participei 19 vezes; Cidade contra Cidade; Show do Milhão; Porta da Esperança; Topa Tudo por Dinheiro; Show de Calouros; Namoro na TV.

    E, lembrem-se, Silvio foi responsável pelo primeiro reality show do Brasil, que hoje é a maior audiência da Globo, a famosa Casa dos Artistas, e depois criou o segundo reality show, Casamento à Moda Antiga, e escolheu o único apresentador de TV que dividiu o palco com ele: desculpem, fui eu, o Jorge Kajuru, dentre 14. Eu dividia o comando desse reality show com o Silvio, ele o titular e eu, evidentemente, o substituto reserva. Ele, com a Casa do Artista ou dos Artistas, obteve a maior audiência até hoje de sua emissora.

    Empreendedor nato enveredou por outros ramos de atividades, na maioria das vezes, com sucesso absoluto, fruto da credibilidade conquistada. Tentou até a política, mas as circunstâncias o afastaram dela, para mim e sua família, felizmente. Eu me lembro de que ele perguntou a minha opinião na época.

    Como empresário, ele que se autointitulava também um homem de negócios, diferia por completo do apresentador brincalhão. Quando colocava óculos em reunião de trabalho, era seriíssimo, rígido, pura sensatez e racionalidade – abro aspas: "Sempre penso nas famílias que vivem de minhas empresas" – fecho aspas, Silvio costumava dizer.

    A generosidade sempre caracterizou o patrão Silvio Santos como o melhor de meus 50 anos de carreira nacional na televisão brasileira, em que completo hoje, 19 de agosto, de 2024; dos 50, 16 com Silvio. O melhor que conheci nesses 50 anos no rádio, na TV e nos jornais.

    Silvio sabia detectar talentos como ninguém, preocupava-se com os seus contratados e fazia questão de reconhecer trabalho bem-feito. Eu pude atestar isso em minhas várias passagens pelo SBT. Depois da Copa do Mundo de 1986, em que fui o repórter titular do SBT, no México, em parceria com a Record – chamava-se SBT e Record – Unidos Venceremos, que também está junto com Silvio no céu, o Silvio Luiz, narrador monstro sagrado da televisão brasileira –, em uma cobertura de sucesso que fizemos, Silvio fez questão de pagar um salário a mais a todos que participaram da cobertura esportiva na Copa do México, em 1986. Coube a mim a honrosa missão de comunicar a decisão dele aos demais colegas.

    Em outra ocasião, Silvio Santos, sabedor de que eu não gostava de fazer merchandising, pediu-me que apenas repetisse no ar do programa Jogo Duro – o qual eu fazia meio-dia e meia em rede nacional aos domingos – uma só frase referente a uma empresa de telefonia. Eu atendi e disse que não queria receber nada. Por três meses, fui premiado por Silvio com o dobro do meu salário em gratificação.

    Quando eu fui chamado para dirigir o programa Fora do Ar, um talk show às 11h30 da noite, que concorria com o Jô Soares, ao lado da rainha da TV, a Hebe Camargo – pois Silvio me pediu para dirigir o programa dela, com Adriane Galisteu e Cacá Rosset –, Silvio me ofereceu um salário que era o triplo do da emissora anterior, a qual me demitiu ao vivo do Mineirão, lá recebi. Ponderei a ele que, embora semanal, a característica do programa exigiria de mim presença diária na TV, porque vestia a camisa do SBT e, por isso, o valor deveria ser maior. Ele perguntou: "Quanto você quer ganhar, Kajuru?", porque ele não falava com ninguém mais do que dez minutos no seu camarim. Respondi: "O dobro, chefe". E ele: "Está feito".

    Pagava bem, em dia, e cobrava o bom uso do dinheiro. Uma vez, ele me chamou, no camarim, para dizer que estava preocupado com as informações de que eu estaria gastando boa parte do meu ótimo salário com festas e namoros. Ele me aconselhou a mudar o comportamento, a guardar parte do meu salário e ainda me indicou quem poderia me ajudar a fazer investimento financeiro. Foi a primeira vez que comecei a fazer poupança na minha vida.

    Um homem de bem, que repetia, à exaustão, aspas: "O bem sempre vence o mal. O mal vence por alguns minutos, por algum tempo, mas o bem sempre vence o mal, e não teríamos razão para viver, mesmo que esta vida termine no pó, se o mal vencesse o bem", fecho aspas. Que gênio, hein?

    O carinho maior de Silvio Santos sempre foi dirigido ao que chamava de colegas de trabalho: as mulheres de seu auditório. Nunca, gente, houve uma explicação oficial para a exclusividade feminina, mas, nos bastidores, dizia-se que as mulheres interagiam mais que os homens, animavam mais o programa, com palmas, gritos e cantorias. Eram bem tratadas, recebiam maquiagem e passavam por cabeleireiro. Silvio ainda fazia questão de promover um esquenta, antes do início das gravações – algo que nunca vi um comunicador fazer –, período em que conversava ele com o público feminino, contava piadas e criava o clima de alegria que sempre marcou a sua presença diante das câmeras de TV.

    Pode-se dizer que Silvio Santos criou a alegria do domingo em família. É uma das razões pelas quais jamais será esquecido. Poderemos homenageá-lo, sempre, levando a sério os versos da música que ele e colegas de trabalho entoavam, com entusiasmo – parece que o Senador Izalci chegou também –, aspas: "Do mundo, não se leva nada. Vamos sorrir e cantar...", fecho aspas, música que ele deve estar cantando, em outra dimensão, com os amigos e fãs que se foram antes e, certamente, o receberam, com alegria, entoando o refrão: "Silvio Santos vem aí!"

    Silvio Santos vem aí...

    Descanse em paz, Silvio. Obrigado por tudo o que você fez pelo Brasil, o apresentador que, ao longo de mais de seis décadas, representou tudo! Obrigado, Silvio, por fazer, na minha vida, que me transformasse em um comunicador nacional. Fiz programas com Helô Pinheiro, Wilton Franco, Jô Soares, Hebe Camargo e tantos outros. Aprendi tudo e o pouco que pedi a Deus recebi em dobro, graças a Silvio Santos, o patrão que melhor me remunerou.

    Fecho, porque muita gente não sabe, e Boni foi muito honesto, neste final de semana, ao declarar que, quando o Silvio Santos, Paulo Paim, comprava o horário de domingo na Rede Globo, que você, certamente, no Rio Grande do Sul, assistia com sua família, e ele, na Rede Globo, campeão de audiência, e a Globo vivia dificuldade financeira até para pagar a folha de pagamento, Sabrina, minha companheira e Secretária-Geral da Mesa, eficiente e incomparável, companheira nossa, Silvio emprestava dinheiro para o Dr. Roberto Marinho pagar a folha de pagamento.

    Esse foi o Silvio Santos que, para mim, definitivamente, não morreu. E eu cumpri aqui, embora no começo não tenha aguentado, mas segurei, porque foi ele que me ensinou: "Kajuru, não chore no ar. Quando você estiver se comunicando com o Brasil inteiro, Kajuru, não chore, se mantenha firme!".

    Silvio, eu dei conta de fazer este pronunciamento histórico no Congresso Nacional tendo a honra de presidir hoje esta sessão, escolhido pelo Presidente Rodrigo Pacheco, por você, Silvio.

    Com a palavra – vejo-o já de pé – o meu querido amigo Izalci Lucas, com sua família.

    Tenho certeza de que, nesse final de semana, você se lembrou e se emocionou com a ida de Silvio para o colo de Deus, onde o céu já está dizendo "Silvio Santos vem aí!"

    Izalci Lucas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2024 - Página 15