Pronunciamento de Jorge Kajuru em 21/08/2024
Discurso durante a 120ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Preocupação com a credibilidade do futebol brasileiro diante das denúncias veiculadas pelo jornal Folha de S. Paulo de que o Ministério Público de São Paulo (MPSP) investiga lavagem de dinheiro da organização criminosa PCC com a negociação de jogadores de futebol da elite.
- Autor
- Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
- Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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Desporto e Lazer,
Direito Penal e Penitenciário:
- Preocupação com a credibilidade do futebol brasileiro diante das denúncias veiculadas pelo jornal Folha de S. Paulo de que o Ministério Público de São Paulo (MPSP) investiga lavagem de dinheiro da organização criminosa PCC com a negociação de jogadores de futebol da elite.
- Publicação
- Publicação no DSF de 22/08/2024 - Página 26
- Assuntos
- Política Social > Desporto e Lazer
- Jurídico > Direito Penal e Penitenciário
- Indexação
-
- PREOCUPAÇÃO, CONFIANÇA, PESSOAS, FUTEBOL, BRASIL, MOTIVO, DENUNCIA, PUBLICAÇÃO, FOLHA DE S.PAULO, INVESTIGAÇÃO, MINISTERIO PUBLICO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), LAVAGEM DE DINHEIRO, ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA, VINCULAÇÃO, NEGOCIAÇÃO, COMPRA E VENDA, ATLETA PROFISSIONAL, CLUBE.
O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO. Para discursar.) – Inicialmente, é um privilégio subir à tribuna tendo um homem público, exímio Parlamentar, raríssimo ser humano e oftalmo, que, aliás, cuida de minha visão como se eu fosse um irmão... Muito obrigado de coração, Presidente Hiran Gonçalves.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Hiran. Bloco Parlamentar Aliança/PP - RR) – Obrigado.
O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Brasileiras e brasileiros, minhas únicas vossas excelências, Senador Cleitinho, você me acompanhava desde menino pela televisão, e aqui também, nesses meus cinco anos e meio de mandato, antes de você chegar com toda a justiça e com toda a sua votação e popularidade insofismável.
Eu tenho alguns orgulhos nesta Casa. Amin, nossa reserva moral, sabe e se lembra, porque mesmo sendo Vice-Líder do Governo Lula e Líder do Vice-Presidente Alckmin, eu nunca abri mão da minha isenção. Na CPMI de 8 de Janeiro, eu fui o único da base do Governo que não concordou com o relatório, que culpava Jair Bolsonaro como responsável pelo 8 de janeiro. Eu votei contra o relatório, porque, para mim, ele não teve culpa nenhuma, ele não sabia, assim como, também para mim, Lula não sabia. Para mim, a culpa maior foi do Governador do Distrito Federal, Ibaneis.
Também fui o único da base do Governo a não concordar com o pedido de quebra de sigilo bancário e telefônico da ex-Primeira-Dama Michelle Bolsonaro. Eu creio que seja impossível, na interpretação de qualquer cidadão brasileiro minimamente sensato, dizer que não sou isento.
Mais do que isso, Cleitinho, o que me desanima é que eu fiquei sozinho aqui, sabe em quê? Ao liderar, Presidente Hiran, a abertura de uma CPI do Judiciário, que era chamada de Toga. Eu não consegui as 27 assinaturas. Eu fiquei sozinho aqui, falando como um bobo, como um tolo.
Depois pedi o impeachment do Ministro Gilmar Mendes. Também não consegui as assinaturas.
Depois, o pedido de impeachment, feito por mim, de Alexandre de Moraes, na época, com mais motivações do que agora, tanto que consegui, na época – você falou em 1 milhão –, em dois dias, com Caio Coppolla, 3 milhões de assinaturas. Sabe quantos assinaram comigo? Dois Senadores.
E os bolsonaristas, que não concordavam comigo na época, hoje se arrependem. O próprio Flávio, que eu tanto admiro, Bolsonaro, já reconheceu para mim: "Nós erramos, Kajuru. Naquela época, a gente não poderia ter deixado você sozinho".
Porque eu fiquei sozinho, tomei processo, perdi indenizações caríssimas, que, para pagá-las, quem me emprestou dinheiro, não tenho nenhuma vergonha de falar isso, foi o Senador Oriovisto Guimarães e também o Senador Eduardo Girão, para eu pagar as indenizações caríssimas, porque eu sofri na pele.
Então, isso é o que me desanima, porque se lá na época, aqui esta Casa tivesse me acompanhado, nada disso hoje estaria sendo discutido. Infelizmente eu tenho que fazer esse registro.
Agora, na tribuna hoje, mais uma vez, brasileiras e brasileiros, minhas únicas vossas excelências, eu quero falar de questões relacionadas ao futebol. E eu sei que você gosta de futebol, Cleitinho, e o Hiran também e os demais Senadores presentes... Atrás de você, desculpe, eu não consigo enxergar. Tem um Senador também, não tem? Quem é? (Pausa.)
Ah, o suplente da Daniella, de Sergipe? Abraço, querido, não o conheci pessoalmente ainda.
Mas aqui todos são apaixonados pelo futebol. Gente, a credibilidade do futebol, nós temos então, por ela, a obrigação de preservar.
Como Vice-Presidente da Comissão de Esporte do Senado e Presidente da CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, não poderia ignorar – não sei quem leu hoje no UOL, da Folha de S.Paulo – a notícia divulgada de que o Ministério Público de São Paulo investiga lavagem de dinheiro da organização criminosa PCC com a negociação de jogadores de futebol da elite – da Série A, não é B e nem C – com empresas e empresários. Um empresário, inclusive, já fez a delação.
A investigação é consequência de uma delação premiada que o Ministério Público firmou com um corretor de imóveis e foi homologada pela Justiça de São Paulo. O referido cidadão teria entregado aos promotores contratos, comprovantes de pagamento e prints de conversas no WhatsApp que indicam uma suposta participação do Primeiro Comando da Capital, São Paulo, na contratação de jogadores.
A principal suspeita dos promotores é de lavagem de dinheiro do tráfico na aquisição dos atletas por meio de empresas agenciadoras de jogadores de futebol. Não há, entretanto, indícios de que os jogadores tenham conhecimento da origem do dinheiro.
Ainda faltam muitos detalhes, mas virão, e a investigação em si é mais uma triste história envolvendo o nosso futebol, que, desde o início do ano passado, vem registrando denúncias de fraudes em jogos por causa de apostas esportivas, com atletas deliberadamente provocando expulsões, fazendo pênaltis, marcando gols contra.
O escândalo da manipulação de jogos e apostas esportivas está sendo apurado aqui no Senado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito da qual tenho a honra de ser o Presidente, tendo como Relator o meu irmão, desde 1989, Romário de Souza Faria, com participação ativa de Eduardo Girão, de Carlos Portinho e outros.
Sobre a suposta participação do PCC na compra de jogadores para lavar dinheiro, como jornalista que sou, faço questão de dar crédito ao colunista Josmar Jozino, do site de notícias UOL, que fez a primeira divulgação na segunda-feira. O jornal Folha de S.Paulo, do qual fui colunista por quatro anos, correu atrás e, hoje, publicou ampla reportagem sobre o assunto.
O corretor de imóveis que fez a delação premiada, Antônio Vinícius Lopes, admitiu também a participação em esquema de lavagem de dinheiro do PCC na compra de imóveis em São Paulo. Quanto às empresas agenciadoras de futebol comandadas por gente ligada ao primeiro comando da capital, elas teriam negociado jogadores de dois grandes times paulistas. Sabem quais? O Corinthians e o São Paulo.
Na delação, foi citado o nome de Danilo Lima de Oliveira, que há dois anos já vem sendo investigado pela polícia por possível vínculo com o PCC. Sem figurar como sócio, ele teria participação na empresa UJ Football Talent, que agencia jogadores de futebol.
Procurada pela imprensa, a empresa UJ Football negou qualquer vínculo com Danilo Lima e garantiu que opera no futebol de forma transparente e ética – mentira óbvia –, seguindo todas as normais legais, segundo quem recebeu a denúncia.
O São Paulo informou que não vai comentar o assunto. O Corinthians divulgou nota manifestando surpresa com a notícia da possibilidade de atletas, supostamente agenciados por integrantes do crime organizado, terem formalizado contratos com o clube. O time ainda manifestou a disposição de contribuir com as investigações.
O ex-Presidente corintiano, Duílio Monteiro Alves, cujo nome foi citado em uma das gravações de posse do Ministério Público, declarou, abro aspas: "Nunca tive qualquer contato pessoal ou profissional com a pessoa mencionada na investigação", fecho aspas. Mentiu também.
Não quero prejulgar, mas apenas torço para que os promotores levem a fundo o trabalho que iniciaram. Como integrante da Comissão de Esporte – e Vice-Presidente dela – e ainda da Comissão de Segurança Pública, também como Vice-Presidente, deste Senado vou acompanhar de perto as investigações do Ministério Público paulista.
Enfim, para concluir, Presidente Hiran, eu já passei por tudo nos 50 anos de carreira que completei anteontem. Farei uma festa no próximo 9 de setembro e todos e todas aqui serão convidados. São 50 anos de carreira nacional. Eu enfrentei PCC, Comando Vermelho, em rede nacional de televisão – o Cleitinho deve se lembrar –, eu, o Datena. Nunca tivemos medo. E muito mais aqui, como Parlamentar que sou hoje, não posso ter medo, irmão querido, Senador André Amaral, também preocupado com a minha visão.
Eu preciso da visão. Mas, mais do que da visão, eu preciso de independência, de caráter e da colaboração dos senhores. Acredito na honradez de cada um dos que estão aqui no Plenário para que a gente não permita que PCC, que Comando Vermelho se envolvam com a maior paixão do mundo...
(Soa a campainha.)
O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – ... chamada futebol. Agora, não é mais de Série D de dado, agora estão falando – e estamos aqui com provas, com delação premiada – de times do tamanho de Corinthians e São Paulo.
Agradecidíssimo.