Pronunciamento de Teresa Leitão em 03/09/2024
Discurso durante a 129ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem ao artista José Francisco Borges, conhecido artisticamente como J. Borges, e pesar pelo seu falecimento.
- Autor
- Teresa Leitão (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
- Nome completo: Maria Teresa Leitão de Melo
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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Homenagem:
- Homenagem ao artista José Francisco Borges, conhecido artisticamente como J. Borges, e pesar pelo seu falecimento.
- Publicação
- Publicação no DSF de 04/09/2024 - Página 41
- Assunto
- Honorífico > Homenagem
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, ARTISTA, POETA, BEZERROS (PE).
A SRA. TERESA LEITÃO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Para discursar.) – Muito obrigada, Sr. Presidente.
Saúdo V. Exa., os demais Senadores aqui presentes no Plenário, todos aqueles que nos acompanham.
A sessão está muito animada, muito profunda, com muitos pronunciamentos fortes. De alguns eu assino embaixo; outros contesto veementemente, mas nem vou rebatê-los, neste momento não me compete, até porque eu tenho uma dívida de registro, Senador Cleitinho.
Durante o recesso, e depois 15 dias da minha licença médica – eu evidentemente me afastei deste Plenário. Retorno agora e quero fazer um registro, um registro de homenagem e um registro de saudade, bem diferente dos assuntos aqui tratados.
Eu quero homenagear um dos maiores artistas pernambucanos dos nossos tempos. Nascido no ano de 1935, no Município de Bezerros, no Agreste de Pernambuco, J. Borges foi um mestre da arte popular brasileira e levou nossa cultura, o imaginário nordestino e nossa brasilidade para o mundo. Não seria exagero dizer que se trata do mais famoso artista popular brasileiro. Seu falecimento, ocorrido no dia 26 de julho de 2024, aos 88 anos, deixou uma enorme saudade, que somente será compensada pelo seu legado irreparável.
A literatura de cordel era como uma canção de ninar para ele, que certa vez disse: "O cordel nasceu em mim quando criança. Eu me divertia muito ouvindo o meu pai lendo os folhetos que ele trazia da feira. A imaginação da gente corria solta".
Autodidata, José Francisco Borges foi um multiartista: pintor, cordelista, poeta, xilogravurista. Ele começou a fazer xilogravuras para ilustrar seus cordéis. Foi nessa arte que ele ficou mundialmente conhecido mundialmente. Elas chamaram atenção de outros cordelistas, que passaram a encomendar-lhe trabalhos, fazendo com que seu nome ganhasse notoriedade. Foram os desenhos, com entalhes em madeiras como o louro-canela e a imburana – suas preferidas – e as pinturas que fizeram com que seu trabalho fosse merecidamente reconhecido.
Em suas obras, J. Borges explora um universo de muito pertencimento para o povo brasileiro, especialmente o do Nordeste e o de Pernambuco. É a história da nossa gente e sua resiliência, ilustrados, talhados e coloridos sob o sol do Sertão. Asa Branca, Mulheres do Sertão, Os Retirantes, Coração de Mãe e A Vida na Floresta são algumas das suas obras que ilustram o que está ao nosso redor e o também o fabuloso em forma de arte popular.
J. Borges recebeu prêmios na 5ª Bienal Internacional Salvador Valero Trujillo, na Venezuela; a medalha de honra ao mérito da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife; a medalha de honra ao mérito cultural, do Palácio do Planalto; e o Prêmio Unesco. Em 2006, tornou-se Patrimônio Vivo de Pernambuco.
Ele fez também exposições em Cuba; na Holanda; no Museu de Arte Popular, do Novo México, e no Museu de Arte Moderna, de Nova York, e na biblioteca do Congresso norte-americano, nos Estados Unidos; no Museu do Louvre, em Paris, na França; na Alemanha, na Suíça, na Itália e na Venezuela. Além disso, ilustrou capas de livros de escritores como José Saramago, Eduardo Galeano e Miguel de Cervantes e foi fonte de inspiração para documentários e para o desfile da escola de samba Acadêmicos da Rocinha, em 2018.
Ariano Suassuna – outro pernambucano adotado, porque era natural da Paraíba – foi um dos seus grandes incentivadores.
Pelas mãos do Presidente Lula e da Primeira-Dama Janja, sua arte chegou até o Papa Francisco, no Vaticano. Gigantes que, reconhecidos na história de seu povo e orgulhosos dela, atestaram a genialidade de J. Borges presenteando o Papa Francisco com a xilogravura da Sagrada Família.
O traço firme, certeiro e nordestino de J. Borges permanecerá a guardar emblematicamente as coisas do coração, do Sertão e do Nordeste em todos nós.
Registro, mesmo que tardiamente, na tribuna desta Casa, toda minha solidariedade aos amigos e à sua família, que estiveram ao seu lado em seu ateliê, unidos em vida e arte.
J. Borges, presente!