Discurso durante a 133ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Insatisfação pela colocação do Estado do Pará na 13ª edição do Ranking de Competitividade dos Estados Brasileiros. Críticas aos atrasos na construção de trechos do sistema hidroviário Araguaia-Tocantins. Comentários acerca das desafiadoras condições de saúde, habitação e saneamento público na cidade de Belém-PA, divulgadas pela Folha de S. Paulo.

Autor
Zequinha Marinho (PODEMOS - Podemos/PA)
Nome completo: José da Cruz Marinho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Desenvolvimento Regional, Transporte Hidroviário:
  • Insatisfação pela colocação do Estado do Pará na 13ª edição do Ranking de Competitividade dos Estados Brasileiros. Críticas aos atrasos na construção de trechos do sistema hidroviário Araguaia-Tocantins. Comentários acerca das desafiadoras condições de saúde, habitação e saneamento público na cidade de Belém-PA, divulgadas pela Folha de S. Paulo.
Publicação
Publicação no DSF de 11/09/2024 - Página 60
Assuntos
Economia e Desenvolvimento > Desenvolvimento Regional
Infraestrutura > Viação e Transportes > Transporte Hidroviário
Indexação
  • CRITICA, MINISTERIO PUBLICO FEDERAL, IMPETRAÇÃO, CANCELAMENTO, PROCESSO JUDICIAL, LICENÇA AMBIENTAL, OBRA PUBLICA, EXPANSÃO, UTILIZAÇÃO, HIDROVIA TOCANTINS-ARAGUAIA.
  • COMENTARIO, PRECARIEDADE, INFRAESTRUTURA, SANEAMENTO BASICO, RODOVIA, DISPONIBILIDADE, VOO, CUSTO, ENERGIA ELETRICA, BELEM (PA), ESTADO DO PARA (PA), IMPRENSA, FOLHA DE S.PAULO.

    O SR. ZEQUINHA MARINHO (Bloco Parlamentar Independência/PODEMOS - PA. Para discursar.) – Muito obrigado, Presidente.

    Volto à tribuna para fazer uma reflexão sobre a questão da infraestrutura hidroviária no Brasil, levando em consideração que, no final de agosto passado, foi lançada a 13ª edição do Ranking de Competitividade dos Estados Brasileiros. Como de costume, foram avaliados 11 pilares estratégicos.

    Lamentavelmente, na área de infraestrutura, o meu Estado do Pará ocupa a pior colocação entre as unidades da Federação.

    Curiosamente, na semana atrasada, estávamos debatendo, na Comissão de Meio Ambiente, a construção da Hidrovia Araguaia-Tocantins, na verdade, do trecho de Tocantins, entre Marabá e a Hidrelétrica do Tucuruí.

    Ao longo das últimas cinco décadas, o sistema hidroviário Araguaia-Tocantins passou pelas mãos de 11 Presidentes da República e 27 ministros de transportes e, até o momento, continua sendo uma incógnita.

    Lamentavelmente, no último dia 19, o Ministério Público Federal entrou na Justiça para que a licença da obra que viabiliza a Hidrovia Araguaia-Tocantins, derrocagem do Pedral do Lourenço, fosse cancelada. Além de cancelar a licença, o Ministério Público pede à Justiça que impeça o Ibama de emitir novas licenças. É inacreditável! Nem a ONG mais radical a serviço de interesses internacionais talvez não fizesse isso, mas o Ministério Público brasileiro faz isso! É de preocupar, porque eu não sei a serviço de quem ou de qual sociedade esse órgão público está, neste momento, trabalhando.

    A licença do Ibama para o derrocamento do Pedral do Lourenço, obra fundamental para dar navegabilidade em todo o percurso da hidrovia, foi concedida em 2022, após um longo período para se superarem entraves, sobretudo ambientais.

    Para se ter uma ideia da magnitude e da importância dessa obra na vida dos brasileiros, gostaria de lembrar aqui que a hidrovia é composta por quatro bacias hidrográficas: Araguaia, Marajó, Pará e Tocantins. Essas bacias fazem parte do território do meu Estado do Pará, de Mato Grosso, de Tocantins, de Maranhão e de Goiás, além de uma pequena porção aqui no Distrito Federal. No entanto, apenas quatro trechos da hidrovia são usados para a navegação, o que representa 1,5 mil quilômetros navegáveis. Com o derrocamento do Pedral do Lourenço, esse trecho poderia praticamente dobrar e integrar essa hidrovia à do Rio Amazonas.

    De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), o Brasil conta com aproximadamente 63 mil quilômetros de rios com potencial de navegação; no entanto, apenas 30% são aproveitados para essa finalidade. O transporte hidroviário no Brasil é utilizado comercialmente para o transporte de cargas e de passageiros. E apenas 19,5 mil quilômetros, algo em torno de 30%, 30,9% da malha, são potencialmente utilizáveis. Você tem um universo tão grande que pode mexer com a logística do Brasil, com um modal mais barato, e não usa um terço disso em função de tantos entraves e de tanta luta ideológica ligada à questão ambiental, em que se ouvem as piores declarações, desprovidas de conhecimento científico e de tudo quanto se possa imaginar em termos de inteligência.

    Lamentavelmente, o meu Estado do Pará sofre mais fortemente a ineficiência do setor público quando o assunto é infraestrutura. Além dos problemas ligados ao aproveitamento correto dos rios da região, o Pará sofre também com o custo da energia elétrica e dos combustíveis, a disponibilidade de voos, a qualidade das rodovias e com o custo do saneamento básico. Tudo isso compõe o pilar da infraestrutura do Ranking de Competitividade dos Estados brasileiros. E é por isso que nós somos exatamente o último: o 27º.

    Inclusive, sobre o saneamento, nestes dias, a Folha de S.Paulo trouxe uma matéria com o seguinte título: "Belém, capital da COP30, tem baixos índices de coleta de esgoto, crise do lixo e ocupação desordenada". É patético isso e é verdade também. O jornal destaca – a Folha de S.Paulo destaca – a informação de que apenas 2,38% da população de Belém têm acesso ao serviço de tratamento de esgoto – 2,38%, não chega a 2,5%, meu Senador Amin. Não é fácil uma população daquela, tão carente, estar o tempo todo mergulhada dentro das piores condições de se viver, com o IDH lá embaixo, em que se vê, pela maneira de viver, de morar, de sobreviver, de comer, tudo isso.

    Além de submeter a população à contaminação de doenças, como cólera, hepatite A, leptospirose, a falta de saneamento básico tem provocado um problema que precisa ser debatido nessa COP 30: esse problema que nós chamamos de "o lixo nos oceanos". De acordo com um estudo do Blue Keepers, projeto ligado ao Pacto Global da Organização das Nações Unidas, 80% do lixo marinho têm origem na terra, chegando aos oceanos por meio dos cursos d'água, isto é, dos seus rios, o que indica uma necessidade de melhores gestões dos recursos hídricos e dos resíduos sólidos.

    Será muito curioso ver, na COP 30, as ONGs ambientalistas defenderem a necessidade de obras de infraestrutura para o desenvolvimento deste país. Estou aguardando isso com muita curiosidade.

    É fundamental que a gente perceba isso tudo aqui. País nenhum se desenvolve, país nenhum muda a condição de vida do seu povo sem investimento em infraestrutura. Isso é fundamental. E se enxerga a Amazônia para tudo, para reclamar de tudo, para criminalizar tudo, para se fazer tudo de negativo, mas não se enxerga a Amazônia para fazer os investimentos que precisam ser feitos para se corrigir tudo isso aqui e dar um mínimo de condição de competitividade, em relação aos outros estados, para os estados que ali estão.

    O Pará é o maior estado em extensão territorial útil, porque o Amazonas é o maior em extensão total, mas não é como o Pará, que tem terra e condições de se morar, se produzir e se trabalhar. Então, o Pará é, sem dúvida, o principal estado, mas é também o estado com menos investimentos e é hoje o 27º, quando você o bota no ranking e o coloca na lista de comparação entre os demais estados brasileiros. Ele; perde, inclusive, para os outros estados da nossa Região Norte e de toda a Amazônia.

(Soa a campainha.)

    O SR. ZEQUINHA MARINHO (Bloco Parlamentar Independência/PODEMOS - PA) – Muito obrigado, Presidente.

    Era esse o registro que eu gostaria de fazer na tarde deste dia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/09/2024 - Página 60