Pronunciamento de Marcelo Castro em 08/10/2024
Discurso durante a 140ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Esclarecimento sobre o voto contrário de S.Exa. à aprovação da indicação do Sr. Gabriel Galípolo à Presidência do Banco Central. Críticas à suposta política do Banco Central de favorecer o lucro de banqueiros em detrimento da população.
- Autor
- Marcelo Castro (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
- Nome completo: Marcelo Costa e Castro
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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Agentes Públicos,
Sistema Financeiro Nacional:
- Esclarecimento sobre o voto contrário de S.Exa. à aprovação da indicação do Sr. Gabriel Galípolo à Presidência do Banco Central. Críticas à suposta política do Banco Central de favorecer o lucro de banqueiros em detrimento da população.
- Publicação
- Publicação no DSF de 09/10/2024 - Página 45
- Assuntos
- Administração Pública > Agentes Públicos
- Economia e Desenvolvimento > Sistema Financeiro Nacional
- Indexação
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- VOTO, REJEIÇÃO, INDICAÇÃO, Gabriel Galípolo, CARGO PUBLICO, PRESIDENCIA, PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL, EXCESSO, JUROS, LUCRO, FAVORECIMENTO, BANCOS, BANQUEIRO.
O SR. MARCELO CASTRO (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - PI. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, eu tenho uma implicação, já de alguns anos, com essa questão do Banco Central com relação ao juro do cheque especial, do cartão de crédito e com as taxas compulsórias que os bancos cobram.
Já fiz várias observações com todos os diretores que passaram aqui por esta Casa – não é de agora, é de muitos anos – e nenhum deles, até hoje, conseguiu me dar uma explicação satisfatória.
Uma vez era para nós sabatinarmos um diretor do Banco Central – eu não sei de que área, não lembro mais – e, quando eu me dirigia para a Comissão, eu passei no caixa eletrônico do Banco do Brasil e imprimi o meu saldo, passei na Caixa Econômica, imprimi também o meu saldo, e, sabatinando o diretor, eu mostrei para ele os juros do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, bancos públicos, com juro de trezentos e tantos por cento ao ano. Estava escrito lá, no impresso que o próprio banco me mostrou.
Eu disse: "V. Sa. acha isso razoável? Que uma pessoa venha a pagar trezentos e tantos por cento de juro ao ano?". "Não, mas é porque não sei o quê lá..." Eu digo: Cite-me um país no mundo em que se paga, em qualquer banco – não só nos bancos oficiais – um valor de juro igual a esse?". E nenhum, até agora, deu-me uma reposta satisfatória.
Eu mostrei a esse mesmo Diretor do Banco Central – ao pretenso Diretor do Banco Central que nós aprovamos à época – um trabalho, feito pelo Deputado Federal do Piauí Júlio César, mostrando essas taxas que os bancos cobram compulsoriamente dos clientes. Senador Fernando Farias, só com as taxas que os bancos brasileiros cobram dos seus clientes, se os bancos não emprestassem nem um centavo do seu dinheiro, dos seus recursos, já estariam lucrando. Eu perguntei, inclusive, ao Campos Neto, quando esteve numa audiência pública aqui neste Senado: "Presidente Campos Neto, me diga aí, qual é o país do mundo que tem um exemplo desse de que se o banco ficar parado, não emprestar um centavo do seu dinheiro, quando chegar ao final do ano, já está lucrando por causa das taxas de serviço que os bancos cobram?" Então, são duas coisas com as quais eu tenho uma implicação muito grande. Não vem de hoje, estou citando vários casos.
No Governo Michel Temer, Governo do MDB, nós tivemos uma reunião com o Ministro da Economia, o Meirelles, e eu fiz exatamente essa pergunta a ele: qual a explicação que se dava para manter juros tão elevado desse daí? Eu perguntei ao Ministro Meirelles: "Ministro, o Brasil é um país – eu tenho mais de um exemplo – de pessoas que estão devendo ao banco, cheque especial, que estão tomaram dinheiro emprestado a um agiota para pagar o banco, porque o juro do agiota é mais barato do que o juro do banco oficial". Isso é uma coisa verdadeiramente extraordinária e que nós não podemos aceitar.
O pretenso Presidente do Banco Central, indicado pelo Presidente Lula, o nosso Galípolo, esteve no meu gabinete, com toda a gentileza, muito educado, muito distinto, e eu fiz essas mesmas perguntas que eu venho fazendo há muito tempo a todos os diretores e presidentes do Banco Central e acho que ele não deu uma resposta satisfatória.
Como é que eu percebo a filosofia, a inteligência, não vou chegar a dizer a ideologia do Banco Central? O Banco Central, na verdade, é composto pelo Presidente e pelos diretores, e ele tem uma filosofia de favorecer os banqueiros em detrimento da sociedade brasileira. É assim que eu vejo a filosofia que rege o Banco Central. O Galípolo chegou lá, com outros indicados pelo Lula, votando diferente. Tinha uma divisão. Já se rendeu à filosofia do Banco Central, já estão votando por unanimidade. E o que é que nós podemos esperar dessa diretoria e dessa Presidência? É que o Banco Central continue tal e qual vem sendo há muitos e muitos anos, eu diria até que há décadas, ou seja, o Banco Central tem uma filosofia de agir em favor dos banqueiros do Brasil em detrimento da sociedade brasileira.
Eu me recordo de um pronunciamento que fiz aqui no Senado quando estávamos em plena pandemia, com as empresas indo à falência, as pessoas desempregadas, os pais, as mães de família aflitos, recebendo auxílio emergencial, o lucro da Petrobras de R$150 bilhões e o lucro dos bancos uma coisa exorbitante. À época eu disse: "O Brasil é hoje o país da Petrobras e o país dos banqueiros e o resto da sociedade brasileira vive a servir a esses dois senhores".
Então, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, com toda a humildade, não sou economista, não sou estudioso da área, mas nunca encontrei uma resposta satisfatória para os juros exorbitantes que o Brasil tem, não encontrei uma resposta satisfatória para essas taxas abusivas que os bancos no Brasil cobram e por isso eu tenho o compromisso comigo mesmo, como representante e defensor da sociedade brasileira, de não votar em nenhum diretor, em nenhum Presidente de Banco Central enquanto eles não corrigirem esses dois problemas graves da sociedade brasileira.
Por isso, quero aqui declarar o meu voto, já realizado, porque votei contra esse, votei contra os do passado e votarei contra os do futuro – não quero saber quem é – enquanto eles não resolverem esses dois problemas graves e mudarem a filosofia do Banco Central de, ao invés de trabalharem para meia dúzia de banqueiros, realmente trabalharem em favor da sociedade brasileira.
Enquanto isso não acontecer, eu continuarei votando contra.
E esse é o meu pronunciamento.
Muito agradecido a todos.
E assim encerro.