Discurso durante a 145ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Discurso de encerramento do período de suplência de S. Exa.

Autor
Flavio Azevedo (PL - Partido Liberal/RN)
Nome completo: Flávio José Cavalcanti de Azevedo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Atividade Política:
  • Discurso de encerramento do período de suplência de S. Exa.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/2024 - Página 58
Assunto
Outros > Atividade Política
Indexação
  • DISCURSO, ENCERRAMENTO, SUPLENCIA, SENADOR.

    O SR. FLAVIO AZEVEDO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RN. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, hoje é meu último dia nesta Casa, que eu tive a honra de ocupar, em substituição ao Senador Rogerio Marinho, um dos políticos, na minha opinião, mais brilhantes deste país, mais competentes; e eu tive a honra de ocupar o seu lugar durante os últimos quatro meses.

    Eu não podia deixar esta Casa sem fazer um pequeno pronunciamento, para dizer, primeiro, da minha gratidão; minha gratidão a alguns dos colegas, alguns Senadores que aqui me receberam de forma fraternal, o que me causou enorme emoção, porque eu nunca fui político; eu nunca assumi nenhum cargo no Legislativo e já comecei no cargo de Senador da República, você imagine.

    Então, entrei aqui intimidado – confesso –, Senador Presidente Beto Martins. Na primeira vez em que eu entrei aqui neste Plenário, eu tomei um susto, sentei-me naquela cadeira e fiquei, durante uma semana, calado, porque eu fiquei – lhe confesso – intimidado, vendo aquelas pessoas que eu via pela televisão, que eu ouvia através do rádio, e dizia: "Puxa, eu estou aqui ao vivo e de corpo presente".

    Mas, ao mesmo tempo em que me senti honrado, eu também confesso que às vezes me bateu – eu não digo tristeza, mas – uma espécie de uma melancolia em ver, ouvir e sentir que as coisas não andavam na ordem constitucional e na ordem que a democracia prevê para a relação interpoderes.

    Eu confesso que permaneci aqui com essa decepção, em homenagem ao meu querido amigo Rogerio Marinho, ao respeito que eu tenho ao Senador Rogerio Marinho, porque, talvez, se não fosse isso, eu tivesse ido embora antes, porque presenciei coisas que revoltaram a minha formação democrática, principalmente porque eu não tinha experiência política.

    E, com permissão dos demais Senadores, eu gostaria de citar aqui... Eu recebi incentivos, conversando aqui. As pessoas diziam: "Não, Flávio, que isso! Paciência...". Eu queria citá-los como as pessoas que aqui me receberam carinhosamente. E, mais uma vez, digo, com a permissão dos demais Senadores, que não posso deixar de citar o Senador Esperidião Amin, a Senadora Tereza Cristina, a Senadora Rosana Martinelli, a Senadora... (Pausa.)

    Eu perdi aqui o rumo.

    Bom, também tenho que citar o Senador Eduardo Gomes, que, num gesto surpreendente, colocou-me, inclusive, à disposição um imóvel sem que eu pagasse aluguel. Colocou assim: "Não, você é um colega. Está aqui um imóvel", e eu recebi essa gentileza, durante quatro meses, do Senador Eduardo Gomes.

    Tenho que citar, também, o Senador Hamilton Mourão, o Senador Izalci Lucas, o Senador Laércio Oliveira, o Senador Marcos Pontes. A eles, meu muito obrigado pelo carinho recebido.

    Mas eu queria finalizar – não posso deixar de fazer isso – tentando transmitir o porquê da minha decepção. Eu sou engenheiro de formação, eu tenho muito pouca formação humanística, mas fiz política estudantil, e, para a gente discutir com o diretório da faculdade de direito, a gente tinha que ter um pouco de tintura humanística pelo menos. E uma das coisas que eu discuti naquela época... A década de 60 era uma época politicamente muito tomada, o país dominado por militares.

    Mas, de todos os filósofos, eu aprendi a admirar, acima de todos, Aristóteles. E um dos princípios aristotélicos é de que a democracia e a justiça são virtudes – virtudes, inerentes ao ser humano –, principalmente porque, quando a justiça é aplicada, ela é aplicada para terceiros, deixa de fora o autor da aplicação. Então, quem aplica a justiça não está se vendo, está tendo de ser justo com terceiros. Esse é um dos princípios da filosofia aristotélica de justiça.

    Quando a gente olha a imagem da Justiça que está em frente ao Supremo – a Justiça está com uma venda –, aquilo não é que a Justiça seja cega; pelo contrário, a Justiça tem aquela venda, a imagem da deusa Têmis, porque ela aplica a Justiça sem ver a quem. Ela não distingue pessoas, então não é porque seja cega. A espada que ela impõe é a espada que representa a defesa dos direitos democráticos.

    Então, dentro desse contexto, eu saio daqui triste, mas esperançoso de que um dia esse país volte a tomar os rumos da democracia; de que os Poderes sejam interdependentes, mas não dependentes um do outro; de que os Poderes sejam respeitados; de que os componentes dos Poderes sejam respeitados e admirados; de que a Casa do Povo, que representa o povo, a Câmara dos Deputados, quando faz um documento com 172 ou 142 assinaturas, aquilo seja uma manifestação do povo. O Senado é a manifestação da instituição, do país.

    Desse modo, Presidente, eu faço um apelo para que este documento, que está sob a análise da Procuradoria geral do Senado – acho que o termo é esse –, a pedido, encaminhado pelo Presidente, chegue aqui, entendendo que aquilo não é mais um pedido de impeachment dos vários que já foram arquivados. Aquele está assinado pelos representantes do povo, e não me parece correto que o nosso Presidente Pacheco, que é a pessoa inclusive que nós elegemos, que foi eleito para nos proteger e proteger a imagem do Senado, coloque mais uma vez isso na vala comum do arquivamento. Alguns pedidos de impeachment foram absolutamente irresponsáveis e mereceram o destino que tiveram, mas esse, não.

    Nós, nós não queremos votar impeachment. Nós, Senadores, queremos apenas uma coisa: que os motivos alegados pelos Deputados, que representam o povo, sejam analisados pelo Plenário, e não apenas por um procurador.

    Eu tenho a convicção de que somos minoria, mas eu queria ter o direito...

(Soa a campainha.)

    O SR. FLAVIO AZEVEDO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RN) – ... de expressar a minha opinião sobre aquele documento. Eu queria ter o direito de colocar a minha digital e responder, perante a história, ao povo do meu estado, aos meus amigos. Eu não digo nem ao povo, porque eu não pretendo continuar na carreira política que eu mal iniciei, mas eu queria que meus amigos, que aquelas pessoas... Há 78 anos que moro ali, há 52 que sou empresário. Eu tenho o direito de que eles saibam a minha opinião qual é.

    E daríamos a opinião sobre o conteúdo do pedido de impeachment. Em função dessa opinião, que eu tenho certeza de que será minoria, o Presidente Rodrigo Pacheco tomaria a atitude que lhe conviesse, não é?

    Então, nessa minha despedida fica a minha emoção, o meu agradecimento, mas fica também o meu apelo para que este Plenário...

(Soa a campainha.)

    O SR. FLAVIO AZEVEDO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RN) – ... seja respeitado pelo seu Presidente, que tem a obrigação de respeitar 140 ou 170 representantes do povo que deram entrada num documento aqui nesta Casa.

    Aqui não se trata... Não estou fazendo nenhum apelo instigador de demandas e de troca de ódio entre Poderes. Pelo contrário, eu estou querendo que os Poderes se respeitem.

    Dito isto, mais uma vez, eu agradeço. Esta Casa, eu saio dela maior. Aqui eu aprendi muita coisa. Aqui eu aprendi uma coisa que se chama tolerância. Nas Comissões, nos trabalhos das Comissões... Hoje ocorreu uma CCJ, foi hoje uma sessão muito bonita...

(Soa a campainha.)

    O SR. FLAVIO AZEVEDO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RN) – ... com pessoas com opiniões diferentes, trocando essas opiniões de forma respeitosa e chegando a um lugar comum.

    Então, eu saio daqui maior, entendendo melhor o nosso país e, sobretudo, desejando, ao meu caro e prezado amigo Rogerio Marinho, que a sua volta seja profícua e que ele dê – continue dando, como já vem dando – parte de sua vida e do seu trabalho em prol da nossa nação.

    Muito obrigado a todos e, principalmente, ao Presidente, que teve a paciência de me ouvir esse tempo todo. O meu muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/2024 - Página 58