Pronunciamento de Plínio Valério em 30/10/2024
Discurso durante a 151ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Críticas ao Governo Federal pelo suposto tratamento desigual no enfrentamento da estiagem na Amazônia em comparação com o financiamento estatal nas enchentes no Rio Grande do Sul.
- Autor
- Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
- Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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Agropecuária e Abastecimento { Agricultura , Pecuária , Aquicultura , Pesca },
Desenvolvimento Regional,
Meio Ambiente,
Orçamento Público,
Política Social:
- Críticas ao Governo Federal pelo suposto tratamento desigual no enfrentamento da estiagem na Amazônia em comparação com o financiamento estatal nas enchentes no Rio Grande do Sul.
- Publicação
- Publicação no DSF de 31/10/2024 - Página 24
- Assuntos
- Economia e Desenvolvimento > Agropecuária e Abastecimento { Agricultura , Pecuária , Aquicultura , Pesca }
- Economia e Desenvolvimento > Desenvolvimento Regional
- Meio Ambiente
- Orçamento Público
- Política Social
- Indexação
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- CRITICA, GOVERNO FEDERAL, DESTINAÇÃO, AUXILIO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), REGIÃO AMAZONICA, COMPARAÇÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), CALAMIDADE PUBLICA, MUDANÇA CLIMATICA, REPUDIO, ECOLOGISTA, OBSTACULO, CULTIVO, AGRICULTURA, SUSTENTABILIDADE, TECNOLOGIA, EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUARIA (EMBRAPA), QUESTIONAMENTO, AUSENCIA, PROGRAMA.
O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Independência/PSDB - AM. Para discursar.) – Obrigado, Presidente.
Sras. Senadoras, Srs. Senadores, brasileiros e brasileiras que estão assistindo à TV Senado, o que vou dizer aqui – e preciso tentar ser claro e pedir compreensão – não é um protesto de quem se sente discriminado; é uma contestação, é uma afirmação do tratamento diferenciado pelo qual passamos nós, sofremos nós há décadas, do Amazonas e da Amazônia.
A Presidente do TSE, ela mesma, tentando explicar os motivos da abstenção, falou que no Amazonas, no interior, a estiagem, a seca provocada deixou os rios intransitáveis, isolou-nos ainda mais e elevou o grau de abstenção. Eu até concordei porque é no interior. Na capital não teve esse problema, mas, no interior, sim. A seca que nos atingiu, a estiagem que nos atingiu, prevista por mim aqui desta tribuna – e não é nenhum mérito porque todo ano tem isso... Quando aconteceu aquela desgraça em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, nós, em nome do Amazonas, fomos solidários; achamos que o Rio Grande do Sul merece toda a atenção e muito mais até. A gente vive no isolamento terrestre. Enquanto a Sra. Marina Silva dominar, controlar, a serviço de governos estrangeiros, a política ambiental brasileira, nós vamos continuar isolados. A seca veio, deixou os rios secos, a estiagem veio, e ficamos mais isolados ainda. E eu não falo só do ir e vir, do passear, do poder se deslocar. Ficamos sem medicamento – não totalmente, porque a BR-319 continuou sendo trafegável – e abastecimento de alimentos. Não colapsamos, mas ficou mais patente do que nunca, até, se é possível, do que na covid, quando ficou claro o quanto a estrada é importante para nós: muitos mortos, e ainda contamos os ossos dos nossos mortos, vítimas da covid, porque não tinha oxigênio, porque não tinha estrada para ligar.
Mas o que eu quero aqui é fazer uma comparação com o terrível drama recentemente sofrido pelos nossos irmãos gaúchos – tremendo drama merece toda a atenção e muito mais – com aquela inundação que não ocorria há décadas. Problema da água lá, seca cá. Daqui, desta mesma tribuna, Senador Wilder Morais, eu alertei para o problema que nós enfrentaríamos. Acredito, como acreditava, que o problema viria e que nós não teríamos a atenção necessária.
Falo de todos os ministérios, falo de quem deve dar atenção e peço para que vocês façam uma comparação. Não que o Rio Grande do Sul não mereça, merece muito mais, não se trata disso, entendemos que precisa, mas entendam que nós também.
O Governo anunciou, Senador Girão, não sei se mandou o dinheiro, aportou, mas anunciou, para socorrer o Rio Grande do Sul, um aporte de R$98,7 bilhões – R$98,7 bilhões, repito. Como o PT mente muito, como faz muita ficela, não sei se esse dinheiro foi, mas anunciaram, e provavelmente foi menos do que seria necessário para o nosso irmão gaúcho. No entanto, a seca na Região Norte, com danos comparáveis ao do nosso irmão gaúcho, deverá receber – note-se aqui, o que o Governo Federal anunciou – R$514 milhões. O problema com a água lá, R$98,7 bilhões; problema com a seca cá, R$514 milhões – corresponde a 192 vezes o total gasto no Sul.
Esse dinheiro destinado – é à Amazônia, não é só ao Amazonas – costuma ser associado aos incêndios, desprezando outras consequências bárbaras da seca, como é sempre associado aos traumas ocorridos no Pantanal. Aí o Governo anunciou também, para socorrer o Pantanal, R$938 milhões; passa alguma coisa de R$1 bilhão, muito longe dos R$98 bilhões.
Observe que nada afeta a solidariedade que tenho pelo nosso irmão gaúcho, pelo Rio Grande do Sul, tão brasileiro quanto nós. O que eu desejo é justiça; o que a gente busca aqui é justiça. Que os problemas, que as pragas que atinjam a Amazônia, recebam também a correta atenção do Governo Federal.
Nesse ponto, eu gostaria de perguntar aqui: qual ou quais os motivos pelos quais o Amazonas ficou de fora dessas doações, principalmente de semente de arroz, que agora o Governo anuncia que o Ministério da Agricultura vai distribuir no Sul?
Nosso estado é isolado, vivendo todo o drama do isolamento e, ainda por cima, temos que enfrentar os ambientalistas que travam o cultivo e impõem as zonas econômicas exclusivas, ou seja, não se pode plantar. Crueldade com o nosso amazônida, sim! Crueldade. É uma injustiça o que se faz.
Essa diferença entre essas duas regiões que sofrem terríveis problemas climáticos deixa a nu e cru como se dá o tratamento a uma região e à outra. E há uma pergunta embutida nesse processo: o que falta para o Amazonas receber uma ação desse tipo?
Estamos no estado, Senador Girão, com 65% da população vivendo abaixo da linha da pobreza e não podemos plantar. E o Governo não vê a necessidade de doar sementes de arroz como faz para o Sul.
Aqui não se trata de um Senador amazonense questionando o Sul, um embate; não é nada disso. Nossos irmãos merecem até muito mais no Sul, mas nós também merecemos atenção. O que a gente quer é tratamento igualitário. Por isso que eu afirmei aqui nesses seis anos, sei lá, cem vezes, que eu não estou aqui pedindo favor nenhum. Eu vim, como Senador da República, pedir justiça para o meu estado.
E tudo isso ocorre quando a Embrapa dispõe, Senador Nelsinho, de tecnologia apta para produzir arroz em várias regiões no Amazonas aptas a receber esse plantio. Tem o órgão técnico, o Idam, que sabe o que fazer, mas o Ministério da Agricultura não está nem aí com a sua representação, que é a Conab.
A produção de alimentos dá independência, dá dignidade, garante a segurança alimentar e nutricional do nosso povo, que foi uma das maiores vítimas da pandemia por questões nutricionais.
A Embrapa, a quem eu mando todos os anos uma pequena ajuda com emendas parlamentares, já tem tecnologia na prateleira para cultivar alimentos básicos como arroz, feijão, milho, entre outros, em perfeita harmonia, como querem os ambientalistas falsos mundo afora. Ignorar a ciência da Embrapa é levar a segurança alimentar do Amazonas, e nós precisamos realmente disso.
Portanto, de tudo o que disse e de tudo o que ainda direi, porque tenho que continuar... Enquanto continuar esse tratamento discriminatório, injusto, a gente vai estar aqui para falar assim. No começo... Você que está assistindo agora, isso aqui não se trata de um amazonense reclamando contra um sulista. Não! É sobre o tratamento diferenciado do Governo Federal: R$98 bilhões para aquela desgraça no Sul e R$514 milhões para a desgraça no Amazonas.
Mas o Amazonas vai continuar, independente do Presidente de plantão. Os Governos passam, as autoridades passam, o Governo fica e o povo fica sempre! O Governo passa, a autoridade passa, mas o Governo fica. E o povo fica porque o povo é soberano; a ele compete a última palavra. E nós, amazonenses, somos, acima de tudo, resistentes. Resistência é o que não nos falta.
Eu agradeço mais uma vez a Deus por ter essa oportunidade, da tribuna do Senado Federal da República do Brasil, de poder mostrar essa discriminação que existe e que vai continuar por algum tempo. Até quando não sei, mas até onde eu vou lutar eu sei: até o último dia da minha vida, porque, se tiver que optar entre a República, entre o Sul, o Sudeste e o Amazonas, a minha resposta é clara, eu fico com o Amazonas...
(Soa a campainha.)
O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Independência/PSDB - AM) – ... porque por eles, sempre por eles, eu estou aqui a defender o Amazonas desta tribuna.
Obrigado, Presidente.