Discurso durante a 159ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Repúdio ao ataque contra o STF, no dia 13 de novembro de 2024, e à sua possível relação com a disseminação dos discursos de ódio pelo ex-Presidente da República Jair Bolsonaro e outras lideranças políticas do Brasil. Apoio à regulamentação das redes sociais e à responsabilização das empresas por divulgação de desinformação e discursos violentos. Manifestação contra a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, Segurança Digital:
  • Repúdio ao ataque contra o STF, no dia 13 de novembro de 2024, e à sua possível relação com a disseminação dos discursos de ódio pelo ex-Presidente da República Jair Bolsonaro e outras lideranças políticas do Brasil. Apoio à regulamentação das redes sociais e à responsabilização das empresas por divulgação de desinformação e discursos violentos. Manifestação contra a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.
Publicação
Publicação no DSF de 19/11/2024 - Página 58
Assuntos
Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Defesa do Estado e das Instituições Democráticas
Economia e Desenvolvimento > Ciência, Tecnologia e Informática > Segurança Digital
Indexação
  • IMPUTAÇÃO, JAIR MESSIAS BOLSONARO, RESPONSABILIDADE, ATENTADO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), DISCURSO DE ODIO, MIDIA SOCIAL, NECESSIDADE, REGULAMENTAÇÃO, EMPRESA, TECNOLOGIA DIGITAL, DIVULGAÇÃO, NOTICIA FALSA, PRESERVAÇÃO, DEMOCRACIA, CRITICA, POSSIBILIDADE, ANISTIA, REU, DEPREDAÇÃO, PATRIMONIO PUBLICO, SEDE, LEGISLATIVO, EXECUTIVO, JUDICIARIO, JANEIRO.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, eu quero abordar aqui, no dia de hoje, o atentado ocorrido contra o Supremo Tribunal Federal na última quarta-feira, aqui na Praça dos Três Poderes, e que nos alerta sobre o quanto é fundamental seguirmos vigilantes em defesa da democracia brasileira.

    O ato terrorista, diferentemente do que alguns têm defendido, não foi uma ação isolada. Ele é fruto, resultado do discurso de ódio e da violência política que vimos emergir nos últimos anos. É resultado também de uma ação sistemática de grupos radicais da extrema direita que se conectam e se reforçam por meio das redes sociais.

    Essa ação reforça a necessidade da retomada do debate sobre a regulamentação das redes sociais e a responsabilização das empresas de tecnologia pela disseminação de tanta desinformação e discursos violentos.

    Os ataques contra a democracia e as nossas instituições não vêm de agora; são a consequência direta das falas beligerantes, mentirosas, irresponsáveis e criminosas do próprio ex-Presidente da República Jair Bolsonaro e de lideranças ligadas a ele.

    Antes mesmo de ser eleito, Bolsonaro falava em "fuzilar a petralhada" e atacava minorias. No cargo, ele fez todo tipo de ataque contra o STF, a nossa democracia e o sistema eleitoral. Chegou a defender, num ato na Avenida Paulista, o descumprimento de decisões judiciais, e atacou reiteradas vezes o Ministro do Supremo Alexandre de Moraes.

    Esta não foi a primeira vez em que grupos ligados ao ex-Presidente tentaram ferir de morte a nossa democracia. No dia da diplomação do Presidente Lula, houve uma tentativa de invasão à sede da Polícia Federal, e vários carros e ônibus foram incendiados naquela ocasião. Na véspera do Natal de 2022, mais uma ação violenta: no Aeroporto Internacional de Brasília, uma bomba foi acoplada a um caminhão-tanque abastecido com querosene de aviação. A tragédia só não foi gigante por conta da ação do motorista e de uma falha na detonação do explosivo. Posteriormente, vieram os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro, que resultaram num ataque ao Supremo, ao Congresso e à Presidência. Mais de 40 policiais foram feridos naquela ação terrorista.

    Mesmo negando as suas digitais em todos os crimes, o ex-Presidente tem as mãos sujas de sangue. Já existem provas fartas de que ele conspirou contra a democracia e de que suas graves ações implicaram uma onda de ódio e violência pelo país. Absolutamente todos os episódios que relato aqui foram promovidos por admiradores do ex-Presidente. O mais recente, realizado por Francisco Wanderley Luiz, também o foi: ele não só era filiado ao PL como foi candidato a Vereador pela legenda e fazia postagens com ameaças terroristas em suas redes sociais. Em todas as falas aos jornais, familiares e amigos dele relataram como o extremismo político transformou um homem que era considerado pacato e cordial em um homem-bomba. Antes, além de tentar explodir o STF, ele também deixou artefatos explosivos armados na residência que alugou e em que planejou o atentado em Brasília.

    O ódio e a mentira representam os principais combustíveis da violência, cujas consequências se perpetuam em um círculo vicioso de ainda mais violência.

    Neste domingo, mais uma tragédia: a casa do homem-bomba foi queimada. Sua ex-esposa foi encontrada no local com o corpo gravemente queimado, e ela é a principal suspeita dessa ação – talvez um ato de suicídio.

    A seriedade dos ataques evidencia que a tentativa de deslegitimar a democracia e suas instituições persiste e que é preciso dar um basta nessa onda de intolerância gerada pela violência política e pela desinformação.

    A responsabilização dos criminosos é o caminho natural para isso. Há muita gente que ainda precisa ser responsabilizada por atentar contra a democracia.

    A própria Polícia Federal está investigando se este cidadão tragicamente morto recebeu apoio, ajuda ou contou com a colaboração de outros atores para perpetrar esse ato terrorista.

    Por isso é que os que hoje pregam a anistia a esses terroristas do 8 de janeiro são os mesmos que morrem de medo de terem os seus crimes revelados e de serem responsabilizados.

    A história já mostrou as consequências de um país que não pune os seus algozes. Debater anistia é dar uma mensagem direta aos criminosos, uma vez que a impunidade funciona como principal catalisadora da violência, do ódio e da intolerância.

    Além do mais, quando se concede uma anistia porque, em algum momento, se estabeleceu um conflito amplo e um questionamento às normas, às leis, às instituições, ao sistema político, se supõe que quem foi anistiado, primeiro, foi condenado; e, segundo, com a anistia, passa a aceitar as regras do jogo e a organização do sistema que ora existe.

    Qual a garantia de que aqueles que têm atacado a democracia vão passar a reconhecê-la, a reconhecer as leis, a autonomia entre os Poderes e a democracia no nosso país?

    A falta de responsabilização dos crimes é a incubadora de um ambiente propício para que episódios tão graves como esse...

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – ... um atentado à própria democracia, sigam se tornando cada vez mais frequentes.

    Por isso, e mais do que nunca, precisamos reforçar o grito que ecoa em todo o país: sem anistia para golpistas, sem anistia para quem ataca a democracia, punição para aqueles que querem destruir o Estado de direito que foi construindo no Brasil à base da luta, de muito sangue, inclusive daqueles que foram vítimas da ditadura militar.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/11/2024 - Página 58