Discurso durante a 167ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a importância do trabalho realizado por organizações de proteção dos animais, em especial durante as enchentes no Rio Grande do Sul, e necessidade da criação de políticas públicas que assegurem essas ações. Pesar pelo falecimento do escritor José Clemente Pozenato.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Calamidade Pública e Emergência Social, Homenagem:
  • Considerações sobre a importância do trabalho realizado por organizações de proteção dos animais, em especial durante as enchentes no Rio Grande do Sul, e necessidade da criação de políticas públicas que assegurem essas ações. Pesar pelo falecimento do escritor José Clemente Pozenato.
Publicação
Publicação no DSF de 27/11/2024 - Página 38
Assuntos
Política Social > Proteção Social > Calamidade Pública e Emergência Social
Honorífico > Homenagem
Indexação
  • DEFESA, MELHORIA, SISTEMA, OBTENÇÃO, DADOS, OBJETIVO, IMPLEMENTAÇÃO, POLITICA PUBLICA, PROTEÇÃO, ANIMAL, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG).

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) – Querido amigo e Presidente Veneziano Vital do Rêgo, sempre é uma satisfação usar a tribuna sob a orientação de V. Exa.

    Presidente, eu vou falar hoje de um tema diferente.

    Quando, infelizmente, das enchentes no Rio Grande do Sul, ao mesmo tempo em que vi o desespero das pessoas – e teve casos terríveis, muita gente faleceu –, eu também, na época, vinha à tribuna e falava do número de animais, principalmente de cachorros, pequenos ou grandes, e também, famoso em todo o Brasil, da situação de um cavalo que ficou no teto da casa.

    Mas, enfim, Presidente, quero abordar um tema que tem chamado muita atenção dos brasileiros e brasileiras, que é a causa animal, uma responsabilidade também de todos nós. Tenho acompanhado o trabalho incansável da sociedade civil, por meio de ONGs e voluntários, e quero registrar minha admiração por essa causa.

    Durante as enchentes no Rio Grande do Sul, mais de 19 mil animais foram resgatados por bombeiros, Forças Armadas, polícia civil, polícia militar e voluntários. Esses animais foram acolhidos em 493 abrigos, distribuídos por diversas cidades do Rio Grande. Esses dados, levantados por voluntários em contato direto com os abrigos, revelam a dimensão dessa questão. Hoje, muitos desses abrigos provisórios foram desativados. Grande parte dos animais encontrou seus tutores ou, pela grandeza do povo gaúcho, foi adotada, mas cerca de mil ainda aguardam adoção e estão provisoriamente nesses abrigos. Discutir a causa animal de forma estruturada e embasada é uma situação também urgente. Essa é uma questão não apenas de compaixão, mas também de saúde pública, equilíbrio ambiental e bem-estar social.

    Abro um parêntese, Presidente. Assisti hoje, por exemplo, num jornal que vai a todo o país, num jornal nacional, na TV, no Rio de Janeiro, a um cavalo sendo transportado – claro, totalmente irregular – em uma moto. Calculo o desespero do animal amarrado em cima de uma moto, e a moto, com o seu motoqueiro a dirigindo, batendo muitas vezes a cabeça do animal, ou a parte do rabo principalmente, em outros carros, em pleno trânsito da Baixada Fluminense. É uma tortura ao que ali eu assisti, em Nova Iguaçu e em Belford Roxo, ambos no Rio de Janeiro. É isso mesmo que vocês ouviram, uma cena triste e revoltante.

    Segundo informações da ONG Arcanimal, um dos maiores desafios enfrentados é a ausência de dados confiáveis, essenciais para a formulação de políticas públicas eficazes. Dados geram evidência, e são essas evidências que embasam ações e priorizações. Por isso, iniciativas que promovam a coleta e a análise de informações sobre a população animal e seus impactos nas comunidades são indispensáveis. É uma questão humanitária, Sr. Presidente. Muitos falam que a castração é um passo, mas muitas políticas precisam ser feitas para salvar os animais, não só os cachorros. Precisamos de estratégias amplas e integradas para enfrentar os desafios da superpopulação de animais e dos maus-tratos, sempre priorizando a prevenção em vez da remediação.

    Durante a Feira do Livro de Porto Alegre, fui abordado por jovens e me lembro da Karine e do Ale Beltrão, responsáveis pela ONG Arcanimal, criada durante as enchentes no Rio Grande do Sul. A entidade, na verdade, atua em todo o Brasil incentivando a adoção e promovendo a coleta de dados sobre os animais. Eles organizaram uma exposição de painéis de animais na feira com muita categoria, com muita qualidade e com muita visão humanitária.

    Quero parabenizar a Arcanimal e todas as ONGs e voluntários que se dedicam a essa causa. Saibam vocês que este Senador sempre teve um carinho e uma parceria com os animais, sejam pássaros, sejam animais selvagens, sejam cachorros. E mesmo eu admito que, na minha casa, tenho três cachorros adotados e valorizo profundamente essa relação de fidelidade e respeito do animal, no caso, comigo e com meus familiares.

    Essa minha fala foi inspirada por muitas histórias marcantes, como a do cavalo Caramelo, que ficou famoso durante as enchentes porque estava aguardando o resgate no telhado de uma casa, em Canoas, e foi resgatado e posteriormente adotado pela equipe do curso de veterinária da Ulbra, e está muito bem lá. Também me marcou o encontro espontâneo com os ativistas na feira do livro, Sr. Presidente, em especial a memória de diversos cães dos quais ali comentavam. Um deles era o cão Ghandi, que foi companheiro de muitos que estavam ali e muitas vezes esteve, inclusive com êxito da causa animal, no meu gabinete.

    Quero aqui deixar um abraço a todos aqueles que se dedicam à causa animal. Aqui em Brasília mesmo, nós temos grupos que dedicam parte do seu tempo livre para a causa animal. No Rio Grande do Sul, não é diferente. Agora mesmo eu vi, Sr. Presidente, na campanha para Vereador e Prefeito, o carinho que a população demonstrava àqueles Vereadores que se dedicavam à causa animal. Inclusive, um dos Vereadores em Canoas, o mais votado, foi exatamente um que se dedica, por sua visão consciente, à situação dos animais. Deixo aqui, então, muito carinho e atenção a essa situação.

    Sr. Presidente, rapidamente, neste minuto, se V. Exa. me permitir ainda, eu, ao mesmo tempo em que fiz esta fala desse trabalho belíssimo das ONGs e dos voluntários, quero também deixar registrado um voto de pesar pelo falecimento do escritor José Clemente Pozenato.

    Apresento o voto de pesar pelo falecimento do escritor José Clemente Pozenato, que faleceu na noite de segunda-feira, dia 25 de novembro de 2024, aos 86 anos, em Caxias do Sul – minha cidade natal – no Rio Grande do Sul.

    Pozenato foi o autor do consagrado livro O Quatrilho, lançado em 1985, que ganhou uma adaptação e se transformou em um belo filme em 1995, estrelado por Glória Pires, Patrícia Pillar, Alexandre Paternost e Bruno Campos. Filmado nas cidades de Farroupilha, Antônio Prado e Caxias do Sul, o filme foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1996.

    O romance alcançou repercussão nacional ao retratar a vida na Serra Gaúcha – a região onde eu nasci – durante os primeiros anos da imigração italiana, narrando a história de dois casais cujos destinos se cruzam de maneira surpreendente. O Quatrilho tornou-se um dos livros mais lidos e debatidos em palestras e salas de aula, em todo o Brasil, nos anos 90.

    Natural de São Francisco de Paula, na Serra Gaúcha, Pozenato...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... viveu a maior parte da sua vida em Caxias do Sul, onde atuou como professor da Universidade de Caxias do Sul. Em reconhecimento ao seu impacto cultural, foi agraciado com o título de Cidadão Caxiense 91, concedido pela Câmara de Vereadores. Nos anos 2000, Pozenato assumiu o cargo de Secretário de Cultura de Caxias do Sul, reafirmando o seu compromisso com a promoção das artes e da educação. Em setembro de 2022, recebeu a Medalha Simões Lopes Neto, uma das maiores honrarias culturais do Rio Grande do Sul, dedicada a personalidades que contribuem para a cultura e a educação do estado.

    Além de O Quatrilho, Pozenato escreveu outras obras marcantes, como O Caso do Martelo (1985), adaptado para a televisão...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... A Cocanha (2000); e A Babilônia (2005).

    Aqui eu termino, Sr. Presidente.

    Pozenato deixa um legado inestimável para a literatura brasileira e especialmente para a cultura da região em que eu nasci, repito, a Serra Gaúcha, sempre destacando as raízes moldadas pela imigração italiana. Ele deixa esposa, a Profa. Kenia Pozenato; as filhas Maria Helena Menegotto Pozenato e Heloísa Menegotto Pozenato; além de genros e netos. 

    Vida longa à obra do inesquecível José Clemente Pozenato!

    Muito obrigado, Presidente Senador Veneziano, pela tolerância.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/11/2024 - Página 38