Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca do Dia Nacional da Imigração Judaica, comemorado no dia 18 de março do presente mês e breve relato sobre a imigração judaica no país.

Autor
Jaques Wagner (PT - Partido dos Trabalhadores/BA)
Nome completo: Jaques Wagner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Atuação do Estado, Data Comemorativa, Direitos Humanos e Minorias, Homenagem, Política Social, Relações Internacionais:
  • Considerações acerca do Dia Nacional da Imigração Judaica, comemorado no dia 18 de março do presente mês e breve relato sobre a imigração judaica no país.
Publicação
Publicação no DSF de 19/03/2025 - Página 59
Assuntos
Outros > Atuação do Estado
Honorífico > Data Comemorativa
Política Social > Proteção Social > Direitos Humanos e Minorias
Honorífico > Homenagem
Política Social
Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Relações Internacionais
Indexação
  • CELEBRAÇÃO, DATA NACIONAL, IMIGRAÇÃO, POVO JUDEU, BRASIL, MOTIVO, FUGA, NAZISMO, ANTISSEMITISMO, EUROPA.
  • COMENTARIO, DESTAQUE, CONTRIBUIÇÃO, POVO JUDEU, BRASIL, PROMOÇÃO, PROJETO, AÇÃO COMUNITARIA, BENEFICIO, COMUNIDADE, INTEGRAÇÃO SOCIAL.
  • COMENTARIO, INAUGURAÇÃO, TEMPLO, JUDAISMO, RECIFE (PE), DESTAQUE, CONCENTRAÇÃO, POPULAÇÃO, POVO JUDEU, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • CRITICA, MANIFESTAÇÃO, DISCURSO DE ODIO, ANTISSEMITISMO, POSSE, DONALD TRUMP, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • CRITICA, CRESCIMENTO, ANTISSEMITISMO, AMBITO INTERNACIONAL, IMPORTANCIA, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO, CRENÇA RELIGIOSA, JUDAISMO.
  • DEFESA, LEGITIMIDADE, CRITICA, POLITICA, GOVERNO, ISRAEL, SIMULTANEIDADE, EXCLUSÃO, MANIFESTAÇÃO, DISCURSO DE ODIO, OPOSIÇÃO, JUDAISMO.

    O SR. JAQUES WAGNER (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - BA. Para discursar.) – Boa tarde, Presidente. Boa tarde, colegas Senadoras e Senadores.

    O que me traz hoje à tribuna é falar da data que marca a imigração judaica ao Brasil. O Brasil, desde o ano de 2009, por intermédio da iniciativa de lei do Deputado carioca Marcelo Itagiba, sancionada pelo Presidente interino na época, José Alencar, comemora oficialmente, em 18 de março, o Dia Nacional da Imigração Judaica, marcando nesse diploma legal a contribuição do povo judeu na formação da cultura e desenvolvimento do nosso país.

    Nessa caminhada histórica, que se inicia com a colonização portuguesa, temos que registrar a identidade judaica nos convertidos ao catolicismo, os chamados cristãos novos, em face da implacável Inquisição da época. Ao decidir ocupar o Brasil, transferindo a Corte dirigente e toda a Família Real de Portugal, judeus de origem marroquina se estabeleceram na Região Norte, criando as primeiras comunidades organizadas na Amazônia, antepassados, seguramente, do nosso atual Presidente Alcolumbre. Estou me referindo aos seus antecessores que chegaram de Marrocos para a região de onde V. Exa. partiu para honrar o povo judeu.

    Vale destacar, todavia, que, no final do século XIX e início do século XX, aparecem, de maneira mais organizada, movimentos imigratórios com maior intensidade em face do recrudescimento do antissemitismo na Europa, fato que gerou o empobrecimento das comunidades judaicas daquele continente. Os anos que precedem a Segunda Guerra Mundial presenciam um grande deslocamento de judeus da Europa para as Américas do Norte e do Sul, vindos sobretudo da Bélgica, da França e da Alemanha – quero registrar aqui, Presidente, que é a época em que meu pai e minha mãe vieram da Polônia. Não na mesma época, porque se conheceram na comunidade judaica do Rio de Janeiro, mas ambos vieram no pré-guerra, fugindo exatamente dos horrores do nazismo –, até a década de 50, quando se reinicia a hostilidade entre Israel e os países árabes, momento em que judeus do Oriente Médio procuram usar o Brasil como lugar seguro para tocarem suas vidas.

    Esse período marcante para a comunidade judaica não foi nada fácil. O desafio da língua, da integração à cultura local, a necessidade de manutenção das suas tradições culturais, sociais, religiosas, familiares e, ao mesmo tempo, integrar-se nas colônias agrícolas do sul do país, nos bairros das grandes cidades brasileiras foi um gigantesco desafio para a preservação da identidade judaica, que mantém, desde tempos imemoriais, a união desse povo singular, testado e submetido, ao longo da história humana, a amargas provações.

    Herdeiros diretos do princípio do tikkun olam, pensamos coletivamente no melhor da vida para todos, numa busca incessante de universalidade, deixando esses valores espalhados em cada lugar em que nos encontramos, cujo exemplo marcante presenciamos no Brasil, desde o acolhimento e integração, nos tempos do Brasil colônia, exercendo a identidade, adquirindo direitos civis e igualdade e, por tudo isso, assumindo responsabilidades com o nosso belíssimo país, construindo projetos comunitários, atendendo com devoção e muito entusiasmo à nossa sociedade brasileira.

    Essa data, Sr. Presidente, 18 de março, traz, portanto, essa significativa história da imigração judaica. O número 18, em hebraico, corresponde à palavra chai, que quer dizer vida. E, em 18 de março de 2002, foi reinaugurada em Recife a Sinagoga Kahal Zur Israel, a primeira das Américas. Eu tive o orgulho de estar presente ao lado do Presidente Lula, que esteve naquela reinauguração.

    É sempre bom realçar: o Brasil possui a segunda maior comunidade judaica da América Latina, atrás apenas da Argentina e à frente do México, com aproximadamente 120 mil judeus. Em todo o mundo, estamos em décimo primeiro lugar em comunidade judaica. Em São Paulo, temos a maior população, em torno de 70 mil; seguido do Rio de Janeiro, em torno de 30 mil. Nas Américas, o Brasil foi a primeira sede da comunidade judaica, afirmando alguns historiadores que a caravela portuguesa de Pedro Álvares Cabral, em 1500, trouxe o primeiro judeu ao Brasil, Gaspar da Gama, o língua, nome dado aos intérpretes das expedições dos descobridores.

    Quando comemoramos a chegada e a contribuição dos nossos irmãos imigrantes, não custa nada lembrar a revelação de alguns historiadores quando afirmam que foram os judeus que trouxeram as primeiras mudas de cana-de-açúcar da Ilha da Madeira e de São Tomé para o Brasil. Hoje temos o etanol brasileiro como forte fonte de combustível limpo, e esse nosso etanol, tão admirado em todo o mundo, tem origens nessas mudas de cana-de-açúcar que aqui chegaram pelas mãos desses bravos integrantes.

    Pouca gente sabe, Presidente, que inclusive foi quando terminou a dominação holandesa em nosso país e voltou a colonização portuguesa que muitos judeus que habitavam Recife, temerosos de uma inquisição no país, partiram daqui e foram parar em Nova York, onde contribuíram para edificar aquela grande cidade.

    Nessa quadra histórica em que verificamos um crescimento inexplicável de manifestações de ódio e antissemitismo, inclusive na posse do Presidente dos Estados Unidos da América, país que simboliza a democracia e a liberdade, com os tristes gestos nazistas de um membro do Governo eleito, somos chamados a repudiar essas manifestações, nunca esquecendo o passado de horror que foi o holocausto, presentemente banalizado.

    A crítica legítima ao atual Governo de Israel e à sua política externa não pode arrefecer a nossa luta contra o ódio ao judaísmo e aos judeus, resumo maior da pior de todas as intolerâncias que a história humana conheceu.

    Em meu nome e em nome da Liderança do Governo do Brasil, que represento, agradeço a atenção de todos os presentes, do Presidente Davi Alcolumbre, dos dirigentes da Conib e de todos que contribuíram para enaltecer o 18 de março no nosso país.

    Eu convido todos os colegas Senadores, quando tiverem a oportunidade, a uma exposição que foi aberta hoje, exatamente em comemoração ao 18 de março, a imigração judaica. Eu acho que é sempre interessante, porque nem todo mundo conhece a história completa e é bom que a conheçam.

    Então, Sr. Presidente, por acaso, nesta Casa nós somos a dupla judaica – V. Exa., na Presidência, e eu, na Liderança do Governo –, portanto essa afinação seguramente ajudará o Senado e o país a andar para frente.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/03/2025 - Página 59