Discurso durante a 14ª Sessão de Premiações e Condecorações, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a entrega do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, premiação que, instituída pela Resolução nº 2, de 2001, é destinada a agraciar pessoas que no país tenham oferecido contribuição relevante à defesa dos direitos da mulher e das questões de gênero.

Autor
Ivete da Silveira (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Ivete Marli Appel da Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Homenagem, Mulheres:
  • Sessão Especial destinada a entrega do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, premiação que, instituída pela Resolução nº 2, de 2001, é destinada a agraciar pessoas que no país tenham oferecido contribuição relevante à defesa dos direitos da mulher e das questões de gênero.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2025 - Página 30
Assuntos
Honorífico > Homenagem
Política Social > Proteção Social > Mulheres
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, ENTREGA, DIPLOMA, MULHER, CIDADÃO, BERTHA LUTZ, CONTRIBUIÇÃO, LUTA, DIREITO, MINISTERIO DAS MULHERES IGUALDADE RACIAL DA JUVENTUDE E DOS DIREITO HUMANOS, IGUALDADE, GENERO.

    A SRA. IVETE DA SILVEIRA (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - SC. Para discursar.) – Agora já é boa tarde? Boa tarde.

    A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF) – Já é tarde, já é boa tarde.

    A SRA. IVETE DA SILVEIRA (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - SC) – Na pessoa da nossa Líder, que está presidindo esta sessão solene, quero cumprimentar todas as colegas Senadoras da mesa e, em nome delas, todas as mulheres aqui presentes, os Srs. Senadores e os Srs. Deputados.

    E é com emoção profunda e respeito que participo desta cerimônia de entrega do Diploma Bertha Lutz, uma homenagem que reconhece mulheres cujas trajetórias marcaram a história do Brasil pela coragem, pela visão e pela luta em favor da igualdade.

    Indiquei, com muita honra, o nome de Antonieta de Barros, in memoriam, para ser agraciada com esta homenagem.

    Nascida em Florianópolis, no Estado de Santa Catarina – o único estado brasileiro com nome de mulher –, no início do século XX, Antonieta foi educadora, jornalista, escritora, Parlamentar e, acima de tudo, uma visionária. Em 1935, tornou-se a primeira mulher negra eleita Deputada no Brasil, um feito absolutamente extraordinário para o contexto da época e que ainda hoje nos convida à reflexão. Antonieta foi filha de uma ex-escrava, enfrentou o racismo e o preconceito com altivez e fez da palavra sua principal ferramenta de transformação. Fundou e dirigiu o jornal A Semana, em que escrevia sobre educação, política, cultura e direitos civis. Criou cursos voltados à alfabetização de adultos, especialmente mulheres e fez da educação a grande bandeira de sua vida pública.

    Antonieta de Barros foi fundamental para a história educacional e política brasileira, sendo uma expoente da luta por igualdade e justiça por meio da educação. Como ela mesma escreveu, "a grandeza da vida, a magnitude da vida gira em torno da educação".

    No Parlamento catarinense, teve atuação firme e sensível. É dela a iniciativa que criou o Dia do Professor, celebrado em 15 de outubro, data que permanece como um símbolo da valorização daqueles que, como ela, acreditam na educação como o caminho para a cidadania.

    A trajetória de Antonieta e a de Bertha Lutz, embora distintas, se tocam na essência. Ambas foram pioneiras, ambas compreenderam que a presença da mulher na vida pública não era apenas um direito, mas uma necessidade. Enquanto Bertha lutava pela conquista do voto e pela igualdade legal entre homens e mulheres, Antonieta abria caminhos concretos para que essa igualdade chegasse também às salas de aula, aos jornais e aos espaços de decisão política.

    Hoje, seu legado é mais atual do que nunca. Em um país onde o racismo estrutural ainda impõe limites e silenciosamente exclui, o exemplo de Antonieta ilumina. Sua vida nos ensina que representatividade importa, que políticas públicas transformam e que não há mudança real sem o protagonismo de quem conhece na pele as desigualdades que se quer vencer.

    Antonieta de Barros é símbolo de resistência, de inteligência e de serviço público. Sua inserção no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, sancionada em 2023, é o reconhecimento definitivo de que sua história ultrapassa o tempo e deve permanecer viva, ensinando, provocando e inspirando.

    Que cada menina, cada jovem estudante, cada mulher que sonha com um espaço de fala e de ação na sociedade olhe para Antonieta como um espelho e uma semente, uma mulher que ousou ocupar espaços que não lhe eram oferecidos e que, com isso, os abriu para tantas outras.

    Receber, ainda que simbolicamente, o Diploma Bertha Lutz é fazer justiça à grandeza dessa mulher.

    Que o Senado da República continue sendo também um lugar de memória e de afirmação daqueles e daquelas que edificaram um Brasil mais justo e plural.

    A todos o meu muito obrigada!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2025 - Página 30