Pronunciamento de Hamilton Mourão em 08/04/2025
Discurso durante a 20ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Reflexão sobre os impactos geopolíticos e comerciais decorrentes da nova postura do Governo dos Estados Unidos da América e sobre a política externa que o Brasil deveria adotar diante do atual cenário internacional
- Autor
- Hamilton Mourão (REPUBLICANOS - REPUBLICANOS/RS)
- Nome completo: Antonio Hamilton Martins Mourão
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
Agropecuária e Abastecimento { Agricultura , Pecuária , Aquicultura , Pesca },
Assuntos Internacionais,
Indústria, Comércio e Serviços:
- Reflexão sobre os impactos geopolíticos e comerciais decorrentes da nova postura do Governo dos Estados Unidos da América e sobre a política externa que o Brasil deveria adotar diante do atual cenário internacional
- Publicação
- Publicação no DSF de 09/04/2025 - Página 31
- Assuntos
- Economia e Desenvolvimento > Agropecuária e Abastecimento { Agricultura , Pecuária , Aquicultura , Pesca }
- Outros > Assuntos Internacionais
- Economia e Desenvolvimento > Indústria, Comércio e Serviços
- Indexação
-
- REGISTRO, EFEITO, NATUREZA COMERCIAL, PROTECIONISMO, PRESIDENTE, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), DONALD TRUMP, TARIFA DAS ALFANDEGAS, COMPARAÇÃO, ORDEM ECONOMICA, SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, COMENTARIO, RISCOS, AGRONEGOCIO, ENFASE, CAFE, LARANJA, DESTAQUE, ASCENSÃO, ASIA, POLITICA INDUSTRIAL, DEFESA, ATUAÇÃO, BRASIL, INTERESSE, DESVINCULAÇÃO, CHINA.
O SR. HAMILTON MOURÃO (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - RS. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, amigas e amigos de todo o Brasil, em particular do nosso Rio Grande do Sul, que nos acompanham por meio dos diversos meios de comunicação, venho hoje a esta tribuna para comentar os últimos acontecimentos de alcance mundial e que, desde a semana passada, têm colocado todos os países do mundo numa situação de desequilíbrio.
Lembro que 80 anos são passados desde que o maior conflito que a humanidade enfrentou, que foi a Segunda Guerra Mundial, chegou ao seu término. E, naquele momento, acordos econômicos foram consumados e foram muito importantes para que uma nova ordem econômica mundial ocorresse. Nasceram ali instituições como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, o Gatt, que hoje é a OMC, e podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que a era que nós vivemos até a semana passada foi uma era de comércio exterior tremendamente livre e inclusivo, construída sobre um sistema baseado em regras e que teve os Estados Unidos da América como seu grande construtor. Os Estados Unidos sempre tiveram como marca uma diplomacia baseada numa tríade: democracia, comércio internacional e, obviamente, direito internacional. Um regime legal, um regime de leis.
Mas, semana passada, esse sistema foi praticamente implodido, quando o Presidente Donald Trump lançou uma série massiva de tarifas alfandegárias, as quais atingiram praticamente todos os países do mundo. De certa forma, o anúncio não foi uma surpresa, pois, a partir de sua posse, os analistas econômicos não duvidavam de que barreiras tarifárias ocorreriam. Contudo, a escala e o escopo das mesmas só fizeram confirmar os piores temores. Com uma única penada, Washington restringiu severamente o comércio internacional. O objetivo declarado da agenda protecionista de Trump é favorecer e priorizar a economia doméstica dos Estados Unidos, limitando a concorrência estrangeira. Foi por isso que ele afirmou ser preciso aumentar as taxas de importação de produtos estrangeiros, incentivando a indústria americana.
Mas será que é só isso, Kajuru? Ao redor do mundo, diversos países reagiram ao anúncio de Trump prometendo retaliações. China retaliou, hoje os Estados Unidos "re-retaliaram", vamos dizer assim, com novas tarifas e orientando suas empresas a suspender investimentos naquele país.
Hoje os mercados estão numa total situação de incerteza, temos uma escalada do dólar, temos queda das bolsas de valores e há um pânico, porque não resta dúvida que uma guerra comercial generalizada está aberta. Mas aí eu pergunto: a quem interessa essa incerteza? A gente não pode ser ingênuo aqui. Em que medida essa virada de mesa foi feita para se poder negociar em melhores condições para os Estados Unidos e criar lá uma causa de união nacional do tipo "nós contra eles que querem nos esmagar"?
A pergunta que nós, brasileiras e brasileiros, precisamos fazer hoje é: o que está por trás do objetivo declarado de Trump e em que medida nós podemos ser beneficiados ou prejudicados? Lembro que os Estados Unidos são o terceiro principal destino de nossos produtos agropecuários, atrás apenas da China e União Europeia.
O Brasil ficou no grupo da taxação mínima de 10% imposta pelo Governo Trump. Apesar de estar longe das tarifas levantadas para outros países, com algumas chegando a 50%, a CNA avalia que nós poderemos sofrer impactos considerados críticos ou altos em produtos do agronegócio, principalmente naqueles em que o Brasil é o maior fornecedor ao mercado americano. Cito aqui o café verde e o suco de laranja. Assim, é lógico inferir que precisamos buscar entender e avaliar os riscos e impactos para o agro brasileiro, atuando para obtermos uma situação de vantagem comparativa.
Lembro também que a Ásia, nos últimos 30 anos, 20 anos, foi muito eficiente em desenhar políticas para desenvolver a indústria dela. Os Governos do Vietnã, Malásia, Tailândia, Indonésia, Taiwan, China e até mesmo a Índia têm conseguido desenhar políticas de inovação e industriais com subsídios ao desenvolvimento tecnológico. Hoje, a Ásia deve ter quase 25% do mercado mundial de carros, para não falar da China, citando aqui uma das empresas dela que está verdadeiramente matando a Tesla nos mercados mundiais. Nós, brasileiros, precisamos pensar de forma pragmática e decidir como vamos nos inserir nessa nova realidade. É uma conversa que empresários, Governo e nós aqui do Legislativo, Senador Oriovisto, não podemos mais adiar.
É certo que a medida do Governo dos Estados Unidos de impor tarifas a todos os parceiros comerciais representa uma tentativa da maior potência do planeta de retomar a posição que a indústria deles já teve, além de tentar combater os déficits comerciais de bens que somam cerca de US$1 trilhão ao ano, mas será que as tarifas sozinhas podem efetivamente reverter a perda de competitividade da economia estadunidense, em especial para a Ásia? Será que as tarifas poderão reverter-se para baixar o custo de produção nos Estados Unidos, que hoje é de cinco a meia dúzia de vezes maior do que na Ásia?
É hora, senhoras e senhores, de estarmos juntos, pensando tão somente no bem e nos interesses legítimos do Brasil. Ovacionar cegamente o Tio Sam é fechar os olhos para a realidade mundial e para a necessidade de o Brasil poder negociar com o mundo todo na defesa dos nossos interesses legítimos. Também não é só uma questão de economia, Senador Izalci. A questão é muito maior e envolve interesses geopolíticos e o uso da estratégia indireta para alcançar objetivos nacionais dos Estados Unidos da América.
Por mais que pareça estar equivocado na forma aguda de agir, Trump sabe exatamente como caminhar e aonde quer chegar, tendo a perfeita noção de que a China segue no seu encalço e não vai parar. Temos que perceber essa realidade, suas diversas facetas e atuar com prudência e assertividade na marcação de posições que são, repito, do nosso interesse.
Vivemos hoje o momento do choque inicial e a acomodação. Vai haver um rearranjo de forças face a essa situação. E o Brasil não tem que ter nem lado A nem lado B, porque, em verdade, Senador Plínio, não nos serve nem o antiamericanismo infantil – não vou dizer de quem – nem a bajulação – também não vou dizer de quem.
O que nos serve é: buscarmos os nossos interesses e lembrarmos sempre, Senador Sergio Moro, que entre nações não existe amizade, existem os interesses, que ora coincidem, ora não.
É isso, Presidente.