Pronunciamento de Randolfe Rodrigues em 24/04/2025
Pela Liderança durante a 25ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal
Homenagem ao Papa Francisco, com destaque para seu legado humanitário, compromisso com a justiça social, promoção da paz e preservação ambiental.
- Autor
- Randolfe Rodrigues (PT - Partido dos Trabalhadores/AP)
- Nome completo: Randolph Frederich Rodrigues Alves
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Pela Liderança
- Resumo por assunto
-
Homenagem,
Religião:
- Homenagem ao Papa Francisco, com destaque para seu legado humanitário, compromisso com a justiça social, promoção da paz e preservação ambiental.
- Publicação
- Publicação no DSF de 25/04/2025 - Página 18
- Assuntos
- Honorífico > Homenagem
- Outros > Religião
- Indexação
-
- VOTO DE PESAR, MORTE, PAPA FRANCISCO, IGREJA CATOLICA, ELOGIO, HOMENAGEM POSTUMA, DEFESA, MINORIA, IMIGRANTE, JUSTIÇA SOCIAL, PAZ, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - AP. Pela Liderança.) – Obrigado, Senador Styvenson Valentim, no exercício da Presidência desta Casa, pela concessão dos cinco minutos para aqui me pronunciar pela Liderança do Governo, para fazer um registro que considero que é mais do que necessário pela semana que vivemos.
Amanhã, Senador Styvenson, aliás, hoje à noite, o Senhor Presidente da República, acompanhado do Presidente da nossa Casa, Presidente Davi Alcolumbre, e do Presidente da Câmara dos Deputados, se deslocará até Roma para participar da última despedida ao Papa Francisco, para participar das exéquias do Papa Francisco.
Eu uso a tribuna para fazer o registro do que significa Francisco e me ancoro num texto que vi de Jorge Miklos para referenciar o que não só para os católicos... Católico, Presidente Styvenson, é universal. É este o sentido da Igreja assentado sobre a pedra de Pedro: Católica Apostólica Romana. É católica, porque é universal, é de todos. É apostólica, porque são de todos aqueles que seguem o apóstolo Pedro, apóstolo primeiro de Cristo, sobre o qual Cristo teria dito: "Pedro, tu és pedra, e sobre tua pedra erguerei a minha Igreja". É romana, porque é uma Igreja que foi erguida sobre o túmulo de Pedro. Esta Igreja Católica Apostólica Romana, que tem mais de 2 mil anos, eu não tenho dúvida de dizer que teve um breve papado, de 12 anos, do maior Papa da história.
Quem vai fisicamente é o Francisco, é o Jorge Bergoglio. É o primeiro dos Papas que carrega no nome o legado do povoado de Assis, recuperando e sendo coerente ao que disse, aconselhado por D. Cláudio Hummes, seu amigo brasileiro, cumprindo o que disse: "Não se esqueça dos pobres". Nenhum Papa foi tão identificado com os pobres e com a vocação da Igreja quanto Francisco foi.
Francisco, no gesto, se concretizou como sopro do Evangelho vivo. Não foi um pontífice dos altares dourados, mas das encruzilhadas do mundo. Em Francisco, o púlpito se fez chão. Nele, a doutrina fria se ajoelhou ao sofrimento humano.
A morte de Francisco, Sr. Presidente, colegas Senadores, demais convidados, é uma perda imensa para os católicos, mas é uma perda imensa para a humanidade. Francisco foi uma voz dissonante num mundo saturado de cinismo. Convocou, em momento de conflito global, a Igreja a se despir de seus ornamentos e a se reencontrar com os pobres, com os refugiados, com os esquecidos.
Quando condenavam os imigrantes, Francisco proclamou que ele foi o primeiro dos migrantes e que Cristo mesmo foi um imigrante em sofrimento.
Ele foi além da comunhão, preocupado com a questão de uma das maiores obras divinas, o planeta Terra e o equilíbrio ambiental, propôs em uma encíclica, a Laudato Si', a preservação da Terra inteira. Fez, assim, um gesto místico-revolucionário, no qual a espiritualidade e a ecologia se abraçaram. Ali, Francisco não apenas denunciou a devastação ambiental e a lógica do descarte, como também propôs um novo olhar para a ecologia como espaço integral, incluindo o homem.
Francisco falou como profeta, com a delicadeza de um pastor...
(Soa a campainha.)
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - AP) – ... e a firmeza de quem sabe que cuidar da criação como um ato de fé. Sua voz ecoou entre cientistas e teólogos, entre indígenas e operários, entre jovens e velhos camponeses. Em Laudato Si’, por exemplo, Francisco devolveu à Igreja sua dimensão cósmica, reconciliando a Igreja com a política. E, por falar em política, recupera, assim, Francisco, o sentido dos quatro Evangelhos. Porque, nos quatro Evangelhos, de igreja se fala somente duas vezes, minha querida Senadora. Porque igreja é a comunidade. Cristo diz, na passagem, logo após entrar em Jerusalém e adentrar o templo e encontrar o templo tomado pelos vendilhões. Quando o questionam sobre o que fazia no templo, ele disse: "Destrói esse templo e eu o reconstruirei em três dias".
(Soa a campainha.)
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - AP) – Diz isso Cristo – Presidente, já para concluir –, porque ele concebe que o templo não é o edifício de pedra, é quando Deus toca o coração do homem. E é por isso que a Igreja tem a vocação de voltar para um termo que está 133 vezes nos quatro Evangelhos, o reino de Deus. Mas o reino de Deus que Francisco resgata não é aquele só dos céus. O reino de Deus é o horizonte estratégico da humanidade de um mundo em que a pobreza é acolhida, ou que, em última análise, se tenha a igualdade e não se tenha a pobreza, que, enquanto um sofrer, todos sofrerão. A proclamação de Francisco é coerente com a proclamação do Evangelho presente em João, presente em Marcos: "Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber [...] Estava nu, e vestistes-me". Toda vez que fizeres isso para qualquer um dos meus, para mim estais fazendo.
Presidente, para concluir...
(Soa a campainha.)
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - AP) – ... em meio a esse universo de fé desencarnada, Francisco ousou, com uma desarmada simplicidade, dizer, por exemplo: "O sexo é uma das coisas belas que Deus deu ao ser humano para embelezar o amor". Com isso, desnudou a culpa que, lamentavelmente, durante outros anos, a Igreja impôs à humanidade. Com essa frase, Francisco rasgou séculos de culpa, de repressão, devolvendo à sexualidade a sua dignidade sensível, a beleza natural da força criadora.
Concluo, Presidente, dizendo que foi Francisco o homem, foi Francisco o homem do gesto, do silêncio, o Papa que desceu dos palácios, o Papa que andou com os pobres, acolheu os imigrantes, defendeu o meio ambiente e proclamou a paz num mundo tão controverso e de tantos conflitos.
Que Deus ilumine os 135 Cardeais do cardilanato, do Conclave, para que o papa sucessor dê sequência à obra de Francisco.