Discurso durante a 25ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Críticas à atuação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em virtude da criação de novas áreas de proteção ambiental. Considerações sobre a suposta inversão de valores em curso no país.

Autor
Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Meio Ambiente:
  • Críticas à atuação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em virtude da criação de novas áreas de proteção ambiental. Considerações sobre a suposta inversão de valores em curso no país.
Publicação
Publicação no DSF de 25/04/2025 - Página 20
Assunto
Meio Ambiente
Indexação
  • CRITICA, INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBIO), AUMENTO, AREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE, PARQUE NACIONAL, CRIAÇÃO, RESERVA FLORESTAL, ESTADO DO CEARA (CE), INVERSÃO, VALORES.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM. Para discursar.) – Presidente Styvenson, após ouvir o belo discurso da Dra. Eudócia, com um tema pertinente, e o brilhante discurso do amigo Senador Randolfe, eu vou pedir desculpa para mudar o tema. A gente às vezes tem que fazer isto: mudar o rumo da prosa.

    Mas, Randolfe, o meu primeiro nome é Francisco – viu? –, em homenagem ao padroeiro do meu município, Eirunepé, onde eu nasci. Nas viagens de avião e nas clínicas, me chamam de Francisco. Às vezes eu me assusto, demoro a responder, porque eu não estou acostumado, mas também carrego o nome de Francisco. Isso é muito bom. E é gratificante essa homenagem.

    Senadoras e Senadores, no país onde muitos pegam moral que não têm, usam leis, citam leis que não cumprem e exigem respeito que não dão, é muito difícil a gente não ficar batendo no tema das imoralidades, dos desmandos, das coisas cretinas e horríveis que acontecem a cada dia neste país. A gente está se acostumando a ver uma pessoa se formar, ter doutorado e ganhar R$2 mil, R$3 mil, e a gente está achando que isso é normal; um arquiteto ganhar isso, um enfermeiro dormir nos corredores de hospitais, em colchonetes, porque não tem sala de conforto. A gente está se acostumando nesse mundo de distorção, de pirâmide invertida. Por isso é que eu pedi desculpa à Dra. Eudócia e ao meu amigo Randolfe Rodrigues para mudar o rumo da prosa.

    Vocês me veem aqui constantemente falando dessa questão do meio ambiente e sempre citando o ICMBio, que é o Instituto de Conservação da Biodiversidade. O ICMBio, para quem não sabe, toma conta de todos os parques nacionais neste país, inventa, mensalmente ou pouco mais que mensalmente, novas áreas de proteção.

    Vou dar exemplo para mostrar o que eu vou falar: o ICMBio, lá no Amazonas, acaba de detectar uma área, fazer estudo, inventar audiências públicas só entre eles e reservar uma área equivalente a 15 mil campos de futebol para cuidar do sauim-de-coleira, que é um pequenino animal, que merece, sim – respeito todos os animais –, mas que não precisa de tanto. E agora está criando uma outra área no lugar onde se planta, no Município de Apuí.

    Por que que eu falo do ICMBio? Porque são pessoas... E também por que que eu citei aquela história de moral, de respeito, de coisa que não tem? Olha só aqui. Devo dizer que muitas destas pessoas que eu vou citar aqui estiveram na CPI das ONGs e são pessoas que se julgam acima do bem e do mal, que não pertencem ao nosso planeta, que acham que podem fazer tudo. O ICMBio cuida da Reserva Chico Mendes (Resex) lá no Acre. Nós fomos lá. Está aqui. O Styvenson vai me perdoar, mas eu vou citá-lo, 1,97 metro, acostumado a lidar com narcotraficante e com bandido, chorou, assim como o Marcio Bittar, como o Jaime. E eu que presidia ficava fingindo que não estava chorando, porque nós vimos lá semiescravidão, nós vimos lá extrativistas que moravam antes de se criar a reserva e que agora não têm direito a nada; ou melhor, têm direito a colher látex, 5l por dia a R$3 o litro, e panelas e, sei lá, latas de castanha a R$10 a lata cheia. Não podem plantar milho, não podem plantar soja, arroz, não podem criar vaca, não podem fazer nada.

    E é esse pessoal aqui que a gente acaba de descobrir, de ver agora: "Irmão do número 2 de Marina Silva levou concessão milionária do ICMBio". Deixe-me ler para vocês, Styvenson, para mostrar. É irmão do número dois, do Capobianco, aquele que conversa com a gente com o nariz empinado e que respeita na presença, mas ali para ele é um sacrifício nos receber. E isso está na revista, está no Metrópoles. Eu vou resumir para não ter que ler. É um contrato para criar, de uma reserva dominada, controlada pelo ICMBio, no Ceará... Um contrato de 30 anos que vai levar R$160 milhões. Não está abrindo aqui, eu quero mostrar onde fica isso e de que forma foi feita essa licitação, que é sempre forjada, do mesmo modo que forjaram a reserva para os macacos, da mesma forma como estão expulsando plantadores.

    O ICMBio já toma conta de toda a área de Novo Airão, Município de Rio Negro. A matéria não abriu, vou ter que deixar de dar alguns dados. Eles conseguiram mapear – quando a gente fez a CPI das ONGs, a gente mostrou que as ONGs atuam há 40 e poucos anos – todas as áreas ricas e que eles querem. Quando digo eles, os Governos estrangeiros que financiam as ONGs, que financiam o ICMBio. Lá, nessa reserva, foi o Styvenson que me chamou a atenção, e eu fui para a placa, estava lá: WWF. O ICMBio manda na Resex, mas a WWF manda no ICMBio. É uma coisa, assim, assustadora quando a gente fala. Tem pessoas que, quando a gente conta o que viu e como procede, se assustam de saber que existe. Esse ICMBio... O segundo dirigente lá da Marina doou para o irmão dele um contrato milionário, milionário. E a gente tem que achar isso comum.

    Eu tenho a benção, a felicidade de estar Senador da República, de poder chegar aqui à tribuna e falar aquilo que eu acho que está errado, de protestar contra aquilo que a gente tem que protestar. Nós não podemos achar que isso é normal. A gente não pode deixar que um ministro do Supremo pregue uma lei que só existe na cabeça dele. A gente não pode achar que é normal um ministro do Supremo Tribunal desrespeitar a Constituição. Isso acontece e a gente acha normal. A gente acha normal uma assassina do pai estar livre, enquanto uma senhora de 60, 70 anos está presa, porque portava uma Bíblia no 8 de janeiro. A gente não pode achar normal isso. Então, a tarefa, uma das missões que a gente tem é dizer... Para aquelas crianças que estavam aqui ainda agora, eu ia dizer: isso não é normal. Nós não podemos achar que eles podem fazer tudo – uma casta, uma camada –, e a população não possa nada.

    Eu vou reiterar aqui que tem enfermeiros e enfermeiras no meu estado, na minha cidade, na capital, que dormem nos corredores – enfermeiros que cuidam da gente. Um enfermeiro, um técnico de enfermagem, para conseguir R$5,8 mil, Randolfe, tem que trabalhar três turnos de 12 horas, em três empregos, e agora estão lutando por uma jornada de 30 horas, com o que a gente está solidário. O Senado vai aprovar isso aqui.

    Portanto, mais uma vez, meu Presidente, companheiro e irmão Styvenson, a gente tem que vir aqui à tribuna para protestar sempre. Achar que é normal um Presidente da República mandar um avião da sua Força Aérea buscar uma corrupta condenada em outro país? Isso não pode ser normal. Eles querem que nós achemos que isso é normal, mas não é normal. Essa normalidade, um dia, tem que voltar, para que nós possamos ensinar para os nossos netos – minhas filhas, não, porque já enfrentam – que errado é errado e certo é certo, que pratiquem o bem.

    Randolfe acabou de falar só de coisa bonita, do bem. A Dra. Eudócia falou da busca da cura do câncer...

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – ... e a gente tem que se voltar para as coisas boas. Aqui na tribuna, a gente deveria falar só de coisas boas, mas não é possível falar só de coisas boas, porque, enquanto esse pessoal exigir respeito que não dão, moral que não tem, a gente não pode concordar com isso.

    Então, eu subo à tribuna, mais uma vez, Presidente, para discordar dessas distorções, para dizer que roubar, para dizer que proteger criminoso, para dizer que inverter as leis ao seu bel-prazer é errado. Um dia nós chegaremos àquilo que a gente sonha para os nossos netos; para nós, não, a nossa geração está enfrentando isso tudo, nossos filhos enfrentando isso tudo, mas nossos netos merecem um legado melhor, e esse legado melhor exige de todos nós uma missão: limpar a estrada para que eles não sangrem os seus pés pisando em espinhos. Temos que limpar os espinhos. Que sejamos nós a fazer isso, que sejamos nós a enfrentar o receio...

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – ... da mão poderosa que, no momento, vigora no país. É perigoso no país um Senador da República falar o que quer. Nós temos Senador aqui perseguido, nós temos Senador aqui cujo gabinete foi invadido, e a gente acha isso normal. Quando eu digo a gente, eu estou falando da maioria. Eu não acho isso normal e, por não achar normal, é que eu estou aqui, mais uma vez, a protestar e a citar tudo isso.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/04/2025 - Página 20