Pronunciamento de Hamilton Mourão em 08/05/2025
Discurso durante a 35ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal
- Autor
- Hamilton Mourão (REPUBLICANOS - REPUBLICANOS/RS)
- Nome completo: Antonio Hamilton Martins Mourão
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
O SR. HAMILTON MOURÃO (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - RS. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, senhoras e senhores que nos acompanham pelas mídias, em particular, povo do meu Rio Grande do Sul, meu bom-dia a todos.
É com muito orgulho que subo a esta tribuna neste dia 8 de maio de 2025, passados exatos 80 anos desde que as armas silenciaram na milenária Europa, que, por quase seis anos, tinha tido o seu território ensanguentado por um conflito terrível que ceifou a vida de milhões de pessoas.
O nosso país, o Brasil, se fez presente no combate ao totalitarismo nazifascista por meio da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária e do 1º Grupo de Aviação de Caça, que constituíram a Força Expedicionária Brasileira. Destaco que, entre aqueles mais de 25 mil homens e mulheres que lá combateram, estava o meu pai, então capitão de artilharia, pertencente ao terceiro grupo, e que se destacou nos combates de Monte Castelo, Montese e no cerco da 148ª Divisão de Infantaria em Fornovo.
Contudo, Senador Vital, a marca deste 8 de maio é a do esquecimento, a começar pelo que ele significa. Não é apenas o nosso Presidente da República, Comandante em Chefe das Forças Armadas, que esquece, no caso, os pracinhas brasileiros que deveria homenagear neste 80º aniversário do Dia da Vitória, vitória do Brasil na Segunda Guerra Mundial, para se precipitar em uma comemoração em Moscou, com a qual nada temos a ver, a começar pela data, dia 9.
Nos principais países do Ocidente, mesmo onde pálidas homenagens acontecerão, são esquecidas as razões que levaram a maior guerra da história e, pior, o que se tentou construir ao longo de décadas, após o seu encerramento, para que ela não se repetisse. Aqui e lá, a memória de uma guerra inimaginável pelas gerações que não a viveram foi sendo apagada ao ponto de se repetirem hoje os erros políticos, estratégicos, militares e, acima de tudo, morais que a provocaram.
Quanto ao Brasil, um país desmemoriado pela falta de educação e de civismo, a era do caos em que o mundo mergulhou deu a oportunidade de ouro para o Partido dos Trabalhadores afastar o país do que ele fez e do que ele é, colocando o Presidente da República em uma parada militar que vai se valer em rememorar a coragem e sacrifício do povo russo na guerra, mas que serviu apenas para legitimar o avanço do comunismo soviético e, hoje, serve unicamente para legitimar um ditador muitas vezes criminoso. Ditador, por sinal, que se fará cercado por outros nessa malfadada parada, e lá, entre eles, lamentavelmente, estará nosso Presidente.
O absurdo dessa participação nesse 9 de maio traduz a obsessão de uma determinada esquerda em afastar o Brasil do Ocidente, um projeto que vai se consumando à revelia da sociedade, das instituições, da história e do interesse nacional. Afinal, pouco ou nada importa à guilda ideológica encastelada no poder tomar decisões paroquiais que expõem mundialmente o país.
Do PT e de seus satélites não se espera nada muito diferente, mas da oposição política ativa e consistente em uma democracia do tamanho e peso da brasileira espera-se muito mais. A ida do nosso Presidente para participar do convescote de ditadores em Moscou não é apenas um episódio a mais da gastança e da falta de propósito das viagens presidenciais, como, inadvertidamente, imprensa e opinião pública tomam; ela tem um significado.
É grave o deliberado esquecimento do que o Brasil fez na Segunda Guerra Mundial, na qual teve um papel importante, evitando que o conflito se estendesse à América do Sul, contribuindo para a segurança da navegação aliada no Atlântico Sul, indo lutar, conforme já mencionei, ao lado dos aliados ocidentais na Europa, para cuja invasão foi convidado, e, por fim, ajudando a libertar a Itália do domínio fascista, motivo de manifestações de agradecimento que até hoje se repetem por parte da população das municipalidades italianas onde os nossos pracinhas combateram. Tudo isso, como país ocidental, em defesa das quatro liberdades que Roosevelt pontificou. Lembro-me delas: liberdade de expressão, liberdade de religião, liberdade de sair à rua sem medo e liberdade de não sofrer pressão de quem quer que seja. Uma nação que, naquela época, se não vivia num regime democrático, ao se dar conta do porquê e do lado em que lutava, pôs fim ao regime ditatorial do Getúlio Vargas.
O Brasil não lutou na frente russa e, antes de declarar guerra às potências do Eixo, estava alinhado com as democracias ocidentais, enquanto a União Soviética permanecia mancomunada com a Alemanha nazista por conta do infame Pacto Molotov-Ribbentrop.
Como é perigosa essa atitude do nosso Presidente, reitero, Comandante em Chefe das Forças Armadas, nessa viagem despropositada, comprometendo o futuro do país daqui por diante, passível de ser tomado como aliado de autócratas assassinos, inimigos da paz mundial, da liberdade dos povos e dos direitos humanos.
Neste momento em que se desencadeia uma guerra comercial sem precedentes, o alinhamento geopolítico do Brasil com inimigos declarados do Ocidente, sem motivos que o justifiquem a não ser a ideologia, é, para dizer o mínimo, uma temeridade. A conta dessa viagem a Moscou pode vir a ser uma surpresa mais salgada do que a causada por uma mera bravade terceiro-mundista.
Virar as costas à vitória do Brasil historicamente celebrada no dia 8 de maio, hoje, lá no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Rio de Janeiro, para ir comemorar a da Rússia no dia 9, tomar por milicos os pracinhas, o povo em armas que defendeu a honra da nação, e não ter em conta os riscos desnecessários a que expõe o país com decisões, atos e pronunciamentos impensados não são os piores esquecimentos do nosso Presidente.
Quando se posicionar ao lado da plêiade de ditadores na Praça Vermelha, o Presidente, com certeza, terá esquecido qual país ele representa.
Aqui fica, como minhas últimas palavras, a minha homenagem a todos aqueles que combateram na Segunda Guerra Mundial, àqueles que, com seu sangue, regaram o solo italiano – 458 brasileiros lá tombaram e mais de 2 mil foram feridos em combate. Ficaram muito tempo esquecidos. Somente em 1960, foram transladados os corpos que tinham sido sepultados no Cemitério de Pistoia, retornaram ao nosso país e estão hoje lá no monumento, no Rio de Janeiro.
(Soa a campainha.)
O SR. HAMILTON MOURÃO (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - RS) – Hoje, temos pouco mais de 50 daqueles 25 mil homens e mulheres ainda vivos. A eles, a nossa homenagem.