Pronunciamento de Paulo Paim em 14/05/2025
Discurso durante a 40ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem ao legado do ex-Presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, falecido no último dia 13 de maio, com destaque para a sua trajetória marcada pela simplicidade, defesa dos direitos humanos, inclusão social e combate à desigualdade.
- Autor
- Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
- Nome completo: Paulo Renato Paim
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
Homenagem:
- Homenagem ao legado do ex-Presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, falecido no último dia 13 de maio, com destaque para a sua trajetória marcada pela simplicidade, defesa dos direitos humanos, inclusão social e combate à desigualdade.
- Publicação
- Publicação no DSF de 15/05/2025 - Página 12
- Assunto
- Honorífico > Homenagem
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, JOSE MUJICA, EX-PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, URUGUAI.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS. Para discursar.) – Presidente Chico Rodrigues, é sempre uma satisfação falar sob a orientação de V. Exa. Senador Esperidião Amin, Senador Girão...
Sr. Presidente, Senadores e Senadoras, eu venho à tribuna nesta tarde para falar também de alguém que morreu, mas cada um, no campo partidário e ideológico, tem a sua posição – e é uma posição de respeito. Mas, neste momento, eu falo, Sr. Presidente, que morreu José Alberto Mujica Cordano.
Como eu disse hoje pela manhã aqui numa sessão: Gracias, Mujica! Gracias, Mujica, por trazer humanidade nos seus ensinamentos, por nos fazer compreender que nada é mais valioso do que a vida.
Líderes mundiais estão indo para o enterro de Mujica; entre eles, o Presidente Lula.
Mujica, com teu jeito tão único e genuíno, foste desenhando tuas geografias nesta imensa querência chamada América Latina. Sim, tu, Mujica, fizeste a diferença.
Somos feitos de sonhos e pegadas, de utopias e aprendizados, cada qual com as suas solicitudes, suas emoções e seus embaraços.
Repito: gracias por tua vida, Mujica; gracias pela luz dos teus pequenos olhos, que brilharam como luzeiros, iluminando o caminho em direção a um mundo mais justo e fraterno; gracias pelos teus abraços aos mais pobres, aos mais vulneráveis, aos mais necessitados; gracias por incentivares os jovens a seguirem em frente.
Você era um homem de 89 anos e era uma referência também para os jovens; conseguia se comunicar com os jovens como ninguém.
Você fez o bom combate durante a sua vida, e a viveu de forma única, respeitando a todos, inclusive aqueles de quem você divergia.
Tua simplicidade, Mujica, e tuas convicções inspiraram gerações.
Mujica morava numa pequena chácara em Rincón del Cerro, perto de Montevidéu. Ele mesmo cuidava do seu jardim e cultivava as flores. Cevava um bom mate e tinha um carro que era um fusca bem judiado, mas sempre o mesmo carro – um carro de 1987.
Agora, as coisas da existência se cumprem.
Descansou o corpo cansado do velho semeador de esperanças. Como um hornero, como era chamado, um hornero tradicional do Uruguai – o que seria o nosso joão-de-barro, aqui no Brasil –, tu bates asas e alças voo, desbravando céus e horizontes, abrindo caminhos entre nuvens e estrelas. Mujica, esse pássaro, símbolo de perseverança, representa bem a sua trajetória. Assim foste tu, Mujica: um hornero que dedicou a vida à liberdade, à justiça social e à democracia.
Tu não eras apenas um homem de belas palavras, mas também de grandes e boas atitudes; um homem das grandes causas, que conversava com todos os campos ideológicos, que harmonizava o discurso com a prática; um humanista, cuja simplicidade nunca se deixou deslumbrar pelo poder ou pela miséria da vaidade e do ego.
Teus ideais, Mujica, continuarão vivos, atravessando o tempo e se manifestando em cada gesto de solidariedade e fraternidade entre os povos. O mundo perde um grande líder, mas tua luta permanece em cada ação de transformação no planeta.
José Alberto Mujica Cordano, na juventude, nos anos 60, integrou os Tupamaros – e passou quase 15 anos no cárcere. Foi agricultor, político, Deputado, Senador, Ministro e Presidente do Uruguai.
Na Presidência, entre 2010 e 2015, fez um mandato avançado, progressista, pragmático, com reconhecimento mundial, mesmo daqueles que não concordavam com tudo o que ele dizia ou fazia. Fez um governo voltado para a inclusão social e os direitos humanos. A simplicidade de Mujica projetou o Uruguai internacionalmente como um modelo de política humana e ética.
Ele implementou políticas para combater a desigualdade social, ampliando programas de transferência de renda e fortalecendo o sistema de proteção social. E isso incomodava muita gente e grupos, mas ele ia em frente, sempre com muito diálogo.
Também defendia uma política externa baseada, como eu dizia, no diálogo, na integração regional e na soberania. Manteve boa relação com os países do Mercosul.
Nos últimos anos, o nosso Mujica enfrentava sérios problemas de saúde e, no dia de ontem, 13 de maio, aos 89 anos, nos deixou. Ao seu lado, estava a sua inseparável companheira, Lucía.
Expresso aqui meus profundos sentimentos à família, a todo o povo do Uruguai e, naturalmente, também a todos aqueles que no mundo viam aquele homem já caminhando de forma curvada, de cabelos brancos, mas defendendo sempre seus ideais.
Mujica pregava o fim das fronteiras, queria ele a solidariedade universal. Sempre condenou as guerras e buscou a paz. Ele dizia que a tolerância é o caminho da paz, que a utopia tem uma força gigantesca, e que é nosso dever abraçar os oprimidos e vulneráveis. Mais do que tudo, ele acreditava na capacidade do ser humano de fazer o bem.
Gracias! Gracias, Mujica!
Tua luz continuará a brilhar. Vida longa aos teus ideais.
Mujica, presente!
Obrigado, Presidente.