Discurso durante a 45ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a exclusão da rodovia BR-319 dos planos de infraestrutura nacionais, com críticas à atual política ambiental brasileira e às ações das ONGs, por supostamente estarem vinculadas a interesses estrangeiros.

Autor
Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Infraestrutura, Meio Ambiente:
  • Considerações sobre a exclusão da rodovia BR-319 dos planos de infraestrutura nacionais, com críticas à atual política ambiental brasileira e às ações das ONGs, por supostamente estarem vinculadas a interesses estrangeiros.
Publicação
Publicação no DSF de 21/05/2025 - Página 32
Assuntos
Infraestrutura
Meio Ambiente
Indexação
  • COMENTARIO, CRITICA, EXCLUSÃO, RODOVIA, PLANO, INFRAESTRUTURA, POLITICA, MEIO AMBIENTE, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE E MUDANÇA DO CLIMA, MINISTRO, MARINA SILVA, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), VINCULAÇÃO, INTERESSE, PAIS ESTRANGEIRO.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM. Para discursar.) – Presidente Chico Rodrigues, Senadoras, Senadores, hoje tem um pessoal bom na galeria, saúdo a todos. Bem-vindos aqui à nossa Casa.

    Presidente Chico Rodrigues, o senhor estava hoje na sessão com o Ministro da Infraestrutura, o Senador Renan Filho, que fez uma exposição muito boa, uma exposição demorada, mas boa, e nós do Amazonas o temos como aliado. Mas eu tive que dizer a ele que aquela sessão, para mim, foi uma verdadeira tortura – eu não quis usar a palavra inveja. Por quê? Nos gráficos mostrados por ele, no desenvolvimento, no progresso, no avanço, tinha dezenas de BRs, só que nos estados do Sul, Sudeste, alguns até no Centro-Oeste; e no Amazonas – BR-319 – nada.

    Talvez você, brasileiro, talvez você, brasileira, que sempre está me vendo aqui, que acompanha e está me vendo falar de BR-319... E vou continuar falando, porque ela é imprescindível para nós. O que mais se falou foi que, para ter desenvolvimento... para ter investimento, tinha que ter desenvolvimento. E como é que a gente pode desenvolver se não tem uma estrada para se chegar por terra ao Brasil? São 39 anos, quarenta e poucos anos. Essa estrada já existiu asfaltada; hoje está precisando de asfalto, e a gente não consegue.

    E ele é um aliado nosso, o Senador – é Senador, mas está licenciado –, o Ministro Renan Filho, mas teve que reconhecer, e eu pedi isso, que a questão é ambiental; que a questão são as travas, os cadeados ambientais provocados por uma política ambientalista que segue o modelo da Alemanha, que segue modelos da Europa, que segue modelos que não deveriam se adaptar a nós. E a gente não consegue ter uma estrada. Roraima seria beneficiado com isso, porque falta asfalto.

    Eu não tenho nada contra o Pará, muito pelo contrário, irmãos paraenses, amigos paraenses, mas lá no Pará, agora, para poder realizar a Eco no próximo ano, derrubaram uma floresta de 13km virgem. Derrubaram uma floresta de 13km virgem e ninguém disse nada, porque é para a Eco, porque é para o pessoal rico, para aquela nata rica que vem ao Brasil trazer a nossa lição, o nosso dever de casa. Isso é dizer que nós não podemos fazer aquilo que eles fizeram no passado, que continuam fazendo no presente e vão fazer no futuro, que é usar os seus recursos naturais. Essa hipocrisia sempre me faz ocupar a tribuna com veemência.

    Eu senti, sim, no Ministro, um aliado nosso, mas a gente precisa partir para a ação. E até o jurídico do ministério está trabalhando nisso. Porque como é que funciona? São 13 ONGs ao longo da BR-319, dois Observatórios do Clima na BR-319, a inventar, a usar a ciência de forma errada, mentindo, criando pesquisas e inventando números, e nos deixando sempre com essa necessidade.

    E é preciso a gente reiterar sempre aqui, não só para os Senadores, para as Senadoras, que têm que ajudar a gente nesse discurso, nessa causa, mas para o Brasil, para que tome conhecimento de que o maior estado do país, uma capital com 2,2 milhões de habitantes, uma metrópole, não tem como chegar ao país, não é ligada ao resto do Brasil. Isso é inadmissível! E o Ministro Renan Filho falou que é a única capital no planeta que ele conhece, com esse número de habitantes, que não tem estradas. Nós não podemos conviver com estradas lá, porque há essa questão ambientalista; as ONGs que nos atrapalham, que nos amordaçam com o seu dinheiro – o dinheiro que vem do exterior – fazem isso conosco.

    Olhem só a hipocrisia, vocês que estão na galeria e você que está ouvindo: dizem que preservar é bom – e nós preservamos! O Amazonas tem 97% da sua floresta preservada e 60% da população vivendo abaixo da linha da pobreza. Preservação, então, não acompanha a vida do cidadão; não beneficia, não premia o cidadão que preserva: 97% da floresta preservada, 60% da população vivendo abaixo da linha da pobreza. Por que isso, se preservar é tão bom? Nós não aceitamos viver mais com essas mordaças.

    E a BR-319? O Senador Chico Rodrigues, que preside a sessão, sabe o quanto ela é importante para Roraima também.

    Eu gostei de ver, sim, o Ministro ser enfático, dizer que ele quer e que batalha, que briga por isso, inclusive usando o jurídico. E o problema vai mais embaixo, o buraco é mais embaixo. Nós mostramos na CPI das ONGs que o Brasil, que a Amazônia, em particular, está dominada, tem dois poderes paralelos: o narcotráfico e as ONGs. O narcotráfico naquele campo, e as ONGs só a nos prejudicar: Amapá não pode extrair petróleo; o Fundo Amazônia só beneficia essas ONGs que prestam um mau serviço para nós...

    Já ouviram falar de Fundo Amazônia? Sabem quem é o maior financiador do Fundo Amazônia? O Governo da Noruega, seguido da Alemanha. O Governo da Noruega, que não quer que o Brasil explore o petróleo no Amapá, explora o seu petróleo a 2km, 3km, 5km de profundidade no mar; a Alemanha explora o seu carvão – carvão natural –, que é o maior item de poluição do planeta; e a gente não pode fazer nada, porque, se a Amazônia fizer, com a Amazônia pegando fogo, a Amazônia acabando, o mundo vai acabar! "Aquecimento global" já não é mais, agora são "mudanças climáticas". Tudo hipocrisia, tudo coisa de araque!

    Na minha estada aqui, como Senador, já são quase seis anos e meio, uma vez por semana a falar disso.

    A Constituição, tão rasgada pelos Ministros do Supremo, uma Constituição tão desrespeitada pelos Ministros do Supremo, não é obedecida também no Governo. Porque a Constituição assegura, em seus preceitos fundamentais, que todos nós – vocês na galeria, os Senadores, eu e o Chico Rodrigues – somos iguais; que vocês do Amapá, do Amazonas, do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais, do Espírito Santo, de Santa Catarina, que nós somos iguais. Não somos! E hoje eu vi que não somos; quer dizer, já sabia, porque não temos o direito de ter uma estrada! Isso não é ser igual, Senador Chico Rodrigues, isso é desigualdade!

    Aí se fala na BR-174, que leva para Roraima, que vai para a Venezuela. Eu posso, se quiser, ir à Venezuela, passear na Venezuela, mas eu não posso passear no Brasil. Eu uso o termo "passear" porque a Ministra Marina ironizou, na CPI, dizendo que não ia permitir uma estrada só para que nós fôssemos passear de carro. Se fosse só para passear, teríamos o direito, mas é por lá que chega o medicamento; é por lá que chegam os produtos hortifrutigranjeiros; é por lá que saem os produtos da zona franca. Então, se tivermos nós a BR-319, o mundo será um tanto quanto diferente para todos nós.

    E eu não posso encerrar aqui. Todas as vezes que a gente fala em BR, Chico – é trauma –, vem na minha cabeça: covid. Fotos, nós temos fotos; o Prefeito da época exagerou, mas foi verdade, está lá. Eram oito, dez mortos vítimas de covid, enterrados em valas comuns, o trator pegando aquela pá e jogando na vala comum. Aquela coisa da Idade Média.

    E, paralelamente, ao mesmo instante, nós tínhamos caminhões atolados na BR-319 com oxigênio. Chegou oxigênio primeiro da Venezuela para nós do que do Brasil. E a gente insiste em ser brasileiro. E a gente se orgulha de ser brasileiro. Há que se repensar isso.

    Preceitos fundamentais de uma Constituição rasgada. Preceitos fundamentais de uma Constituição desrespeitada. E o exemplo vem de cima, vem do Supremo. Já não vale mais nada neste país, porque eu recorri ao Supremo e o Ministro Fux disse que não, que negou porque tem instâncias abaixo que podem resolver. E as instâncias abaixo que podem resolver: Funai e Ibama, aparelhadas pelas ONGs. Esse que está na Ibama, o Sr. Agostinho, é um "ongueiro" de primeira, é um "ongueiro"; e a Funai, nem se fala.

    Para encerrar, para que os senhores saibam do que eu estou falando, que a questão ambiental é tão violenta, tão poderosa, que Presidente nenhum... Vamos pegar da Dilma para cá, Dilma, Temer, Bolsonaro e Lula: nenhum manda no Ibama, nenhum manda na Funai, nenhum manda no Ministério do Meio Ambiente.

    E eu vou dar a prova. O Agostinho do Ibama, criticado pelo Presidente Lula, disse para a imprensa o seguinte, abro aspas: "Nós estamos acostumados a trabalhar sob pressão. E eu aviso, todos os servidores do Ibama são concursados", fecho aspas; ou seja, mandou o Presidente se ferrar.

    Esta é a realidade que a gente tem, Presidentes que não mandam na política ambiental. E nós no Amazonas somos as maiores vítimas disso.

    Portanto, que o brasileiro, que a brasileira, que os Senadores e as Senadoras tenham paciência, porque volta e meia, meia e volta, eu vou estar aqui falando desse problema, da nossa causa, da nossa necessidade, do desrespeito, da forma como o Brasil nos trata, a todos nós amazonenses, com desdém, com ironia e com descaso.

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – A mim cabe, como Senador do Amazonas, estar sempre dizendo isso aqui, protestando. É uma das missões que eu tenho aqui, protestar e mostrar a realidade para você, brasileiro, para você, brasileira, que teima em não conhecer a Amazônia, que acha que a Amazônia é a Amazônia do Leonardo DiCaprio, que é a Amazônia da Sonia Guajajara, da Marina. Não é, não é.

    A Amazônia em que eu vivo, em que eu nasci e viverei e morrerei – nela, na Amazônia – é bem diferente; é de um ser humano necessitado, que tudo de que precisa é respeito e dignidade. Respeito e dignidade que a gente está aqui a exigir sempre.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/05/2025 - Página 32